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sexta-feira, 30 de junho de 2017

CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE EVOLUÇÃO ECONÔMICA SERTANEJA ENTRE OS ANOS 1850 A 1880

Rita de Cássia Rocha (1) José Romero Araújo Cardoso (2)

A partir de 1850 houve modificações significativas na economia sertaneja, devido ao advento da segunda revolução industrial que trouxe consigo a necessidade de se utilizar outras matérias-primas, devido ao sensacional desenvolvimento da indústria têxtil, principalmente na Inglaterra, bem como em razão do surgimento do fonógrafo, do automóvel e outros inventos. Nessa fase, entre os anos de 1850 e 1880, a economia sertaneja destacou as seguintes atividades:


Cera de Carnaúba (Corperniciaprunifera):

Nativa do semiárido nordestino, a carnaubeira (Coperniciaprunifera), é ainda hoje de grande importância social e econômica para a região (Mendes, P. 104).Inicialmente utilizada para a produção de velas, a cera de carnaúba teve sua função diversificada, pois:

“Na perspectiva de utilizar este produto, o homem nordestino idealizou um método de extração da cera dessa planta e desenvolveu tecnologias empíricas para utilizá-la. (...)O método de extração e preparação da cera de carnaúba foi desenvolvido no inicio do século XIX, pelo norte-rio-grandense radicado no Ceará, Dr. Antonio Macedo, conhecido na literatura, também, com o nome de Emanuel Antonio de Macedo. Na segunda metade do século XIX e nos primeiros oitenta anos do século XX, a cera de carnaúba foi de vital importância econômica para os estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, constituindo-se um dos principais produtos de exportação destes três estados (Idem, P. 104 – 105)”.

A segunda revolução industrial destacou o surgimento de inventos formidáveis, como o fonógrafo, fruto da obstinação e da genialidade do norte-americano Thomas Alva Edison (https://pt.wikipedia.org/wiki/Fon%C3%B3grafo).

O objetivo principal era a gravação e reprodução de sons através de um cilindro. Até 1929, a invenção de Edison dominou o mercado, fazendo uso profuso da cera de carnaúba produzida no sertão nordestino.

Sobre o assunto, CARDOSO afirma que:

“O boom econômico da cera de carnaúba nordestina veio com o advento da indústria fonográfica. Os discos primitivos eram confeccionados com o produto obtido a partir da exploração dessa espécie endêmica da flora existentes nas várzeas de alguns cursos d´água existentes no semiárido” (http://www.caldeiraodochico.com.br/notas-historicas-sobre-a-importancia-da-cera-de-carnauba/).

Não apenas a cera era aproveitada.A carnaubeira também fornecia palha, para confecção de chapéus, esteiras, etc., sendo que o “chapéu de palha de carnaúba também foi um produto e exportação nobre (MENDES, 2009, P. 105)

Algodão Mocó (Gossypiumhirsutum Var. Marie-Galante):

O algodão mocó (Gossypiumhirsutum Var. Marie-Galante), provavelmente originário do seridónorte-riograndense, era conhecido e usado pelos indígenas tapuias há milhares de anos, com o qual confeccionavam redes de dormir e outros acessórios presentes no cotidiano dos nativos do sertão nordestino.
          
O boom econômico sertanejo aconteceu quando da guerra de secessão (1861 – 1865), envolvendo sul e norte estadunidenses, tendo em vista que a parte meridional dos atuais EUA especializou-se na produção algodoeira, vendida em grande quantidade à Inglaterra, cuja indústria têxtil imprescindia de matéria-prima produzida bem próxima do seu território de fixação.
          
Como o sul dos EUA estava impossibiltado de continuar fornecendo algodão à Inglaterra, esta, não obstante a maciça produção em colônias como Índia e Egito, voltou sua atenção para o semiárido nordestino, em razão da qualidade do algodão mocó (Gossypiumhirsutum Var. Marie-Galante), altamente resistente às secas, arbóreo e de fibras longas.  
           
Para viabilizar o escoamento da produção, a Great Western Company estendeu trilhos pelos sertões de várias Províncias Nordestinas, inserindo, dessa forma, adustas e esquecidas zonas semiáridas na modernidade de época, pois a ênfase da produção cotonicultora regional na modernidade verificada na época trouxe mudanças significativas para a economia local e para o padrão de vida de populações inteiras.

Conforme CARDOSO & LOPES:

O cultivo do algodão passou a ser feito sobretudo em grandes latifúndios, motivado por agentes econômicos que dispunham de condições e contatos que viabilizassem a venda do produto.

Depois de algum tempo o algodão passou a ser uma cultura infinitamente mais democrática que a da cana-de-açúcar, tendo em vista que pessoas pobres, mas detentoras de pequenos pedaços de terra, passaram a cultivá-lo e comercializá-lo em praças especializadas, como Campina Grande (PB), Recife (PE) e Mossoró (RN), formando uma elite enriquecida com o Ouro Branco do sertão. Negros alforriados que a duras penas conquistaram pequenos lotes de terra galgaram degraus na rígida e inflexível sociedade sertaneja agropastoril graças ao algodão.

A introdução de descaroçadores foi de suma importância para a dinâmica econômica da região sertaneja. Para o algodão mocó indicava-se o de rolo, enquanto para as espécies herbáceas utilizava-se o de serra.

Campina Grande, localizada no Estado da Paraíba, foi beneficiada economicamente, de forma espetacular, quando Cristiano Lauritzen introduziu descaroçador de algodão e passou a aproveitar-se da produção sertaneja que demandava a Pernambuco, cujos tropeiros que conduziam fardos de algodão antes tinham na cidade apenas ponto de parada obrigatória. No presente, experiências genéticas que resultaram no algodão colorido denotam a invectividade dos pesquisadores da EMBRAPA a fim de revitalizar o produto na economia local (http://blogdocarlossantos.com.br/a-importancia-preterita-do-algodao-para-o-nordeste-brasileiro/).

O binômio gado-algodão constituiu, durante décadas, no sustentáculo da economia sertaneja, sendo desestimulado somente quando da grande crise da década de oitenta do século XX, época que marcou a fragmentação da economia sertaneja, devido ao advento da praga do bicudo, época que assinalou o despovoamento do campo 

Borracha de Maniçoba (Manihotdichotoma):

A descoberta da vulcanização da borracha em 1842, feito promovido, de forma simultânea, nos Estados Unidos, por Goodyear, e na Inglaterra, por Hanncock, dinamizou extraordinariamente a extração de látex da maniçoba, a qual perdurou por cerca de 100 anos, indo de 1845 até 1955 (MENDES, 2009, P. 112).
          
A segunda revolução industrial, com o advento da indústria automobilística, melhorias de técnicas médico-cirúrgica, com a necessidade de manipulação higiênica quando dos procedimentos, bem como implemento à educação, através do uso de objetos como borrachas, beneficiaram a economia nordestina, valorizando a matéria-prima obtida com produto extraído de planta da flora regional.

A extração do látex de maniçoba no nordeste brasileiro coincidiu com o apogeu da economia do norte do Brasil através da hipervalorização da borracha no mercado externo, declinando quando dos estragos provocados pela biopirataria inglesa, a qual contrabandeou mudas de seringueira para serem plantadas de forma ultra-extensiva no Oriente distante, sobretudo na Malásia. 

Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia foram os Estados nordestinos que mais sobressaíram-se com a exploração da borracha de maniçoba destinada a abastecer novas exigências da produção em série que se organizava na segunda metade do século XIX.

BIBLIOGRAFIA CITADA OU CONSULTADA:

ABREU, J. Capistrano de.Capítulos de história colonial. Brasília:Editora do Senado Federal, 2006.
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'Bregareia 2014' divulga atrações e homenageia Reginaldo Rossi na PB. Disponível em .<http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2014/11/bregareia-2014-divulga-atracoes-e-homenageia-reginaldo-rossi-na-pb.html>. Acesso em: 02 de abril de 2017.
CARDOSO, José Romero Araújo. Notas sobre a importância da cera de carnaúba. Disponível em: .<http://www.caldeiraodochico.com.br/notas-historicas-sobre-a-importancia-da-cera-de-carnauba/>. Acesso em: 15 de abril de 2017.
CARDOSO, José Romero Araújo; LOPES, Marcela Ferreira. A importância pretérita do algodão para o nordeste brasileiro.Disponível em .<http://blogdocarlossantos.com.br/a-importancia-preterita-do-algodao-para-o-nordeste-brasileiro/>. Acesso em: 15 de abril de 2017.
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Rita de Cássia Rocha (1) – Discente do Curso de Licenciatura em Geografia do Campus Central da UERN.
José Romero Araújo Cardoso (2) - Geógrafo (UFPB). Escritor. Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UERN). Membro do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP), da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e da Associação dos Escritores Mossoroenses (ASCRIM)
Rita de Cássia Rocha (1) – Discente do Curso de Licenciatura em Geografia do Campus Central da UERN.
Rita de Cássia Rocha

Prof. Msc. José Romero Araújo Cardoso (UERN/FAFIC/DGE - ICOP/SBEC/ASCRIM)

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


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