Por Ricardo Beliel
Lampeão,
quando passava pelas terras do Caboclo, usava o menino Cadinho para transportar
água do poço do Touro ao coito da cabroeira. "Quando eles saiam do rancho,
me pagavam. Não ficaram devendo um só pote d´água". Recebia cinco mil réis
pelo serviço e circulava com tal intimidade no meio da guerrilha brancaleônica
que certo dia recebeu um tiro de raspão no traseiro, cuspido do fuzil do
cangaceiro Passarinho, que limpava seu armamento. Com as pernas tingidas pelo
sangue que brotava de suas calças, nos confessa com a distância de oito décadas
e um riso tímido, que tremeu ao ver à sua frente Maria Bonita a arrancar-lhe a
roupa. "Eu já tinha uma crina na base da mandioca e não ficava bem aquela
condição. Trinquei as palavras e pedi: não faz uma coisa dessa comigo
não..." "Ó xente" foi tudo que ouviu da cangaceira. Maria Bonita
e Maria de Pancada arrancaram os panos gastos que cobriam seu corpo trêmulo de
vergonha, quase imberbe, e o cobriram de cuidados e medicinas retiradas da
resistente flora caatingueira.
(Depoimento de Seu Cadinho Machado para o livro Memórias Sangradas, projeto de
Ricardo Beliel e Luciana Nabuco, a ser lançado em breve).
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