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domingo, 22 de outubro de 2017

NOTÍCIA DE LAMPIÃO EM CABOCLO

Por Ricardo Beliel

Lampeão, quando passava pelas terras do Caboclo, usava o menino Cadinho para transportar água do poço do Touro ao coito da cabroeira. "Quando eles saiam do rancho, me pagavam. Não ficaram devendo um só pote d´água". Recebia cinco mil réis pelo serviço e circulava com tal intimidade no meio da guerrilha brancaleônica que certo dia recebeu um tiro de raspão no traseiro, cuspido do fuzil do cangaceiro Passarinho, que limpava seu armamento. Com as pernas tingidas pelo sangue que brotava de suas calças, nos confessa com a distância de oito décadas e um riso tímido, que tremeu ao ver à sua frente Maria Bonita a arrancar-lhe a roupa. "Eu já tinha uma crina na base da mandioca e não ficava bem aquela condição. Trinquei as palavras e pedi: não faz uma coisa dessa comigo não..." "Ó xente" foi tudo que ouviu da cangaceira. Maria Bonita e Maria de Pancada arrancaram os panos gastos que cobriam seu corpo trêmulo de vergonha, quase imberbe, e o cobriram de cuidados e medicinas retiradas da resistente flora caatingueira.


(Depoimento de Seu Cadinho Machado para o livro Memórias Sangradas, projeto de Ricardo Beliel e Luciana Nabuco, a ser lançado em breve).

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