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domingo, 22 de outubro de 2017

A CRUZ DE AGRIPE E O ROMPIMENTO POLÍTICO DAS FAMÍLIAS CARVALHO E NOVAES

Por Dênis Carvalho
Dênis Carvalho com Cristiano Ferraz

Localizada ao norte de Floresta, a Favela, na época propriedade do Sr. Antônio Novaes, tenente da Guarda Nacional, foi sabidamente palco de um dos mais famosos e acalorados combates entre cangaceiros e volantes.

Na manhã do dia 11 de novembro de 1926, Lampião acompanhado por um bando com cerca de 90 homens, aguaritados em duas casas: a sede e uma construção nova, foram atacados, esperadamente, por uma força volante comandada pelo sargento José é Saturnino e o aspeçada Manoel Neto, que contavam com um corpo de 80 praças.


Após cerca de 4 horas de tiroteio, cercados por todos os lados e sem nenhuma chance de vitória, as forças volantes foram obrigadas a bater em retirada, deixando os corpos dos mortos para trás.

O “Fogo da Favela” deixou um soldo de nove mortos, sendo seis soldados: Antônio Freire Panta e Gaudêncio Pereira da silva do 2º Batalhão e Francisco Pereira, João Gregório Neto, Agripe Lopes dos Santos e Cícero Petronilo da Silva, do 3º Batalhão; um civil e dois cangaceiros, além de muitos outros feridos.


Segundo Marcos Antônio de Sá (Marcos de Carmelita) e Cristiano Luiz Feitosa Ferraz, no aclamado “As Cruzes do Cangaço: Os Fatos e Personagens de Floresta-PE”: “Os criminosos fizeram toda espécie de crueldade com os defuntos. Sangraram, degolaram, esfacelaram crânios, furaram os olhos com cápsulas das balas e depois colocaram espalhados para todos os lados.” A barbárie cometida pelos cangaceiros foi tamanha que impressionou até mesmo Corisco, o “Diabo Loiro” ante tamanha carnificina.

Após a saída dos cangaceiros, Manoel Novaes e alguns agregados abriram uma cova e enterraram num só lugar cinco soldados e em outros três locais distintos, mais um militar, o civil e um cangaceiro.

Integrante do 3º Batalhão, Agripe Lopes dos Santos era filho ilegítimo de Manoel Alves de Carvalho Barros (Não confundir com Manoel Alves de Carvalho, “Cel. Nezinho”, da Fazenda Quebra Faca, pai de Auzônio Alves de Carvalho; homônimo), com Josefa dos Santos, descendente de escravos (Dados de Nivaldo Alves de Carvalho).

Segundo relato de Nivaldo Carvalho, Agripe era um sujeito intrépido, disposto e bastante ousado. Em suas “pelejas”, proferia xingamentos, ameaças e até desafios ao bando, tendo chegado a chamar Lampião para resolver a questão “corpo-a-corpo”, munidos de faca.

Por volta da segunda metade da década de 30, Maura dos Santos, irmã de Agripe, teve um sonho ou algum tipo de presságio, onde se fazia necessária a colocação de um símbolo Cristão sobre a sepultura do irmão.

Havia, entretanto, um delicado e meticuloso empecilho:

Em meados de abril do ano de 1936, Adalberto Emílio Novaes havia tido uma desavença com a família do Sr. Lino Alves de Carvalho (Irmão do Major Tiburtino Alves de Carvalho Barros, da Fazenda Água Branca), tendo, aquele, desferido uma tapa no rosto de uma das filhas deste, recebendo, na hora, em contraparte, uma “tamboretada”. Lino, já com idade avançada, procurou sua faca de ponta para ir em defesa de suas filhas, mas não logrou êxito em encontrá-la, dado o calor do momento.

Alguns dias depois, Adalberto, acompanhado por seu tio Lerinho, a chamado do juiz de direito, dirigia-se à cidade quando sofreu um atentado.

Levino Alves de Carvalho (sobrinho e noivo de uma das filhas de Lino), na companhia de um cabra, montou uma emboscada à espera do desafeto na margem da estrada que liga as terras dos Novaes a Floresta. Diante da demora, pediu que o companheiro montasse vigília enquanto tomava descanso. No entanto, o vigilante adormeceu, tendo Levino acordado com o barulho do galope dos cavalos de Adalberto e Lerinho. Apressadamente, pegou seu rifle e acordou o companheiro, desferindo diversos tiros de rifle em direção aos alvos, mas estes já tinham tomado alguma distância, e ao ouvir o estampido dos tiros, aceleraram o galope e partiram abaixados e em manobras evasivas, em ziguezague, conseguindo sair ilesos do atentado.

O caso repercutiu até mesmo na capital do Estado. O temor do surgimento de uma questão de proporções maiores fez com que o Dr. Carlos de Lima pedisse a interferência do deputado Afonso Ferraz, que encaminhou recomendações ao então prefeito de Floresta Fortunato de Sá Gominho (Siato), para, entre outras, entender-se com Emílio Novaes para conseguir a retirada de Adalberto da região. (Floresta: Uma Terra - Um Povo, Leonardo Ferraz Gominho)

De fato, um acordo (redigido por Nestor Valgueiro de Carvalho) fora lavrado entre as famílias Carvalho e Novaes. Adalberto e a família de Lino sairiam da região e não mais se falaria em questão ou qualquer ato de vingança. Contudo os rancores e ressentimentos permaneceriam vivos por durante décadas. A família Carvalho, que até então era adversária política da família Ferraz, rompe com os Novaes e passa a dar apoio político a seu antigo adversário.

Dada a situação, por ser um Carvalho, o pedido para demarcação e colocação da cruz sobre o local de repouso de Agripe foi negado pelo proprietário da fazenda Favela, agastando ainda mais as relações entre as famílias.

Diante da recusa, Francisco “Chico Antão”, filho de Antão Alves de Carvalho (este também irmão do Major Tiburtino da Faz. Água Branca), aborrecido, confeccionou uma pesada e maciça cruz em “linha” de baraúna, com mais de metro e meio de altura e fincou na divisa das terras de propriedade das duas famílias, tendo ficado cerca de dois quilômetros de distância do local exato da sepultura; a nove quilômetros da cidade de Floresta, na estrada que liga esta a Carnaubeira da Penha (dados coletados em GPS por Cristiano Luiz Feitosa Ferraz).

Recentemente foi trazida ao grupo uma provável situação envolvendo o monumento, por Arenio Lopes Goncalves. Com as obras de terraplanagem e asfaltamento da estrada que liga Floresta a carnaubeira, a cruz estaria correndo um sério risco de ser deslocada ou mesmo destruída.

Discussões sobre uma provável medida foram tecidas: caso necessário, poderia ser coletada, realocada para um local próximo ou até mesmo, com a autorização dos atuais proprietários da fazenda Favela, ser posta sobre o lugar a qual fora originalmente destinada, tendo sido consultado membros, como Voltaseca Volta e Cristiano Ferraz, sobre o caso. Em suma, o que realmente importa é a preservação do marco e da sua história.

Hoje, dia 20 de outubro de 2017, recebi o irrecusável convite de Cristiano Ferraz para verificar a situação da Cruz de Agripe, munidos de picareta e outras ferramentas (para caso fosse preciso fazer o resgate).

Ainda de uma certa distância, avistamos o marco em seu lugar, intocado. Felizmente, o canteiro de obras fica a uma distância de 20 metros do local, não oferecendo nenhum risco.

A decisão, portanto, não poderia ter sido outra, senão deixá-la em sua originalidade, em respeito não apenas ao propósito para qual foi construída, mas também, a toda a história que envolveu sua colocação naquele local.

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