Material do acervo do pesquisador do cangaço José João Souza
O ataque dos
revoltosos à cidade de Piancó, no Estado da Paraíba, realizado no dia 9 de fevereiro de 1926, comandado por Cordeiro de Farias, no qual foi assassinado o Padre Aristides Ferreira da Cruz e mais uma dezena de
combatentes, pode ser classificado como sendo um acontecimento trágico,
acontecimento este que poderia ter sido relevado a um acontecimento banal e
rotineiro.
Padre Aristides Ferreira da Cruz
Mas, o alheamento dos dirigentes da Coluna com relação à sociedade
sertaneja, sua cultura e seus valores éticos, enfim, o desconhecimento total da história da região, acabou por determinar o ataque
brutal e insensato. O líder de Piancó era o Padre Aristides, nascido no ano de 1872,
na fazenda Alegre, hoje município de Pombal. Sacerdote, político e professor em todas
estas atividades. Exercendo o sacerdócio, adquiriu um grande respeitabilidade entre
os habitantes da região. O seu trucidamento às mãos dos revoltosos provocou uma
grande indignação entre os sertanejos.
Sobre esse assunto, escreve Souza Barros
o seguinte: “esse incidente talvez tivesse ditado a atitude dos sertanejos na
sua resistência à Coluna.
O padre católico recebia e ainda recebe no interior uma consagração e respeito integrais. Uma população fanatizada a ponto de criar o mito de Padre Cícero não admite que seus líderes carismáticos sejam atingidos”.
Cordeiro de Farias, que foi o chefe do destacamento da Coluna que atacou Piancó pagou um alto preço no decorrer de sua vida pública, por ter cometido um erro político de tal dimensão. Este ataque a uma obscura cidade do sertão
deslustrou sua carreira de militar e prejudicou suas aspirações políticas.
Quando candidatou-se ao Governo de Pernambuco, para suceder Etelvino Lins, circulou um folheto entre a população do Estado responsabilizando-o pela morte do Padre Aristides. O folheto dizia o seguinte:
“Alerta
pernambucanos
Da praça e do cafundó
Que Cordeiro de Farias
Foi quem matou sem ter dó
O Padre Aristides da Cruz
Da cidade de Piancó
No açude sangrou o Padre
Com seu ferro tirano
Fez ele beber o sangue
Com seu gênio desumano
Como quem não tinha vindo
Do ventre do ser humano
Depois que ele fez o Padre
Beber sangue em golfadas
Cortou os membros do Padre
E com ações desgraçadas
Botou na boca do Padre
As partes emasculadas”.
Os efeitos
negativos da desastrada operação militar comandada por Cordeiro de Farias logo se fariam sentir, aumentando o fosso que existia entre o mundo
subjetivo dos dirigentes da Coluna e o mundo objetivo formado pela história sertaneja.
Apesar da evidência palpável do erro político cometido ao ataque de Piancó, manifestado no imediato retraimento da população sertaneja com relação à
Coluna. O General Cordeiro de Farias tentou justificar a sua atitude, afirmando o
seguinte:
“O Padre Aristides, cujas ordens religiosas estavam suspensas, era um chefe político que, embora tivesse seus aliados, tinha também inimigos em toda aquela região da Paraíba. Então, começamos a receber manifestações de regozijo por termos acabado com ele”.
Fonte: Sertão
Sangrento - Luta e Resistência
De: Jovenildo Pinheiro de Souza
De: Jovenildo Pinheiro de Souza
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