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domingo, 29 de abril de 2018

A SAGA DA MENINA ZEFINHA

Por Rogério Santos

No estudo do cangaço, os pesquisadores sempre definiram hipotéticos graus de importância entre os objetos de pesquisa. Os leitores, por conseguinte, acabam seguindo religiosamente estes professores e definindo que um rastejador tem importância menor que um cangaceiro. Reles engano, todos tem sua história, independentemente de seu credo, cor, idade, sexo e posição social. A diferença mais visível, nada é mais que o tempo que passamos com os holofotes sobre um personagem em específico. Assim foi a história da menina Zefinha, ora citada como sequestrada, outrora como adotada. Mas, sem dúvidas foi uma das personagens mais importantes da história do cangaço, mesmo 78 anos sendo reduzida a “uma menina que estava com Corisco” na maioria dos livros.

Minha missão, há anos, era de saber mais sobre Zefinha. Cada livro que eu conseguia sobre Corisco, ocasionalmente poderia me dar esperança de saber mais um pouco sobre o assunto. Algumas fotos dela povoavam o universo do Google, mas ainda era muito pouco, a qualidade menos ainda de imagens retiradas de cópias das cópias de jornais de muito antes de meu nascimento. Eu precisava de mais, queria mais e obtive muitas coisas logo em seguida.

Com a chegada do canal O Cangaço na Literatura comecei a intensificar as buscas sobre Corisco e Dadá, mas meu foco era Zefinha, algo me prendia a ela. Num jornal antigo, A Tarde da Bahia, de 1940, estampava a foto da garota sorridente e uma breve entrevista, onde alegava ser da cidade baiana de Bebedouro, atual Coronel João Sá. Em minha mente, a pobre garota havia sido sequestrada pelo casal de cangaceiros, levada à força. Ao ler a entrevista, percebe-se que havia um carinho por parte da “raptada”, ela chamava Cristino de “dindinho” abreviação carinhosa de “padinho”, aquilo me deixou confuso. Síndrome de Estocolmo? Não parecia ser. Neste mesmo tabloide definia que Corisco era amigo e compadre do homem de prenome Brás, onde numa de suas passagens por Bebedouro, pediu para levar a filha para uma cidade melhor do sul, com a promessa de trazê-la de volta um dia já mulher feita, estudada e prendada. Eu definitivamente gelei com a informação, precisava localizar familiares dela, saber mais e teria que ir primeiro a Coronel João Sá.

Durante os preparativos para ir à cidade baiana, encontro o amigo advogado Leandro Gois, na cidade de Itabaiana-SE. Como sabia que ele era de João Sá, compartilhei meu interesse e que iria em breve lá na cidade nata dele. Ouvi o primeiro sinal de alerta “Robério, Zefinha é minha parenta ainda”. Aquilo me fez gelar pela segunda vez e ao mesmo temo começar a perturbar Leandro para saber mais informações.

Fui até João Sá gravei o programa sobe o suposto rapto da menina e conheci o coveiro, que coincidentemente se chama Robério Santos. Depois de uma busca de uma tarde inteira, encontramos mais de 100 Josefas, mas nenhuma Josefa Erundina de Almeida. Procurávamos uma pessoa nascida por volta de 1928/29 já que a maioria dos livros alegavam que ela tinha 11 anos no dia 25 de maio de 1940 em Barra do Mendes quando ela foi capturada pela Volante de Zé Rufino. Meu xará me prometeu procurar o túmulo dela, trocamos telefone e aguardei com ansiedade.

Leandro me dá uma dica importante, era para eu procurar um povoado chamado “Lagoa do Badico” na cidade de Novo Triunfo na Bahia, ele alegava que lá haviam parentes de Zefinha. Para completar a informação, recebo uma mensagem da neta de Josefa, a Patrícia Matos, moradora de Feira de Santana-BA. Ela me deu detalhes sobre os filhos de Zefina e que ela era filha do caçula e também me deu a dica do povoado Lagoa do Badico, mas desta vez com a promessa de que lá estava vivo e de ótimo acesso, o filho mais velho, o Antônio Luiz de Almeida, o “Tonho de Luiz” e que seria melhor obter mais respostas com ele. Uma fotografia rara de Zefinha com os filhos me foi encaminhada e tudo mudaria naquele instante. Meu coração quase para, eu estava sendo pressionado pelos seguidores do canal, eles precisavam de um desfecho.

Fui com o incansável Nininho até o referido povoado, não foi difícil encontrar aquele senhor sorridente e que nos recebeu muito bem. Contou-nos o que sabia sobre os irmãos, a Mãe, o pai Luiz e sobre os avós. Por fim nos trouxe o direcionamento de onde Zefinha estava enterrada: Coronel João Sá! A cobra mordeu o próprio rabo... tomamos café, batemos papo e montamos na moto em direção ao capítulo final da jovem menina.

Robério Santos nos mostrei (SIC) seu túmulo: era baixo, arrancado um pedaço e com a lápide mostrando os detalhes de nascimento e morte (24/11/1928 a 09/01/1954) . Gravamos tudo e percebemos que ela faleceu jovem, aos 25 anos e não deixou muitas informações sobre os padrinhos. Talvez se Zefina não tivesse sido levada, Dadá e Corisco na companhia de Rio Branco e Florência poderiam ter sido pegos bem antes, já que a menina ajudava a camuflar um pouco as suspeitas sobre eles; mas, em contraponto, sem a menina poderiam ter parado menos e se distanciado com mais facilidade, levando-os a terem escapado de Zé Rufino (Rio Branco e Florência escaparam).

Zefinha ainda é um mistério, os livros de história em suas novas edições, acrescentar um pouco mais sobre esta menina que entrou no cangaço com a mesma idade que Volta Seca, e que se Corisco marca o fim do cangaço, Zefinha foi sim cangaceira, afilhada de Corisco e protegida dele. Negar este fato é negar que com a morte de Corisco marcou o fim do cangaço. Negar isso (por causa da pouca idade) também é negar Volta Seca como Cangaceiro. Será que se ao invés de uma menina de 12 anos fosse um rapaz de mesma idade, como ele seria tratado na historiografia atual? Portanto, a sorte está lançada e Zefinha como cangaceira, sem dúvida, ela se tornaria a mais bela do cangaço. Quem mandou Lídia não ter tirado retrato???

Robério Santos

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