Gravura: Pieter
Godfried Bertichem. Agoas Férreas - Ano de 1856
Observem também a origem da expressão "Maria vai com as outras". Nesse texto escrito por Magalhães Corrêa em 1935.
"Na encosta do morro de Dona Martha, antigamente, à margem direita do Rio Carioca e atualmente, na Rua das Laranjeiras, havia uma fonte de águas férreas, denominação que tomou o lugar; dela existe uma reprodução litográfica que veio até nós, único documento da época.
Era esse lugar
o preferido pela elite carioca, para passeios, quer em cadeirinhas, ou a
cavalo. Assim, a rainha Dona Maria I, quando saía a passeio, freqüentemente aí
aparecia em companhia de suas damas da corte, daí provindo a frase repetida
pelo povo: “Maria vai com as outras”, em virtude de ser ela louca. E esse dito
ficou até hoje com a significação para aquelas que não se sabem governar.
E o povo
acostumou-se tanto com a rainha Maria I, que denominou a fonte das águas
férreas de Bica da Rainha, e, por seu falecimento em 1815, continuou como lugar
predileto de Carlota Joaquina, esposa de Dom João VI, que costumava ir aí
refrescar os ardores do seu temperamento.
O povo muito
freqüentava nessa época a fonte, em virtude de suas propriedades terapêuticas;
principalmente, aqueles que sofriam de falta de sangue, pois eram escassos os
recursos para o tratamento, para o qual, hoje, entretanto, abarrotam o mercado
de preparados estrangeiros.A fonte era simples, murada, com uma escada lateral
que conduzia à bica; ao lado um passadiço, que ia para a mata; ao fundo
elevava-se um paredão, que do centro, por duas largas pilastras, sustentava uma
“platibanda”, com dois ornatos em forma de cone, nas respectivas extremidades.
Na parte central e superior da fonte, uma moldura em forma de octógono
irregular em cujo centro aparece um oval, com a inscrição “Bica da Rainha”. No
centro, sob o ornato descrito, estava uma janela de varões de ferro e na base,
a bica de bronze de água férrea.
Há uns trinta
anos atrás, estava em completo abandono; um comerciante, porém, requereu ao
Conselho Municipal permissão para edificar um botequim, o que foi negado. Mais
tarde, um outro particular restaurou-a, pondo em condições de ser visitada.
E, hoje, como
outrora, sai a distribuir água em pequenos barris de 15 litros, o aguadeiro, em
sua carroça, em forma de pipa, com capacidade de 1.085 litros de água, puxada
por um burro, que abastece os bairros das Laranjeiras e Catete.
A carroça é de
propriedade de uma senhora concessionária, que vende o barril a domicílio a mil
réis e que ainda está em pleno comércio…
Do lado ímpar
da rua das Laranjeiras (107) Cosme Velho, está atualmente situada a Bica da
Rainha, no interior de um pequeno terreno, em nível inferior ao da rua, para
onde se desce por uma escada de nove degraus. Ao fundo, um muro, tendo, ao
centro uma fachada de linhas clássicas, com duas pilastras, com bases, ligadas
superiormente por uma cimalha, que suporta uma platibanda, tendo ao meio uma
cartela com a data de 1.845, e, de cada lado, uma rosácea.
Abaixo da
cimalha, entre as pilastras, está em letras de relevo o nome “Bica da Rainha”,
separado do corpo central por um filete que corre em toda extensão, Ao centro
da fonte, uma janela com esquadria de pedra (pintada), coroando-a com um
pequeno ornato: uma concha, tendo simetricamente aos lados volutas. Esta
abertura é vedada por uma grade de ferro de belíssimo desenho, a qual se abre
como porta. Na base, acha-se uma grossa bica que jorra sobre um tanque de
pedra. A fonte é protegida ou separada da via pública por uma grade de ferro,
tendo um portão ao centro, por onde passam os moradores de sua vizinhança, que
vão, diariamente, buscar a apreciável água, em verdadeira romaria, como faziam
antigamente.
No alto da
fonte, em uma tabuleta pintada e quase ilegível, um aviso ao público: “Pede-se
respeitar as matas da união e as particulares, conservando-as com carinho, para
que não venham sofrer os mananciais desta lendária fonte de águas férreas.”
Fonte: Jornais antigos, reportagem de Magalhães Corrêa.
Obs: Hoje o endereço da "Bica da Rainha" é Rua Cosme Velho, nº 336.
Pesquisa de Cleydson Garcia.
Postado
neste blog por Adinalzir Pereira Lamego.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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