Considerado
o diabo pelos seus adversários, a fama de Mainha se espalhou pelo Brasil e seus
crimes, quando contados, chegam gelar a espinha.
“Todo o sertão nordestino/ Assim como as capitais/ Têm uma marca sangrenta/ De assassinatos brutais/ Que mesmo o tempo querendo/ Não acabará jamais. / Estes crimes foram feitos/ Pelo rei da pistolagem/ Conhecido por Mainha/ Homem de cruel bagagem/ Pois descrevo sua história/ No mundo da bandidagem”(Guaipuan Vieira).
“Todo o sertão nordestino/ Assim como as capitais/ Têm uma marca sangrenta/ De assassinatos brutais/ Que mesmo o tempo querendo/ Não acabará jamais. / Estes crimes foram feitos/ Pelo rei da pistolagem/ Conhecido por Mainha/ Homem de cruel bagagem/ Pois descrevo sua história/ No mundo da bandidagem”(Guaipuan Vieira).
O trecho acima foi retirado do cordel escrito por Guaipuan Vieira e é um dos muitos exemplos de cordéis que narram a história do famoso pistoleiro Mainha, considerado o maior pistoleiro do Nordeste.
Idelfonso Maia Cunha, conhecido como Mainha, nasceu em Alto Santo, Ceará, no dia 28 de outubro de 1955. Acusado de cerca de 100 mortes praticadas durante os anos 80, no Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, Mainha teve uma trajetória marcada por muito sangue e desafetos, mas também pela admiração de muita gente que o julgava um homem valente e destemido, que não aceitava desaforos.
Antes de se tornar pistoleiro, Mainha atuava como vaqueiro, chegando a ganhar até um carro em uma das vaquejadas das quais participou. O sonho de se tornar um vaqueiro famoso, porém, deu lugar a uma vida marcada pelo crime e pela violência. Antes mesmo de nascer, a morte já rondava a sua história. Seu pai foi golpeado com facadas por causa de conflitos de terras. Quando ele tinha seis meses, o pai levou seis tiros e sobreviveu. As armas, no entanto, passaram a fazer parte da rotina de sua família e se tornaram comuns entre seus dez irmãos.
Quando Mainha tinha 20 anos, Irene, sua irmã preferida, foi assassinada e, assim, ele deu início à sua trajetória como pistoleiro e o jovem Idelfonso, que sonhava em ser vaqueiro e conquistar mulheres e fama, transformou-se em um dos maiores matadores do Nordeste, temido e procurado em diferentes estados da região.
Embora ele tenha negado ao longo de toda a vida que matasse por dinheiro, o fato é que acumulou uma longa ficha de crimes e deixou um grande rastro de sangue por onde passou. Segundo Mainha, ele não era um pistoleiro, matava apenas por questões de honra e vingança.
Sua fama correu por todo o Nordeste e virou tema de vários cordéis e estudos sobre a pistolagem no Brasil. Por onde passou, Mainha despertou medo e admiração, sendo temido por muitos e perseguido por outros.
Segundo a justiça, seu primeiro crime aconteceu em 13 de fevereiro de 1977, quando matou o prefeito de Alto Santo, Expedito Leite. No entanto, ele não assumiu o assassinato e afirma que a primeira vida que tirou foi a de seu vizinho Orismide, pois ele o chamara de ladrão de cavalos, assim, precisava preservar sua honra e punir o ofensor. Protegido por fazendeiros do Pará e do Ceará, Mainha conseguiu escapar por diversas vezes das perseguições policiais e só foi preso em 6 de agosto de 1988 em Quiterianópolis (CE). Pego de surpresa, ele não teve tempo de reagir e acabou indo para a prisão.
Antes da prisão, porém, o pistoleiro acumulou uma longa lista de crimes, muitos dos quais negou durante toda a sua vida. Em 4 de fevereiro de 1982, matou os pistoleiros Altamiro e Altevir, sendo, no entanto, absolvido desse crime sob a alegação de legítima defesa, já que os pistoleiros haviam sido contratados para matá-lo.
Em 16 de abril de 1983, esteve envolvido em uma chacina, na qual matou o ex-prefeito de Pereiro (CE), sua esposa, seu motorista e um soldado a quem o ex-prefeito havia dado carona. Por esse crime, ele foi condenado a 64 anos de prisão, indo para o regime semiaberto após 12 anos de reclusão.
No presídio, Mainha teve destaque depois de defender o então arcebispo de Fortaleza, Dom Aloisio Lorscheider e mais diversas autoridades, durante uma rebelião em 1994. Ao levar cerca de 25 pessoas para a sua cela, o pistoleiro salvou as suas vidas, protegendo-os dos presos rebelados.
Em entrevista concedida ao professor Ricardo Arruda, da Universidade Federal do Ceará, Mainha afirmou que não tinha medo da morte, temia apenas ser desmoralizado e ter sua honra ofendida. Ele se identificava como um justiceiro e vingador, não como um pistoleiro e dizia que, apesar de viver “com a morte nos olhos” não queria esse destino para seus filhos e não era a figura perigosa em que o transformaram, ele dizia querer deixar o passado de crimes para trás e passar a viver como cidadão, embora soubesse o quanto seria difícil abandonar a vida do crime.
Em 2002, ele é preso novamente por trocar tiros com policiais durante uma festa de família e perde o direito ao semiaberto, conquistando-o novamente em setembro de 2003.
Em 4 de janeiro de 2011, enquanto passeava em um burro no município de Maranguape (CE), Mainha foi assassinado com 9 tiros de pistola. Seu velório foi acompanhado por uma multidão, pois além do medo que despertava, também conquistou muita admiração, já que muitos realmente acreditavam que ele matava em nome da justiça e da honra.
Texto - Adriana de Paula e Joel Paviotti
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