Clerisvaldo B. Chagas, 4 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.208
ORIGINAL BAR DAS OSTRAS. (FOTO: historiadealagoas.com). |
Diante de um prato bem ornado de camarão, não me custou relembrar em segundos, fatos relativos ao saboroso crustáceo. No trecho Pão de Açúcar – Piranhas, um pescador, foguinho acesso perto da canoa, dizia: “esse povo da cidade não sabe comer camarão. É tanto mistura que coloca que perde o gosto verdadeiro. Para sentir o sabor especial do camarão, basta torrá-lo na hora com, no máximo, uma pitada de sal e pronto”. Já em Belo Monte, estava misturado pelos pescadores, camarão, pitu e peixe num escabeche só. Como não estava analisando nem café e nem vinho, para que discutir com pescador? E se o camarão é sozinho ou acompanhado deixe a coisa para quem sabe fazer e limite-se à degustação do oferecimento.
Numa outra oportunidade tive a honra de ser convidado pelo saudoso mestre, Alberto Nepomuceno Agra, para comer camarão no Bar das Ostras. Fiquei surpreso, pois pensava que o lugar não mais existia. Tradição, referência gastronômica de Alagoas, o Bar das Ostras foi ponto de encontro da elite política e intelectual do estado durante o longo período entre 1950 e 2002. “O Bar de propriedade de Dona Oscarlina e Seu Pedro (pescador da lagoa Mundaú e comerciante de peixes e crustáceos no bairro da Levada), mudou de endereço três vezes, tendo fechado as portas de sua última sede no bairro de Jatiúca em 2002. Ao longo desses anos a fama da receita se expandiu, o sabor conservou-se inalterado e a receita se manteve em segredo”.
O local era muito sofisticado e ficava em uma rua próxima ao Estádio Rei Pelé. Mas o camarão seguia todo aquele ritual de ingredientes, talvez desnecessário, corrigidos pelo pescador do rio São Francisco. Dessa forma fui encontrá-lo em um restaurante do Trapiche da Barra, bairro das rendeiras de Maceió. Camarão puro e no palito, compadre, uma verdadeira delícia que confirmava a primeira teoria.
O Brasil produz artificialmente o camarão em cerca de 50%. São absurdos de toneladas do bicho, mas infelizmente o preço do produto continua restrito a imperadores e imperatrizes como as sortudas baleias dos nossos mares. Não importa se eles são de água doce ou salgada, tipo e tamanho. Em todos os lugares visitados é servido, um para comer, os outros para cheirar.
Mas que o peste é gostoso é.
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