Por Francisco Aleluia*
O cenário fica
próximo à nossa cidade, Itabuna. Segundo a professora e pesquisadora, Márcia do
Couto Auad, autora de Anésia Cauaçu: Mulher-Mãe-Guerreira - Um estudo sobre
mulher, memória e representação no banditismo na região de Jequié-Bahia, edição
UESB 2013, a família dos Cauaçus era dona de propriedade e viveu un dos maiores
conflitos com a família do coronel Marcionílio Souza, homem de grande
influência naquela região do semiárido baiano, no período de 1913 a 1930.
Anésia Adelaide de Araújo, fichando conhecida como Anésia Cauaçu. As lutas e os
fatos tomaram várias páginas do Jornal A Tarde, da Bahia, principalmente no ano
de 1916, quando houve um acirramento entre as partes. Segundo a profesora
Márcia Auad (2013), "[...] vários jornais da capital passaram a se ocupar
do banditismo na região de Jequié, divulgando os acontecimentos e sua
ampliação. O que antes era um conflito entre clãs, formado por familiares e
agregados, passa a se constituir numa quase guerra civil, na qual eram utilizadas armas avançadas, e tácticas de guerrilha implementadas pelos bandos
armados, de modo a poderem enfrentar melhor os ataques e confrontos com a
polícia." (AUAD, p. 41-42, 2013).
Segundo a obra em lide, o confrontão se deu após a morte de um dos primos de Anésia Cauaçu por recusar-se a participar de acões a mando de Zezinho dos Laços (José Marques), este ligado ao chefe político coronel Marcionílio Antônio Souza. Segundo a autora "[...] o que levou a família a entrar definitivamente na luta armada contra o clã dos Rabudos e, mais tarde, contra a polícía do Estado." (Idem, p. 41). O poder dos coronéis, na chamada "República dos Coronéis", dominavam toda a região, cujo apoio vinha do coronel Horácio de Matos, mandatário das terras da Chapada Diamentina.
Sobre coronelismo ver Faoro, em Os Donos do Poder, faz excelente explanação
(FAORO, p. 620 - 654).
Esse coronel Horácio é o mesmo que dá sobreviva a Virgulino Lampião, ao chegar na Bahia depois da grande derrota sofrida em Mossoró en 1927. (Cf. Lampião na Bahia, p. 16, 2019), do professor Oleone Coelho. Marcionílio Antônio de Souza era grande propriétario de terras em Maracás e líder do clã do Rabudos. Esses rivalizavam com os Mocós.
Anésia Cauaçú, em determinado momento da luta, chegou a chegar o bando dos Cauaçús. Ela também fazia o trabalho de buscar armas para o bando, armas estas conseguidas através de políticos e aliados do bando, conforme a conveniência do momento. O bando dos Cauaçus chegou a contar com cerca de 100 membros, o que despertava certo espanto para as forças policiais. Estas, por sua vez, sempre se postara ao lado do mandatário local, tendo todo o apoio e homens (jagunços) para combater os Cauaçus.
A exemplo do que ocorreu no combate ao cangaço lampiônico, muitos foram os abusos cometidos pelas forças policiais na Bahia, como saques, estupros, mortes, inclusive de inocentes. Mas, ao contrário da impunidade ofertada aos membros criminosos das volantes que perseguíam os cangaceiros de Lampião, na Bahia vários membros de volantes, comandantes, foram presos e até perderam seus cargos. Os abusos foram denunciados, conforme edição de A Tarde, p. 1, de agosto de 1916.
Para termos ideia desses abusos, chegaram a tal ponto de a população chegar a pedir ao governo ser melhor ficar com a "companhia" dos Cauaçus, pois os verdadeiro bandidos estaríam "[...] do lado do governo e que os Cauaçus não passavam de um grupo que lutava pela sobrevivência, frente aos crimes perpetrados pelos chefes políticos da região." (AUAD, p. 59, 2013).
O que diferencia as ações dos Cauaçus a do bando de Lampião e seus asseclas é o caráter não sanguinário, pois eles eram "[..] um bando [...] mas de salteadores, por sobrevivência. A morte, [...] acontecia no campo de batalha e näo à toa ou por motivo fútil." (Idem, p. 69).
PRISÃO - Anésia foi presa durante a primeira Expedição depois de ser entregue à força policial por Isaías Galvão, de olho na recompensa de 300$ contos de Reis. Anésia estava refugiada na fazenda Boa Vista com o marido e a filha, diga-se de passagem, a convite do próprio Isaías Galvão. (Idem, p. 47).
Com os Cauaçus, as mulheres, juntamente com os homens, faziam parte nos embates, o que não ocorra no cangaço lampiônico.
Pequenos comerciantes e agricultores, os Cauaçus transitavam numa região que abrangia a Chapada Diamentina (Ituaçu) até Boa Nova, Jequié, Maracás, Brumado e cidades circunvizinhas.
Depois de quase dizimados, em 1929, os Cauaçus saem do cenário do banditismo.
Anésia Cauaçu verdadeiramente, teve seu lugar nessa história de luta, violência
e sangue no cenário nordestino. Sua história, sua luta devem ser avivada no
cenário histórico. Ela não foi apenas "mulher de cangaceiro", mas uma
mulher ativa dentro do bando dos Cauaçus e no combate de campo.
Uma família que passou de pacatos lavradores e comerciantes a fora da lei, na condução de bandidos.
CAUAÇUS EM ILHÉUS E ITABUNA - Os tentáculos dos Cauaçus alcançaram as cidades de Ilhéus e Itabuna. Alguns coronéis, a exemplo do então deputado Gileno Amado, Landelino Loureira, deram apoio aos cauaçus, quando fizeram-se presentes na fazenda Água branca, que pertencia ao coronel José Kruschevsky.
Os cauaçus, segundo relato do capitão Dantas, atuaram em Ilhéus e Itabuna nos anos de 1916 e 1917. (Jornal A Tarde, 30 de novembro de 1916, p. 2 apud AUAD, p. 61).
(*) Francisco Aleluia é graduado em História.
FONTE:
AUAD, Márcia
do Couto. Anésia Cauaçu: Mulher-Mãe-Guerreira - Um estudo sobre mulher, memoria
e representação no banditismo na região de Jequié-Bahia. Vitória da Conquista:
Edições UESB, 2013.
FAORO,
Raymundo. Os Donos do Poder: Formação do patronato político brasileiro. - 8 ed.
- São Paulo: Globo, 1989.
FONTES, Oleone
Coelho. Lampião na Bahia. Ponto & Vírgula Publicações - Salvador, 11 ed.,
2019
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