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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

TRÊS CADEIRAS.

 Por Rangel Alves da Costa

 Um dia, caminhando ao vento pelos sertões de Poço de Cima, eis que de repente avistei três cadeiras na calçada de uma casinha. Porta e janela fechadas, curral sem mugido ou presença alguma, apenas o silêncio moldurando aquela singela e bucólica vida matuta tão minha. 

Fui me aproximando cada vez mais e imaginando o porquê daquelas três cadeiras ali colocadas, como se três pessoas ali estiveram conversando ou mesmo esperando a chegada de visitantes. Mas como, se a porta e a janela estavam fechadas e não havia nem sinal de presença de qualquer morador? 

Abaixei o olhar pensativo, mas no instante seguinte, ao olhar novamente adiante, então me vi diante de presenças imaginárias. Disse a mim mesmo que aqueles assentos estavam ocupados por pessoas da terra, por sertanejos que ali passaram e fizeram história, por conterrâneos de um passado de recordações. 

Um velho vaqueiro bebendo da água de seu cantil, um caçador remexendo na fundura de seu aió, uma senhora debulhando feijão de corda num cesto espalhado no colo, um mateiro se preparando para as andanças em meio à caatinga, uma velha senhora passando seu rosário de contas pelos dedos e orando por tudo e por todos. Vi um cangaceiro contando as balas na cartucheira, vi um menino em pé na cadeira e atirando com sua peteca baleadeira. Quase me acerta. 

E vi tudo se esvaindo como névoa em meu olhar, e depois apenas as três cadeiras vazias. Segui até lá e me assentei numa delas. Depois chamei meu pai Alcino e meu avô Ermerindo para conversar. Suas vozes e suas lições ainda estão comigo. Suas presenças ainda levo comigo...

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