Por: Valéria Escócia
Jornalista e escritor Lauro da Escóssia
[1905 - 1988
O dia 19 de junho de 1927 foi importantíssimo na história do Jornal O Mossoroense e de toda a imprensa potiguar, pois foi neste dia que foi publicado o maior furo de reportagem do Estado. Tratava-se da entrevista que o cangaceiro Jararaca concedeu a Lauro da Escóssia na prisão, antes mesmo de depor em inquérito policial.
Com a reportagem, de repercussão nacional, transformada em matéria do jornal O Estado de São Paulo, o jornal chegou a uma vendagem recorde de 5.400 exemplares, patamar nunca mais alcançado.
A manchete dizia "Hunos da nova espécie" e a sub-manchete, "O famigerado Lampião e seu grupo de asseclas atacam Mossoró". As chamadas diziam "A heróica defesa da cidade" e "É morto o bandido Colchete é gravemente ferido o lombrosiano Jararaca".
Em seu livro "Escóssia", Cid Augusto transcreve a reportagem, que é introduzida por comentário discordando do adjetivo atribuído a Jararaca na chamada, e que pode ser conferida abaixo na íntegra:
"- Não, nada. Sujeito simpático. Ele começou me dizendo que se chamava José Leite, tinha 27 anos e nasceu no dia 5 de maio em Buíque, Pernambuco. Sujeito moreno, muito moreno, mas não era negro. Era solteiro e andava com Lampião há um ano e alguns meses. Ele tinha um fuzil mauser e cartucheiras de duas camadas, mais 560 mil réis no bolso e uma caixinha com obras de ouro no valor de 1 conto de réis.
Disse que o ataque a Mossoró foi idealizado por Massilon Leite e que Lampião relutou um pouco, por causa da história das duas Igrejas. Que quando Lampião chegou a Mossoró não gostou nada, nada, daquela 'igreja da bunda redonda' (de onde estavam partindo os tiros contra o bando). De repente, Jararaca começava a rir, diz Lauro da Escóssia, e a gente perguntava por que, espantado como um homem com um buraco de bala no peito ainda conseguia rir. -Mas, enfim, Jararaca, para que Lampião queria tanto dinheiro? - Era pra comprar os volantes de Pernambuco.'
Com a reportagem, de repercussão nacional, transformada em matéria do jornal O Estado de São Paulo, o jornal chegou a uma vendagem recorde de 5.400 exemplares, patamar nunca mais alcançado.
A manchete dizia "Hunos da nova espécie" e a sub-manchete, "O famigerado Lampião e seu grupo de asseclas atacam Mossoró". As chamadas diziam "A heróica defesa da cidade" e "É morto o bandido Colchete é gravemente ferido o lombrosiano Jararaca".
Em seu livro "Escóssia", Cid Augusto transcreve a reportagem, que é introduzida por comentário discordando do adjetivo atribuído a Jararaca na chamada, e que pode ser conferida abaixo na íntegra:
"- Não, nada. Sujeito simpático. Ele começou me dizendo que se chamava José Leite, tinha 27 anos e nasceu no dia 5 de maio em Buíque, Pernambuco. Sujeito moreno, muito moreno, mas não era negro. Era solteiro e andava com Lampião há um ano e alguns meses. Ele tinha um fuzil mauser e cartucheiras de duas camadas, mais 560 mil réis no bolso e uma caixinha com obras de ouro no valor de 1 conto de réis.
Disse que o ataque a Mossoró foi idealizado por Massilon Leite e que Lampião relutou um pouco, por causa da história das duas Igrejas. Que quando Lampião chegou a Mossoró não gostou nada, nada, daquela 'igreja da bunda redonda' (de onde estavam partindo os tiros contra o bando). De repente, Jararaca começava a rir, diz Lauro da Escóssia, e a gente perguntava por que, espantado como um homem com um buraco de bala no peito ainda conseguia rir. -Mas, enfim, Jararaca, para que Lampião queria tanto dinheiro? - Era pra comprar os volantes de Pernambuco.'
Voltamos a outros episódios com Jararaca na prisão.
Quelé não entrou na cadeia. Um seu ordenança, negro bem alto chegou perto de Jararaca, tendo-lhe arrancado do pescoço, num gesto brusco, uma volta de ouro que trazia com uma medalha de Santa.
Depois cobiçou um anel que o bandido trazia no dedo. Jararaca tentou tirar, não conseguindo, ao que o negro foi logo dizendo: '- Coloque a mão aqui. Eu vou cortar o dedo para tirar o anel'. E puxou um faca (facão) ao que o Dr. Marcelino implorou: '- Meu senhor, não faça isto. Cortar o dedo na minha frente, não'.
O negro desistiu, por certo atento à sensibilidade do doutor.
Jararaca, fez um pedido com certa ironia: '- Tragam Quelé que eu quero dizer quem é cangaceiro'.
Disse depois: '- Quelé era do nosso bando e a polícia paraibana fez dele um sargento para nos perseguir'.
Mesmo ferido, Jararaca não escondia seu riso, o desejo de ainda viver e no momento em que uma linda jovem de nossa sociedade penetrava na sala, atenta à sua curiosidade para ver o bandido, este pergunta:
'- Esta moça é daqui?'. Ao que, recebendo a afirmativa, disse: '- Se o capitão (Lampião) soubesse que aqui tinha uma moça tão bonita teria entrado na cidade.'
A uma pergunta de D. Marola Silva (esposa do Sr. Veriato Silva), se os vinte e tantos traços que tinham na coronha de sua arma eram anotações de morte feitas pelo mesmo, como dizem, respondeu-lhe:
'- É tudo mentira, minha senhora. Eu nunca matei ninguém'. E deu uma boa gargalhada, saindo o vento pelo furo do peito.
Apenas impaciente ficou seguidas horas naquele sofrimento, pelo que chegou a pedir um canudo de mamão e algumas pimentas malaguetas, dizendo que com isso ficaria bom.
Perguntei-lhe como. Disse: '- No bando, quando alguém recebe ferimento como este (apontando para o peito), sopra-se malagueta pelo canudo colocado na ferida. Sai toda salmoura do outro lado. Arde muito, mas a gente fica curado'.
Mas, apesar de tudo isto, Jararaca vinha aos poucos melhorando e se tivesse sido medicado convenientemente não morreria pelos ferimentos.
O tenente Laurentino de Morais tinha ido a Natal de onde voltou na quarta-feira seguinte. Esperou pela quinta, quando Jararaca seria transportado para Natal. Alta noite, da quinta para a sexta-feira, levaram Jararaca, não para Natal e sim para o cemitério, onde já estava aberta a sua cova.
Depois cobiçou um anel que o bandido trazia no dedo. Jararaca tentou tirar, não conseguindo, ao que o negro foi logo dizendo: '- Coloque a mão aqui. Eu vou cortar o dedo para tirar o anel'. E puxou um faca (facão) ao que o Dr. Marcelino implorou: '- Meu senhor, não faça isto. Cortar o dedo na minha frente, não'.
O negro desistiu, por certo atento à sensibilidade do doutor.
Jararaca, fez um pedido com certa ironia: '- Tragam Quelé que eu quero dizer quem é cangaceiro'.
Disse depois: '- Quelé era do nosso bando e a polícia paraibana fez dele um sargento para nos perseguir'.
Mesmo ferido, Jararaca não escondia seu riso, o desejo de ainda viver e no momento em que uma linda jovem de nossa sociedade penetrava na sala, atenta à sua curiosidade para ver o bandido, este pergunta:
'- Esta moça é daqui?'. Ao que, recebendo a afirmativa, disse: '- Se o capitão (Lampião) soubesse que aqui tinha uma moça tão bonita teria entrado na cidade.'
A uma pergunta de D. Marola Silva (esposa do Sr. Veriato Silva), se os vinte e tantos traços que tinham na coronha de sua arma eram anotações de morte feitas pelo mesmo, como dizem, respondeu-lhe:
'- É tudo mentira, minha senhora. Eu nunca matei ninguém'. E deu uma boa gargalhada, saindo o vento pelo furo do peito.
Apenas impaciente ficou seguidas horas naquele sofrimento, pelo que chegou a pedir um canudo de mamão e algumas pimentas malaguetas, dizendo que com isso ficaria bom.
Perguntei-lhe como. Disse: '- No bando, quando alguém recebe ferimento como este (apontando para o peito), sopra-se malagueta pelo canudo colocado na ferida. Sai toda salmoura do outro lado. Arde muito, mas a gente fica curado'.
Mas, apesar de tudo isto, Jararaca vinha aos poucos melhorando e se tivesse sido medicado convenientemente não morreria pelos ferimentos.
O tenente Laurentino de Morais tinha ido a Natal de onde voltou na quarta-feira seguinte. Esperou pela quinta, quando Jararaca seria transportado para Natal. Alta noite, da quinta para a sexta-feira, levaram Jararaca, não para Natal e sim para o cemitério, onde já estava aberta a sua cova.
Tenente Laurentino de Moraes. Fonte: JMaria
Disse o bandido: '- Vocês não me levam para Natal. Sei que vou morrer. Vão ver como morre um cangaceiro!'
Naquele local foi-lhe dada uma coronhada e uma punhalada mortal. O bandido deu um grande urro e caiu na cova, empurrado. Os soldados cobriram-lhe o corpo com essa areia. Essa ocorrência feita às escondidas foi guardada com as devidas reservas por alguns dias. Tempos depois, o capitão Abdon Nunes, naquela época comandante da guarnição policial de Mossoró, revelou em depoimento a morte de Jararaca'.
Naquele local foi-lhe dada uma coronhada e uma punhalada mortal. O bandido deu um grande urro e caiu na cova, empurrado. Os soldados cobriram-lhe o corpo com essa areia. Essa ocorrência feita às escondidas foi guardada com as devidas reservas por alguns dias. Tempos depois, o capitão Abdon Nunes, naquela época comandante da guarnição policial de Mossoró, revelou em depoimento a morte de Jararaca'.
Bom dia? Parabéns pela postagem.
ResponderExcluirLendo sua postagem, uma frase do cangaceiro Jararaca me chamou atenção, não sei se ele falou isso mesmo ou se o intrevistador escreveu para implementar a reportagem. Quando Jararaca diz "Esta moça é daqui?'. Ao que, recebendo a afirmativa, disse: '- Se o capitão (Lampião) soubesse que aqui tinha uma moça tão bonita teria entrado na cidade". Essa frase intende-se que Lampião não entrou em Mossoró porque o propósito do ataque não era esse. Se realmente o cangaceiro Jararaca disse isso, pode haver outras coisas por trás desse ataque.
Atenciosamente,
Neto - Natal/RN