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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Histórias e estórias que ouvi falar...

Por: José Cícero


O cel. Izaías Arruda e o Incêndio da ponte do rio Salgado
Ponte onde um dia ocorreu o Incêndio dos domentes pelos jagunços do Cel. Izaías Arruda
Ponte sobre o Rio Salgado/Aurora local do Incêndio em 1927

Fotos: 1-vestígios de ferros retorcidos pelo fogo, 2- Jc e o mateiro local, 3- Vista frontal da Ponte e 4 - equipe: J.Cícero, ladeado por Arnaldo da Ingazeira(guia) e Jean Charles(fotógrafo).


Há anos que esta história me intrigava. Algo que nunca saíra de vez da minha cabeça. Tanto que, depois de várias investidas em vão para saber o local exato onde o incêndio ocorreu – por sorte, alguns meses atrás terminei encontrando o que procurava, isto é – a ponte do Olho d’água localizada entre o povoado de Quimami (Missão Velha) e Ingazeiras(Aurora).
Quando já me dirigia para a ponte do Jenipapeiro nos rumos do riacho dos Porcos nas proximidades de Ingazeiras, distrito de Aurora tive a sorte de parar numa bucólica residência de um agricultor. Um senhor de aproximadamente 80 anos. Cordato e hospitaleiro. Após falar-lhe do que eu estava procurando, ele de súbito, disse saber de toda a história contada-lhe um dia pelo seu genitor já falecido. E mais, que eu estava errado quanto a localização. A tal ponte não era a do jenipapeiro e sim, uma outra situada um pouco mais a frente a uma légua e meia dali. A ponte do incêndio ficava na localidade rural de Olho d’água. Aquela dica para mim foi muito mais que uma surpresa agradável. Foi um lenitivo. E assim, seguimos(eu e a minha equipe). De moto, ficou mais fácil vencermos as léguas tiranas das estradas empoeiradas. Chegamos finalmente ao local procurado. A ponte era magnífica. Exaustos mas recompensados por mais uma constatação histórica.
No ano passado, havia ido a Missão Velha e tendo inclusive conversado com o pesquisador Bosco André acerca deste fato. Tudo estava, ainda como agora um tanto quanto nebuloso. Um mistério.
Bosco André e Manoel Severo

De lá fui até a ponte/pontilhão das Emboscadas. Por sinal uma bela obra de arquitetura. Confiante de que havia sido ali o ambiente onde tudo ocorreu. Só em seguida é que fiquei sabendo que também não era lá. De novo estava eu desolado.
E agora, diante do local exato pude constatar que se trata mesmo de uma bela ponte metálica de engenharia arrojada para os padrões da época. Logo que chegamos pude notar que bem ao lado, havia um canteiro de obras com vistas à construção da ferrovia denominada Transnordestina - obra do governo federal ainda da era Lula. Uma nova ponte estaria sendo projetada. E que será construída paralela a esta da Reffesa.
Torço para que, com a suposta desativação da antiga linha, que pelo menos a histórica ponte onde todo o fato ocorreu venha a ser preservada. Posto ser ela, um patrimônio arquitetônico e histórico não somente de Aurora e Missão Velha, mas de todo o Cariri.
A Pesquisa de campo:
Vasculhamos todo o matagal em seu entorno, assim como o leito do rio, quando pude, para minha alegria descobrir algumas peças antigas de ferro retorcido que estavam enterradas na lama, assim como cobertas pelo mato(ver foto). Tudo o que aquele senhor nos informou estava ali diante dos nossos olhos. Era a história viva e pulsante de um tempo ido, como que desafiando o olhar dos contemporâneos.
O rio estava belo, mesmo que rasgado e maltratado pelas máquinas que estavam a construir a nova ferrovia. Vi muita destruição em boa parte do percurso. Uma verdadeira agressão ao rico e ao bioma da nossa caatinga como um todo. Tudo em nome de um progresso devorador que parece puder tudo. Até mesmo devastar e destruir os nossos ecossistemas e a nossa própria história.
Era gozado a forma como os operários da Transnordestina nos olhavam. Talvez, por não compreender o nosso propósito de pesquisa. Ficavam curiosos. Vendo-me com a minha equipe a fotografar tudo, a esquadrilhar o ambiente em suas minúcias; como a procurar algo no vazio. Descobrimos peças de metais enterradas na areia do rio. Checamos restos de antigos dormentes. Buscando assim qualquer vestígio possível daquele remoto acontecimento, passado a mais de 80 anos. Era possível ver os sinais de fogo nos pilares da velha ponte. Tudo ali parecia está realmente carregado de antigas memórias.
Eu olhava para aquela ponte e imaginava o velho coronel Izaías Arruda e Zé Gonçalves com todo o seu bando de jagunço em suas infindáveis estripulias.
Lampião e seus comandados... Além dos grandes potentados e outras autoridades que um dia passaram por ali. Por fim, saber que por sobre aquela ponte do Salgado passou boa parte do antigo progresso do Cariri foi para mim uma sensação das mais indescritíveis. Um misto de saudade, alegria e curiosidade.
Como se deu todo o episódio:
O ainda hoje misterioso, o incêndio da ponte sobre o rio Salgado de 1927, foi uma dura resposta do cel. Izaías Arruda (então prefeito de Missão Velha) em retaliação a um imbróglio com os engenheiros da RVC, depois que a ferrovia decidiu romper um acordo verbal relativo a compra(fornecimento) de madeira de lei para a fabricação de dormentes. A referida madeira era retirada da propriedade do temível coronel. A RVC resolveu não mais aceitar o produto de Izaías em face do preço exorbitante, muito além do valor de mercado que era praticasdo na época. O coronel não aceitou de bom grado o rompimento do contrato. Achou que aquilo era uma desmoralização a sua posição de líder. Indignado com o fim do lucrativo negócio, resolveu se vingar.
De modo que deu ordem aos seus jagunços para que arrancassem quase um quilometro e meio de dormentes da estrada de ferro e fizessem uma grande coivara sobre a ponte. E foi o que promoveram: uma fogueira gigante. Os trilhos ficaram em alguns trechos, soltos sem a sua base de apoio. Uma grande tragédia estava prestes a ocorrer com o trem da feira que passaria ainda nos escuro da madrugada lotado de gente e mercadoria. Um iminente acidente estaria prestes a acontecer. Um verdadeiro atentado que poderia vitimar um grande número de passageiros inocentes. O coronel não estava nem aí para as conseqüências do seu tenebroso ato.
As labaredas de fogo podiam ser vistas a quilômetros dali. Disse-nos o tal senhor do Jenipapeiro. A ponte estava literalmente em chamas. Vez que grande parte da sua estrutura metálica, segundo relatos, com o fogo, estava vermelha em brasa viva.
Uma fogueira monumental alimentada por madeira de lei do tipo: aroeira, pau d’arco, cedro e mssaranduba dentre outras. “O ferro da ponte, como dizia meu pai, ficou em brasa viva”, disse o morador. O calor, segundo ele, era tanto que parte da estrutura metálica chegou ao ponto de alguns peças amolecer. Restos de ferros retorcidos ainda hoje depois de pouco mais de 82 anos daquele inusitado acontecimento ainda foram encontrados sob a areia do leito do rio. "A temperatura era altíssima e o fogo entrou pela noite. Foi uma coisa horrível, nem sei com a ponte não caiu por inteira".
E a tragédia só não foi maior porque um vaqueiro que residia nas proximidades (no Jenipapeiro), às escondidas, montou seu cavalo e rumou célere para à estação de Ingazeiras comunicando o fato ao agente local que de imediato telegrafou para as estações do Crato e Fortaleza. O trem daquele dia ficou pelas bandas de Iguatu ou do Crato mesmo. Por vários dias, quase uma semana o tráfego costumeiro do chamado trem da feira ficou interrompido até que funcionários da Rede Ferroviária Cearenses(RVC) sob segurança reforçada pudessem realizar os necessário serviços de recuperação da linha férrea e da própria ponte sobre o rio Salgado. Os prejuízos foram calculados em cerca de 300 contos de réis; uma verdadeira fortuna naquele tempo.
Mas o mistério ainda permanece até hoje. E algumas perguntas continuam, por assim dizer, inevitáveis. Ou seja, por que será que o coronel Izaías Arruda veio a escolher logo a ponte do Olho d’água a mais de duas léguas da estação de Missão Velha onde inclusive era prefeito? Por que justamente Aurora? Será que queria demonstrar força para os irmãos Paulinos com os quais mantinha uma rixa mortal? Ou quisera com isso, evitar quem sabe, que as volantes que se encontravam na parte baixa do Cariri não pudessem chegar a Aurora para dá cabo de Lampião junto com seu bando? Ou mesmo, queria que o próprio Lampião, fosse responsabilizado pelo incêndio aumentando assim, a ira do governo? Quanto a esta última suposição é notório ressaltar que muitos da época, inclusive alguns jornais da capital, chegaram a noticiar que aquele atentado tinha sido obra dos cabras de Lampião, em retaliação a perseguição das volantes, inclusive como consta equivocadamente na página 339 do livro: ‘A Marcha de Lampião, assalto a Mossoró’ de Raul Fernandes, filho do prefeito potiguar Rodolfo Fernandes, famoso por ter comandado a resistência de 27. Por fim, pelo modus operandi, que relação existiu entre o incêndio da ponte do Salgado e o da antiga estação de Missão Velha?
Ousado e temível em toda região, o coronel Izaías Arruda era de fato, um inegável fazedor de inimigos. Jogava bem, sobretudo nos bastidores e, como costumam dizer nossos matutos – com dois baralhos. De sorte que, não era tarefa fácil vencê-lo em seus domínios. Tinha, como se sabe ainda hoje, o seu exército particular de jagunços sempre pronto a agir nos mais diferentes ramos.
Contudo, adespeito de qualquer outra coisa, é preciso dizer que Izaías Arruda de Figueiredo foi um homem inteligente e de coragem que esteve muito além do seu tempo. A forma como se deu a sua morte foi uma prova inconteste de que pagara caro por tudo isso.
O coronel Izaías Arruda, era filho natutal de Aurora onde foi delegado e, quando ainda prefeito de Missão Velha, foi assassinado na estação de Aurora em 04 de agosto de 1928 pelos irmãos Paulinos, vindo a morrer quatro dias depois.

Um comentário:

  1. Anônimo00:51:00

    ESSE CORONEL ERA DURO NA QUEDA. SÓ MORREU QUATRO DIAS DEPOIS DE SER ASSASSINADO???????????

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