Sempre que viajo pelo Nordeste, uma das coisas que me chama atenção são as seculares edificações existentes nas antigas fazendas da nossa região, tanto no sertão como no litoral.
Casa Grande do Engenho Machado, Rio Formoso, Pernambuco - Foto - Rostand Medeiros
Sejam as casas que serviam de lar para os proprietários, ou as antigas senzalas onde padeciam os escravos, ou os velhos engenhos, este tipo de ambiente me atrai.
Em muitos casos chama atenção a arquitetura, a imponência da estrutura, os materiais utilizados, a relação das edificações com o entorno, a significação ds edificações para a história de um determinado município, etc. Infelizmente a maioria destes importantes locais para a nossa história se encontram em ruínas ou em processo de destruição pela falta de conservação.
Frente do casarão - Foto - Rostand Medeiros
Não se pode negar que manter um centenário casarão é extremamente oneroso e necessita dedicação. Muitos dos materiais utilizados no passado, como a madeira, custam atualmente muito mais do que valiam no passado e alguns podem ser raros.
Em breve só restará de muitas destas antigas edificações que tenho visitado apenas os alicerces. É raro um caso como o da Fazenda Trigueiro, em Pereiro, Ceará, anteriormente apresentado no nosso “Tok de História” (Ver – http://tokdehistoria.wordpress.com/2011/07/08/1583/).
Cidade de Rio Formoso, início dp século XX. Foto pertencente ao museu histórico de Rio Formoso-PE
Por esta razão, em uma recente viagem ao litoral sul de Pernambuco, fiquei muito feliz ao visitar um destes imponentes e antigos casarões, que está sendo arduamente reformado pelo seu atual proprietário. Trata-se da casa grande do Engenho Machado, no município de Rio Formoso, a cerca de 90 quilômetros de Recife.
Localizado a cerca de três quilômetros da cidade de Rio Formoso temos a entrada para esta propriedade, em uma porteira as margens da rodovia PE-060. Seguimos então por cerca de dois quilômetros por uma estrada de terra em boas condições, subindo elevações que no passado estiveram cobertas de plantações de cana-de-açúcar e mais remotamente, da quase extinta Mata Atlântica.
Paisagem a partir do Engenho Machado. Ao fundo vemos a foz do Rio Formoso e a badalada Praia dos Carneiros - Foto - Rostand Medeiros
Em certo ponto avistamos o antigo casarão e neste local é a paisagem da Ponta de Guadalupe e da famosa Praia dos Carneiros que enchem os olhos dos visitantes. Estamos a menos de seis quilômetros em linha reta destas belas praias do litoral sul de Pernambuco.
Mas o que impressiona de verdade é a reforma no antigo casarão.
Aspecto da reforma - Foto - Rostand Medeiros
O atual proprietário está tendo muito trabalho para conservar este verdadeiro monumento histórico da antiga sociedade patriarcal agrária do litoral pernambucano. Dá para ver a colocação de inúmeras vigas de concreto como reforço estrutural. Não foi possível entrar no belo imóvel, mas o responsável pelo local, conhecido como “Val”, que recebeu este visitante da melhor maneira, informou que está sendo utilizado na reforma um critério aonde o conceito da preservação vem em primeiro lugar. Até mesmo fotos antigas são utilizadas para um melhor trabalho. Infelizmente a antiga senzala e o engenho se encontram atualmente nos alicerces e a intenção do atual proprietário é que isto não venha acontecer com a imponente casa grande.
É bastante louvável esta atitude. Realizada estritamente através de uma ação privada e, até onde soube, sem nenhum tipo de ajuda governamental.
Antigas telhas coloniais, com as marcas das pontas dos dedos do oleiro que a produziu no passado - Foto - Rostand Medeiros
O atual proprietário, que soube apenas ser um funcionário de carreira do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, está fazendo um grande trabalho de resgate histórico. Dá para perceber que em termos econômicos, era mais rentável colocar o casarão abaixo, construir uma moderna casa e aproveitar a bela vista do litoral que o terreno proporciona.
Em relação aos fatos históricos ligados a este casarão, pouco descobri. O fato mais relevante, comentado por várias pessoas na região de Rio Formoso, foi que neste local ficou hospedado o Imperador Dom Pedro II, sua esposa Dona Tereza Cristina de Bourbon e as princesas Isabel e Leopoldina.
Dom Pedro II, a Imperatriz e as princesas
Infelizmente não consegui uma documentação comprobatório que Sua Majestade Imperial e sua família estiveram neste casarão. Mas na página 4 do “Relatório que a Assembleia Legislativa Provincial de Pernambuco”, lida em 1 de março de 1860, por Luiz Barbalho Moniz Fiuza, então dirigente do executivo pernambucano, afirma que em 22 de novembro de 1859, Dom Pedro II e sua família chegaram a bordo de naves da Marinha ao porto de Recife.
Na capital pernambucana a família imperial ficou hospedada no Palácio do Governo, que havia sido reformado pera receber a ilustre visita. Consta que em homenagem às filhas do Imperador, que brincavam nos jardins, o Palácio tomou o nome de Campo das Princesas.
A família imperial brasileira em 1861
Depois, segundo Moniz Fiuza, o Imperador seguiu a visitar Olinda, Goiana, Igarassu, Cabo, Escada, Sirinhaém, Vitória e Rio Formoso, onde pretensamente se hospedou na casa grande do Engenho Machado. Em todos os locais que visitou em Pernambuco, o Rei foi recebido com imensas demonstrações de carinho. Estas visitas faziam parte de um desejo de Sua Majestade de conhecer as províncias do Império, mesmo as mais distantes.
Existe um pequeno museu histórico na antiga sede da prefeitura de Rio Formoso e lá estão expostos mobiliários que pertenceram aos antigos proprietários do Engenho Machado e teriam sidos utilizados pelo Imperador quando da sua estada na propriedade.
Antigo móvel utilizado pelo Imperador Dom Pedro II quando esteve no Engenho Machado - Foto Rostand Medeiros
Consta que no começo do século XX este engenho pertenceu a destacada empresa societária “Mendes Lima & Cia”, cujo maior acionista foi Manuel Mendes Baptista da Silva, que em 1933 presidia o sindicato dos usineiros de Pernambuco.
Em relação a esta reforma na casa grande do Engenho Machado, ainda bem que existem pessoas preocupadas e interessadas em reverter este tipo de situação e preservar a nossa história.
Diante da casa grande do Engenho Machado Foto - Isa Cristina
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