Tio João Justino Barbosa com sua esposa Tereza (in memoriam)
Hoje, véspera de São João, 23 de junho de 2012, acordo tarde, cansada dos preparativos para viajar com a minha família para a minha terra natal, para os festejos juninos.
Saudosamente relembro os tempos dos meus pais. Naquela casa, onde nasci, eles nos aguardavam ansiosos. Minha mãe já amanhecia com as pamonhas no fogo, mexendo a canjica e contando as camas para acomodar todos os filhos e netos. Meu pai encerrava os trabalhos na fábrica, mais cedo do que o habitual. Mandava trazer um caminhão de lenha - tirava da lenha que servia à caldeira a qual mantinha o sistema de vapor criado para movimentar o maquinário - para acender a fogueira em homenagem a São João.
A casa grande se enchia de filhos, netos, parentes e amigos. De Arcoverde, chegavam os irmãos de minha saudosa mãe, meus tios: João e Biu, com toda família.
Tio Biu, meu pai, minha mãe (saudosa memória)
Por Tio Biu, o mais velho dos seus irmãos, ela nutria um sentimento filial, dado que foi criada por ele em decorrência da sua condição de órfã.
Houve um ano em que o São João da minha casa paterna ficou marcado para sempre. Foi o ano em que aconteceu o acidente com o caminhão da fábrica, quando transporte da lenha para a fogueira. Meu irmão, que também se chama João, vinha no caminhão e, já próximo a nossa casa, chocou-se com um caminhão dirigido por um motorista de nome Manoel Tida.
Choque dos caminhões em véspera de São João.
Em agradecimento, por meu irmão ter saído ileso, meu pai jurou jamais deixar de acender a fogueira em homenagem a São João.
Em meio a tantas lembranças, recebi a notícia de que o único dos cinco irmãos da minha mãe havia se submetido a uma cirurgia e, em decorrência de complicações, havia falecido na Cidade de Arcoverde-PE. Dos nossos antepassados ele era o único que ainda estava entre nós.
Com o falecimento de Tio João encerra-se hoje, definitivamente, a presença de todos eles na velha casa dos meus pais. Todas as lembranças de antigas comemorações ficarão guardadas no coração de cada um de nós.
Resta-nos a esperança de que os vivos não esperem a morte para reunir a família, sintam sempre em seus corações a alegria do reencontro com os que ainda estão por aqui.
Que nossos próximos festejos juninos, na casa dos nossos saudosos pais, sejam sempre intitulados "Raízes", em homenagem aos que nos fizeram nascer no sertão do nordeste brasileiro, cuja linguagem que nos deixaram como legado é a poesia, que é a mais sublime linguagem da alma.
Que ainda sejamos capazes de homenagear a todos, que nunca cheguemos a triste conclusão de que: "Só os mortos são os nossos únicos bem profundo, que nos fazem esquecer o horror dos vivos."
Para meu Tio João, o último dos membros da nossa família Barbosa, que acaba de descer do "Trem da Vida", minha saudade e minha homenagem, neste dia em que, no céu, se reúne toda a geração passada da qual somos originários:
OS MORTOS
Ao menos junto aos mortos pode a gente
Crer e esperar n'alguma suavidade:
Crer no doce consolo da saudade
E esperar do descanso eternamente.
Juntos aos mortos, por certo, a fé ardente
Não perde sua viva claridade;
Cantam as aves do céu na intimidade
Do Coração mais indiferente
Os mortos dão-nos paz imensa à vida,
Dão a lembrança vaga, indefinida
Dos seus feitos gentis, nobres, altivos.
Nas lutas vãs do tenebroso mundo
Os mortos são ainda o bem profundo
Que nos faz esquecer o horror dos vivos.
Trilha Sonora: Melancolia - Heitor Villa-Lobos
Lusa Vilar, autora desta crônica, é prima do escritor
João de Sousa Lima
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