Por: José Cícero
Silva
Contemporânea
da intrépida lavrense Fideralina Augusto Lima, Generosa Amélia da Cruz em
Santana do Cariri; além dos feitos e ações que nos remetem até mesmo
a heroína Bárbara de Alencar; Maria da Soledade Landim –
Marica Macedo do Tipi d’Aurora, compôs com folga de mérito e valentia o histórico
quarteto das chamadas matriarcas dos sertões do Cariri. Nasceu
ao que tudo indica no início de 1865 na localidade de Gameleira do
Pau na serra do Araripe região do Jamacaru (bem ao lado
da fazenda Serra do mato do não menos famoso cel. Santana –
conhecido coiteiro de Lampião) em Missão Velha.
Filha de João
Manuel da Cruz(Joca da Gameleira) e de Dona Joaquina de Sales Landim(D.
Quininha). Casara pela primeira vez entre 1883-1885 na igreja de Missão Velha
com José Antonio de Macedo(Cazuzinha do Tipi) seu parente. Ambos
descendentes dos “Terésios. Em 1891 o casal decide ir morar em
Aurora comprando a propriedade do sítio Sabonete onde mais tarde se
formaria a vila Tipi; local onde fixaram residência até o fim da
vida.
Informações
esporádicas dão conta de que era uma mulher de gênio, determinada e de
inteligência incomum para aqueles tempos. Além de ousada, perspicaz e valente,
notadamente quando se tratava de defender posições
e os interesses do seu clã. Mesmo numa época em
que imperava a supremacia do sistema patriarcal que, via de regra,
relegava à mulher a uma posição social das mais
subalternas. No mais das vezes, relegada aos afazeres domésticos,
conquanto confinada à cozinha e a criação da prole.
De tal forma
que, qualquer tentativa de se contrariar o velho padrão era encarado
quase como um sacrilégio. Porém, com Marica do Tipi, o
que até então era tido como regra acabou dando
lugar à exceção. Pelo menos por aquelas bandas do Ceará... E assim foi que
ousou, desafiou e se impôs do seu modo particularmente austero e imperativo
ao status quo vigente. Por sua coragem e valentia de
autêntica ‘amazonas sertaneja’, logo se tornou conhecida, influente e
respeitada por todos os quadrantes do Cariri e região
circunvizinha. Tanto que, ainda hoje alguns historiadores chegaram a
denominá-la de “a coronel de saia” ou simplesmente de ‘a brava sertaneja de
Aurora’.
A força do seu nome, portanto foi muito além do riacho do Tipi de
onde construiu o seu poder. Que além de político era alicerçado no
criatório de gado, lavoura de milho, algodão, casa de
farinha e engenho de rapadura. Gostava
de idéias novas e pioneiras. Como por exemplo, quando
Antonio Macedo (seu filho), assumiu a prefeitura em 1919 ela ordenou que o
município fosse divididos em quatro partes no sentido de
facilitar administração. Cabendo a ela própria gerir os
problemas e os interesses da região que ia do sítio Cobra, Sabonete, Mel e Tipi
até à fronteira com a Paraíba. Há quem diga, que fizera uma excelente
administração.
Da casa
grande, quanto da bagaceira do leito dava ordem aos
seus comandados com a mesma autoridade e energia dos
coronéis do seu tempo. Suas determinações tinham verdadeira força de
lei. Tornando-se, por conseguinte, uma mulher de invejável poder e respeito não
somente no que tange às questões familiares, como inclusive na
política aurorense onde se pontificou por vários anos não, diretamente, mas
através de filho, parentes e aliados.
Esteve no
centro de questões emblemáticas, a exemplo do chamado “fogo do Taveira” que
redundou na invasão e saque de Aurora em 1908 por mais de 600
jagunços sob o comando de Zé Inácio do Barro ante os auspícios de quase todos
os coronéis da região. Quando foi deposto por meio das balas o então
intendente municipal Antonio Leite Teixeira Neto(Totonho de Monte Alegre) pondo
em seu lugar o seu fiel aliado, o cel. Cândido do Pavão. Um episódio que de tão
marcante ainda hoje ocupa lugar de destaque nos anais da história do
Cariri, do Ceará e do Nordeste.
O tal “Fogo
do Taveira” aconteceu entre os dias 16 e 17 de dezembro
do ano de 1908 no sítio Taveira de Aurora, situado já nos limites de
Milagres e contíguo ao Barro. Quando num tiroteio fora
morto o seu filho mais novo José Antonio de Macedo(Cazuza) de apenas 14 anos
sendo também ferido o proprietário da casa
. Coincidentemente, mesmo dia e na mesma
ribeira se dava a polêmica demarcação das célebres minas
do Coxá pertencentes ao padre Cícero Romão Batista. Objeto de disputa
entre o sacerdote e pequenos sitiantes das imediações. O que decerto,
contribuiu ainda mais para o acirramento dos ânimos entre a gente do coronel
Totonho de Monte Alegre, Marica Macedo, Zé Inácio do Barro e coronel Domingos
Furtado de Milagres.
Distrito do
Tipi em Aurora
Sabendo disso,
Marica solicitou ajuda a Floro Bartolomeu que se encontrava
nas imediações do sítio Maracajá (Pavão) com um grupo jagunços armados até os
dentes. Não querendo participar diretamente do conflito o
representante do padre Cícero apenas usou do seu prestígio junto ao então
governador do estado - Nogueira Acióli que ordenara a retira
imediata do destacamento policial que dava apoio ao cel. Totonho. O que
facilitou ainda mais a estratagema para a invasão e deposição do então
intendente municipal. Assim, o fogo do Taveira representou o
verdadeiro estopim para a invasão e saque de Aurora, por cerca de
600 jagunços a mando dos coronéis da região a pedido de Marica. Como
era bastante comum naquele tempo, todos os grandes coronéis,
invariavelmente, possuíam seus grupos particulares de jagunços e
cangaceiros.
O dato predito
culminando com a deposição forçada do então intendente Cel.
Antonio Leite Teixeira Neto(Totonho de Monte Alegre) parente da
matriarca. Sendo em seguida colocado em seu lugar o cel. Cândido do
Pavão, rendeiro e amigo do padre Cícero e aliado incondicional da
matriarca. Quanto viúva, casara pela segunda vez em
1906 com o barbalhense Antonio Abel de Araújo. Mandona
e dominadora, dizem que não costuma levar desaforo pra casa. Nada acontecia na
Aurora do seu tempo, tanto na política quanto nas questões mais comezinhas que
não fosse do seu inteiro conhecimento. Influente e respeitada era de fato uma
grande liderança. Ao passo que também, tinha a força de juiz, prefeito, delegada,
assim como senhora de engenho e conselheira familiar.
Uma mulher
sertaneja que, dentre outras qualidades, se notabilizou sobre tudo
por está muito além do seu tempo... Morreu supostamente de ataque cardíaco
em 6 de janeiro de 1924 na residência de sua filha, localizada a rua
José dos Santos, na beira fresca de Aurora.
Palestra durante
o Cariri cangaço em Aurora: Na noite do dia 20 de setembro durante o
seminário Cariri Cangaço 2013 em grande estilo Aurora celebrará pela terceira
vez, tanto à memória quanto o resgate desta
palpitante história protagonizada por Marica
Macedo, quando se comemora a passagem dos 148 anos do seu
nascimento. A palestra ficará por conta do seu neto, o Dr. Vicente Landim
de Macedo residente na capital federal e presidente de honra da AFA-Brasília*.
Indubitavelmente, um momento dos mais afirmativos em que a população aurorense
será convidada a conhecer um pouco mais sobre a história de uma das mais
célebres mulheres do Cariri e do Nordeste brasileiro. Um instante de
verdadeira celebração da geração do
presente com alguns dos grandes acontecimentos
do seu passado. Por fim, um verdadeiro brinde ao resgate
e a preservação da memória histórica de Aurora, do Cariri e do
Nordeste.
Prof. José
Cícero
Secretário de
Cultura e Turismo
Pesquisador do
Cangaço
e conselheiro
do Cariri Cangaço.
Aurora – CE.
Obras
Consultadas:
Aurora,
História e Folclore – Amarílio Gonçalves Tavares
Marica Macedo,
a brava sertaneja de Aurora – Vicente Landim de Macedo.
Matriarcas do
Ceará(Papéis Avulsos) – Raquel de Queiroz e Heloísa Buarque de Hollanda.
Estripe de
Santa Tereza – Joaryvar Macedo.
Venda Grande
d’Aurora – João Tavares Calixto Jr.
Império do
Bacamarte – Joaryvar Macedo.
Revista Aurora
– edição 2007.
CARIRI CANGAÇO
2013!
AURORA:
Dia 20 de
setembro de 2013
TEMA: “Marica
Macedo do Tipi – Sertaneja d’Aurora, Matriarca do Cariri”.
Dr. Vicente
landim de Macedo
Neto de
Marica, Presidente de Honra da AFA-Brasília.
http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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