Por Tomislav R.
Femenick
O escritor Vingt-un Rosado Maia e o jornalista Tomislav R. Femenick
Publicado no jornal "O Mossoroense".
Mossoró, no dia 27 de Agosto de 2006. E no "O Jornal de Hoje". Natal, no dia 24 de Setembro de 2007.
Padre Mota
O Padre Mota
foi uma das figuras mais emblemáticas da história de Mossoró, do Oeste e do Rio
Grande do Norte. Emblemático por suas qualidades: determinação, seriedade,
honradez, humildade, probidade, coragem, obediência e grande senso de humor.
Determinação, quando resolveu ser padre e se ordenar pelo Colégio Pio
Latino-Americano de Roma e, para isso, aprendeu latim em somente dois meses.
Determinação, ainda, quando tomou a peito a fundação da Diocese de Mossoró.
Honradez, por não aceitar o convite do interventor do Estado para continuar à
frente da Prefeitura de sua cidade, quando seu mandato, conquistado nas
eleições de 1936, foi cassado pelo Estado Novo. Humildade, quando aceitou
continuar prefeito, a pedido de seus amigos e do então Bispo de Mossoró, Dom
Jaime de Barros Câmara.
Dom Jaime Câmara
Probidade, porque sempre soube defender os bens
públicos sem deixar manchar, macular ou infamar as suas mãos com o dinheiro do
povo. Coragem, ao enfrentar as hordas de Lampião, participando de uma das
trincheiras montadas para defender a cidade.
Obediência, por renunciar ao cargo
de Prefeito, atendendo a um pedido do seu Bispo. Senso de humor, porque sabia
que “Deus não é triste”.
Lampião e o cangaceiro Juriti
Entretanto, a
história dessa grande figura humana, desse grande potiguar, tem sido
negligenciada. Poucas, muito poucas mesmo, têm sido as homenagens que sua terra
fez em sua memória. Nenhuma delas – o nome de uma via pública em Mossoró, sem
destaque, ou uma escola pública, sem nenhuma ligação com a sua biografia –
reflete a grandeza e a importância que esse homem teve para a construção da
identidade mossoroense. A verdade é que até conspurcaram sua memória. O belo
espetáculo público “Chuva de bala no país de Mossoró” tem uma mancha:
transformou o Padre Mota em uma figura caricata, grosseira, desbocada e até
pornográfica. O Padre corajoso que, de arma em punho, defendeu os mossoroenses
é apresentado como um personagem picaresco, burlesco, cômico e ridículo.
Capa do livro "Padre Mota"
Incentivado
pelos familiares do Monsenhor Mota é que tomei a sério a tarefa de escrever a
sua biografia. Se por um lado foi fácil contar a história do Padre, do homem
público e do cidadão Luiz Ferreira Cunha da Mota; por outro, a minha grande
dificuldade foi me abster da condição de seu sobrinho. Dificuldade porque
convivi intensa e duradouramente com ele.
Com nove ou
dez anos, mexendo e remexendo nos seus livros, li as primeiras poesias. O
contato causou-me espanto. Afinal, que linguagem era aquela, cheia de rodeios,
usando palavras incomuns e complicadas, com uma sonoridade e um ritmo
diferentes? Umas falavam sobre o amor e coisas belas; outras sobre a dor e o
desespero e outras mais sobre fatos e feitos gloriosos. “Marilia de Dirceu”, de
Tomás Antonio Gonzaga, “Eu e outras poesias”, de Augusto dos Anjos, e os
“Lusíadas”, de Luís de Camões, abriram-me as portas desse mundo misterioso e
envolvente que é a literatura. Foi o Padre Mota quem me explicou a estranheza e
a maravilha daquela forma peculiar de escrever; quem chamou a minha atenção
para o fato de que somente há poesia, se houver emoções e não apenas fatos,
ações e pessoas a serem objeto da escrita. Se fechar os olhos, ainda serei
capaz de ver aquele homem gordo, sentado em sua cadeira de balanço, fumando seu
charuto, suando as bicas e ensinando-me o que é poesia. Mostrou-me os
clássicos, alguns poetas brasileiros, franceses e ingleses, os estilos barroco,
romântico e moderno. Mas não se esqueceu de me chamar à atenção para a poesia
popular, a dos cantadores de cordéis.
Raimundo Soares de Souza
Já adulto,
secretário da Prefeitura, na gestão de Raimundo Soares de Souza, muitas vezes
levei, a pedido do prefeito, esboços de projetos de Lei, de Decretos ou de
planos administrativos para que o Padre Mota, com a sua longa experiência,
desse a sua opinião sobre aqueles assuntos de uma administração que não era
sua, mas de um dos seus grandes amigos. Doente, com a vista fraca e um olho
atacado pelo glaucoma, o Padre Mota, usando uma forte lupa, lia tudo e fazia
suas sugestões com letras pouco estáveis, já indicando o seu frágil estado de
saúde.
Por isso e
pela carga de sentimentos, que me atinge quando rememoro sua figura, é que
resolvi escrever esse livro de forma impessoal, procurando excluir da sua
história qualquer emoção advinda da minha condição de seu sobrinho e seu amigo.
Procurei, em todo o texto, ser o historiador impessoal. Se em algumas passagens
não o consegui, aqui me desculpo com a humildade que com ele aprendi.
Leia também:
Leia também:
http://www.tomislav.com.br/luiz-mota-o-cidadao-padre-e-prefeito/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Caro Mendes, à cada momento vou conhecendo as grandes figuras humanas produzidas nas Terras de Mossoró. Vejo que Mossoró tem história.
ResponderExcluirAntonio Oliveira - Serrinha
Boa matéria. Padre Mota fez o casamento no religioso de meus pais.
ResponderExcluir