Por José Gonçalves
Antônio Vicente Mendes Maciel, mais tarde conhecido pela alcunha de Antônio
Conselheiro, viera ao mundo no dia 13 de março de 1830, em Quixeramobim, na
velha província do Ceará.
Morto o pai, a quem auxiliava na lide do comércio, em sortida casa de secos e
molhados, localizada na praça da antiga vila, passa a desempenhar, cada um ao
seu tempo, os ofícios de professor, caixeiro viajante, construtor civil e
advogado popular.
Após sucessivas incursões pelo interior da província, e influenciado por beatos
e penitentes, a exemplo do padre Ibiapina, adotou o ofício religioso,
empreendendo, a partir daí, longo percurso pelos sertões ensolarados do
nordeste. Portando-se ao modo dos missionários, passou a apresentar-se em
sítios e povoados, instruindo e aconselhando a gente humilde, que a ele
recorria sequiosa dos seus ensinamentos.
Em 1874, tendo deixado seu torrão de origem, cruzou a província de Pernambuco e
aportou nas terras de Sergipe, onde permaneceu por alguns meses, pregando e
dando conselhos. No mesmo ano, apareceu nos sertões da Bahia, a essa altura já
famoso e desfrutando do prestígio popular.
Homem de fé e leitor assíduo da Bíblia, Antônio Conselheiro não demoraria a tomar
a defesa dos pobres e humilhados. Numa região profundamente marcada pela
miséria e opressão, ele se apresentava como a grande esperança das massas
injustiçadas.
Começou como rábula, uma espécie de advogado dos pobres, que atuava em pequenas
causas, sempre em defesa dos menos favorecidos. Posteriormente, ao presenciar
de perto a situação de abandono a que fora relegado o nordeste – abandono não
só da parte do poder público como também das autoridades eclesiásticas –
empreendeu esforços na construção de estradas, igrejas, cemitérios e aguadas,
amenizando, dessa forma, a dor e o sofrimento da gente mais necessitada.
De índole pacifica, jamais apelou para as armas, tampouco optou por mecanismos
político-partidários. Antes, buscou enfrentar os gravíssimos problemas que
afligiam o nordeste à luz das escrituras sagradas e com base em renomados
mestres e pensadores cristãos, como Santo Agostinho, São Tomás de Aquino,
Thomas Morus, dentre outros.
Propagador de um novo modelo de sociedade e sintonizado com os anseios mais
profundos das massas sertanejas, Conselheiro pregou a paz, a justiça e a
solidariedade. Com a mesma determinação, combateu mazelas que, de muito,
impregnavam a sociedade nordestina, como a cobrança abusiva de impostos, o
trabalho escravo, o “voto de cabresto”, o clientelismo político, o latifúndio,
a pobreza, o atraso, o analfabetismo.
Tais expedientes, secularmente mantidos pelos donos do poder, tornavam a
população nordestina cada vez mais pobre e dependente. Por conta disso, muitos
eram levados a migrar para outras regiões do Brasil, especialmente a Amazônia,
onde acabavam empregados na exploração da borracha. Sem o mínimo de assistência
por parte do setor governamental, aquele que teimava em permanecer em seu
torrão natal era obrigado a submeter-se aos caprichos dos senhores da terra,
trabalhando de sol a sol, na condição de quase escravo, a fim de garantir o
sustento da família.
As constantes estiagens pioravam ainda mais a situação dos pobres. Sem água,
sem comida e sem trabalho, famílias inteiras abandonavam seus lares,
engrossando o cordão de retirantes que, dia e noite, vagavam sem destino pelas
estradas do nordeste, em busca de algum auxílio que pudesse mitigar suas dores
e sofrimentos. Famintos e exaustos, muitos deles acabavam morrendo durante as
longas e árduas viagens, sendo sepultados ou lançados às margens das estradas,
onde permaneciam para sempre, acompanhados apenas de velhas e rudes cruzes de
madeira.
Inspirado nos textos bíblicos, Antônio Conselheiro levou sua palavra aos mais
recônditos lugarejos do nordeste. Proclamando a caridade, o perdão e o amor ao
próximo, fomentou relações solidárias na família, no trabalho e nos negócios.
De contrapartida, combateu o furto, a violência, o adultério, a prostituição, o
alcoolismo, e toda sorte de vício.
Conselheiro era tido como pregador fascinante, possuidor de voz sonora e
arrebatadora, a ponto de deixar seus ouvintes às vezes extasiados. Nas palavras
de uma conselheirista, dona Evangelina, “parecia inté que a gente tava em riba
das nuve, voano pro céu.”
Em junho de 1893, acompanhado de centenas de fiéis seguidores, chegou a antigo
logradouro situado às margens férteis do rio Vazabarris, na época município de
Monte Santo/BA, e ali estabeleceu o arraial de Canudos, também conhecido como
Belo Monte. Tinha início a fase decisiva da saga de Canudos e Antônio
Conselheiro.
José Gonçalves do Nascimento
jotagoncalves_66@yahoo.com.br
Fonte:
facebook
Página:
José
Gonçalves
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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