Por Junior Almeida
No final do
mês de maio desse ano estivemos em Floresta Pernambuco, onde participamos do
Cariri Cangaço. Na programação, além do lançamento do livro “As Cruzes do
Cangaço”, de Marcos de Marcos De Carmelita
Carmelita e Cristiano Ferraz,
algumas palestras e visitas a locais com alguma relação ao cangaço, fizeram
parte do evento.
Além da lendária Nazaré do Pico, o grupo de escritores,
pesquisadores, curiosos e anfitriões foi à Tapera dos Gilos, fazendas de Eloy
Jurubeba, Jenipapo e Ema, além de Poço do Ferro do célebre Ângelo da Gia, hoje
município de Ibimirim. Nessa última ouvimos o bisneto do famoso coiteiro e
amigo de Lampião, Washington Gomes de Lima, dizer como se deu a morte de
Antônio Ferreira, irmão de Lampião, na propriedade.
Coiteiro de Lampião o coronel Ângelo da Gia
A versão do
povo do lugar, segundo o fazendeiro, é que Antônio Ferreira morreu de um
“sucesso”, que é como os mais antigos se referem a uma morte por acidente.
Washington mostrou o local em que a cabeça do cangaceiro ficou exposta, depois
que uma força volante desenterrou o corpo do sicário famoso, alguns dias depois
de sua morte, e seguiu com a “Família Cariri” para dois locais diferentes:
primeiro o local em que está enterrado a cabeça de Antônio Ferreira e em
seguida o local onde está o corpo, perto de um umbuzeiro onde segundo a
história, o bandido teve a sua cabeça decepada.
Lampião e seu irmão Antonio Ferreira da Silva
Na sepultura coberta por
pedras, uma nova cruz foi colocada pelos pesquisadores paraibanos Narciso Dias, Jair Tavares e Jorge Remígio, que falou
aos presentes, relatando que na época da morte de Antônio, um meninote da
fazenda recebera do cangaceiro uma encomenda de uns peixes em troca de um bom
trocado, e que quando soube da morte, lamentou apenas o negócio não concluído.
Antônio Amaury Correia de Araújo
“Era começo de
Janeiro de 1927. Antônio Ferreira, junto de Luiz Pedro, Jurema e um outro
rapaz, estava acoitado pelo coronel Ângelo da Gia, na fazenda Poço do Ferro, e
jogavam baralho. Luiz Pedro estava numa rede e Antônio em pé. Antônio estava
perdendo muito no jogo, enquanto disse a Luiz:
- Luiz, você
está sentado nesta rede há muito tempo! Agora deixe que eu me sente um pouco
aí.
O rapaz
segurando o cano do fuzil, ao apoiar-se para levantar, bateu com a coronha no
chão. A arma, destravada, disparou a bala que atingiu Antônio em cheio. Este,
antes de cair, só teve tempo de falar:
- Matou-me,
Luiz."
E continua o pesquisador paulista:
“Lampião, que
estava longe, ao receber a notícia, passou a noite na cavalgada para acertar-se
do ocorrido na fazenda de seu amigo Ângelo. Perdera assim mais um irmão em sua
história de cangaceiro, por um acidente estúpido. Ouviu e concordou com o
parecer do próprio coronel sobre o acidente.
Lembre-se leitor, que Jararaca só foi morto em Mossoró junho deste ano
Jararaca, um dos chefes
cangaceiros, no entanto, propôs que todos os envolvidos pagassem com a vida,
por não acreditar que se tratasse de um acidente. Ao saber que seria perdoado,
Luiz fez um juramento a Lampião, que passou para a história.
Cangaceiro Luiz Pedro
- Seu
capitão... O senhor poupou minha vida. Eu juro acompanhá-lo até o fim. No dia
em que o senhor morrer, eu morro também!”
Será mesmo que
a morte de Antônio Ferreira foi assim, como conta a versão oficial? Seria
Virgulino assim tão justo e compreensivo ao ponto de deixar viver um homem
responsável pela morte do seu irmão, mesmo que por acidente?
Optato Gueiros
Optato Gueiros
tem outra versão para a morte do sicário, que relata em seu livro “Lampeão;
Memórias de um Oficial ex Comandante de Forças Volantes”. Ele diz que:
Coronel
Higino em 1973. Foto de Josenildo Tenório - lampiaoaceso
“Foi em 1926 o
tenente Higino, sargentos Manuel Neto e Arlindo Rocha achavam-se sob comando do
major Téophanes Ferraz, deram na batida do grupo que havia perto de Vila Bela, sequestrando viajantes, impondo-lhes pagamento de cinco contos pelo resgate, e
como não dispusessem desse valor, foram conduzidos pelos bandoleiros.
Manuel Neto e Arlindo faziam a vanguarda, tendo o comandante o tenente Higino,
ordenando que se aproximassem uma légua da serra, fizessem alto, afim de serem
acertados alguns planos para o ataque, pois já tinha previsto o que os
aguardava naquele terrível boqueirão da Serra Grande.
Os sargentos, porém, fizeram alto em local que já estavam ao alcance dos projéteis das armas dos cangaceiros, que em número de noventa e seis, ocuparam as posições mais estratégicas, desde os penhascos de cima às furnas e contrafortes da encosta até o pé da serra.
Nessa altura, o tenente Higino disse:
- Não deveriam ter parado mais, que os planos podemos concertar, já estando nós ao alcance das armas dos cangaceiros? Agora ‘come-los ou verte-los’, avancemos.
Meio minuto correu desses entendimentos, os bandidos abriram fogo. Manuel Neto foi retirado do local onde caíra, com as duas pernas quebradas; e Arlindo Rocha, com um ferimento no queixo, com fratura exposta.
A tropa, que era composta de duzentos e sessenta soldados, lutou até à noite com os inimigos que, além de inexpugnávelmente entrincheirados, davam constantemente ‘retaguardas’.
A força teve dez mortos e mais de trinta feridos.”
O trecho mais
revelador do texto de Optato Gueiros, ele diz que:
“Antônio
Ferreira ficou baleado e faleceu no Poço do Ferro, onde foi sepultado.
Dias depois fiz a exumação do cadáver, que foi identificado.
Era o segundo irmão que Lampião perdia em combate. O bandido sentiu muito a morte de Antônio Ferreira, e desse dia em diante, não quis mais cortar o cabelo, tornando-se uso entre os cangaceiros, deixar crescer o cabelo, proporcionando-lhes um aspecto ainda mais repulsivo.”
Quem está com
a razão, Antônio Amaury, pesquisador sério e respeitado do Sudeste do país, ou
Optato Gueiros, comandante volante que participou diretamente das ações contra
o cangaço no Nordeste, mas que no mesmo livro cometeu o erro básico ao dizer
que o ataque da horda lampiônica à Serrinha do Catimbau foi em 1936 e o
comandante da resistência foi Antônio Caxeado, quando se sabe que o ataque foi
em julho de 1935, e o homem que baleou Maria Bonita foi João Caxeado?
O dramaturgo grego Ésquilo, conhecido como pai da tragédia, disse que em uma guerra, a primeira vítima é a verdade. Tem razão. São muitas versões, muitas verdades e muitas mentiras. É de se pensar que não seria difícil Lampião decretar a versão da morte por acidente do seu irmão. Será que alguém do Poço do Ferro desobedeceria uma ordem de Virgulino? Não podia essa versão ser contada várias vezes até que virasse verdade, como recomendava o ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels? Quem tem razão, Amaury ou Optato?
Fonte:
facebook
Página:
Junior Almeida
Grupo:
O Cangaço
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