Por Sálvio Siqueira
Naquela época
as Forças Públicas dos Estados afetados pelos crimes dos bandos de cangaceiros
aceitavam os sertanejos se engancharem, ingressarem, em suas fileiras de todo
jeito. A única referência exigida era ter coragem de cair na caatinga e brigar
contra Lampião, o que não era pouco.
Alguns sertanejos eram, e são possuidores de algum ‘dom’, especialidade nata, vinda ‘do berço’.
O vaqueiro sertanejo está ligado, diretamente, com a História do Fenômeno Social estudado. Maior prova disto é seu maior representante, Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, ter sido um. Aliás, o ‘Rei Vesgo’ fazia dupla com seu inimigo número 1, José Saturnino, o Zé Saturnino, nas pegas de boi no mato.
A cangaceira Áurea companheira do cangaceiro Mané Moreno
Havia um vaqueiro chamado Leonídio, que com a experiência de rastrear gado nas ‘mangas’, mata aonde se criava reses soltas, naquele tempo com grandes extensões, pois, não existiam quase cercas para separar um imóvel rural de outro, passou a rastrear cangaceiros na caatinga. Trabalhou para os comandantes Zé Rufino e Odilon Flor, dois, dos mais acirrados e destacados comandantes de volantes.
Volante
comandada por Odilon Flor. detalhe: seu filho Luiz, com apenas 15 anos, já
fazia parte da volante. Ele encontra-se, na captura, em cima da calçada, sendo
o terceiro da esquerda para direita. estava, segundo alguns autores, dando
muito trabalho em casa, Então sua mãe o manda para junto do pai. Aí 'caba véi',
entrô nos eixo. ele participou do combate em que foram mortos os cangaceiros Mané Moreno, Áurea e Cravo Roxo.
Quando já prestava seus serviços ao sargento Odilon Flor, cortou as cabeças dos
cangaceiros Mané Moreno, Área, sua companheira e Cravo Roxo, apesar de em
muitas literaturas trazerem como sendo o terceiro, o cangaceiro Gorgulho, o
pesquisador/historiador Alcino Alves Costa, em sua obra "Lampião Além da
Versão - Mentiras e Mistérios de Angico", comprava que Gorgulho saiu
ferido do confronte, tratou do ferimento e voltou para sua região, morrendo de
morte natural, quando os mesmos foram mortos durante um forró na noite de São
João de 1937.
Naquele São João, São Pedro, talvez com ciúmes, abre as torneiras e manda chuva aos borbotões. Com isso, facilita para a volante do comandante Odilon Flor tomar chegada a casa em que acontece o ‘samba’.
Na casa, o sanfoneiro não para e a turma balança os cambitos com vontade... tomam uma cachaça aqui, outra ali, e, tome pé no chão no ritmo do forró...
Ninguém, dentre os cangaceiros, nem os coiteiros, pensavam nunca em que, numa noite de São João, com chuva e tudo, a volante estivesse tão perto, mesmo por que eles também eram sertanejos e sentiam no sangue o fervor do repique do triângulo, o batuque da zabumba e o som da sanfona.
Cangaceiro Cravo Roxo
No entanto, para o comandante Odilon Flor, as festas sertanejas ficariam para depois. Quando fossem exterminados os bandos de fora-da-lei que infestavam as caatingas.
Com cautela, a tropa toma chegada e, em pontos estratégico, se acomodam a espera da ordem de ataque.
Lá dentro o forró come solto... de repente, em vez de fogos de artifício, a bala come solta. O tiroteio, no início ainda confunde alguns que ali se divertiam, mas, logo, logo, ficam a par do que realmente está acontecendo.
Os cangaceiros, que até para fazem suas necessidades fisiológicas não deixavam suas armas, começam a responderem ao fogo.
A coisa é feia, mas, devido à surpresa do ataque, o resultado é rápido. A turba dana-se por sobre a lama e adentram no mato molhado pela chuva.
Os Praças aguardam por algum tempo. Após uma ordem do comandante, vão se aproximando e vasculham tudo a procura de feridos e/ou mortos.
Encontram três corpos. Os arrastam para o meio do terreiro e vão procurar lugar para se acomodarem, a fim de se protegerem da chuva e passarem o resto da noite.
Cabo Leonídio
Pela manhã do dia 24 de junho de 1937, dia de São João, logo cedo, o comandante Odilon Flor ordena ao cabo Leonídio que decepe, corte, as cabeças dos cangaceiros abatidos no combate da noite anterior.
“-- Vamos cortar as cabeças dos defuntos!” (diz o comandante)(blog lampião aceso.com)
Ninguém se dispôs a cumprir a ordem. Realmente, cortar o pescoço de uma pessoa, mesmo estando morta, não é trabalho fácil não. O comandante, vendo que ninguém agia, vira-se para o cabo e diz:
“- nego, vem cá, apanha aqui este facão e vá onde tá os cangaceiros, corte a cabeça e traga!”(blog Ct.)
O cabo nunca tinha cortado pescoço de ninguém, então responde:
“- Sargento, o senhor já mandou todo mundo; nenhum quis ir, só eu é que posso cortar? O senhor podia ir, porque o senhor tem mais costume do que eu!”
“- Eu quero é que você corte!” ( ordena o sargento)(blog Ct.)
“(...)Aí eu apanhei o facão e fui. Quando eu peguei no cabelo do cabra, balancei, fechei a cara pro lado assim e sentei o facão, pá-pá, cortei, e joguei pra lá; peguei a mulher, cortei a cabeça da mulher. Peguei no outro cabra, cortei também a cabeça. Peguei todos os três, levei:
Pronto, chefe, ta
aqui(...).”(blog Ct.)
Por mais que a pessoa seja calejado nas batalhas, existem coisas que causam reações contrárias. O cabo sente isso na pele, veja o que ele narra:
“(...)Aí eu apanhei o facão e fui. Quando eu peguei no cabelo do cabra, balancei, fechei a cara pro lado assim e sentei o facão, pá-pá, cortei, e joguei pra lá; peguei a mulher, cortei a cabeça da mulher. Peguei no outro cabra, cortei também a cabeça. Peguei todos os três, levei: Pronto, chefe, ta aqui.
Cabeça dos cangaceiros: Áurea, Cravo Roxo e Mané Moreno
Depois de uns dias, eu senti assim um remorso. De vez em quando, à noite quando eu dormia, sonhando com Manoel Moreno, um pouco assim de nervoso comigo, e coisa. E ele me apareceu um dia, me pegou dormindo. Pela abertura da rede e veio com um punhal em cima de mim; eu então pelejei, não pude fazer nada, gritei: cabra mata o homem, cabra, me dá as armas, cabra, até que dentro do quarto ( eu estava deitado perto da rede de uma criança, meu filho que hoje está em são Paulo), então eu tranquei os pés, a mulher levantou-se, tirou o menino da rede e ficou de lado quando eu ajuntei, pensando que o cabra estava me sangrando.
Levei a rede de uma vez só, agarrei-me nela, pensando que fosse o bandido, levei uma pancada na cabeça, (bati com a cabeça na parede) aí foi que me acordei, cansado, sufocado, sem fôlego, com o aperto que o cabra me deu. Bom, aí eu fiquei, coisa e tal e disse ao sargento Odilon: sargento, eu to me me vendo aperreado com Manoel moreno. Ele então disse: Você vai comigo daqui uns dias na casa de Pedrinho. Então eu fui. Cheguei lá, o Pedrinho fez lá um remédio pra mim e perguntou como era. Eu disse então os sintomas e depois de uns dias foi desaparecendo. Odilon me ensinou um defumador, umas coisas que o Pedrinho ensinou a ele e mandou eu tomar este defumador e com isto desapareceu. Não vieram mais me aperrear.
Depois da noite na rede a alma de Manoel Moreno tornou a aparecer; e aparecia com os braços estendidos, as mão para cima, pedindo:
Leonídio, cadê minha cabeça que você cortou?(...)”. (blog Ct.)
Imaginemos a cena meus amigos: A pessoa ter que cortar os pescoços de três cadáveres, mortos na noite anterior, com certeza já estavam em estado de rigidez avançado, não é moleza não.
"Leonídio, cadê minha cabeça que você cortou?", isso fora a lembrança, ou pesadelos, que um soldado de volante tinha de um dia de São João... nas quebradas do sertão sergipano.
Fonte blog Ct.
Fotos Benjamin
Abrahão
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Fonte:
faceook
Página:
Sálvio Siqueira
Grupo:
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