Por Zózimo
O delegado de
polícia de Propriá, José Joaquim de Sousa e Silva, em telegrama de 11 de julho
de 1898, comunicou ao chefe de polícia de Aracaju a prisão do bandido Manuel de
Lili.
O nome do bandido era Joaquim de Sousa Barbosa, paraibano, de 44 anos de idade e 17 de residência nas caatingas de Sergipe.
Era mulato, de cabelos cacheados, devastador das zonas de Propriá, Dores, Gararu, Aquidabã e Porto da Folha.
Adotaram a antonomásia de Lili, por ser um nome de sua amásia. Era audacioso e muito valente. Andava só, dispensando companhia de capangas.
Numa madrugada de 1895, eu estava com seis anos de nascido, bateram à porta de nossa casa em Capela. Levantaram-se meu pai e minha mãe. Saí da rede e fui ver quem era que queria falar com meu pai. Curiosidade de menino.
Meu pai abriu a porta e apresentou-se lhe o homem vestido de mescla, alpercatas, punhal à cinta e carabina em punho. Declarara ser Manuel de Lili, e tinha um negócio com meu pai, que não era covarde. Minha mãe tremia de medo. Perguntou-lhe meu pai o que dele desejava.
Falando claramente de chapéu na mão, disse que soubera que meu pai possuía um rifle e desejava possui-lo, custasse quanto custasse. Não fazia questão de preço. Pediu-lhe meu pai 60 mil réis pelo rifle acompanhado de duas caixas de balas.
Essa arma, como outra vendida a Garangau foi trazida de Manaus por meu pai. Manuel de Lili recebeu o rifle, pagou, apertou a mão de meu pai e pediu-lhe que não dissesse da sua estada em nossa casa. Deu-me um níquel de 200 réis e ganhou o mundo. Anos depois, Manuel Lili, por ter bebido muito numa bodega à beira da estrada entre Propriá e Aquidabã, foi pego pela polícia que lhe andava nos calcanhares. Foi preso bebendo.
Em 1898, ele, acompanhado de quatro soldados, passavam por Capela com destino à cadeia de Aracaju. Juntou muita gente para vê-lo. Eu e o meu colega Luiz de Souza Freire Filho (Lulu de Souza) estávamos presos na sala do professor Menezes por termos urinado no pote de onde se tirava, com caneca, água para beber. Por isso não pudemos ver o vulto de Miguel de Lili pelas janelas da escola da praça do Amparo.
Em Aracaju viveu ele ainda muitos anos, morrendo na cadeia velha, que, demolida mais tarde, passou a ser o Palácio de Serigy.
Manuel de Lili assassinara friamente, no povoado Cumbe, distrito de Dores, o lavrador Antônio Faustino, que deixou esposa e cinco filhinhos na orfandade.
Zózimo Lima
"Gazeta de Sergipe" – 20/02/1971
"Gazeta de Sergipe" – 20/02/1971
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