Por Clerisvaldo B.
Chagas, 11 de julho de 2016 - Crônica 1.546
Sem
Psicologia, Psiquiatria ou acompanhamento, o cangaceiro Ângelo Roque, o
Labareda, foi o que nos chamou maior atenção no bando de Virgulino. Suas
participações na caterva – narradas pelo doutor Estácio de Lima no livro O
mundo estranho dos cangaceiros – mostram a mesma personalidade de várias
passagens com o bandido que não constam naquele compêndio.
O cangaceiro Labareda
Labareda
mostrava ser um cangaceiro diferente. Taciturno, parecia não gostar de
pertencer aquele bando. Vamos encontrá-lo com sua rudeza, um homem pensante,
menos cruel de que os comparsas, supostamente ativo a respeito da vida geral e
da vida que pôs nos ombros. Seus comportamentos diferenciados eram como se não
aprovassem a maioria dos atos satânicos praticados pelos cangaceiros mais
ferozes. Não lhe faltava coragem, isso é notório desde que tomou a vingança
como seu caminho e a solidão das matas.
Para sua
sobrevivência contra as ações policiais, teve que ingressar no bando de Lampião
que por ironia estava mais bem protegido das investidas. Obedecia ao chefe, mas
parecia antipatizar alguns parceiros que se excediam. Comportava-se como um
analista da situação nômade de todos, mas na ignorância que conduzia no bornal,
não conseguia detectar essa qualidade. Era por isso, talvez, que nem se exibia
e estava sempre atento ao modo de cada um.
Equilibrado
até certo ponto, Ângelo Roque não era nenhum santo. Contudo, as vítimas do
bando, em geral, estavam mais seguras com a sua presença se solicitado e
tomando partido. Cangaceiro diferenciado, insistimos na sua condição de
analista, jornalista ou escritor que vivia e não alcançava.
Ângelo Roque,
o Labareda, poderia ter sido um excelente sargento de volante à semelhança de
um Zé Rufino que bem se aproxima do seu modo de ser.
Resistiu com
pequeno grupo até à parceria com Lampião, mas nenhum do bando ocuparia o cargo
do chefão com sucesso garantido, nem mesmo Labareda.
Ângelo Roque
sempre foi um cangaceiro social. Um ser retraído, humilde, valente, respeitado
e observador, é isso que mostra a sua biografia.
Enviado pelo autor Clerisvaldo B. Chagas
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