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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

GEZIEL MOURA E O CANGAÇO JORNALÍSTICO

*Rangel Alves da Costa

Conhecer a história do cangaço através dos escritos não é tarefa fácil como possa parecer. Os livros em si, quando não contraditórios, pecam pelos conformismos bibliográficos. Poucos são aqueles que surgem como originais. E não é fácil ser original quando se descreve o mesmo fato já relatado por muitos.

Daí uma indagação: o que ainda resta a ser contado do cangaço? Enquanto história, com percurso e fim, tudo já foi dito. Ou quase tudo, pois certamente ainda surgirão muitas inventivas. Mas creio que as tentativas de agora são somente em costurar alguns retalhos ainda dispersos ou debater controvérsias. Ou apenas recontar os fatos, mostrá-los em outras vertentes.

Mas continua insaciável a sede de informações sobre o cangaço. A cada lançamento surgido emerge quase uma obrigatoriedade de tê-lo na biblioteca. É a velha paixão cangacista. Ademais, ante a dificuldade de se encontrar testemunhos vivos e de realizar estudos de campo, o interessado acaba enveredando pelos livros, reportagens e quaisquer tipos de textos sobre o cangaço.

Neste âmbito de fontes de pesquisa, exsurge um fato pouco considerado pela maioria dos interessados, pesquisadores e até escritores: a proximidade das fontes com os fatos. E isso é de primordial importância para o diálogo entre o acontecido e sua descrição, ainda que, em muitos casos, a falta de cuidado jornalístico (apuração) possa transformar uma realidade em mero sensacionalismo.

Tal preâmbulo alongado apenas para dizer que o professor e pesquisador Geziel Moura, ao postar, de forma constante, escritos jornalísticos sobre o cangaço, estes oriundos de revistas e jornais antigos, está prestando uma colaboração inestimável: proporciona conhecimento sob outra vertente de escrita. E assim por que o cangaço jornalístico quase sempre aparece como notícia e não como pesquisa. Daí sua força e pujança na narrativa.



Como se sabe, diferente do livro, a reportagem geralmente bebe na fonte do próprio fato. É informação privilegiada pela proximidade do acontecido. Por nascer no próprio calor da luta ou ainda no abrasamento dos fatos, é que a reportagem ganha primazia na descrição. E todos sabem que os principais jornais enviaram muitos repórteres aos sertões nordestinos durante a epopeia cangaceira e logo após a chacina de Angico.

E algumas dessas reportagens foram postadas pelo professor Geziel Moura, reproduzindo páginas de jornais e revistas. Numa, do Jornal “O Povo”, dos idos de 40, possui como manchete: “Lampeão não foi morto pela polícia” (Revelação de uma irmã do rei do cangaço). Noutra, no mesmo jornal, tem como título “A arma secreta de Lampeão” (Por que o rei do cangaço venceu governos e numerosas tropas durante vinte anos, zombando de canhões, ‘tanks’, gases e aviões - sua tática, sua estratégia e sua política - além de cap. do exército brasileiro, considerava-se ‘interventor dos sertões’ e propôs ao chefe do executivo a divisão do Nordeste - organização militar do bando - tinha amizade com diversas autoridades, com quem conferenciava em plena caatinga). E no mesmo jornal, datado dos anos 30, consta: “A palavra de Lampeão, o monarcha selvagem dos sertões” (“Não sou cangaceiro por maldade minha, mas pela maldade dos outros...”, diz em impressionante entrevista).

Como dito, ao postar reportagens assim, Geziel vai buscar nas fontes primeiras algumas das informações que mais tarde foram reproduzidas nos livros. Com uma diferença: os livros, ao interpretarem os fatos, vão diminuindo ou distorcendo as pujanças narrativas das reportagens. E mesmo as reportagens surgidas posteriormente em revistas - e igualmente postadas - servem como preciosos recursos para o entendimento do cangaço a partir daqueles que viveram o seu tempo. Ou daqueles cujas entrevistas servem como pontos de vistas pessoais, nem sempre esclarecidos nos livros.

Por isso que é preciso ler cuidadosamente as postagens do professor Geziel, vez que a junção delas acaba formando uma visão ímpar do cangaço, seu contexto e seus meandros. Mesmo que não se tenha tudo como verdade, fato é que os repórteres estavam mais próximos aos acontecimentos ou acontecidos do que os escritores de hoje.

Escritor

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