Clerisvaldo b. Chagas, 18 de novembro de 2024
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3. 147
Após o carro de boi que carregou esse Brasil pesado em sua mesa, surgiu o caminhão que entrava pelas trilhas alargadas pelo carro de boi e chorava na rampa de terrenos brutos. O motorista, na época chamado chofer, precisava entender um pouco de motor para eventuais problemas pelos esquisitos caminhos. Tinha prestígio sim, por todos os lugares aonde rodava. Mas, o que chamava atenção mesmo era o seu inseparável ajudante, chamado pelo próprio chofer e pelo povo de “calunga”. O calunga servia para carregar nas costas as mercadorias do caminhão, carregar e descarregar, era essa a função principal. Mas também servia para colocar o cepo na roda traseira do veículo quando este parava nas ladeiras. Cepo de madeira com três quinas e um cabo que evitava uma possível pulada de marcha e uma descida surpresa com prováveis acidentes.
Pois bem, no meu romance” Fazenda Lajeado”, apresentamos uma cena em que um caminhão carregado de couros e peles é parado por cangaceiros perto de Pão de Açúcar. O episódio é muito forte e realista. É ali onde se vê a frieza do chofer e o pavor do calunga. Mas isso o leitor viverá quando adquirir Fazenda Lajeado que ainda não foi lançado oficialmente. E por falar nisso, quem conheceu em Santana o famosos Miguel Mão-de-onça, tem dele o relato da falta de um calunga quando fora pegar uma carga no estado do Maranhão. Nenhum dos presentes quis ajudá-lo a carregar o caminhão e ele teve que sozinho, fazer às vezes de calunga. Amaldiçoava o lugar chamando aquele povo de preguiçoso. Mas... Isso era opinião dele.
Atualmente, meus prezados e prezadas, um caminhão, por mais simples que seja, só falta falar de tanta tecnologia. Mesmo assim, o atrativo, a sedução pela máquina do momento, continua dentro dos que acham romântico um caminhão na estrada. E como tem gente pelos quatro cantos desse Brasil, a figura musculosa do calunga perdeu o passo do progresso e sumiu. Como já estão colocando asas nos automóveis, não duvidamos de futuras asas em caminhões para que eles pareçam nos ares com besouro mangangá. Assim o tempo vai acabando profissões antigas e modernas e apontando novas que você jamais ouviu falar. Mas, depois do sumiço do calunga será que vai na mesma trilha, o chofer, o motorista?
Como estamos viajando no tempo, logo, logo descobriremos. De calunga ao Século XXII.
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