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terça-feira, 12 de agosto de 2014

BULHÕES E O TEMPO

Por Clerisvaldo B. Chagas, 12 de agosto de 2014 - Crônica Nº 1.238

Vendo a figura de Silvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, nas redes sociais, demos uma boa recuada no tempo. É que sempre tivemos a expectativa de que o professor do curso médio e funcionário público estadual escrevesse um livro sobre o seu pai adotivo. Achamos, porém, que Silvio não pensou no assunto quando na realidade tinha o “diabo louro” na cabeça.

Ficamos pensando, então, porque outras pessoas ilustres que viveram e conviveram com o pároco não o fizeram. No livro “O boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema”, todos os padres que serviram as duas Paróquias estão representados, entretanto, o significado do padre José Bulhões para Santana do Ipanema e sertão alagoano, ganha relevo na influência regional do catolicismo no semiárido.

O vigário, oriundo da região sanfranciscana de Belo Monte, Alagoas, nascera em 03 de junho de 1886. Ordenara-se na Catedral de Maceió, em 08 de dezembro de 1912 e, dois dias após, celebrava a sua primeira missa na capela do Senhor Jesus do Bonfim, no Bairro do Poço, na mesma Maceió.


Em 1917, Bulhões chegou a Santana do Ipanema como coadjuvante do padre Manoel Capitulino de Carvalho que também era político. Tomou posse como vigário da Paróquia de Senhora Santa Ana aos 26 dias de janeiro de 1919, contando com trinta e dois anos de idade, completos. Passou para a história conhecido como padre Bulhões e, seu período foi muito conturbado entre secas, cangaceirismo e movimentos volantes da polícia de Lucena Maranhão.

Bulhões se entendia muito bem com Lucena. A partir da morte do coronel comerciante, Manoel Rodrigues da Rocha, em 1920, assumiu papel preponderante da história municipal, tornando-se figura de destaque em parceria com José Lucena, até o seu falecimento acontecido em 17 de outubro de1952.

Muitos episódios em Santana e região envolvem o padre Bulhões que depois se tornou cônego. Foi ele o responsável pela segunda reforma da igreja Matriz da Padroeira, com o padre Fernandes Medeiros (pró-pároco) natural do Poço das Trincheiras, 1949-1951.

Bulhões participou de todos os eventos sociais de Santana, exercendo rigorosa liderança local.

Com o seu falecimento, o padre Fernandes Medeiros foi deslocado para Penedo, ganhando assim a Paróquia um novo vigário, vindo da serra da Mandioca, Palmeira dos Índios. Começa nova fase santanense com o padre Luiz Cirilo Silva, o mais popular dos vigários de Santana. É assim que o livro da nossa autoria: “O Boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema”, apresenta isso e muito mais em BULHÕES E O TEMPO.

CLERISVALDO B. CHAGAS
Romancista – Historiador – Poeta – Cronista.
Autobiografia

          Clerisvaldo Braga das Chagas nasceu no dia 2 de dezembro de 1946, à Rua Benedito Melo (Rua Nova) s/n, em Santana do Ipanema, Alagoas. Logo cedo se mudou para a Rua do Sebo (depois Cleto Campelo) e atual Antônio Tavares, nº 238, onde passou toda a sua vida de solteiro. Filho do comerciante Manoel Celestino das Chagas e da professora Helena Braga das Chagas, foi o segundo de uma plêiade de mais nove irmãos (eram cinco homens e cinco mulheres). Clerisvaldo fez o Fundamental menor (antigo Primário), no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e, o Fundamental maior (antigo Ginasial), no Ginásio Santana, encerrando essa fase em 1966. Prosseguindo seus estudos, Chagas mudou-se para Maceió onde estudou o Curso Médio, então, Científico, no Colégio Guido de Fontgalland, terminando os dois últimos anos no Colégio Moreira e Silva, ambos no Farol. Concluído o Curso Médio, Clerisvaldo retornou a Santana do Ipanema e foi tentar a vida na capital paulista. Regressou novamente a sua terra onde foi pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ─ IBGE. Casou em 30 de março de 1974 com a professora Irene Ferreira da Costa, tendo nascido dessa união, duas filhas: Clerine e Clerise. Chagas iniciou o curso de Geografia na Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca e concluiu sua Licenciatura Plena na Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde ─ AESA, em Pernambuco (1991). Fez Especialização em Geo-História pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió ─ CESMAC, (2003).
         Nesse período de estudos, além do IBGE, lecionou Ciências e Geografia no Ginásio Santana, Colégio Santo Tomaz de Aquino e Colégio Instituto Sagrada Família. Aprovado em 1º lugar em concurso público, deixou o IBGE e passou a lecionar no, então, Colégio Estadual Deraldo Campos (atual Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva). Clerisvaldo ainda voltou a ser aprovado também em mais dois concursos públicos em 1º e 2º lugares. Lecionou em várias escolas tendo a Geografia como base. Também ensinou História, Sociologia, Filosofia, Biologia, Arte e Ciências. Contribuiu com o seu saber em vários outros estabelecimentos de ensino, além dos mencionados acima como as escolas estaduais: Ormindo Barros, Lions, Aloísio Ernande Brandão, Helena Braga das Chagas e, nas escolas municipais: São Cristóvão e Ismael Fernandes de Oliveira. Na cidade de Ouro Branco lecionou na Escola Rui Palmeira — onde foi vice-diretor e membro fundador — e ainda na cidade de Olho d’Água das Flores, no Colégio Mestre e Rei.
Sua vida social tem sido intensa e fecunda. Foi membro fundador do 4º teatro de Santana (Teatro de Amadores Augusto Almeida); membro fundador de escolas em Santana, Carneiros, Dois Riachos e Ouro Branco. Foi cronista da Rádio Correio do Sertão (Crônica do Meio-Dia); Venerável por duas vezes da Loja Maçônica Amor à Verdade; 1º presidente regional do SINTEAL (antiga APAL), núcleo da região de Santana; membro fundador da ACALA - Academia Arapiraquense de Letras e Artes; criador do programa na Rádio Cidade: Santana, Terra da Gente; redator do diário Jornal do Sertão (encarte do Jornal de Alagoas); 1º diretor eleito da Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva; membro fundador da Academia Interiorana de Letras de Alagoas – ACILAL. Membro fundador da Associação Guardiões do Rio Ipanema (atual vice-presidente).
         Em sua trajetória literária, Clerisvaldo Braga das Chagas, escreveu seu primeiro livro, o romance Ribeira do Panema (1977). Daí em diante adotou o nome artístico Clerisvaldo B. Chagas, em homenagem ao escritor de Palmeira dos Índios, Alagoas, Luís B. Torres, o primeiro escritor a reconhecer o seu trabalho. Pela ordem, são obras do autor que se caracteriza como romancista: Ribeira do Panema (romance -1977); Geografia de Santana do Ipanema (didático – 1978); Carnaval do Lobisomem (conto – 1979); Defunto Perfumado (romance – 1982); O Coice do Bode (humor maçônico – 1983); Floro Novais, Herói ou Bandido? (documentário romanceado – 1985); A Igrejinha das Tocaias (episódio histórico em versos – 1992); Sertão Brabo CD (10 poemas engraçados); Santana do Ipanema, conhecimentos gerais do município (didático – 2011); Ipanema, um rio macho (paradidático – 2011); Sebo nas canelas, Lampião vem aí (peça teatral – 2011); Negros em Santana (paradidático – 2012); Lampião em Alagoas (história nordestina brasileira – 2012).
      Em breve: O boi a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema (história); 227 (história iconográfica de Santana do Ipanema); Fazenda Lajeado (romance); Deuses de Mandacaru (romance); Colibris do Camoxinga (poesia selvagem); 100 milagres do padre Cícero (história e fé).

MENINO DO CAIS

Por Rangel Alves da Costa*

Menino do cais. Mas qual o cais do menino? Um mundo de cais. O cais do rio, da avenida, da estrada. O cais da porta, da janela, da solidão. O cais da praça, do descampado, da vereda espinhenta. Qualquer cais poderá ser o cais do menino.

Mas não é todo menino que é menino do cais. Verdade é que muitos meninos são afeiçoados ao menino do cais. Aqueles que perambulam pelas ruas, esquinas, que dormem debaixo de marquises. Aqueles pequenos engraxates, ou aqueles outros que simplesmente vivem ao relento dos dias e das noites remexendo em lixões, cheirando cola, experimentando drogas, fazendo pequenos furtos.

Mas não são tais meninos. Os meninos do cais não são somente aqueles abandonados, sem família presente, sem lar. Os meninos do cais não são aqueles que são avistados sem direção, sem norte na vida. Eis que, acredite ou não, o cais conhece muito bem outros visitantes, e até viventes da beira do cais, que são adultos, conscientes, conhecedores dos meandros da existência.

Por isso que me vejo como um menino de cais. Sim, também caminho por suas areias, molho meus pés nas espumas onduladas, sento e converso com as pedras, recolho as flores tristes jogadas, escrevo palavras nos seus beirais. Sou aquele menino de cais que fica horas a fio procurando encontrar alguma coisa, avistar algo, ter diante de mim qualquer resposta.

Meus olhos avistam as velas que chegam e partem, vêem e sentem o mistério das distâncias das águas, acompanham as gaivotas no seu voo do entardecer, miram as ondas que batem e que voltam. Tantas vezes olham sem nada enxergar. E assim porque apenas presença sem motivo maior.


Mas será engano imaginar que o cais que tanto busco possui apenas águas adiante. A metáfora da vida procura o rio ou o mar para se expressar porque ali toda uma simbologia de chegada e partida, de ansiedade e solidão, de alegria e contentamento. Basta que o ser se imagine uma vela ou um barco pequeno na beira das águas, às margens do cais, e tudo será compreendido como uma incerteza: será que o barquinho vencerá aquela imensidão de segredos e mistérios?

Meu cais é também de cimento, de chão, de asfalto. Meu cais é e está em todo lugar. Meu barco está dentro de mim e no próximo, está na porta que abro e na estrada que caminho. Meu barco também está nos sonhos e esperanças, nos desejos e vontades, mas também nos medos e temores, nas dúvidas e desencorajamentos.

Por isso mesmo que meu barco teme sair do cais e seguir até as águas profundas. O meu barco teme ficar no cais e ser tragado pelas dunas que se formam ao redor. Sei que é um barco desafiador, que enfrentaria tormentas e temporais, mas não sei se sairia vitorioso com a falsidade da brisa ou com a medonha presença da aragem.

Mas só tenho esse barco, só possuo esse cais, e nada mais me resta fazer senão desafiar os perigos e ir muito além do horizonte das gaivotas. Mas nunca sei o instante ideal de partir, de seguir adiante para fazer valer outros objetivos além daquele de simplesmente viver. Por isso mesmo que tanto procuro o cais, que tanto me avistam no cais, que tanto avisto os arredores da vida através do cais.

Um dia, quem sabe, não mais serei visto no cais. Ou a morte ou a vida, mas não mais o cais. Chega um tempo que os sonhos encontram a realidade, os planos acostumam com o conseguido, as fantasias sentem a dureza da pedra. E será num tempo assim que já não mais caminharei até o cais.

Simplesmente aceitarei as dores da vida de pés no chão, ainda que os espinhos dilacerem e atormentem. Mas continuarei seguindo em frente, consciente que as ilusões ficaram para trás, no cais. Até encontrar uma ponte. Que é o limite de tudo.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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SERTANEJO DE EXU=PE: DE CANGACEIRO À SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR DE PERNAMBUCO


Manoel Pereira da Silva 1º, mais conhecido por "Cafinfin", era um jovem com 17 anos, morador no município de Exu, no Estado de Pernambuco, onde era natural, quando se envolveu com o cangaço e foi pego por tropas da polícia militar de Pernambuco, que sabendo se tratar de um jovem incauto, inexperiente, o agregaram à volante militar, e tempo depois se tornou soldado da Polícia Militar de Pernambuco, chegando anos mais tarde a ser promovido a abo, e depois a sargento, e morreu já idoso como Tenente da Reserva.


O mais interessante do então sargento Cafinfim, foi que nunca deixou de admirar o rei do cangaço Virgolino Ferreira da Silva, o LAMPIÃO. E quem fosse seu amigo não falasse mal do "capitão Virgolino".

Sempre andou "armado até os dentes" e fumava charuto e usava um chapéu de cangaceiro. Foi um policial honesto e passou grande parte de sua vida em Brejo da Madre de Deus. Privei da sua amizade. 

www.espacoturismo.com

http://newtonthaumaturgo.blogspot.com.br/2013/12/sertanejo-de-exupe-de-cangaceiro.html

Fonte: facebook
Página: Robério Santos

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A QUINTA MORADA DE CORISCO


Finalmente em 1977, após a aquisição de um jazigo perpétuo no Cemitério Quinta dos Lázaros em Salvador, o descanso do Guerreio com toda ossada junta. 

- Como foi Dadá, conte aí?:

Corisco e Dadá

"- Foi àquela burocracia cabeça e braço num lugar, ossada que eu trouxe de Miguel Calmon do outro, eu fui em tudo, no Exército, nas Quintas, repartições. Só o Exército autoriza o enterro do cristão. Falei com a mulher do Governador e consegui o enterro decente. Queria uma coisa simples, nada de recepção. Na hora que colocaram a cabeça e o braço juntos dos ossos, parece que o mundo tremeu. Todo mundo ficou olhando pra mim, chorando todo mundo. Jorge Amado fazia pena.

Escritor Jorge Amado

Foi um choque para todos, um remorso bateu. Só assim ele ficou em paz, pois era muito contrito com Deus. Ele chamava muito por Nossa Senhora. Colocamos na carneira uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, uma cruz de mármore e aquele ramo escrito Cristino Gomes da Silva Cleto".

Fonte: facebook
Página: Corisco Dadá

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Coroné Pereira

Por José Mendes Pereira

Eu soube através do radialista Collins Aquino que o nosso amigo Antonio Pereira de Melo "Coroné Pereira", como é conhecido em Mossoró e por todas as cidades adjacentes, que durante muitos anos foi líder de audiência, comunicando no rádio mossoroense, com os seus programas: Show de Comunicação, Românticos do Povo, Tarde Sertaneja, O Trem da Alegria (este último criado pela radialista Aunice Marques); encontra-se em um dos leitos da UTI em Mossoró, no Hospital Wilson Rosado, onde se submeterá a uma cirurgia de Ponte Safena.

 
Caby Costa Lima e Coroné Pereira

Trabalhei na mesma empresa com o coroné Pereira nos 60 e 70, sendo que ele era controlista da Rádio Difusora de Mossoró, e eu era tipógrafo da Editora Comercial S/A. Posteriormente Antonio Pereira de Melo - coroné Pereira passou a ser locutor, através da radialista Aunice Marques.

  Coroné Pereira- Rádio Difusora – 1969 - http://www.azougue.org/conteudo/dobumba139.htm

Esperamos que a sua cirurgia seja bem sucedida, e que Deus e Jesus estejam presentes nesse  momento de reparos de artérias.

Edmilson Lucena, Coroné Pereira e Tota – Enchente 1974  http://www.azougue.org/conteudo/dobumba139.htm.

Há poucos dias ele me falava sobre a sua função como locutor, e que agradece muito a radialista Aunice Marques, que criou o programa "Trem da Alegria", organizou e o entregou.

Coroné Ludugero e Otrópe -  Fonte do texto e foto: http://www.forroemvinil.com

Sobre o apelido "coroné Pereira" também foi uma criação da Aunice Marques, e nesse período, o humorista coroné Ludugero fazia sucesso por onde passava com este nome artístico. Daí, surgiu a criação de coroné Pereira. O coroné Pereira nunca perdeu a simplicidade, parece que os amigos de ontem são ainda os de hoje. 

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LAMPEÃO

Por João Rabelo

Sentando-se numa pedra colocada entre as redes dos dois interlocutores, Joramor indaga:

- Alguém dos senhores conhece, de vista, Lampeão?

- Passou diversas vezes na nossa propriedade, fugindo dos “macacos”.

- Dizem ser ele malvado, enquanto outros afirmam tratar-se de um sujeito temente a Deus, caridoso, que tira do rico e dá aos pobres.

Olhando em seu derredor, Joaquim, um dos interlocutores, voltou-se para o companheiro, na outra rede, e disse:

- Conte você, Zé, que tem mais jeito do que eu para estas histórias, é lido e corrido.

José Pequeno, meio desconfiado, como demonstrou o companheiro, perguntou:

- O senhor não é o que trabalha com o engenheiro?

- Sou.

-Quer dizer que não é daqui e por isso não conhece a vida de Lampeão e dos seus bandos?

-Realmente. Sou de fora e muito me interessa ouvir a respeito de tão discutido homem.

- A primeira vez que vi Lampeão foi quando ele atravessou o Rio São Francisco, passando para o lado de cá. A minha propriedade fica na beira da estrada que vai do Carira a Cipó de Leite. Eu faço feira no Carira e duas ou mais vezes por semana vou à Rua (cidade) comprar querosene, chumbo e pólvora para minha espingarda, ou mesmo para beber uma pinga com os amigos. 

“Aconteceu que, numa destas vezes, já à tardinha, quando pensava em voltar para casa, ouvi certo rebuliço na Rua e perguntei o que era aquilo...”

Joramor notara que o Zé sabia fazer uma narração com tanta precisão, como se tivesse decorado. Também observava que usava uma linguagem desenvolvida, naturalmente fruto de convivência que tinha com os habitantes da Rua, como ele chamava.

- Me disseram: "- Então você não sabe ainda?” Não, respondi. – “É Lampeão que está no curral do açougue.” 

"Ainda que muito falado, o nome de Lampeão não me pareceu tão grande como achavam as pessoas que ainda estavam na bodega de Seu Zezé Martins.”

“Saindo da bodega, acompanhei algumas pessoas que seguiam para a Rua Nova e escutava, de vez em quando, alguém dizer: “Seu Felismino Dionísio, o Delegado, recebeu um bilhete do Capitão, comunicando que ia entrar na Rua.”

“Quando cheguei na casa do Delegado Felismino, encontrei lá muita gente e ele no meio, mostrando a cada um o bilhete que recebera e que estava assinado por Virgulino Ferreira. Estava escrito de lápis, num pedaço de papel do tamanho desta folha – e mostrou uma folha seca, caída ao chão, de uns oito centímetros de tamanho, por cinco ou seis de largura.

“A letra não era feia não, moço. Eu li o bilhete todinho. Dizia que ia entrar, mas pedia o consentimento do Delegado e este estava então consultando os amigos como deveria fazer. Alguém aconselhou que primeiro devia falar com o comandante do destacamento.

“Seu Felismino foi até o quartel do destacamento, que contava com um cabo e cinco soldados, mas quando chegou lá não encontrou ninguém. Tinham saído e levado o armamento e munição. Com medo de que os soldados quisessem enfrentar os bandidos e estes se vingassem na população, o Delegado consulta, novamente, os amigos.

“-Olhe, Felismino - disse um - segundo a vizinha informou, os soldados seguiram na direção da Baixa da Tapioca. Lampeão vem pelo outro lado. Acredito que os soldados se ausentaram com o objetivo de deixarem a Rua livre.

“Verdadeira procissão acompanhou o Delegado, naquela tardinha, bem clara, em direção ao curral do açougue. Todos queriam conhecer o afamado Capitão Lampeão, autor de muitas façanhas, todas elas causadoras de luto e lágrimas.”

“E assim foi a primeira visita ao Carira e ao Estado, pelo grupo, que se compunha de oito homens, inclusive o Capitão e Volta Seca, rapazola que não podia sequer com o fuzil e, por isso, usava um rifle papo amarelo. Também Curisco, chamado de Diabo Louro, fazia parte do grupo, de quem se contava agilidade e valentia.”

Permaneceram até altas horas da noite, jantaram na casa do Delegado e beberam conhaque Cavalinho nas diversas bodegas e, depois de arrecadarem pequena importância em dinheiro, seguiram viagem para o incerto, o indeterminado, o mundo da aventura, do crime.

- E a população do Carira não sofreu nenhum dano físico ou Material?

O narrador sabia, como bem o disse o companheiro, contar história e era mesmo inteligente e versado. A pergunta de Joramor, respondeu prontamente.

- Não, nenhum mal fez. Falou-se dias depois, que um certo negociante cogitara, com outros companheiros, de atacar o grupo de surpresa, quando o estado quase de embriaguez se manifestava. Isto não foi confirmado.

- Depois voltaram a Carira?

- Sim, no mesmo ano de 1929, meses depois. Só que desta vez não comunicou ao Delegado. Quando o dia amanheceu, a população tinha o grupo pela frente, agora de dez homens, dentro do povoado e por ele sabendo terem sido sangrados três pessoas nas imediações de Serra Negra, e exibiam os punhais, de cerca de oitenta centímetros, em forma de espeto de três quinas, ainda sujos de sangue.

Dessa segunda entrada, a população como se comportou?

- Mais apavorada do que da primeira vez, sabendo o que ocorrera na véspera, em Serra Negra. Não fizeram mal a ninguém. Comandava o destacamento policial um cabo, preto, que gostava de caçada e era bom atirador. Quando os bandidos foram embora, o cabo arrotou que fora impedido pelo comerciante Francelino Gordo, de atirar em Lampeão, que estava sob a mira do seu fuzil, lá no fundo da bodega de Balbino, no momento em que levava à boca um copo do seu preferido conhaque Cavalinho. Francelino negou-se a confirmar a bravata e ninguém o vira em tal local.

- Qual a roupa e equipamento que traziam ou trazem consigo?

- É, compadre, este moço ta querendo sabe de muita coisa!

- Não vejam, meus amigos, outro desejo ou intenção de minha parte, senão conhecer tais fatos e detalhes, pois não sou daqui e é esta a primeira vez que ouço falar a respeito e com tal conhecimento, creiam-me.

- Acredito no que você está dizendo. Mesmo porque não estou falando nada de mal. Estou contando o que se passou.

- Bom, isto é verdade. É que, compadre, como senhor sabe, a gente sofreu o que sofreu e ainda temos gente nossa lá e temos de voltar um dia.

- Eles andam vestidos de blusa de mescla azul, abotoada até o pescoço; usam culote do mesmo pano ou de cáqui; calçam alpercatas de couro bem tratado e curtido; usam meias de algodão. Como armas, o Capitão Lampeão carrega um mosquetão, com a bandoleira enfeitada de medalhas e moedas de prata; usa dois parabenuns, um punhal de quase um metro de tamanho, atravessado na frente, preso na cartucheira da cintura. O equipamento se compõe de dois embornais de mescla azul, enfeitados de sutaches brancas, formando artísticos desenhos, pesos aos ombros por meio de largas tiras do mesmo pano e igual enfeites, ombros protegidos com pequenos cobertores de lã. Metade dos embornais está cheia de balas de fuzil, a granel. Sob a contura, uma cartucheira cheia de pentes de bala de fuzil e outra, mais estreita, de balas de parabélum, artisticamente bordadas com tiras brancas de pelica; uma bolsa de couro, também conhecida como fogosa, muito bonita, com fechadura de metal, carrega, como dizem os filhos da candinha, a fortuna em dinheiro e joias.

-Tal equipamento deve ser muito pesado para um só homem conduzir, não é mesmo?

--realmente, contudo eles estão acostumados. Tive ocasião de apalpar os embornais. Dizem que o equipamento completo pesa mais de trinta quilos.

- Naturalmente que, para dormir ou tomar banho, tem que tirar tudo.

-Geralmente só tira quando estão em acampamento seguro. Fora disto, dormem assim mesmo, encostados em árvores e nunca tomam banho. O mau cheiro do corpo, abafado muitas vezes pelos perfumes que derramam na roupa, forma ou produz uma espécie de inhaca.

- Ouvi falar que as forças que os perseguem, em muitas coisas a eles se assemelham, é verdade?

- Os trajes e equipamentos, muitas vezes se confundem. Até mesmo o cabelo comprido, como de mulher, muitos dos contratados usam. Posso até afirmar, aqui para nós e que ninguém nos ouça: às vezes são piores do que os bandidos.

- Aqui em Sergipe, quais outros lugares onde os bandidos passaram? 

- Estiveram no Carira duas vzes e se lá não voltaram mais, foi porque o povo resolveu reagir, armando-se com o fim de não deixa-los entrar novamente. Tiveram no saco do Ribeiro e, de lá, Lampeão telefonou para Seu Dorinha de Itabaiana; foi o que ouvi dizer. Estiveram até na cidade de Capela, que fica na Cotinguiba e tem estrada de ferro. Em outros lugares tentaram, mas o povo reagiu. Estiveram ainda em outros, que assim não me recordo.

O fogo há muito se tinha apagado; os dois filhos de José Pequeno dormiam a sono solto; somente Joaquim bocejava, em luta com o sono, quando deles, Joramor se despediu.


Almas Torturadas. Rio de Janeiro, 1967. João Rabelo. Páginas: 75/80. Capítulo XIII.

Fonte: facebook
Página: Robério Santos

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XII JORNADA CULTURAL DO MUSEU DO SERTÃO


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Aniversariante Antonio Vilela de Souza


Hoje é o aniversário do professor, escritor e pesquisador do cangaço Antonio Vilela de Souza.


"- Hoje estou apagando mais uma vela da vida, uma vela de pai, filho, esposo e amigo. Com orgulho estou ao lado da cangaceirinha Neli e do Capitão cangaceiro Dr. Ivanildo Silveira, e a minha pessoa representa a briosa Polícia Militar que combateu o famigerado Lampião. Obrigado meu Deus por mais um ano de Vida!".

Todos nós que mantemos o http://blogdomendesemendes.blogspot.com atualizado, desejamos-lhe muita saúde, paz, prosperidade, felicidade, harmonia entre família e amigos, e que Deus lhe dê a chance de comemorar muitos e mais anos de vida rodeado de filhos, esposa, parentes e amigos.

Amigos do http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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JOÃO FERREIRA, IRMÃO DE LAMPIÃO.

Por José Mendes Pereira
Foto de Virgulino Ferreira DA Silva - facebook

Este é o João Ferreira dos Santos, irmão dos cangaceiros Lampião, Livino, Antonino e Ezequiel Ferreira. Além dele, Lampião tinha quatro irmãos homens cangaceiros, mas o João Ferreira dos Santos não quis entrar para o cangaço. 

Mesmo não tendo vestido as roupas coloridas e enfeitadas do cangaço, João Ferreira dos Santos foi preso e maltratado pelos policias que perseguiam os seus irmãos. Ele era o 4º filho homem do casal José Ferreira da Silva e dona Maria Sulena da Purificação.

 Antonio Ferreira da Silva - Segundo informação do pesquisador Rubens Antonio, Antonio Ferreira da Silva era mais perverso do que o próprio Lampião - Fonte: cangaconabahia.blogspot.com

Segundo os historiadores e pesquisadores Antonio Ferreira da Silva era o filho mais velho do casal, mas ele não era filho de José Ferreira da Silva. 

Quando José Ferreira casou com Dona Maria, ela já era mãe de Antonio, filho de um fazendeiro lá de Serra Talhada. A terra em que o casal e os filhos moravam foi doada pelo próprio fazendeiro, como se fosse uma indenização à dona Maria Sulena da Purificação.

Pela foto, nota-se que João Ferreira dos Santos (não sei o porquê dele assinar o seu nome com Santos) não foi cangaceiro, mas o seu olhar era perigoso, carrancudo...

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O cangaceiro Candeeiro


O senhor Manoel Dantas Loyola, ex-cangaceiro do bando de Lampião – o “Candeeiro”, lá da cidade de Buíque em Pernambuco disse aos grandes historiadores 

Os pesquisadores Paulo Gastão e Aderbal Nogueira

Paulo Gastão e Aderbal Nogueira, que Lampião ao atravessar para Alagoas (ainda em Pernambuco), com sentido a Sergipe, disse: "-

Grupo de cangaceiros da Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia.

 “- Eu tô com vontade de ir pra Minas, e vou avisar aos meninos quando tiver lá do outro lado, combinar com os meninos que quem quiser e comigo bem, quem não quiser, fique, que a viagem é meio pesada."

Fonte: facebook

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Cariri Cangaço em Nazaré

Por Manoel Severo

Manoel, Euclides, Odilon, Hidelbrando; a famosa família Flor; Davi Jurubeba, João Gomes de Lira, Manoel de Sousa Neto e tantos outros... Nomes eternizados na história por sua bravura, destemor e coragem na luta contra o cangaceirismo, notadamente dos "filhos de Zé Ferreira": Virgulino, Antônio, Levino...

A mais famosa vila da história do cangaço: Nazaré; guarda entre suas pequenas ruas, capela e casario antigo, remanescências de uma das mais ferozes guerras do sertão, quando as famílias Ferraz, Sousa, Gomes e muitas outras do solo castigado da antiga Carqueja deram inicio a mais abnegada perseguição que se tem noticia de todo o ciclo do cangaço. Na mira dos bacamartes dos Nazarenos: Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião.

Zezinho, Netinho, Fernando, Euclides Neto, Manoel Severo e Ulisses Ferraz

Neste último mês de Julho, a Caravana Cariri Cangaço, teve a oportunidade de revisitar Nazaré. Fomos anfitrionados mais uma vez pelos amigos e confrades; Euclides Neto, seu pai Ulisses Ferraz; Hildebrando Neto, Netinho; Fernando Ferraz, José Nogueira Sousa, Julinho, entre outros integrantes da família Flor, além dos companheiros Paulo George e Jonatan Pires de Belém do São Francisco.

Andar pela mística Nazaré é como se pudéssemos ser transportados no tempo até os idos de 1919, 1920... Viver novamente os primeiros desentendimento entre o velho João Flor e os irmãos Ferreira; o polêmico episódio do casamento da prima de Virgulino, Licor; os primeiros combates, o tiro e a prisão de Levino, o recrutamento dos meninos de Manel Neto... Tudo parecia passar ali, na nossa frente, sob o sol abrasador daquela tarde de julho...

Cemitério de Nazaré, campo santo onde repousam os restos mortais dos valentes Nazarenos


Manoel Severo, Fernando Ferraz e Julhinho

O almoço ciceronizado por seu Ulisses Ferraz nos permitiu enveredar ainda mais nas histórias daqueles lendários homens que dedicaram toda sua vida ao combate a Lampião. Seu pai, Euclides Flor, irmão dos não menos lendários, Odilon e Manoel Flor, estiveram ao lado de seus primos e parentes nos mais emblemáticos combates do cangaço de toda a história, como Serra Grande e Maranduba, esse último, cenário dos mais tristes para a memória dos Nazarenos.

Manoel Severo e Ulisses Ferraz

Caravana Cariri Cangaço em Nazaré
Paulo George e Manoel Severo

A capela, as ruas, a pracinha; os monumentos aos heróis de Nazaré, todos ali; reverenciados de forma solene pelo solo que foi berço. No pequeno cemitério do lugar, repousam muitos desses que fizeram história contra Lampião. Entre uma história e outra, a visita às casas onde fizeram história esses homens, "aqui era o salão de Euclides Flor, aqui eles promoviam os bailes e só entrava de palito, até o prefeito de Floresta foi barrado por Odilon Flor" confirma Hildebrando Neto.

Serra Vermelha
Fernando Ferraz, Manoel Severo e Euclides Ferraz Neto
Hildebrando Neto, Manoel Severo e a memória dos filhos de João Flor

 Euclides Neto, Ulisses Ferraz e Manoel Severo

Euclides Neto, ressalta o empenho que a família está desenvolvendo na criação de um museu, tendo a frente a Associação dos Combatentes das Forças Volantes de Nazaré, "ainda temos muito material e é necessário sensibilizar as família para doarem ao museu, dessa forma, a memória e a história dos nazarenos ficará preservada". Poderíamos passar ali o resto dos dias, o resto do mês, colhendo daqui e dali, fragmentos desta verdadeira saga; infelizmente precisávamos seguir com a Caravana Cariri Cangaço, mas ficou uma certeza, Nazaré permanece mais forte do que nunca e essa força, certamente ninguém jamais irá lhe tirá.

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço

http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com