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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

ONZE ANOS, A CADA MANHÃ

Por Rangel Alves da Costa*

Todos os dias, sempre um pouco mais ou pouco menos das três horas da manhã, logo ouço o barulho de uma motocicleta se aproximando e diminuindo a velocidade diante do portão. Em seguida escuto algo sendo deixado além das grades e então já sei do que se trata: o Jornal do Dia. A cada alvorecer é assim, na mesma precisão de todos os dias. Do mesmo modo nas outras residências, nas bancas de jornal, nas portarias dos edifícios, por todo lugar. Noutros tempos, assim chegava o leiteiro, o entregador de frutas, o verdureiro. O que recebo agora é um cesto de informações. E fico imaginando os passos dados pelo Jornal do Dia para continuar chegando ao meu portão. E já são onze anos!

Tempo ligeiro, calendário apressado, tudo parecendo ontem e já de longa estrada. E foi em meio a esse tempo sem espera que o Jornal do Dia se pôs adiante para sempre chegar. Já são onze anos que a cada manhã, como se fosse um alvorecer que desponta sobre a realidade da vida, a todos dá o seu bom dia. E em cada cumprimento o chamado ao diálogo, à informação, ao questionamento, à reflexão, no intuito maior de que cada linha escrita sirva de alicerce para o conhecimento das realidades tão instigantes no que está próximo e no distante.

Aos onze anos, na idade humana, qual seria a fase de vida do Jornal do Dia? Ainda na infância. Mas aí o seu segredo maior. É nesta fase que as verdades são absolutas, que as informações repassadas não são corrompidas por forças ou interesses, que a percepção de realidade não chega obscurecida por influências, que não se tem medo de expressar o que bem desejar. Ora, o menino não mente. Por isso mesmo que ao chegar aos onze anos o Jornal do Dia é reconhecido pela sinceridade, pelo compromisso maior com a verdade. E assim será também mais adiante, quando as novas idades forem exigindo apenas o aprimoramento do que almeja enquanto veículo de informação.

Ano após ano e cada vez mais compromissado em chegar perante todos com o mesmo entusiasmo daqueles primeiros tempos de surgimento. Ao surgir, aplaudido por muitos e desacreditado por alguns, tomou impulso nas próprias dificuldades para buscar o seu espaço no meio informativo sergipano, para garantir seu lugar ao sol. E muitos afirmavam que era apenas mais um jornal que chegava para logo deixar de existir. Mas o pé se firmou na estrada e o Jornal do Dia seguiu adiante carregando seu embornal de compromissos com o leitor. E que não são poucos.


Hoje, na manhã e daí em diante, o Jornal do Dia vai servindo como verdadeiro alimento compartilhado à mesa, ao lado do café que precisa ser sorvido para o enfrentamento do dia. A alimentação informativa do jornal se assemelha em muito ao que à mesa é colocada a cada novo amanhecer. O pão nosso de cada dia é o mesmo alimento jornalístico que vai ao forno depois de cuidadosamente preparada a massa. As informações, os textos, os escritos, igualmente ao pão, também exigem medidas certas, cuidados no que vai ser oferecido a todos. Fermento, farinha, açúcar e sal, tudo na sua medida, assim também a receita do bom jornalismo, da ética na informação, do respeito ao leitor. E é assim que trabalha o Jornal do Dia.

Todo bom jornal matutino - e com o Jornal do Dia não seria diferente - afeiçoa-se a uma porta ou janela aberta, a muro de quintal, aos diálogos entre vizinhos ao amanhecer. “Você soube compadre...”; “Mas não acredito, pois ninguém sequer podia imaginar que isso pudesse acontecer”; “Agora não há como negar, pois saiu da boca do povo e já está no jornal e na televisão”. Não é ofício de fofoca, é ofício da troca de informações, de diálogo, de aprendizado. O jornal possui esse mesmo objetivo, a função de dialogar com as pessoas e mesmo fazer espantar ou enraivecer diante da informação repassada.

Não é apenas um jornal que chega às bancas, à porta de cada um, que traz em manchete o espanto ou a esperança, que traz em letras grandes o motivo de alegria ou o entristecimento. Quem dera somente a notícia alvissareira, a informação por todos desejada, a manchete estampando que a cura enfim chegou, que a corrupção já não existe nos altares do poder, que os grupos terroristas foram exterminados, que não há mais pessoas jogadas pelos corredores dos hospitais, que o salário é suficiente para as despesas do dia a dia. E que bela manchete: “Os mosquitos causadores da dengue, da zika e da chikungunya já não ameaçam os brasileiros”. Mas eis que o ofício de informar soa como um sino de igreja que tanto anuncia a missa festiva como a despedida de alguém.

E por isso o Jornal do Dia também chora. Lamenta, entristece e lacrimeja toda vez que estampa o sangue da violência, que anuncia o grito aterrorizado da sociedade ante a estupidez, que tem de registrar as barbaridades ainda tão recorrentes pelo mundo. Não há jornalista, não há editor, não há qualquer profissional que se sinta bem em ter de informar o que soa tão caro ao sentimento do povo. Mas a realidade não pode ser omitida, a verdade não pode ser negligenciada, e daí a necessidade da fidelidade aos fatos e acontecimentos. Por outro lado, também o prazer pelas linhas escritas que tanto confortam, alegram e enriquecem o conhecimento. Como dizia o velho jornalista, nem tudo no jornal é sangue. Nele também se avista o jardim e a flor.

É essa flor perfumada que procuro encontrar a cada manhã no Jornal do Dia. Também sou jardineiro desse itinerário, e com muito orgulho. Já se vão mais de cinco anos que passei a escrever para suas páginas. Contudo, já quase três anos como contínuo colaborador, tendo, a cada semana, textos publicados sobre as mais diversas feições da vida. Não há contentamento maior do que encontrar pessoas que dizem apreciar as crônicas dominicais da página três. E também não esqueço quando um leitor me disse que não conseguia imaginar como Lampião pudesse ter dito, naquela situação, aquilo a Maria Bonita. Mas disse, apenas respondi.

E assim vão nossas histórias. O Jornal do Dia completando seus onze anos e todos festejando tal caminhada. Um menino ainda, como dito. E desejando que os anos seguintes sejam de fortalecimento e continuidade dos compromissos assumidos, jamais de mero envelhecimento.

Poeta e cronista
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OPINIÃO: O CANGACEIRO LAMPIÃO MORREU MESMO NUM MASSACRE EM ANGICO?

Por Cecílio Tiburtino, procurador jurídico da Câmara de Vereadores de Serra Talhada

Aproveitando a excelente, brilhante e formidável apresentação: “O massacre de Angico. 

A morte de Lampião”, que ocorreu em nossa cidade entre os dias 24 e 28 de julho de 2013, venho, após leitura de alguns textos, livros e revistas sobre o tema, propor uma reflexão sobre a morte do lendário, formidável e inigualável Serratalhadense: Virgulino Ferreira. De ante mão, quero deixar bem claro que não estou propondo desmistificar um personagem histórico, nem tão pouco pretendo reformular a história. Apenas e tão somente, venho expor outra versão, possível, sobre o “fim” de Lampião. Por outro lado, gostaria de informar que não sou nenhuma autoridade no assunto, apenas e tão somente leitor sobre tão intrigante e cativador tema, e que tive alguns dos meus familiares contemporâneos aos fatos históricos.


Conta a história que o desfecho final do intrigante personagem histórico Lampião iniciou às cinco horas da manhã do dia 28 de julho de 1938, na Grota de Angico, uma fortaleza de pedras escondida dentro da caatinga, encravada numa depressão perto do riacho Tamanduá e próxima ao rio São Francisco, no município sergipano de Poço Redondo. O fogo cerrado das metralhadoras portáteis do regimento policial militar de Alagoas, comandado pelo tenente João Bezerra, levaram Lampião, Maria Bonita e mais alguns cangaceiros a morte. Tal empreitada teria ocorrido depois que o Presidente da República Getúlio Vargas, que sofria sérios ataques dos adversários por permitir a existência de Lampião, ter pressionado interventor de Alagoas, Osman Loureiro, que adotou providências para acabar com o cangaço, vindo inclusive a prometer promover ao posto imediato da hierarquia o militar que trouxesse a cabeça do cangaceiro.

O fogo cerrado teria durado aproximadamente 15 minutos. Eram tantos tiros que mal dava para enxergar o que acontecia. Pedaços de xiquexique, mandacaru, facheiro – vegetação típica do sertão – caíam por todos os lados. Lampião teria tombado primeiro. Maria Bonita foi abatida logo depois. Apanhados de surpresa, muitos dos 39(*) cangaceiros que se refugiavam na grota ainda dormiam, e nove morreram na emboscada. O restante conseguiu fugir. Em seguida, iniciou-se um processo de decapitação dos que tombaram, inclusive Lampião e Maria Bonita, vindo após promoção de verdadeira caça ao tesouro dos cangaceiros, desde as joias, dinheiro, perfumes importados e tudo mais que tinha valor foi alvo da “rapinagem” promovida pela polícia.

De forma simples, essa é a história oficial. Mas é a real? Quantos de nós nunca ouvimos falar que Lampião ainda estaria vivo. Quantos de nós não desconfiou e ainda desconfia de alguns relatos históricos. Para a história e para o Brasil era necessária à morte (extinção) de Lampião, posto que o cangaço há anos tinha desafiado as autoridades locais e regionais, sagrando-se vencedor nesse âmbito, partindo a desafiar a “Nação”. Porém, isso não quer dizer que Virgulino Ferreira da Silva também tivesse que ser seguindo essa premissa, o fotógrafo, técnico em contabilidade e escritor José Geraldo Aguiar, que passou 17 anos pesquisando a vida de Lampião, publicou: “Lampião o Invencível – Duas Vidas, Duas Mortes, o outro lado da moeda” (Thesarus, 2009). O objetivo do livro é “provar” que Virgulino Ferreira da Silva não foi morto pela Polícia na localidade de Angico, como conta a história.


Relata o escritor que conheceu Lampião pessoalmente em 15 de fevereiro de 1992, na cidade de São Francisco, no Norte de Minas Gerais, na República Federativa do Brasil, apontando a sua morte no dia 03 de agosto de 1993, aos 96 anos de idade, no Estado de Minas. O escritor afirma que conviveu com Virgulino Ferreira da Silva por cinco meses, promovendo uma história investigativa, tendo viajado em grande parte do Brasil, pesquisando para montar o livro, especialmente pelo interior de Minas Gerais, tendo entrevistado 46 testemunhas que também relataram ter visto Lampião. 

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"Como foi  que alguns que foram entrevistados pelo fotógrafo José Geraldo Aguiar, depois de várias décadas, tiveram certeza que aquele homem era mesmo o  Lampião de Pernambuco, vez que eles pessoalmente não chegaram conhecer Lampião?" 

Um dos relatos, dentre vários outros contidos no livro de José Geraldo Aguiar, às fls. 184/185, dá conta de que o Delegado de Polícia Orlando Correia Alberlaz, no ano de 1978, recebera uma queixa de um senhor que exigia providencias contra seu vizinho, ex-prefeito de São Francisco (MG), tendo em vista que cinco cabeças de gado do queixoso estariam
na fazenda deste.

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"Mas isso não quer dizer que realmente se tratava de Lampião verdadeiro. Qualquer criador que sente falta de um  animal ou mais no seu rebanho, e os encontra em outro curral, imagina logo que foram furtados, e a decisão é prestar queixa ao delegado da região, para que os seus animais sejam devolvidos, já que as marcas provam que fazem parte do seu rebanho". 

O queixoso afirmou que “possuía um punhal (espeto) que dava para atravessar três pessoas de uma só vez, se não recebesse seu gado de volta”. O delegado pediu a identificação do queixoso, quando recebeu 03 (três) identidades diferentes, quando então questionou quem de fato era o senhor que estava a sua frente. Para sua surpresa a resposta que ouviu foi: Virgulino Ferreira. 

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"Por que este delegado não prendeu este sujeito que carregava três identidades com nomes diferentes, que na verdade é crime, e dos grandes, é um documento que só se pode possuir um só, e não dois? 

As fls. 186 relata José Geraldo Aguiar que José Rodrigues Cordeiro (Zezão) dono de um bar em São Francisco (MG) presenciou o homem conhecido por João Teixeira se dirigir ao balcão de atendimento do Funrural com objetivo de requerer a aposentadoria. De imediato a tendente pediu-lhe os documentos, tendo o Sr. João Teixeira demonstrado ser portador de três documentos, um foi entregue a atendente, outro ficou na bolsa e o terceiro caiu ao chão.

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"Qual foi a comprovação que um documento ficou na bolsa do suposto Lampião?"

A atendente, ao olhar para o documento, questionou o Sr. João Teixeira sobre o referido documento, pois o nome que constava era: Virgulino Ferreira.  De pronto João Teixeira afirmou que tal documento pertencia ao seu irmão. Pegando-o de volta e indo embora sem maiores explicações. 

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"Este senhor que se dizia ser Lampião de Pernambuco era um verdadeiro mentiroso e cheio de enroladas, andava com documentos falsos em sua bolsa, coisa que o Lampião verdadeiro nunca fez, falsificar documentos para nada". O saudoso José Geraldo Aguiar fez o seu trabalho, e bem feito. Quem mentiu, foi o seu depoente, enganando a todos seus conhecidos que era o verdadeiro Lampião pernambucano".

Não fossem apenas os depoimentos acima transcritos, dentre vários outros contidos no livro de José Geraldo Aguiar, impossível não observar a semelhança entre a fotografia de Lampião e a do Sr. João Teixeira de Lima, constante no citado livro. Como relatado no início, não pretendo com esses breves relatos reduzir o personagem que foi Lampião, ou mesmo induzir a um erro da história, pelo contrário, apenas pretendi demonstrar que existem outras versões sobre o fim do cangaço, sem que tal fim tenha conduzido ao fim do lendário Virgulino Ferreira da Silva, que apenas estudos profundos, o que não é o caso, podem confirmar.

http://faroldenoticias.com.br/opiniao-o-cangaceiro-lampiao-morreu-mesmo-num-massacre-em-angico/

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LAMPIÃO E MARIA BONITA: AMOR E MORTE NO CANGAÇO

Texto Rodrigo Cavalcante, De Maceió - 08/01/2014

Em meio à violência e fugas da polícia, o romance entre Lampião e Maria Bonita marcou o fim do banditismo no sertão

Na edição de 13 de fevereiro de 1926, o recifense Jornal Pequeno publicou a notícia da emboscada armada pelo tenente Optato Gueiros dando fim ao cangaceiro Lampião entre os municípios de Custódia e Alagoa de Baixo, em Pernambuco: Lampião estava morto. À época, Virgulino Ferreira da Silva não era mais um bandoleiro famoso no rastro de outros como Antônio Silvino e Sinhô Pereira. Era capitão. Convidado por Padre Cícero no início daquele ano para combater a Coluna Prestes, de passagem no Ceará, ele recebera a patente militar de um funcionário público de Juazeiro - que, mais tarde, diria que diante dele e de seus cabras assinaria até a demissão do então presidente Arthur Bernardes. Sua folha de crimes era tão popular que o nome Lampião passou a ser usado até em propaganda de pílulas para aliviar prisão de ventre.

O alívio em torno da notícia de sua morte, contudo, durou pouco. Para a decepção dos leitores que confiaram na estatura da notícia do Jornal Pequeno, tratava-se de mais um anúncio falso de sua morte. Lampião não apenas reaparecera como propôs meses depois ao governador de Pernambuco a divisão do estado em dois, para que ele pudesse ser nomeado governador do Sertão. Até a sua morte (definitiva) por tropas alagoanas, em 1938, na Grota de Angico, em Sergipe, ele viveria longos 12 anos. Tempo suficiente para se apaixonar, viver e morrer ao lado da baiana Maria Gomes de Freire, a primeira mulher na história do cangaço. Quando retratos da mais tarde chamada Maria Bonita circularam pelos jornais de todo o país, o Brasil surpreendeu-se com suas velhas ideias do sertão. Numa época em que as teorias raciais eram levadas a sério e a "civilização litorânea" vivia sob ameaça das constantes revoltas das "sub-raças sertanejas", tal como descritas pelo engenheiro Euclides da Cunha em Os Sertões, a presença feminina de uma sertaneja altiva e vaidosa vivendo em harmonia com o cangaceiro mais famoso do país chocou o Brasil. Em meio à violência, crueza e aridez do cangaço, haveria espaço para algum sinal de beleza ou de uma real história do amor?

No sertão, as fronteiras do Nordeste são outras, aproximando os estados que parecem mais distantes de quem só conhece o litoral. A cidade baiana de Paulo Afonso, por exemplo, onde Maria Bonita nasceu, está mais próxima de cidades vizinhas de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Paraíba do que de Salvador, a mais de 460 km de distância. Daí que, quando o cerco em alguns dos sete estados por onde o bando de Lampião andava se fechava, ele se movia por essas fronteiras com suporte de uma rede bem montada (e remunerada) de informantes, fazendeiros e pequenos proprietários dispostos a lhe dar refúgio - os chamados coiteiros. Foi de passagem pela propriedade dos coiteiros Zé Filipe e Dona Deia, no povoado de Malhada da Caiçara, em Paulo Afonso, que Lampião se engraçou no final de 1929 por Maria "da Deia", filha do casal de 18 anos que estava de volta à casa dos pais após mais uma briga com o marido, o sapateiro Zé Nenê. A aproximação de Lampião foi forjada por meio de uma "encomenda": segundo os parentes de Maria Bonita, Lampião solicitou que ela e suas irmãs bordassem as iniciais "CV" (Capitão Virgulino) em quinze lenços de seda, com a promessa de que em menos de um mês voltaria para buscá-los. "Minha família conta que ele demorou bem mais do que o prometido, mas, quando voltou, teve início o namoro com minha avó", diz Vera Ferreira, historiadora e neta de Lampião e Maria Bonita que vive hoje na cidade de Aracaju, em Sergipe, coautora do livro Bonita Maria do Capitão, uma coletânea de relatos e imagens da avó. Ela conta que somente após seus bisavós decidirem mudar para Alagoas após serem perseguidos por dar guarida a Lampião, que Maria Bonita tomou a decisão de ingressar no cangaço.

A decisão não tinha precedentes. Na secular história do cangaço, a regra era clara: a presença de mulher destruiria o bando, seja por razões práticas seja por outras de fundo místico. Entre as de ordem prática, estavam o atraso que elas causariam nos momentos de fuga e a facilidade com que entregariam os companheiros caso fossem pegas pelos macacos (como eram pejorativamente chamados os volantes policiais).

Além disso, a presença de mulheres em meio a cabras armados era uma ameaça constante de conflitos em casos de ciúme e traição. Quanto ao motivo místico em torno da presença da mulher, estava a crença de que elas abriam "o corpo fechado" do cangaceiro. "Homem de batalha não pode andar com mulher. Se ele tem uma relação, perde a oração, e seu corpo fica como uma melancia, qualquer bala atravessa", já dizia o cangaceiro Balão em depoimento transcrito no livro Guerreiros do Sol, do historiador Frederico Pernambucano de Mello.

Sinhô Pereira, cangaceiro lendário que havia chefiado Lampião, se disse surpreso com a novidade: "Fiquei muito admirado quando soube que Lampião havia consentido que as mulheres ingressassem no cangaço. Eu nunca permiti. Nem permitiria". Ou seja: mais do que a decisão de Maria Bonita, foi a permissão de Lampião do ingresso da baiana no grupo que mudou o cotidiano do cangaço. "Com a entrada de Maria para o bando, os outros cabras puderam juntar suas mulheres ao grupo", diz a historiadora Isabel Lustosa, autora de De Olho em Lampião.

Violência menor

Algumas garotas juntaram-se aos cangaceiros por vontade própria. Outras, como Dadá, companheira de Corisco, foram raptadas e terminaram se adaptando. Desde então, estima-se que mais de 40 mulheres tenham ingressado naquela vida. Mas o que de fato mudou no cangaço e no comportamento do próprio Lampião com a presença das mulheres?

De acordo com o relato dos cangaceiros e historiadores, a presença de Maria Bonita e de outras mulheres deu início a uma fase menos violenta do bando de Lampião, cujas ações passaram a ser mais seletivas e centradas na coleta de dinheiro (os resgates como garantia de que não tomariam de assalto uma cidade ou propriedade). Além de ações mais estratégicas, semelhantes às de organizações mafiosas, há relatos de que Maria Bonita intercedeu mais de uma vez pela vida de pessoas capturadas pelo bando. "Lampião costumava atender seus pedidos de clemência e, de resto, tanto pela idade dos cangaceiros quanto pelo ambiente doméstico que as mulheres trouxeram para os acampamentos, houve uma redução da violência de suas ações", diz Isabel Lustosa. "A presença de Maria Bonita e outras mulheres inibiu os casos de estupros", diz João de Sousa Lima, pesquisador da vida de Maria Bonita. "Até porque os relatos daqueles que conviveram com o bando são unânimes quanto ao respeito que a presença dela inspirava no grupo."

Como mulher do rei do cangaço, o respeito incluía o direito a uma espécie de guarda e secretário particular, conhecido por Sabonete. "Polia-lhe as joias, ocupava-se dos seus recados, de suas finanças, farmácia, armas e tudo mais da esfera pessoal, desfrutando nessa curiosa função de mordomo das caatingas do agrado de sua rainha e do capitão, seu rei", diz Pernambucano de Mello.

Mimos excessivos

Talvez, por isso, a cangaceira Dadá, parceira de Corisco, tenha descrito Maria Bonita como alguém de mimos excessivos para quem vivia no sertão. O cangaceiro José Alves de Barros, vulgo Vinte e Cinco, que conviveu com o casal, daria outro testemunho sobre ela: "Parecia uma menina grande. Ela era brincalhona, uma moleca e conquistava todo o mundo".

A presença das mulheres exigiu a criação de novas regras para definir o papel delas no bando. Mesmo não participando diretamente nos combates, tinham que aprender a atirar para se defender. "Em geral, elas portavam revólveres de calibre 28 e 32 e pequenos punhais para proteção", diz Germana Gonçalves de Araújo, coautora do livro Bonita Maria do Capitão. Além disso, nenhuma mulher podia entrar no bando sem já estar atrelada a um cangaceiro. Casos de traição costumavam ser punidos com execução, e há relatos até de viúvas que, não conseguindo mais se unir a outro cangaceiro, foram executadas para não se tornarem um fardo para o grupo ou presas fáceis da polícia. As crianças que nascessem no cangaço tampouco poderiam permanecer no bando, tendo que ser entregues para outras famílias.

Foi o caso de Expedita Ferreira, a filha de Lampião e Maria Bonita, que nasceu em 13 de setembro de 1932 debaixo de um pé de umbu numa fazenda em Porto da Folha, Sergipe, estado em que ainda reside prestes a completar 81 anos de idade. Entregue ao casal de vaqueiros Aurora e Severo Mamede, com quem foi criada até os 8 anos como uma das 11 filhas do casal, Expedita recebia sempre que possível a visita dos pais famosos. "Os encontros com minha mãe se davam na fazenda, e ao menos em uma ocasião no meio da caatinga", diz Vera Ferreira, neta dos cangaceiros. "Num desses encontros, minha mãe conta que foi a fisionomia do pai que mais lhe marcara." Ainda que não se metessem diretamente nas ações, as mulheres não estavam imunes aos combates. Três anos após o nascimento de Expedita, Maria Bonita foi baleada pelas costas após um ataque comandado por Lampião na Vila Serrinha do Catimbau, próxima da cidade de Garanhuns, em Pernambuco. Alvo fácil da artilharia por estar usando vestido branco, ela teve que ser levada às pressas para um local de difícil acesso na caatinga para ser tratada pelo grupo.

No mesmo ano, o estouro de revoltas militares no Rio de Janeiro e em Natal fez com que o governo de Getúlio Vargas endurecesse a repressão não apenas contra comunistas e integralistas, como a qualquer grupo que desafiasse a autoridade do regime. Quando o turco Benjamim Abraão conseguiu filmar Lampião, Maria Bonita e o cotidiano do bando, em 1936 (veja na página ao lado), o governo Vargas mandou imediatamente apreender o filme e encarou as imagens como uma afronta.

Além disso, após uma série de acordos entre os governadores do Nordeste, as polícias estaduais ganharam passe livre para cruzar fronteiras, e armamentos pesados começaram a ser enviados para o combate aos cangaceiros, incluindo modernas metralhadoras jamais vistas por aqueles lados. Talvez por consciência disso, dali em diante o ritmo de ações do bando diminuiria. O próprio ímpeto de Lampião, beirando os 40 anos de idade, parecia arrefecido. "Na fase final de suas tropelias, entre os anos de 1936 e 1938, Lampião mostrava-se bem mudado", afirma Frederico Pernambucano de Mello em seu livro Guerreiros do Sol. De acordo com o historiador, ele trocou as constantes movimentações pelo sertão por uma vida mais sedentária e confortável em refúgios em Sergipe, "onde sua agressividade diluía-se nos braços de Maria Bonita, a quem amou profundamente, dedicando-lhe sempre calorosas palavras de elogio".

"O cego morreu"

Relatos dos cangaceiros confirmam que o casal tinha o que se pode chamar de uma convivência harmoniosa. "Nunca ouvi reclamarem. Eles se acostumavam. Nem faziam futuro, nem pensavam em morrer, porque eles sabiam que a qualquer momento podia acontecer, daí o que viesse estava bom", disse em 2009, em depoimento, o cangaceiro Vinte e Cinco. De acordo com ele, esse clima quase romântico, de foras da lei enfrentando seu destino sem muita preocupação, se estendia ao resto do grupo. "Chegasse o momento em que podíamos dançar, nós dançávamos; na hora de correr, nós corríamos; na hora de brigar, brigávamos; e a gente queria terminar aquele negócio logo, era matar ou morrer."

A morte viria de barco pelo Rio São Francisco no raiar do dia 28 de julho de 1938, na Grota de Angico, em Sergipe, no trecho do rio que faz divisa com o Estado de Alagoas. Foi da vizinha cidade alagoana de Piranhas, na outra margem, que partiria na véspera o tenente João Bezerra da Silva, acompanhado de 45 homens e três metralhadoras, com a determinação de exterminar o bando mais famoso do país.

Pedro de Cândido

Após prenderem o coiteiro Pedro Cândido, que apontou o lugar do esconderijo de Lampião, as forças policiais atravessaram o rio em direção ao acampamento, cercado de vegetação espinhenta - o local hoje faz parte da trilha do cangaço, um dos passeios oferecidos aos turistas que partem do litoral de Alagoas ou Sergipe em direção aos belos cânions do Rio São Francisco. Por ser um refúgio com uma única saída, o esconderijo era visto com maus olhos por quase todos os outros cangaceiros. Corisco, por exemplo, já tinha alertado Lampião de que considerava o local uma "cova de defunto". O líder do bando, no entanto, ignorou todos os conselhos e resolveu pernoitar ali.

Antes do nascer do sol, os volantes se dividiram em quatro grupos para cercar o acampamento. Assim que o dia começou a clarear e os primeiros cangaceiros saíram de suas tendas, o fogo abriu. Apesar dos 20 minutos de tiros e rajadas de metralhadoras, somente onze cangaceiros morreram. Outros 40 conseguiram escapar. Quando um dos volantes confirmou que "o cego também morreu", em referência à Lampião (que usava óculos sem grau para disfarçar um ferimento em um olho), e que Maria Bonita havia caído com ele, o tenente Bezerra sabia que entraria para a história. Para encerrar o episódio, faltava apenas um último ritual: decepar as cabeças para provar que, dessa vez, não se tratava de uma notícia falsa como a de 12 anos antes. De acordo com exames de medicina legal realizados pelo Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, Maria Bonita estava viva quando teve a cabeça decepada.

Após a exposição macabra percorrer várias cidades do Nordeste, as cabeças embalsamadas foram levadas ao Instituto Nina Rodrigues, onde ficariam até 1962 - quando parentes dos cangaceiros exigiram o sepultamento delas. Com o fim do bando, o cangaço estava com os dias contados. Seu capítulo final deu-se com a morte de Corisco, que tentou suceder Lampião. Ele foi morto em uma emboscada em 1940, quando estava prestes a se entregar após Vargas promulgar lei concedendo anistia aos cangaceiros que se rendessem.

Um ano após a morte de Lampião, o mundo entraria na Segunda Guerra. Dali em diante, as teorias de inferioridade racial cairiam em desgraça, o Brasil se industrializaria e as histórias de Lampião e Maria Bonita influenciariam a cultura na música, no cinema e na moda - Maria Bonita é hoje nome de grife em desfiles concorridos do país. O que parece não ter mudado mesmo é a situação dos sertanejos em tempo de seca: no início deste ano, a estiagem deixou cerca de mil cidades em estado de emergência.

O homem que capturou Lampião em imagens

Se o governo de Getúlio Vargas já estava desmoralizado por não conseguir prender Lampião e seu bando, ficou ainda mais quando o libanês Benjamim Abrahão conseguiu capturar imagens do cotidiano de Virgulino, Maria Bonita e seu grupo entre março e outubro de 1936.

Benjamim trabalhou como mascate no Nordeste após chegar ao Brasil fugindo da Primeira Guerra, em 1915. Mais tarde, foi descoberto pelo Padre Cícero em Juazeiro e se tornou seu secretário particular. Ao lado do padre, conheceu Lampião em 1926, ocasião em que o cangaceiro foi convidado a comandar o combate à Coluna Prestes, que estava no Ceará.

Após a morte do beato, Benjamim deu início ao projeto de filmar Lampião, com apoio do cearense Ademar Bezerra de Albuquerque, dono da empresa de fotografia e material fotográfico Abafilm. Ele não tinha dúvidas de que a fama do cangaceiro encheria salas de cinema em todo o país. Mesmo conseguindo a autorização de Lampião para filmá-lo na caatinga, o libanês nunca teve a recompensa merecida. O material da filmagem foi apreendido pelo Departamento de Imprensa e Propaganda do governo Vargas e, em 1938, dois meses antes da morte de Lampião e Maria Bonita, Benjamim foi esfaqueado em Serra Talhada, terra natal do cangaceiro, em circunstâncias não esclarecidas. Trechos do filme foram recuperados e fazem parte do acervo da Cinemateca Brasileira.


Cangaço fashionista

Lampião e seu bando abusavam de acessórios e bordados coloridos

1. Chapéu

Feito de couro com a aba da frente levantada. Enfeitado com moedas e com medalhas de ouro que continham inscrições como saudade, amor ou recordação

2. Estrelas

O signo de Salomão (estrela de oito pontas) era comum nos chapéus, pois acreditava-se que protegiam contra o mau-olhado.

3. Bandoleira

Faixa de couro firme usada para prender a arma na vertical. Adornada com moedas e ilhoses. Para Lampião, usar a arma nas costas na diagonal seria como "botar nas costas o pau da cruz e chamar a morte".

4. Cantil

Coberto com uma capa de brim, rico em bordados coloridos. Eram feitos de estanho ou alumínio ou até de cabaça. Junto, uma caneca cheia de folhas, para evitar barulho.

5. Bornal ou embornal

Bolsas laterais de tecido resistente usadas para o armazenamento de provisões, desde munição até roupas e alimentos. Era um dos acessórios mais coloridos e o mais pesado.

6. Jabiraca

Para secar o suor, usavam um lenço de seda preso no pescoço por uma sequência de anéis, o cartucho. Servia também como coador.

7. Chapéu

Chapéu de couro era coisa de homem. As mulheres usavam de feltro, de aba média, com testeira e barbela. A única semelhança era o gosto pelos enfeites.

8. Cabelo

Maria Bonita apareceu em fotos com o cabelo à la garçonne, tendência que surgiu no fim da década de 20. Os broches eram parte do visual

9. Luvas

Várias camadas de brim costuradas. A função era proteger a mão de galhos e espinhos deixando os dedos livres. As de Maria Bonita eram feitas de algodão e traziam bordadas no pulso as iniciais M.O.S. (Maria Oliveira da Silva).

10. Cartucheira

Servia para carregar pentes de munição e pistolas de maneira anatômica. Somando todos os acessórios, o cangaceiro podia carregar 40 kg. As mulheres levavam menos carga que os homens.

11. Perneiras

Como as cangaceiras usavam saias até o joelho, era necessário o uso de meias elásticas e perneiras de couro ou de tecido grosso.

12. Bordados

Feitos de linhas com cores fortes, podiam ser flores, ziguezagues ou cruzes e enfeitavam todos os acessórios.

Saiba mais

Livros

Bonita Maria do Capitão, Vera Ferreira e Germana Gonçalves de Araújo, Editora da Universidade do Estado da Bahia, 2011

Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste Brasileiro, Frederico Pernambucano de Mello, Massangana/Girafa, 2004

De Olho em Lampião: Violência e Esperteza, Isabel Lustosa, Claroenigma

Na internet

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Imagens captadas por Benjamim Abraão do bando de Lampião

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DONA MARIA GRANDE FALA SOBRE PASSAGEM DE LAMPIÃO EM FLORES



Enviado em 16 de mar de 2011
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VISITA AO MUSEU DO SERTÃO DE MOSSORÓ


A Próxima visita ao Museu do Sertão será no próximo dia 26 de março de 2016 (sábado), de 7 às 12 h. Não esqueça de levar 1 kg de alimento não perecível para o Lar da Criança Pobre (Irmã Ellen). Será um prazer lhe receber no Museu do Sertão.


Benedito Vasconcelos Mendes - Presidente do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP).

Enviado pelo poeta e escritor José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo

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CANGAÇO - Cangaceirismo LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS EM MANAÍRA - TIRO NO PÉ - PARTE V


31 de julho a 3 de agosto de 1924

Existe um detalhe curioso na literatura do cangaço, em que autores narram esses dias com duas versões distintas. Vários deles escreveram que, fugindo do cerco da polícia, Lampião desceu pelo Boqueirão e seguiu em direção ao Pelo Sinal. Após os tiroteios no Boqueirão e Impueira, o mais famoso de todos é conhecido como o Fogo de Areias de Pelo Sinal. Esse confronto deu-se na casa de Manoel Cazuza. O último cidadão vivo, que esteve naquele momento, é um afilhado de Cícero Cazuza (irmão de Manaoel), de nome Cícero Nunes de Amorim (Nego). Ele afirma: “eu tava lá, mas tava na barriga de mãe. Mãe tava grávida, eu não vi, mas ela e pai e meu padrinho (Manoel) me contaram muitas vezes, desde que eu era menino. Eu sei de tudo”.

Quando lhe perguntei como tinha sido o combate e como era Lampião, ele disse com toda segurança: “Lampião num tava não, quem tava era Livino, o irmão dele”. Por mais que eu insistisse, ele e seus familiares garantiram que era somente Livino e os cangaceiros, sem Lampião. Manoel Cazuza conhecia muito bem os irmãos Ferreira e podia assegurar quem realmente esteve em sua casa. “Quem também entrô no cangaço foi Belo Cazuza (Benedito), filho de meu padim Mané Cazuza.”

Em seu livro, O Canto do Acauã, de Marilourdes Ferraz, pág. 230, encontra-se o seguinte: “A casa estava ocupada por Livino Ferreira, que ofereceu pesada resistência.” Também outros escritores descrevem como sendo Livino o comandante dos bandoleiros naqueles momentos. Luís Pedro não é citado como um dos cangaceiros presentes ao ataque. Isso ratifica a tese de que Lampião não estava nesse combate. Mas onde ele estaria, se estava no Pau Ferrado e, de lá, os cangaceiros seguiram em direção ao Pelo Sinal, sem ele?

Lampião ainda não estava curado do ferimento do pé e andava mancando. Não daria para enfrentar uma fuga desenfreada com várias volantes em sua perseguição. Estrategista experiente que era, teria disfarçado seu distanciamento do bando, espalhando cangaceiros em várias direções. Essa tática, já utilizada em outras situações, funcionou perfeitamente. Tiroteios na região de Cachoeira de Minas, no Pau Ferrado, no Boqueirão, na Impueira...

Hipótese levantada pelo autor: Lampião estaria se dirigindo para Triunfo (PE), em companhia do cangaceiro Luís Pedro Cordeiro, que era triunfense e parente do Dr. José Cordeiro. Esse médico, juntamente com o Dr. Severiano Diniz, estava cuidando do ferimento da perna de Lampião, no Saco dos Caçulas, em Patos. Lampião subiu o Pau Ferrado, separou-se dos companheiros que se dirigiram à Alagoa Nova e foi à Triunfo, continuar o tratamento, pois não podia mais fazê-lo na Paraíba.
Em Triunfo foi produzido um pequeno filme intitulado “Tiro no Pé” (disponível no YouTube), que conta a saga de uma semana na qual Lampião ficou oculto em Triunfo, cuidando da saúde do pé, com o Dr. Cordeiro e Luís Pedro. Sabendo desse ocorrido, fomos a Triunfo e procuramos nos inteirar das fontes para a história da filmagem. Nossa surpresa foi grande quando soubemos que aquele período coincidia com a saída de Lampião da região do Pau Ferrado.

No Engenho Triunpho, encontramos com o Dr. Haroldo Paiva Rodrigues, que nos contou muitos fatos de sua vida, mostrou reportagens e fotos em que se apresenta como Gandhi, por conta de sua semelhança física com o líder Indiano Maratma Gandhi. 

Liraucio Rodrigues da Silva

Exibiu também as fotos de seus pais, Liraucio Rodrigues da Silva e Adauta Paiva Rodrigues, dos quais nos permitiu copiar as fotografias.

Adauta Paiva Rodrigues

Conseguiu-nos cópia do filme “Tiro no Pé”, mas ressaltou os fatos reais - diferentes daqueles apresentados no filme -, ocorridos naqueles dias em que seus pais acolheram em casa, por oito dias, Lampião e Luís Pedro. O Dr. Cordeiro ia sempre à noite, para não chamar a atenção da população ou de qualquer curioso. Fazia os curativos e aplicava os medicamentos.

Após o período de repouso e convalescença, o hóspede partiu sem que ninguém se apercebesse de sua permanência ali. Lampião deixou como recordação um livro de História do Brasil e um estojo de barbear, que Dr. Haroldo guarda com bastante carinho.


Reencontrando-se com os demais bandoleiros, Lampião busca uma região mais calma para se reorganizar e recompor armamentos e munições que estavam bastante reduzidos.

CONTINUA...

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