Seguidores

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

A CRUZ E O RIFLE, PADRE CÍCERO, LAMPIÃO E O PODER

Por Urbano Silva


Figuras emblemáticas do panorama social do nordeste, personagens envoltos em lendas, misticismos, folclore, fantasias e realidades das mais diversas, Cícero e Virgulino - o padre e o cangaceiro - estão alçados à condição de mitos nordestinos. Há três décadas juntando literatura, imagens e percorrendo cidades, bibliotecas e museus com o tema dos referidos personagens, gostaria de expor nesse artigo um extrato da visão que tenho sobre eles, moldado na imparcialidade, historiografia e vontade de compartilhar pesquisas.

Autores da grandeza de Nertan Macedo, Francisco Nóbrega, Pereira Gondim, Amália Xavier, Luitgarde Cavalcanti, Lira Neto e outros publicaram valiosos trabalhos sobre o tema. E claro, são referências universais de pesquisa. Um dos pontos nevrálgicos da biografia de Cícero, é o cruzamento da sua aura religiosa com a de líder político. Um dos autores atribui a ele a seguinte frase: o que Deus rejeita, o diabo não enjeita. Se a igreja não me quer, a política me convida.


Professor Urbano em participação no Cariri Cangaço em Juazeiro do Norte, 
no Horto do Padre Cícero

A base política do padre é sólida, formatada pela ambição do Floro Bartolomeu, médico e articulador político, que soube como ninguém ler a força do carisma do sacerdote, acrescentado doses de vaidades que os firmariam no poder social.


Em 1911 o padre funda a cidade de Juazeiro, em 1914 derruba o governador do Estado, em 1926 frente a frente estiveram Cícero e Lampião, projeto oriundo do Presidente da República Arthur Bernardes, via deputado federal Floro e o prestígio quase divino do padre, que assinou a convocação. Uma patente que não teve validade, mas rendeu frutos de armas e munições, matéria-prima valiosa para o vaidoso cangaceiro, capitão Virgulino Lampião! A missão? Abater a tiros Carlos Prestes, líder do comunismo que tanto incomoda os latifundiários e mais abastados.


Pesquisadores favorecem a tese de santificação do padre, a partir do robusto trabalho de acolhimento aos menos favorecidos. Mas esses mesmos estudiosos se omitem em aprofundar-se na revelação do perfil sacerdotal que moldou para si um pedestal e o sustentou no poder e suas benesses até os dias de hoje, 85 anos depois do seu falecimento. Política não é lugar para ingênuos, santinhos ou aprendizes de samaritanos. O padre lançou mão de um misticismo, estudioso que era a partir de sua vasta biblioteca, e esse misticismo iluminou a sua face religiosa, que reverberou em votos e força eleitoral. Inteligentíssimo, montou o seu próprio ministério, com pessoas dentro de sua própria residência, para que ele pudesse monitorar cada passo, cada palavra, cada ato dos seus auxiliares.

Floro Bartolomeu e Padre Cícero

Beata Mocinha, sua governanta, criada pelo padre desde os 11 anos de idade. Uma filha adotiva e obediente.
Maria de Araújo, a moça do fenômeno (não vejo como milagre) da hóstia, criada por familiares dele desde a infância, ela mesma se denominando “a noiva de Cristo” e a fantasia que expelia o sangue do próprio Jesus, interpretação sem nenhuma base teológica. Se era sangue humano? Ponto final, nenhuma relação com o Divino ser. Resume-se a um fenômeno biológico do próprio corpo, ou algo mais simplório. Foi espetacularizado e tomou dimensões inimagináveis de popularidade e santificação ou veneração popular. Atingiu plenamente os objetivos. Para a beata, significou sua sentença de polêmicas, castigos e morte. Para o padre, acusações e expulsão de sua própria igreja. Até o Papa soube.

Tereza, ex-escrava, residiu com o padre e foi serviçal até o fim dos dias.
Floro Bartolomeu, único da corte com curso superior, político maquiavélico, vaidoso, sedento de poder, manipulador, usou o carisma do padre e lhe formatou a identidade política. O carisma de um somado com a ambição do outro e ambos se beneficiaram das coisas boas do poder. Não há ingenuidades nessa relação.

Beata Maria de Araujo

Benjamin Abrão, mercenário, ambicioso, vaidoso, namorador, quantos detalhes e segredos da corte levou para a sepultura, e jamais saberemos? Como secretário do padre, falava em nome dele e o cargo lhe abriu todas as portas, até as confidências do destemido Rei do Cangaço, a quem fotografou, filmou e fez marketing de aspirinas e jornal. Ousadia da peste! Apresentado como “conterrâneo de Jesus” o que nunca foi, pois era libanês, território há centenas de quilômetros onde o Cristo nasceu...mas uma mentirinha assim, que mal faz? Impressionar os devotos era a primazia, e ninguém questionaria o padre, sua corte, nem se preocupariam com os detalhes geográficos.

José Teles Marrocos, o primo legítimo do padre, ex-seminarista, filho de um padre com uma beata, homem de uma cultura primorosa, professor, conhecedor de química (tipos sanguíneos, plasmas, glóbulos, hemácias, bicarbonato etc) era seu material de estudo e experimentações. Parente que vivia o dia a dia do primo famoso...e morreu subitamente, quando medicado de um diagnóstico banal, por dr. Floro Bartolomeu!

Lampião visitou o reino encantado do Juazeiro em março de 1926, história cheia de detalhes. E lá reuniu a família, dialogou com o padre (encontro histórico) e seguiu seu destino bandoleiro. Foi essa a única visita? Desconfio que não. Foi a única pública, é possível ter havido outras, afinal, o rei do cangaço tinha uma veneração pelo religioso e um débito de gratidão pelo acolhimento de seus familiares, como Maria Queiroz Ferreira, dona Mocinha, que faleceu aos 102 anos de idade, já no século XXI.

Lampião e a clássica fotografia ao lado da família por ocasião de sua visita 
a Juazeiro do Norte em Março de 1926

A causa política do sacerdote teve seu próprio exército recrutado por aventureiros dos sertões, numa variação de 450 até pouco mais de 1.000 homens. Força paramilitar, um crime aos olhos da lei, que o enquadraria como milícia armada nos dias de hoje. Sem estar em combates por causas políticas, eram esses mesmos homens que soltavam os rifles e punhais e empunhavam a cruz e os rosários, varando madrugadas em preces e ladainhas. Também compunham o exército de agricultores que davam “dias de serviços gratuitos” nas lavouras e engenhos do padre, produtor de excelentes rapaduras, distribuídas em vários estados nordestinos.

Casamentos, só com a análise prévia do sacerdote. Negros com brancos? Negativa na certa. Pobres com ricos? Nenhuma chance. Onde ficava o amor do casal? Embaixo da autoridade de Cícero, senhor absoluto no seu reino cearense.

Por mais impactante que seja, a revelação dos bastidores do poder, seja ele religioso, político, militar etc, é necessária para entendermos a psique que acontece quando vontades se tornam leis, opiniões são irredutíveis, dinheiro é identidade, e dominar vidas de súditos satisfaz tanto quanto se banquetear nas sombras do poder, geradoras de vaidades, autos satisfação e prestígio na forma de respeito, admiração e submissão dos pares que manipulam os destinos sociais.
Quando os súditos os adoram, os personagens transpõem os tempos.
Morre o homem, se eterniza o mito.

Viva a cultura nordestina!
Prof. José Urbano
Caruaru, Pernambuco
E vem aí
Cariri Cangaço
10 Anos
24 a 28 de Julho de 2019
CEARÁ

http://cariricangaco.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

CORONEL MANUEL ARRUDA DE ASSIS NOTAS SOBRE UM HOMEM VALENTE E CORAJOSO

(*) José Romero Araújo Cardoso
 Coronel Manuel Arruda de Assis

Impossível disfarçar minha admiração pelo saudoso Coronel Manuel Arruda de Assis, pois ouvi por anos e anos suas conversas interessantes, suas histórias fantásticas envolvendo revoltosos, cangaceiros e combates da guerra de Princesa, além do cotidiano militar e político- parlamentar, tendo em vista que o respeitado oficial paraibano foi prefeito em duas cidades - Pombal (PB) e São José de Piranhas (PB) - além de deputado estadual.

Sobre a passagem da coluna Prestes por Piancó (PB) no dia nove de fevereiro de 1926, Arruda dedicou muitas e muitas horas de prosa comigo, constituindo-se em uma das razões do infinito respeito que nutro pela memória do velho guerreiro das caatingas.

Arruda me contava que mais ou menos às seis e meia da manhã do dia nove de fevereiro de 1926 chegou a Piancó o Tenente Manuel Marinho em um caminhão, proveniente do segundo Batalhão da Polícia Militar, instalado pelo governo João Suassuna em Patos das Espinharas, devido ao ataque cangaceiro do dia 27 de julho de 1924 à cidade de Sousa. Em razão do deslocamento da Coluna Miguel Costa-Prestes, o Tenente trazia armas e munição, vindo acompanhado de cinco praças.

O então Sargento Manuel Arruda de Assis começou a distribuição das armas e da munição com os defensores dos piquetes de Piancó, os quais somavam quatro. Arruda transformou a casa do juiz de Piancó, Dr. Abdon Assis, em piquete, sendo que a referida residência estava localizada de frente ao Conselho Municipal, justamente na rua em que a Coluna Miguel Costa-Prestes penetrou. Os outros piquetes eram comandados pelos Tenentes Marinho e Benício, pelo Alfaiate Isidoro e por Francisco Lima, do lado sul, e o do Padre Aristides. Este último foi o que deu mais trabalho aos revoltosos, sendo o mais penalizado.

Proveniente do Boqueirão de Coremas, a Coluna Miguel Costa-Prestes foi intimidada por Arruda a barrar sua trajetória, pois gritando alto para pararem, provavelmente o jovem sargento despertou a arrogância dos oficiais que comandavam a vanguarda do grupo insurgente, confiantes, quem sabe, no expressivo número de componentes que, indubitavelmente, punha medo e respeito por onde passavam. Os revoltosos desafiavam tudo e a todos, razão pela qual a composição rebelde ficou conhecida como a "Coluna Invicta", tendo se internado na Bolívia com essa fama. 

Depois que os oficiais que comandavam a vanguarda da Coluna Miguel Costa-Prestes foram alvejados, mais ou menos às oito horas da manhã, se passaram uns vinte minutos para que o regimento militar insubordinado ao governo central desse o ar da graça. Quando apareceram, vieram com força total.

Arruda me contava que os comandantes dos revoltosos envolveram Piancó em forma de "U", pelo poente e pelo nascente, deixando apenas o rio descoberto. O recado da Coluna para que os defensores tivessem pensado antes de abater os oficiais da vanguarda foi dado através de chuva de balas cuspida de várias metralhadoras pesadas postadas estrategicamente em direção a Piancó.

Manuel Arruda de Assis, bravamente e com estoicismo inegável, lutou incansavelmente do piquete que comandava. Durante mais ou menos quatro horas, carregou e disparou as armas em seu poder talvez centenas de vezes. A intensidade do tiroteio vindo do piquete de Arruda impressionou os revoltosos da Coluna Miguel Costa-Prestes, pois a tradição dos lugares de onde provinham sabe valorizar bravos e corajosos, respeitando-os pela eternidade.

Coluna Miguel Costa–Prestes: Costa é o quarto sentado (esq. para dir.) 
e Prestes, o terceiro.

Vendo que a coisa ficava difícil a cada segundo, Arruda aproveitou que o lado do rio estava liberado para fugir o mais depressa possível, do mesmo jeito que fizeram seus tarimbados colegas da caserna. Arruda culpava a falta de experiência dos homens do Padre pela tragédia do barreiro sinistro, pois se houvesse alguém para instruir a furar a parede da casa e tomarem o mesmo rumo que ele e os outros militares tomaram, talvez a desgraça da hecatombe de Piancó não tivesse acontecido.

Arruda mergulhou no rio Piancó, que por sorte estava com água na ocasião, saindo distante do local em que mergulhou. Assim conseguiu escapar à fúria ensandecida dos "revolucionários" que transformavam Piancó em um desmantelo ao cubo.

Talvez pura ilusão de Arruda, pois o ódio devotado pela Coluna Miguel Costa-Prestes aos defensores do piquete do Padre Aristides seja a resposta para o sucesso da fuga dos integrantes dos outros pontos de defesa.

Padre Aristides e sua gente resistiram por mais meia hora após a fuga de Arruda e dos demais que conseguiram escapar da ira dos militares ensandecidos pela perda do valente oficial rebelde a quem foi confiado o comando da vanguarda da Coluna insurrecta.

Arruda dizia que conseguiram escapar do "girau" em que se transformou o piquete comandado pelo Padre Aristides Ferreira da Cruz apenas uma criada, duas crianças e um defensor chamado João Monteiro.

Quando da primeira campanha de Leonel Brizola para a presidência do Brasil, no primeiro turno, Luiz Carlos Prestes esteve em campanha por João Pessoa, pois apoiava o político gaúcho. O advogado e escritor Severino Coelho Viana dedicou a Prestes exemplar do livro "A vida do Coronel Arruda, Cangaceirisimo e Coluna Prestes". Ao lado de Severino Coelho, fiquei impressionado quando o "Cavaleiro da Esperança" exclamou com entusiasmo:

"Arruda????!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Esse foi um dos mais valentes e corajosos combatentes que enfrentamos na marcha da Coluna!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!". 

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Professor-adjunto do Departamento de Geografia do Campus Central da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA - UERN).

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Jos%C3%A9%20Romero%20Ara%C3%BAjo%20Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


OPINIÕES CITAÇÕES SOBRE JOÃO BEZERRA. (#)

Por Paulo Britto

O artigo a seguir é uma breve compilação de algumas referências/citações ao Coronel João Bezerra da Silva, feitas por pessoas de realce dentro do contexto do tema Cangaço, as mais diversas possíveis: coiteiros, soldados, oficiais, respeitados pesquisadores e escritores, autoridades militares, renomados chefes de volantes de outros Estados, etc.

Meu intuito é único e exclusivo, levar ao público informações para que diante delas, tirem suas próprias conclusões...



Att Paulo Britto
"Filho de João Bezerra"

Boletim Regimental número 179, de 12/08/1938 (Grafia original)

Não se enganou, portanto, o Exmº. Sr. Interventor Osman Loureiro, nem tampouco este comando. A perseguição se iniciou de forma tenaz e vigorosa, e não tardou a raiar da manhã de 28 de Julho, onde um punhado de 45 bravos comandados pelo Capitão João Bezerra da Silva, 1º Tenente Francisco Ferreira de Melo e Aspirante a oficial Aniceto Rodrigues dos Santos numa arrancada de heróis, atacaram de surpresa, na Fazenda “Angicos” município de Porto da Folha, no Estado de Sergipe, o grupo de famigerado “Lampeão” composto de nada menos de 58 bandidos e com eles numa luta tremenda conseguiram abater 11 sicários, inclusive o Rei do cangaço, pondo os demais em debandada, sem que tivesse tempo, os restantes, de conduzir do campo da luta os seus apetrechos e material de guerra que abandonaram.


 João Bezerra "Foto inédita em livros". 
Arquivo do Jornal Diário de Pernambuco
Acervo Lampião Aceso 

... O Exmº Sr. Interventor Federal Dr. Osman Loureiro, vendo realçada, com o mais significativo êxito, a missão de que fora e ainda se acha encarregado o II Batalhão, houve por bem premiar os que tomaram parte na refrega, e assim sendo, graduou no posto de Coronel, o Tenente Cel. José Lucena de Albuquerque Maranhão e promoveu por ato de bravura, a Capitão, o 1º Tenente João Bezerra da Silva, a 1º Tenente, o aspirante a oficial Francisco Ferreira de Melo, a aspirante, o 3º sargento Aniceto Rodrigues dos Santos...

Coronel Lucena
Louvor do Coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão comandante do II Batalhão, transcrito no III item do Boletim nº 285, do II Btl, de 17 de dezembro de 1938. (Grafia original)

Lucena. Acervo Ivanildo Silveira
 “Tendo o Sr. Capitão João Bezerra da Silva, sido desligado deste Batalhão, a fim de assumir a função na sede do Regimento. Louvo-o pelo modo brilhante com que soube espontâneamente cumprir as árduas missões de que foi incumbido, quando neste batalhão, mormente na campanha contra o orda de facínoras, perturbadores da paz sertaneja que há tanto tempo vinha sofrendo as agruras consequentes da ação do banditismo.

Este oficial, demonstrou os nobres predicados de que é possuidor; trabalhador incansável que nunca ousou dar tréguas a tal corja, combatendo-a bravamente até o momento máximo em que assediou com a sua fôrça o conjunto chefiado pelo célebre “Lampeão” que não podendo vazar tal assédio, caiu sem vida, quando para os supersticiosos já era tido como imortal.

Jornal de Alagoas

O Chefe de Polícia de Alagoas relata como se deu o encontro em que morreu o “Rei do Cangaço”. Quem é o Tenente João Bezerra. A Agência Nacional, do Departamento de Propaganda, procurou ouvir pelo telegrapho, o Secretário do Interior e Chefe de Polícia de Alagoas Sr. José Maria das Neves. O Sr. José Maria das Neves informou o seguinte.
- O Sr. João Bezerra da Silva, nasceu em Pernambuco a 4 (*) de junho de 1898, verificando praça em 29 de novembro de 1921. Foi 2º Sargento em 29 de março de 1922... e 1º Tenente por merecimento em 30 de setembro de 1936. Teve vários encontros com bandidos, tendo de uma feita morto três dos comparsas de Lampeão. ... É official valoroso da Polícia Alagoana e de immediata confiança do governo...
Entre os prêmios recebidos por João Bezerra, a sua família guarda, zelosa e orgulhosamente, uma Espada que ele recebeu do povo de Piranhas em 1938, expressão de gratidão pela morte de Lampião, em cuja “Copa” está escrito: “Ao Capitão João Bezerra pela sua bravura e heroísmo. Offerece o povo de Piranhas.”

Durval Rosa
Colocações de Durval Rodrigues Rosa, irmão de Pedro de Cândido, no livro “Assim morreu Lampião” de autoria do pesquisador e escritor Antônio Amaury, página 105.


... João Bezerra disse que tava certo e dividiu todo mundo.
Avisou:
- Não conversa ninguém. Puxem o ferrolho dos fuzis. Não dá tiro a tôa.
Passou uma ordem severa.
- Vou passar uma ordem pra todo mundo. Não se dá um tiro sem se vê em quem . Só se atira em cangaceiro. Soldado não briga deitado, o qui eu encontrá deitado, ou outro qualquer encontrar deitado, atire e mate que esse é covarde. Quando vocês me verem deitado atirem em mim também.
Quando eu gritar, avança, aí eu quero Lampião pegado hoje de qualquer maneira. Ou morto ou pegado a mão!


Nisso Antonio Jacó chegou perto dele, tirou o chapéu, botou no chão, pisou em cima e disse assim.
- Mi solte logo “Seu” tenente, que eu quero saber se Lampião é mais homem que eu.
Ficou doido, doido, doido.

O tenente falou:
- Espere aí, i tenha calma!” ...


Afirmativas como esta feita pelo coiteiro que não tinha necessidade alguma para enaltecer a coragem do comandante da tropa e seu subordinado, não são consideradas por certos pesquisadores que se apegam a comentários tendenciosos que não tem relevância.

Antônio Jacó

"Mané Véio e Paulo Britto"
Colocações de Antônio Jacó no livro “Assim morreu Lampião” de autoria do escritor e pesquisador Antônio Amaury Correa de Araújo, página 117, Edição 1982.

João Bezerra armou uma rede, botou os bornaes pendurados num galho e disse assim:
- Mané Véio, deita aqui debaxo da minha rede:
Eu respondi:
- Voce tá pensando qui eu sou mulher? Prá seiscentos diabos!
Mas deitei no chão, que eu obedecia a ele. ...

Quando estive com Antônio Jacó na cidade de Pires do Rio em Goiás, ele bastante emocionado, sem acreditar que estaria ao lado do filho de Ten. João Bezerra, em longa entrevista me disse:

- O seu pai, eu considerava como meu pai.

Elias Marques
Sgt. Elias e o autor
Em conversa com Elias Marques, soldado da volante do meu pai, que residia em Olho D`Água do Casado, onde lá estive por diversas vezes. A foto ao lado é registro de uma destas ocasiões.

Perguntei a ele: – Elias e essas conversas que meu pai se encontrava com Lampião, etc?
Ele respondeu:
– Paulo você vai acreditar nisso, seu pai não se afastava pra lugar nenhum que não levasse um de nós e nós nunca vimos falar nisso. O Tenente não era de brincadeira”. ...

Estas colocações são para demonstrar a confiança e o respeito de Antônio Jacó e Elias Marques pelo então Tenente João Bezerra, demonstrando que pessoas como estas jamais se insubordinariam ao seu comando, a consideração e a confiança do comandante por eles.

Ferreira de Melo
O coronel Francisco Ferreira de Melo no livro do Dr. Estácio de Lima “O Mundo Estranho dos Cangaceiros”, páginas 285, 286 e 287:

O veterano Ferreira
 -Lastimamos a perda de meu excelente soldado Adrião, ou Adrião Pedro de Souza. Também foi baleado o nosso digno Comandante e mais um praça que teve o braço partido.

-De qualquer forma, Lampião foi liquidado pela tropa sob o comando geral de Bezerra.

- As precauções e as providências. Bezerra nunca se mostrava egoísta, ou vaidoso. Gostava de ouvir a opinião dos comandados.




Manoel Neto
Comentário de Manoel de Souza Neto em um Jornal do Nordeste


Manoel Neto
O capitão Manoel Netto reconstitue, para esta folha, a luta em que se empenhou durante 12 anos.

Pertencente à Brigada Militar do Estado, tem a sua carreira ligada ao combate sistemático e constante ao cangaceirismo no nordeste.

Por fim, o capitão Manoel Neto allude a antigos companheiros de jornada, destacando os nomes do Tenente Coronel Hygino, do Tenente Arlindo Rocha, Luiz Mariano, Capitão Optato Gueiros, Major José de Alencar, concluindo refere-se ao Tenente João Bezerra dizendo:

- O Tenente João Bezerra a quem conheço pessoalmente, é um official disposto, disciplinado e muito bem quisto no seio da Polícia alagoana e dos Estados vizinhos.

Coronel José Rufino
Trecho de uma Carta do Cel José Osório de Farias; Jeremoabo, datada de 1 de abril de 1964.


Zé Rufino
 Amigo Cel João Bezerra,
... Aqui fica o teu velho amigo que muito te estima.
Olha João, eu ainda hoje sonho com aqueles tempos daqueles em que nós vivíamos naquela mardita campanha.



Manoel Flor
Carta do Coronel Manoel de Souza Ferraz (Manoel Flor)

Manoel Flor
João Bezerra, Recebi sua carta, ontem, 19 de agosto de 1961, quando me preparava para um ligeiro passeio pela cidade. Seria faltar a primorosa verdade se lhe afirmasse ter sido um momento de alegria ao recebê-la. Foi meu caro amigo muito mais do que uma satisfação passageira. Ela veio me transportar a terreno mais profundo, o qual ficou no passado, mas de meandro crateroso, contemplado por mim com tantas emoções.
Emoção pelo desaparecimento de velhos companheiros, cujas cinzas veneramos com admiração e respeito, pela bravura e respeito; Emoção pelo verdadeiro espírito fraternal que sempre existiu entre as tropas pernambucanas e alagoanas. A confiança fazia com que considerássemos Pernambuco, um pedaço de Alagoas e Alagoas, um pedaço de Pernambuco; Emoção dos dias cruentos que enfrentamos, apesar da dureza da campanha, ocasionada pela fadiga, apreensão e responsabilidade, os nossos encontros efetivados na maior cordialidade, ou melhor festivos. ...
Do amigo e companheiro Manoel de Souza Ferraz (Manoel Flor)
Floresta, 20/9/1961

Frederico Pernambucano de Melo
Colocações feitas por este escritor e pesquisador na introdução do Livro “Como Dei Cabo de Lampião” de autoria do Capitão João Bezerra, página 38, 3ª edição.

... as curtas memórias do coronel Bezerra nos revelam um homem eleito pela fatalidade de um destino de aventuras permanente, pondo-lhe a vida a cada passo um obstáculo para saltar e lhe proporcionando a aventura capaz de fazer lamber os beiços a um jovem do Pajeú da época, de poder provar, em pelejas sucessivas, aos seus próprios olhos e aos de terceiros que se tratava de “cabra disposto”. Metido no interminável steeple–chase que culminaria com a destruição do “Rei do Cangaço”, Bezerra há de ter-se considerado um homem de sorte, sob esse aspecto. Pois olhe que até uma onça cruzaria seu caminho para lhe dar oportunidade de tirar uma das mais invejadas cartas de valente: a de matador de onça. ...

Frederico
Outro comentário de Frederico no Livro “Como Dei Cabo de Lampião” de autoria do Capitão João Bezerra, página 55 e 56, 3ª edição:
... Fico à vontade, portanto, para reconhecer em Bezerra o homem que não tremeu no momento em que o destino o aceitou como seu agente e ponta de lança, dando-lhe a chance de virar uma das páginas mais expressivas da história do Nordeste rural. ...

... No cenário de Angico, Bezerra não foi outra coisa. Sujeito e objeto da história, soube fazer-se templo da síntese magnífica. Como um Ahab original, mil vezes afortunado, cuidou em atropelar tudo o que se levantou entre ele e o cangaceiro. E ao lhe tomar no último instante a porta, quem sabe não o terá desenganado de um possível brilho derradeiro das estrelas de seu chapéu, sentenciando como o capitão da perna de marfim:

Louco! Sou o lugar-tenente do destino. Apenas cumpro ordens ...

Billy Jaynes Chandler
Repúdio ao Professor Billy Jaynes Chandler, no Livro da escritora Marilourdes Ferraz “O Canto do Acauã”, 3ª Edição – 2011, página 476:

- Pág. 252: “Estas histórias são repetidas pelos pernambucanos, principalmente por aqueles que, como os da família Flor e outros nazarenos, se sentem ludibriados porque, segundo eles, Lampião foi morto por um oficial de Alagoas, corrupto e covarde, indigno de tal honra. Esta honra, de direito, deveria ter sido deles. Bezerra infame, como era, só pode ter...“ Estas referências aéticas lançadas contra o Coronel João Bezerra não podem ser atribuídas a quem não as deu, no caso os Flor de Nazaré que nem ao menos foram entrevistados pelo professor. E, além de tudo, não concordam com esse tratamento contra o colega de outro Estado.

(Marilourdes Ferraz é filha do Coronel Manoel de Souza Ferraz – Manoel Flor).

Belarmino Neto
Carta do Major da Polícia Pernambucana, Belarmino de Souza Neto, dirigida à escritora Marilourdes Ferraz e publicada em seu livro “O Canto do Acauã” – 3ª Edição – 2011, páginas 486 e 487.

Há anos li uma obra de Rodrigues de Carvalho, sobre Lampião tratando do tema, aquele autor não tem dúvida: Afirma que a morte foi mesmo por veneno, obscurecendo o trabalho de João Bezerra a quem não poupa ofensas e cobre de ridículo.

Lendo aquela obra, comentei à margem: “Lampião foi um bandido, sem nobreza, sem ética, sem piedade. Seria um injustificável exagero que se fosse exigir, para a sua destruição, o emprego de princípios, de lealdade cavalheiresca que ele nunca usara para com suas vítimas. Teria sido ele envenenado? Para mim o assunto é irrelevante e não conduz a nada.

O Coronel João Bezerra continuará a ser o homem que livrou o nordeste brasileiro daquela praga de vândalos. Que o tenha feito a bala, pelo arsênico, pela surpresa ou através de qualquer artifício, isso não vem ao caso, negar seu mérito pelo extermínio de Lampião, é como negar a Colombo o mérito pelo descobrimento da América. E no entanto, depois de vinte anos de escaramuças através do nordeste, entre o bandido e as forças policiais de 7 Estados, foi o Coronel João Bezerra o único que conseguiu quebrar a calota do ovo e colocá-lo de pé sobre a mesa. ...

Antonio Amaury
Correspondência enviada a mim em 6 de Julho de 2002 pelo escritor e pesquisador Antônio Amaury Correa de Araújo:

Amaury em foto do coroné Severo
... Não é novidade para os pesquisadores que seu pai foi amplamente injuriado, invejado e que teve sua imagem denegrida por comentários oriundos de mentes tacanhas pelo fato de haver sido o comandante que eliminou Lampião e parte do seu bando cangaceiro, ... Isso causou-lhes profundo ressentimento e usaram então dos mais baixos argumentos para achincalhar o episódio da Fazenda Angico.

... Pelo que pude observar nesses 53 anos de pesquisas e com seis mil entrevistas realizadas qualquer pessoa, em qualquer época usando de qualquer método para eliminar Lampião, ... ... seria questionado e destratado e sua atuação estaria sempre em dúvida na visão daqueles que não conseguiram o mesmo desideratum. A imaginação humana não tem limites e até mesmo episódios claros como cristal são colocados sob suspeita.... Para terminar, a polêmica não tem fim. É traição, veneno, tiro e Lampião ainda vivo até a década de 1990. Viva a fantasia, a ficção, a criatividade de alguns pesquisadores menos cuidadosos e pouco honestos para com a história...

PS. Faça o uso que quiser destas, pois é a expressão do meu pensamento e da verdade que obtive de cangaceiros, soldados, coiteiros e outras pessoas envolvidas no episódio de Angico.

Gazeta de Alagoas
06.12.1970 – 1º Caderno, página 3. "Matador de Lampião sepultado em Maceió com honras militares"

...O Coronel (de Exército) Carlos Eugênio Pires de Azevedo, comandante da Polícia Militar conheceu pessoalmente o Coronel Bezerra há 02 anos em Garanhuns. Lamentou a sua morte. Como última homenagem a corporação da qual é comandante, satisfazia o pedido de João Bezerra de ser sepultado em solo alagoano.

Pelos bons serviços prestados à Polícia Militar de Alagoas e a todo o nordeste, não há tributo que pague ao Coronel Bezerra, pelo que ele realizou, disse o comandante da Polícia Militar de Alagoas. ... “O Coronel Bezerra era um militar cônscio de suas responsabilidades e tratava a todos os seus comandados com igualdade de condições. Devido esse comportamento, diante das tropas, que comandava no Quartel é que ele grangeou a simpatia de todos e consequentemente foi conquistando as promoções, todas elas por relevantes serviços prestados à nossa Polícia, ao Estado e à Nação”.

-----------------------------------------
Espero que estas citações consigam demonstrar, um pouco, de quem foi o homem, o policial militar, o maçom, grau 18 que, em todas as suas ações e missões, só fez enaltecer o nome da instituição a que pertenceu, e que, graças a Deus, teve o privilégio do reconhecimento e do respeito dos familiares, amigos, superiores e subordinados.
Sempre estive e continuo disponível aos amigos, para poder contribuir com o modesto conhecimento que tenho.
Att Paulo Britto 
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
ADENDOS
(*) A data correta do nascimento do Coronel João Bezerra é 24 de junho de 1898.

(*) Frederico Pernambucano, durante sessão de fotos no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, em Maceió em agosto de 2009 para ilustrar o livro "Estrelas de Couro - A Estética do Cangaço".


http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Ant%C3%B4nio%20Jac%C3%B3

http://blogdomendesemendes.blogspot.com