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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

88 ANOS DO FOGO DO MARANDUBA POR:MANOEL BELARMINO

Manoel Belarmino e Manoel Severo no Maranduba

Ontem, 9 de janeiro de 2020, completou-se 88 anos do grande combate das volantes com o grupo de cangaceiros comandado por Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, na Fazenda Maranduba dos Soares, no atual Município de Poço Redondo. O evento ficou conhecido como o Fogo do Maranduba. O Sítio e o Maranduba eram duas fazendas que, no tempo do Cangaço, pertenciam aos Soares, meus antepassados. O Fogo do Maranduba, ocorrido naquele dia 9 de janeiro de 1932 foi um dos três maiores combates do Cangaço com as volantes, assim como o combate de Serra Grande em Pernambuco e o combate de Serrote Preto em Alagoas.

Caravana Cariri Cangaço em grande visita a Maranduba

Lampião encontrava-se nas pias da Maranduba com a sua cabroeira, provavelmente no descanso de almoço. Ali foi cercado e atacado por duas tropas das volantes da polícia. Uma comandada pelo capitão Liberato de Carvalho da Serra Negra (que depois chegou à patente de general do Exército Brasileiro) e a outra comandada pelo nazareno de Nazaré do Pico, Manoel Neto. Lampião reagiu com os seus cangaceiros. O tiroteio iniciou ao meio dia se estendendo até por volta das cinco horas da tarde. Lampião sai vencedor mesmo com um número menor de cangaceiros e Liberato e Manoel Neto fogem. 

Oito soldados das volantes morrem ali. Da tropa de Liberato da Serra Negra morreram Pedrinho de Paripiranga, Manoel Ventura, João de Anizia e Elias Marques. Da tropa de Manoel Neto, dos nazarenos, morreram ali entre os sete pés de umbuzeiro do Maranduba mais quatro soldados das volantes: Hercílio Nogueira, Adalgiso Nogueira, João Cavalcante e Antônio Benedito da Silva. Apenas dois cangaceiros da parte de Lampião foram mortos nesse combate, Sabonete e Caatingueira e o cangaceiro Quina-Quina ficou gravemente ferido, vindo a óbito dias depois do evento Fogo do Maranduba. Um trecho do folheto de cordel de minha autoria intitulado O Fogo do Maranduba:
....
"Com um número bem menor
De homens ali lutando
Na fazenda Maranduba
Lampião saiu ganhando
Matou oito policiais
E a volante recuando.

Liberato de Carvalho
Das volantes da Bahia
E o Tenente Mané Neto
De vergonha e de agonia
Fogem dali com as tropas
Naquele final de dia.

O fogo que aconteceu
Ali naquele lugar
Durante uma tarde inteira
Em combate sem parar
De O Fogo do Maranduba
Passou assim a se chamar."

Ivanildo Silveira e a conferencia sobre o Fogo do Maranduba
Toda vez que vou ao Maranduba ou quando escuto um mais velho contar sobre aquele combate, descubro um segredo ou algo que ainda não foi escrito. Vou guardando um a um. É de ficar arrepiado. Mas não vou revelar tudo agora, até porque não cabe em um pequeno texto como este, escrito para uma postagem na rede social.
Vejo que atualmente ainda há uma pequena mancha de caatinga original ali no Maranduba. E vejo também os Sete Pés de Umbuzeiros, um próximo do outro, vivos ainda, resistindo no tempo, como testemunhas daquele grande combate. Os umbuzeiros, todos os sete, serviram de trincheiras para os cangaceiros. Até recentemente naquele local, próximo dos umbuzeiros, eram encontradas cápsulas e balas ainda intactas. E ainda ali, não muito longe da Cruz dos Nazarenos, local onde foram enterrados os volantes (grande parte naturais da Vila de Nazaré do Pico-PE) e os dois cangaceiros, estão as pias (cavidades nas rochas) ainda armazenando quase 500 litros de água captados das chuvas.
Padre Agostinho do Cariri Cangaço e a benção na "Cruz dos Nazarenos"
Todos nós, os poço-redondenses, precisamos conhecer a nossa história, os nossos lugares históricos e de memória. Conhecer o Maranduba, em seus detalhes, in loco, como se deu o combate e as lendas que surgiram depois daquele combate, A Grota do Angico, a História do Quilombo Serra da Guia, a Pia das Panelas, o Riacho do Quatarvo, os nossos Sítios Paleontológicos, as pinturas ruprestes do Morro da Letra, as cachoeiras, os monolitos da Pedrata, as furnas da Serra da Guia, os achados arqueológicos, é importante para o fortalecimento das nossas raízes e da nossa cultura sertaneja.
Com frequência, pesquisadores, escritores, estudantes, professores e amantes da história do Nordeste, vêm ao Maranduba em busca de mais informações daquele grande combate que se enquadra nos três maiores combates entre cangaceiros e volantes da história do Cangaço.

Manoel Belarmino, pesquisador e escritor
Conselheiro Cariri Cangaço, Poço Redondo-SE

Janeiro de 2020 

LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA


Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: anarquicolampiao@gmail.com.

Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 leidisilveira@gmail.com.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

JARARACA O CANGACEIRO ENTERRADO VIVO QUE VIROU MILAGREIRO EM MOSSORÓ

Por: Everton Dantas

Conheça a história de José Leite Santana, integrante do bando de Lampião que renasceu no imaginário popular como santo capaz até de fazer uma pessoa ganhar na loteria.
 


Em 19 de julho de 1927, numa noite clara, José Leite Santana, na época com 26 anos, foi retirado de uma cela onde estava preso na cidade de Mossoró. A informação que lhe deram foi que ele seria transferido para Natal, onde receberia cuidados médicos: ele havia sido baleado próximo ao pescoço e na perna.

No caminho, coincidentemente, o veículo quebrou em frente ao cemitério São Sebastião. José então foi conduzido por soldados armados até uma cova aberta. Lá, foi baleado e jogado no buraco.

Em algumas versões dessa história, teria sido enterrado vivo. Em outras, antes de morrer, fez questão de afirmar que era “um dos homens mais corajosos que já havia pisado no…”. A frase jamais foi terminada, pontuada por um tiro na cabeça ou uma coronhada.

Há ainda outras versões nas quais ele próprio teria cavado sua cova e que além dele também pensaram em matar o coveiro, que viu tudo.

De um modo ou de outro, todas as histórias têm em comum o relato da crueldade com a qual foi morto. E isso acabou semeando sua história num terreno ocupado por poucos, o dos milagreiros nordestinos.
Imagem da prisão de Jararaca, feita em 1927. 
Foto: Reprodução/J. Otávio

Mas isso não seria possível se José fosse só mais um, sem carinho ou discurso. José floresceu santo na morte porque em vida foi um dos cangaceiros mais temidos de Lampião, o Jararaca, preso durante a tentativa do bando de invadir Mossoró, em 1927.

Há relatos de que ele foi baleado quando tentava despojar outro cangaceiro, Colchete, esse sim morto durante o conflito. Depois de ter sido ferido, foi capturado e ficou para trás após o grupo de cangaceiros ser derrotado pelos moradores de Mossoró.

A forma cruel como foi morto e sua coragem diante da cova aberta – esse relato – ganhou credibilidade graças a uma entrevista dada por um dos policiais que participou do assassinato. Diante da valentia do cangaceiro, a ação policial acabou sendo tachada de covarde.

Com o tempo, a tradição oral e a imprensa escrita espalharam os feitos de sua vida e o relato de sua morte. Quando esse efeito encontrou-se com o das orações feitas por sua alma, erigiu-se o culto.

Em 1976 túmulo de Jararaca já era o mais procurado

Há muitos anos, seu túmulo, destaque no cemitério de São Sebastião, é o mais visitado. O registro mais antigo dessas visitações encontrado no acervo do extinto jornal Diário de Natal é do dia 5 de novembro de 1976. Foi feito numa reportagem sobre o Dia de Finados em Mossoró, com o título “Muita gente foi rezar no túmulo do cangaceiro”.

No texto é relatado que das cerca de 20 mil pessoas que foram ao cemitério São Sebastião, milhares visitaram o túmulo do cangaceiro. E que “de alguns anos pra cá” a popularidade da sepultura teria crescido “depois das primeiras manifestações tidas como milagreiras”.

Nos dias atuais, nos dias de Finados, são tantas pessoas orando, pagando promessa e pedindo graças que o local se tornou ponto obrigatório para qualquer jornalista que trabalhe no dia dos mortos.

Há relatos de que algumas vezes foram tantas velas colocadas acesas que o Corpo de Bombeiros precisou ser chamado.

Literalmente, Jararaca ainda arde em Mossoró.

Cangaceiro apareceu em sonho e disse os números da loteria
As pessoas que passam por lá trazem suas histórias de graças atendidas para si ou para outras pessoas. Há inclusive histórias de riqueza obtida.

Uma delas foi contada à pesquisadora Eliane Tânia Freitas, doutora em Antropologia pela UFRJ. Ela é autora da tese “Como nasce um santo no cemitério: Morte, memória e história no Nordeste do Brasil” e, em 2000, entrevistou aos pés do túmulo do cangaceiro uma mulher de 46 anos identificada como Terezinha de Jesus.

De acordo com o relato dela, Jararaca lhe apareceu num sonho. “Eu pedi um teto a ele, que eu não tinha. Morava em casa alugada há muitos anos. E ele foi e me mostrou assim um letreiro de luz. ‘Tá aqui! Agora, você não diga a ninguém’. Ele atirava assim com o revólver, aí eu via numa pedra os números da loteria”, contou.

Ao acordar, ela anotou os números, jogou e ganhou. “Deu pra mim comprar um carro, uma casa boa. (….) Ele é bem moreno. Fiquei em choque, porque eu queria falar, mas não podia, só podia escutar”, contou, há 18 anos.

Pescado em Op9

CAPÍTULOS CURAÇÁ, NONATO, MAMEDE E LAMPIÃO

Por Oleone Coelho Fontes

Ninguém, por mais sangue frio, ficou inteiro diante de Lampião. Escutei casos hilariantes beirando o trágico, nos anos em que coligia elementos para a obra "Lampião na Bahia".

Antônio Primo Curaçá, residente em Campo Formoso, contou que, no dia em que se achou frente a frente com Corisco e seus cabras, tremeu de tal modo que teve a impressão de que as carnes do corpo se haviam soltado dos ossos. Horas depois de os delinquentes desaparecerem, Curaçá ainda estava imobilizado, num canto de sala da casa da fazenda onde os facínoras organizaram festa dançante. Como se um raio lhe tivesse caído sobre a carcaça, transformando-a em estátua de sal.

Antônio Nonato Marques84, em 1929, era rapazinho imberbe quando o capitão Virgulino assaltou Queimadas na antevéspera do Natal. Ao assalto seguiu se voz de prisão dada aos sete soldados do destacamento. Nonato Marques, ao escutar sussurro de que Lampião estava naquele meio, passou sebo nas canelas e disparou em direção a Santaluz, distante 40 quilômetros.

Quando passava feito um bólido pelo povoado Rio de Peixe, coincidentemente, matutos treinavam para a corrida de S. Silvestre e pensaram que Nonato fazia o mesmo. Correram-lhe no rastro. Quilômetros adiante, o futuro deputado federal arriscou olhadela para a retaguarda. Teve a impressão de estar sendo perseguido.

Acelerou ainda mais o passo. Em casinha de beira de estrada, estacou, coração em vias de saltar boca a fora, pediu copo d'água e disse:
- Ô dona, estou sendo perseguido desde Queimadas por tropa de cangaceiros. A senhora pode contar quantos são?
A mulher lobrigou vultos lá longe e disse que eram 18 pessoas.

Nonato entornou outro copo d'água e pernas para que te quero. Passou feito meteorito por Santaluz, Valente, Coité, Serrinha e estourou em Feira de Santana, noitinha. Quem estava na Feira naquele dia era o jovem, hoje acadêmico e poeta, Epaminondas Costa Lima. Ao saber que Nonato vinha em carreirão de Queimadas, perseguido por bando de Lampião, tomou a litorina e foi contar ao secretário de polícia, em Salvador, que Feira de Santana estava sendo invadida por cangaceiros. Tropas foram enviadas da capital para a Feira, enquanto Lampião, em Queimadas, fazia a maior farra na casa de Félix Rato.

Mamede
Mamede Paes Mendonça (1915-1995) era proprietário de uma venda no *arraial Ribeirópolis, Sergipe, aí por 1934/35, quando um dia, ao levantar a vista, achou-se diante de indivíduo cor de cobre, cara enfezada e todo aparamentado. Pensou tratar-se de fiscal do imposto de consumo. Murmurou: "Tô campado!". Encarando
com firmeza, viu que se enganara. O cangaceiro perguntou:
- Vosmicê me conhece?
Mamede ainda não era gago. Respondeu:
- Conhecer não conheço não, mas desconfio.
O cangaceiro tirou as dúvidas: "Saiba que vosmicê está falando com o capitão Lampião".
Foi aí que teve início a gagueira de Mamede:
- Api-pa-pois, ca-pi-ta-tão, o que é que o sa-si-nhor, ma-mi-ma-manda?Lampião pediu a féria do caixa, carne de bode, rapadura, perfume, balas para mosquetão e parabelo, conhaque Macieira de 5 Estrelas.
- É ca-qui-qui-ca-claro, ca-pi-ta-tão! o sa-si-nhor, la-li-leva ati-ta-té e veeeenda
ta-ti-toda!


Depois de tão horripilante encontro, Mamede Paes Mendonça resolveu deixar Ribeirópolis e Sergipe. veio para a Bahia e tempos depois era um mega-negociante, mas sempre grato a Lampião.



Oleone Coelho Fontes é jornalista, escritor, pesquisador , cronista, romancista, com especial dedicação aos temas sertanejos, notadamente os relacionados ao cangaço, Antônio Conselheiro, Lampião, Euclides da Cunha. Membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC.

Pesquei no sítio da entidade SBEC.COM.BR

NOTAS E COMENTÁRIOS:

* Foto de Nonato Marques pescada em Portal do cangaço
*Mamede Paes Mendonça, foto extraída de Serra do Machado Era filho de Elisiário e Maria da Conceição, possuiu uma padaria no povoado Serra do Machado, Distrito de Ribeirópolis-SE. José Mendonça blogspot

GRACILIANO RAMOS E LAMPIÃO.


Por João Filho de Paula Pessoa

Como somos diferentes dele (Lampião)! Perdemos a coragem e perdemos a confiança que tínhamos em nós. Trememos diante dos professores, diante dos chefes e diante dos jornais; e se professores, chefes e jornais adoecem do fígado, não dormimos.

Marcamos passo e depois ficamos em posição de sentido. Sabemos regularmente: temos o francês para os romances, umas palavras inglesas para o cinema, outras coisas emprestadas.

Apesar de tudo, muitas vezes sentimos vergonha da nossa decadência. Efetivamente valemos pouco.

O que nos consola é a ideia de que no interior existem bandidos como Lampião. Quando descobrirmos o Brasil, eles serão aproveitados.

E já agora nos trazem, em momentos de otimismo, a esperança de que não nos conservaremos sempre inúteis.

Afinal somos da mesma raça. Ou das mesmas raças.

É possível, pois, que haja em nós, escondidos, alguns vestígios da energia de Lampião. Talvez a energia esteja apenas adormecida, abafada pela verminose e pelos adjetivos idiotas que nos ensinaram na escola.

Graciliano Ramos - Artigo para o Semanário Ilustrado de Alagoas, nº 3, de 1931. João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 15/01/2020.


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OURICURI DOCUMENTÁRIO JOÃO DO VALE E CLARA NUNES

Do acervo do poeta, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaquiano 
Kydelmir Dantas

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