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domingo, 19 de abril de 2020

LIVRO "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS"


Depois de onze anos de pesquisas e mais de trinta viagens por sete Estados do Nordeste, entrego afinal aos meus amigos e estudiosos do fenômeno do cangaço o resultado desta árdua porém prazerosa tarefa: Lampião – a Raposa das Caatingas.

Lamento que meu dileto amigo Alcino Costa não se encontre mais entre nós para ver e avaliar este livro, ele que foi meu maior incentivador, meu companheiro de inesquecíveis e aventurosas andanças pelas caatingas de Poço Redondo e Canindé.

O autor José Bezerra Lima Irmão

Este livro – 740 páginas – tem como fio condutor a vida do cangaceiro Lampião, o maior guerrilheiro das Américas.

Analisa as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste brasileiro, numa época em que cangaceiro era a profissão da moda.

Os fatos são narrados na sequência natural do tempo, muitas vezes dia a dia, semana a semana, mês a mês.

Destaca os principais precursores de Lampião.

Conta a infância e juventude de um típico garoto do sertão chamado Virgulino, filho de almocreve, que as circunstâncias do tempo e do meio empurraram para o cangaço.

Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase vinte anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete Estados.

O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:
 josebezerra@terra.com.br
(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799

 Pedidos via internet:

franpelima@bol.com.br

Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345
E-mail:   lampiaoaraposadascaatingas@gmail.com

Clique no link abaixo para você acompanhar tantas outras informações sobre o livro.
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QUANDO A GRIPE ASIÁTICA ATACOU NATAL


Autor – Rostand Medeiros – IHGRN

A atual Pandemia de COVID-19, o novo coronavírus, não é a primeira situação do gênero que Natal e o Rio Grande do Norte enfrentam. Talvez poucos saibam, mas em 1957 houve uma pandemia que ficou conhecida como gripe asiática, que aqui chegou causando medo e confusão. 

Veículos das Pioneiras Sociais, utilizados contra a gripe asiática. Foi uma ação do governo Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Esse novo vírus teria se desenvolvido no norte da China e nessa época o regime comunista local era extremamente autoritário e controlava a saída de praticamente todas as informações do país para o exterior. O mundo só tomou conhecimento com maiores detalhes desse surto quando esse vírus chegou a Cingapura, onde foi relatado pela primeira vez em fevereiro de 1957. O certo é que em abril do mesmo ano a gripe avançou de Cingapura para Hong Kong e no verão alcançou as cidades costeiras do oeste dos Estados Unidos, primeiramente na Califórnia. Logo atacou a Oceania, África e Europa.


As crianças foram as mais atingidas pela gripe asiática.

Qual era o tipo de Vírus

Através de testes o vírus foi reconhecido como sendo do tipo Influenza A e que ele era diferente de qualquer outro encontrado anteriormente em humanos. Pesquisas posteriores apontaram que a gripe asiática foi resultado de um cruzamento entre um vírus encontrado em patos selvagens na China (H2N2) e de uma cepa de vírus da gripe humana (H1N1). Convencionou-se na época denominar esse vírus como H2N2, mas ela ficou conhecida mundialmente como gripe asiática.

Pedido para não beijar a criança da foto, durante a pandemia de 1918.

Depois da gripe espanhola de 1918, a pandemia de gripe asiática de 1957 foi a segunda maior pandemia a ocorrer no mundo durante o século XX. Quando esse surto surgiu, apenas pessoas com mais de 70 anos de idade possuíam lembranças claras da experiência ocorrida quase quarenta anos antes. Apesar das advertências dos mais velhos, muitos não acreditaram na letalidade da nova gripe. Logo ficou patente que os mais jovens estavam errados.

No Reino Unido os primeiros casos foram informados no final de junho, com um surto mais grave ocorrendo na população em geral em agosto. O País de Gales e a Escócia tiveram os primeiros casos em setembro e no início de 1958 estima-se que cerca de 9 milhões de súditos da rainha Elizabeth II havia contraído a gripe asiática. Destes, mais de 5,5 milhões foram atendidos por seus médicos e cerca de 14.000 pessoas morreram devido aos efeitos imediatos do ataque. 

Foi relatado no Reino Unido que os pacientes sentiram fortes calafrios, seguido de prostração, dor de garganta, nariz escorrendo e tosse. Na sequência os relatos apontaram para membros doloridos (adultos), cabeça (crianças), seguido de febre alta (ambos os casos). Crianças pequenas, principalmente meninos, sofreram sangramentos no nariz. Cientistas ingleses observaram que a gripe asiática tinha duas ou três fases, sendo a segunda a de natureza mais grave.


Os sintomas eram geralmente leves e a maioria dos pacientes normalmente se recuperava após um período na cama, com medidas antipiréticas simples. Houve complicações em 3% dos casos, com mortalidade de 0,3%. Pneumonia e bronquite foram responsáveis ​​por 50% dos óbitos, sendo o restante por agravamento de doenças cardiovasculares já existentes. Durante a pandemia aumentou bastante a incidência de pneumonia.

Houve uma falta de uniformidade no tratamento ao surto. Alguns médicos prescreveram antibióticos para todos os casos, até os menos complicados. Mais tarde, no entanto, observou-se que o uso indiscriminado de antibióticos não era benéfico.

Na época foi possível detectar o agente com rapidez e trabalhar em novas soluções. Uma vacina para a gripe asiática foi introduzida ainda em 1957 e a pandemia diminuiu. Ocorreu uma segunda onda dessa gripe em 1958 e ela passou a fazer parte daquilo que os cientistas classificam como gripes sazonais. Em 1968 foi comprovado que a gripe asiática H2N2 havia desaparecido na população humana e acredita-se que ela tenha sido extinta na natureza. 

Apesar de praticamente desconhecida nos dias atuais, essa doença matou entre 1,4 e 2 milhões de pessoas, sendo 116.000 nos Estados Unidos. Outros cientistas apontam que esse surtou ceifou muito mais gente. Colocando a cifra em 4 milhões de mortos, principalmente no continente de onde se originou, sendo as crianças suas vítimas preferenciais.

A Gripe Chega a Natal

Juscelino Kubitschek de Oliveira e Dinarte Mariz. Respectivamente presidente do Brasil e governador do Rio Grande do Norte em 1957.

Quem governava o Brasil na época era Juscelino Kubitschek e a gripe asiática aqui chegou entre julho e agosto de 1957, com um primeiro surto no Rio Grande do Sul. No início de setembro, sua presença foi identificada no Rio de Janeiro pelo Instituto Oswaldo Cruz e pelo Instituto de Microbiologia da Universidade do Brasil – hoje, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pouco depois pandemia desembarcou em Belo Horizonte, Salvador e Belém, sempre com alta incidência em crianças.


Dinarte de Medeiros Mariz era o governador do Rio Grande do Norte em 1957 e o médico Dary de Assis Dantas o diretor do Departamento de Saúde Pública, atual SESAP – Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte. Este último havia nascido na cidade de Serra Negra do Norte, mesmo local de nascimento do governador, se formou em medicina no Rio de Janeiro onde atuou na Santa Casa de Misericórdia e no Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), quando foi convidado por Dinarte para assumir o cargo. Dary era pessoa de extrema confiança do governador e médico de sua família.

Eider Furtado, correspondente do Diário de Pernambuco em Natal naquela época, informou na edição de 15 de setembro daquele jornal (pág. 7) que na primeira quinzena de agosto Dary Dantas havia formado a Comissão Estadual de Defesa Contra a Gripe. Esse grupo começou a estudar medidas contra a doença que se avizinhava do Rio Grande do Norte. O diretor do Departamento de Saúde Pública também solicitou ao governador uma verba no valor de 500 mil cruzeiros para combater a gripe no estado.


Provavelmente a criação dessa comissão se deveu, ao menos em parte, a divulgação de um primeiro alarme da presença da gripe asiática entre os potiguares. Em agosto de 1957 surgiu a informação que cerca de “400 pessoas” teriam contraído a nova doença no município de Goianinha, 50 quilômetros ao sul da capital. O surto teria surgido na Usina Estivas, mas logo o caso foi negado e devidamente esclarecido pelo médico Luís Antônio dos Santos Lima. O que aconteceu foi que realmente havia naquele lugar um surto de gripe, mas de gripe sazonal. Além disso, nesse período a gripe asiática ainda se encontrava restrita ao sul do Brasil.

Após o susto inicial não demorou a surgir os primeiros casos comprovados da doença no Rio Grande do Norte, ou “Cingapura”, como a doença também ficou igualmente conhecida. NaTribuna do Norte, em O Poti e no Diário de Natal, os principais jornais que circulavam na capital potiguar na época, é possível conhecer detalhes desse acontecimento.


Em 25 de setembro de 1957, na página 6, o Diário de Natal estampou que em uma residência na Rua Apodi, na Cidade Alta, quatro pessoas estavam acamadas, com muita febre e forte gripe. Interessante comentar que esse jornal não informou a localização da casa e nem os nomes das pessoas doentes, mesmo sendo editado em uma cidade com cerca de 140.000 habitantes, onde praticamente todos se conheciam e sabiam do ocorrido.

Médicos da Saúde Pública estiveram presentes ao local. Eles aconselharam o isolamento e recolheram amostras dos pacientes, que foram enviados ao Rio de Janeiro por um avião da Força Aérea Brasileira para confirmação da doença. Esse exame ocorreu no Instituto Oswaldo Cruz, em Manguinhos, atual Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ. O resultado foi divulgado dias depois e se confirmou a existência da gripe asiática em Natal.

Mortes no Tradicional Bairro do Alecrim e Cobranças

Após a chegada da confirmação do Rio de Janeiro, Dary Dantas e os membros da Comissão pediram calma a população e informaram que ainda “não estava formado um surto epidêmico em Natal”. Pouco mais de uma semana depois aconteceram as primeiras mortes!


Nessa época o bairro do Alecrim já era considerado o maior da cidade, possuindo um forte comércio, a maior feira de alimentos, concentrando uma grande parte da população de Natal e possuindo uma característica única e marcante – suas principais artérias eram conhecidas pelo povo através de uma antiga numeração. E foi nesse bairro de características tão peculiares e marcantes para os natalenses que em 5 de outubro de 1957 duas crianças faleceram de gripe asiática em suas casas, respectivamente nas antigas Avenidas 7 e 8[1].

Consideram que, apesar das crianças estarem acometidas de forte gripe, suas famílias não tomaram as “necessárias medidas preventivas”. Os jornais só não explicaram quais eram essas medidas. Somente próximo ao final do mês de outubro é que vamos encontrar nas páginas dos jornais algum tipo de material informativo oriundo do Departamento de Saúde Pública explicando o que a população deveria fazer. Aqui trago um exemplo.


Ainda em 18 de outubro, na página 6 do Diário de Natal, é relatado que seus repórteres realizaram um levantamento que, mesmo sem confirmação oficial, indicou que mais de 100 pessoas com sintomas da gripe asiática eram transportadas diariamente pelas ambulâncias Ford F-1 do SAMDU – Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência, para o Hospital Miguel Couto, atual Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL. Existiam casos graves no bairro das Rocas, mais precisamente na Rua Floresta, perto do Canto do Mangue, não muito distante do rio Potengi. Ali eram as crianças as mais atingidas, algumas com relatos de expectoração de sangue do trato respiratório.

O jornal Diário de Natal foi contundente na crítica a ação governamental: “Não obstante as reiteradas e solenes afirmações das nossas autoridades sanitárias, de que o assunto da gripe asiática em Natal era objeto apenas de informações alarmistas, aí está o surto da “Cingapura” tomando conta da cidade”.

Ambulâncias Ford F-1 do SAMDU – Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência, partindo do Hospital Miguel Couto, em Natal.

Apesar da gravidade do caso, não encontrei nos jornais referências sobre aplicação de métodos de isolamento social para a contenção desse surto.

Uma Criança Morre na Calçada

Igualmente não encontramos material oriundo do Departamento de Saúde Pública da Comissão Estadual de Defesa Contra a Gripe com estatísticas sobre o alcance da gripe asiática em Natal. Por isso não temos meios de afirmar se os jornais estavam corretos ao informarem no dia 22 de outubro, que o número de vitimas da doença era “de aproximadamente 6.000 pessoas”. Por outro lado encontramos registros que os profissionais da Saúde Pública já haviam visitado mais de 800 doentes em suas residências e que em um único dia ocorreu mais de 500 notificações de atingidos por essa gripe, apontando para uma provável estagnação na capacidade de atendimento do Hospital Miguel Couto, o principal da cidade. Noutra parte da reportagem informava que famílias inteiras estavam com a gripe em suas casas.


O Instituto Oswaldo Cruz começou a enviar vacinas para Natal, mas o número foi pequeno para a demanda. Não demorou e circulou a informação que o surto atingiu 10.000 natalenses, principalmente no bairro das Rocas.

Houve uma situação trágica, que chamou atenção na cidade e o combativo advogado e jornalista Luís Maranhão Filho registrou em sua coluna no Diário de Natal de 25 de outubro de 1957. No dia anterior, na calçada do Centro de Saúde da cidade, na Avenida Junqueira Aires, atual Câmara Cascudo, foi encontrada uma criança morta. Não existem maiores detalhes sobre seu falecimento, tendo sido creditado a gripe asiática. Luís Maranhão foi extremamente contundente em sua crítica ao descaso do poder público em relação à saúde do povo natalense.  Realmente as notícias envolvendo mortes trágicas de crianças em Natal, mesmo sendo as de origem mais humilde, eram estampadas com destaque nos jornais. Mas não nesse caso. Nem Luís Maranhão foi desmentido por algum dos periódicos locais.

Anúncio Precipitado do Fim da Pandemia


Cerca de trinta dias após a chegada dessa pandemia em Natal, os jornais de 26 de outubro destacam que o número de casos começou a declinar. Realmente alguns jornalistas comprovaram um declínio dos casos nos locais de atendimento na capital. Um dos membros da Comissão Estadual de Defesa Contra a Gripe atestou a redução dos casos, tranquilizando a população. Entretanto fez questão de apontar que “o maior número de gripados foi constatado em bairros afastados, entre a pobreza”.

Mas o anúncio foi precipitado, pois uma semana depois novos casos surgiram, com pessoas tendo febres de 40 graus, fortes calafrios e vômitos. Dessa vez o foco foi principalmente na região conhecida antigamente como Alto do Juruá, no atual bairro de Areia Preta. Nessa região, na Rua 2 de novembro, hoje Major Afonso Magalhães, famílias inteiras foram duramente atingidas, sendo necessário o apoio de vizinhos para solicitar socorro junto a Saúde Pública.


No dia 5 de novembro houve um caso que mereceu bastante destaque na imprensa natalense.

Nessa época existia o bar e restaurante Flórida, que ficava localizado na Avenida Duque de Caxias, nº 45, Ribeira. Ali trabalhava um garçom chamado Antônio Domingos Filho, que devido se encontrar com uma febre muito alta, pediu ajuda ao seu colega de trabalho Abel Gomes para levá-lo ao Hospital Miguel Couto para ser atendido. Eles foram, mas lá informaram que “ali não tratavam mais casos dessa natureza e que eles fossem pra o SAMDU”. Nesse local o garçom teve novamente negado qualquer tipo de atendimento. Sem jeito de resolver a situação, Abel então levou seu amigo Antônio Domingos até a sua residência, em uma humilde casa na Travessa Primeiro de Maio, bairro de Petrópolis. Segundo declarou Abel Gomes aos jornais, devido ao agravamento do quadro, de madrugada Antônio saiu pela rua gritando tresloucadamente em busca de socorro. Mas aí quem veio não foi a Saúde Pública, mas a Polícia Militar. O pobre garçom, tido como alterado, acabou no chão frio de uma cela na 2ª Delegacia de Polícia. O resultado foi que às seis da manhã ele foi encontrado morto.

Logo o caso repercutiu na Rádio Poti e outros meios de comunicação, mas nada foi feito. Não encontrei algum pedido de abertura de inquérito, ou alguma providência por parte do Ministério Público.

Enfim, ele era apenas um pobre garçom!

Até gostaria, mas certamente a atual pandemia de COVID-19 não será a última ocasião em que Natal vai testemunhar. Mas será muito interessante que na atual conjuntura as pessoas mais humildes e necessitadas, que é grande parcela da atual população potiguar, venha ater por parte das autoridades o devido apoio para enfrentar essa situação e que o caso do garçom Antônio Domingos Filho fique restrito a memória histórica dessa terra!

NOTA

[1] Muitos imaginam até hoje que essa situação é fruto da presença das tropas norte-americanas em Natal durante a Segunda Guerra Mundial, onde as autoridades locais teriam numerado as principais vias do Alecrim para facilitar a circulação dos militares estrangeiros na área. Nada disso! Oficialmente o bairro do Alecrim foi criado em 23 de outubro de 1911, mas existem informações que já em 1903, quando a região ainda era um amplo matagal pontilhado por alguns sítios, ali foi criado um traçado numerado de futuras avenidas e ruas. Mesmo sem existir uma documentação comprobatória, acredita-se que essa delimitação foi realizada pelo arquiteto italiano Antônio Polidrelli. Este havia sido contratado pelo poder municipal para desenvolver o traçado da área denominada Cidade Nova (atuais bairros de Petrópolis e Tirol) e a ideia de criar esse traçado no Alecrim tinha o objetivo de facilitar junto a Intendência Municipal de Natal o aforamento de terrenos dos futuros moradores. As antigas Avenidas 7 e 8 são atualmente as Ruas dos Caicos e dos Pajeús. Sobre a história relativa a questão das numerações das ruas do bairro do Alecrim, ver SOUZA, Itamar de. Nova História de Natal, 2008, 2ª Ed. págs. 522 a 524. Mesmo com as numerações das antigas avenidas e ruas do Alecrim tendo sido oficialmente abolidas em 1930, até hoje uma grande parcela dos natalenses continua a utilizar as velhas numerações para se localizar no bairro, inclusive o autor dessas linhas (antigo morador do bairro, na Rua Borborema).



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A LIBERDADE DO CANGACEIRO ZABELÊ

Do acervo do pesquisador José João Souza

O cangaceiro Zabelê morava na fazenda Xique Xique, no município de Vila Bela, atual Serra Talhada, seu nome verdadeiro era Isaias Vieira dos Santos.

No dia 12 de novembro de 1925, Isaias Vieira saiu de sua casa para levar a comida dos cangaceiro que estavam arranchados no curral da fazenda.

A conversa ia e vinha alheia a tudo, sem a mínima chance de alguém importuná-la, era um coito seguro.

O coiteiro Isaias Vieira há muito tempo vinha prestando serviços aos cangaceiros: trazendo comida, informações e servia de ponto de apoio entre Lampião e os fornecedores de armas.

Ultimamente Lampião alertava o amigo:

"- Isaias, a macacada tá cabreira que você é de minha confiança, é melhor se juntar à gente em definitivo e viver morando debaixo do céu aberto, na vida da espingarda!

A resposta:

"- num é certo, Lampião. Ajudar ao amigo eu posso e não conheço nada pra mim fazer ter medo, quanto mais de macaco. Mas tenho minha família pra dar conta."

Isaias Viera estava com 29 anos, era casado com Maria Benedita de Lima e tinha os seguintes filhos: Manoel Vieira ( Neco Véio), Cecília Vieira, Jovina Vitorino de Lima, Benedita Vieira dos Santos e Joaquim Vieira.

Os quinze homens que formavam o bando naqueles dias estavam gozando de um certo sossego.

Sorrateiramente a volante de Nazaré cercou a casa do protetor dominou a todos e entraram em interrogatório com seus familiares.

As perguntas eram feitas em tom de voz normal e as respostas eram quase aos gritos, para chamar a atenção dos cangaceiros que estavam no curral com o parente deles.

Desconfiaram do artificio e quando deram fé, olharam para os lados e lá iam os cabras em disparada.

A volante, comandada por Euclides Flor, Manoel Flor e Davi Jurubeba, abriu fogo, travando forte tiroteio.

A estas alturas Isaias havia recebido uma arma e reforçava a defesa.
Bateram em retirada por um buraco na cerca.

Resultou em dois cangaceiros sem vida e um ferido, o Cancão.

Da volante morreu Idelfonso de Sousa Ferraz.

A partir desse dia, Isaias Vieira, que não queria ser cangaceiro, mas, como diz o ditado, " quem mexe com fogo acaba se queimando", não teve outra altetnativa, entrou na peleja, pôs as cartucheiras cruzadas no torax, quebrou o chapéu na testa e passou a se chamar Zabelê.

No período de pouco mais de um ano que ficou no cangaço circulava pelos sub grupo de Jararaca, Sabino e Antônio Ferreira, participando de grandes combates e momentos importante ao lado de Lampião.

Somente para citar algumas dessas passagens: participou da batalha da Serra Grande, foi ao Juazeiro com o bando para Lampião receber a patente de Capitão, presenciou o tiroteio da Tapera dos Gilo próximo a Floresta. Participou na linha de frente de diversas refregas contra os Nazarenos e dezenas de outros confrontos em Pernambuco, Paraiba, Ceará e Alagoas.

Certo dia, no primeiro trimestre de 1927, aconselhado pelos parentes e amigos, Zabelê e o amigo de cangaço, João Gavião, chegaram tranquilamente em Vila Bela e vão procurar as autoridades, e mediante o argumento de que seria soltos em seguida, pelo fato de terem se entregado de livre e espontânea vontade, aceitaram serem presos.

Que nada.

João Gavião foi acobertado por alguns membros da familia, ganhando logo a liberdade. Zabelê foi julgado e pegou noventa anos de prisão.

Emcaminharam-no para a Casa de Detenção no Recife.

Quinze anos depois, em 1942, já findo o cangaço, Agamenon Magalhães, filho de Vila Bela, era o governador do estado de Pernambuco e foi participar de uma solenidade de inauguração de uma usina de beneficiar algodão na fazenda Saco, vizinho da fazenda Xique Xique, no municipio de Vila Bela, quando um certo roceiro com cara de doido, aproximou-se da comitiva governamental, gritando:

"Agamenon, solte meu pai! Agamenon, solte meu pai!"

Os presentes afastaram o importuno, que continuava esturrando em apelos.

O Chefe do Executivo perguntou a um dos convidados que estava ao seu lado:

" - Quem é esse? Quem é o pai dele?"

Informaram tratar-se de débio mental, que atendia pelo apelido de Neco Véio, filho do ex-cangaceiro Zabalê, que cumpria pena na Casa de Detenção, na capital.

Se a gritaria do rapaz surtiu efeito, não se sabe, mas, duas semanas depois, o ex-cangaceiro estava em Vila Bela saboreando sua liberdade, isto é um fato.

Zabelê nasceu no dia 20 de outubro de 1896 e faleceu no dia 10 de fevereiro de 1978, em Serra Talhada PE.


Do livro: Lampião, nem herói nem bandido, a história
De: Anildomá Willans.


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A IMPORTÂNCIA DE TUDO

*Rangel Alves da Costa

Coisas existem que são tidas com pouca ou quase nenhuma importância. Quando se refere à pobreza, à carência, ao viver na humildade. Mesmo que se aviste, pouca importância será dada. Assim acontece.
E acontece porque a maioria das pessoas se contenta apenas com o exterior do que com as realidades interiores. E acaso o exterior já seja de pouca atratividade, então nem se dará o trabalho de percorrer um pouco mais aqueles caminhos.
Em local distante, à beira de estrada, entre os tufos de mato, depois da malhada, em local singelo e sublime: uma casinha.
Casinha humilde, simples, de barro, do visgo antigo, da argila lançada aos tufos sobre as ripas. Sua aparência não nega, pois uma casinha de barro mesmo.
Mas será que apenas uma casinha de barro, ripa de pau, cipó da mata, terra e visgo, tudo juntado para ser um lar no passado?
Aparentemente, apenas uma casinha, mas será que sua feição nada representa além de sua velha idade, de seu barro e portas sumindo, de sua sensação de desalento e abandono?
Ao seguir pela estrada, ao passar adiante, certamente se avistará apenas a casinha ao relento dos dias e dias noites, num tanto faz de continuar existindo.
Mas será que é sempre assim ou o olhar deve procurar a vida, seja do passado ou presente, quem dali jamais saiu em sua memória?
A verdade é que seja casarão ou casinha, em suas paredes, dependências e fachadas, sempre haverá uma história que precisa ser conhecida.
Por que foi ali construída, quem morou na casinha, por que foram abrindo a porta e saindo e saindo, deixando tudo à voracidade do tempo que a tudo vence, destrói e sepulta?
Apenas uma casinha, mas talvez uma história grandiosa na sua existência, talvez de tamanha importância no passado que até o tempo se acabrunha em ir derrubando o seu barro.
Por isso, nada existe que não possua alguma importância, significado e história. Tudo tem algo a ser contado sobre sua existência.
E assim com a casinha e com as pessoas. Muitos imaginam que pessoas humildes são como casinhas abandonadas e que, por isso mesmo, sequer merecem atenção, mas não é assim não.
Eis que somos casinha de barro. E muitas vezes, até mesmo depois de no passado termos sidos casa de paredes suntuosas e endereços conhecidos.
O tempo transforma o belo, definha o que se mostra imponente, leva ao chão o que se sentia como duradouro demais.
Somos casinha e seremos casinha de barro acaso desejemos o prolongamento no tempo, viver muitos anos. Mais tarde virá a certeza que o barro está despencando, caindo.
Não adianta querer que tudo permaneça irretocável. Também não adianta fugir da casinha já envelhecida porque a nova é mais confortável.
Tudo é importante demais, tudo deve ser respeitado, admirado e valorizado: na casinha e nas pessoas.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

TENENTE ZÉ RUFINO


José Osório Farias o Tenente PM "Zé Rufino" nasceu em 20 de fevereiro de 1906, em Pernambuco.

Comandante de volante que mais liquidou cangaceiros, adentrou à Força Pública do Estado da Bahia, assentando praça em 2 de janeiro de 1934.

Passou a compor as Forças em Operações no Nordeste - FONE, chegou a segundo tenente em 1939.

Hoje comemora-se 111 anos de seu nascimento e 48 anos de seu falecimento, do já então CORONEL PM JOSÉ RUFINO. 

Saudemos esse grande homem de Polícia, exemplo a ser seguido por todos nós.


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DOIS MESTRES NO CANGAÇO..!


Por Rangel Alves da Costa

Antonio Amaury Corrêa de Araújo e Alcino Alves Costa. Ninguém ensina a ninguém. Mas todos ensinam ao mundo!

OBS:

Os dois escritores, juntos, já produziram mais de 20 obras sobre o cangaço.

Eles, também, juntos, têm mais de 100 anos de pesquisas sobre o tema.
ALCINO, já nos deixou e, Dr. Amaury encontra..se, muito doente. Eles já escreveram seus nomes na historiografia do cangaço. (adendo, por Volta Seca).


JATI "JATIENSE, ETERNAMENTE SEREI" . (MACAPÁ, CAMINHO DE ALMOCREVE).



Antiga Macapá, Jati Ce. Ponto de convergência do caminho de almocreve e pequenos agricultores, criadores e curtidores de couro e peles. Que se deslocavam das vizinhas cidades e vilas pernambucanas: Vila Bela ( Serra Talhada ), Cabrobó, Salgueiro e adjacências, para comercializar seus produtos em terra cearense. Macapá, era o ponto de apoio dos viajantes. Pernoitavam e davam descanso aos animais, saindo no dia muito cedo. Antes do dispertar dos primeiros raios solar. Dando segmento a viagem destinada, as cidades e vilas cearense: Porteiras, Jardim, Brejo Santo, Missão Velha, Juazeiro do Padre Cícero etc etc, com venda em feiras livre de seus produtos.


Constituída da aglomeração humana e o avanço do povo, o aruado, tinha bom crescimento. Nos passados anos de 1810. Nascia a vila ( MACAPÁ ), localizada no extremo Sul do Cariri cearense, fronteiras com o vizinho Estado de Pernambuco. Devido os limites das fronteiras serem próximas, era imenso o fluxo e corredor de tropeiros, viajantes, romeiros, beatos, volantes (polícia) e cangaceiros.

"A história, nunca morre. Se às boas lembranças não forem apagadas".
APOIO.

CASA DA CULTURA

Diretor, Luis Bento de Sousa
Luis Carolino.
Rota do Cangaço
Lampião, Governador do Sertão
Odisseia Cangaço Blog canal YouTube
Cangaçologia canal YouTube
Prefeitura Municipal de Jati
( JATI em Boas Mãos ).


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PÂMELA DESAPARECE E PAIS ESTÃO AFLITOS!


Por volta das 23:30 deste sábado, uma família que reside na zona norte de Mossoró, sentiu falta de uma das três filhas do casal, a jovem Pâmela Safira de Oliveira Machado, 14 anos, ela saiu de casa levando suas roupas em uma sacola de supermercado, deixando apenas um bilhete.

Procurados pela mãe da jovem Pâmela, divulgamos com muita tristeza seu desaparecimento.

Seus pais estão em desespero a sua procura, no bilhete a menina de apenas 14 anos, faz algumas declarações para família e diz que não adianta tentar procurar ela em Mossoró.

A família já procurou os meios legais para tentar achar a menina e pede que se alguém sabe onde Pâmela estar, ou a viu em algum lugar, que informe as autoridades ou ligue para 84 8761-8933.

Para Pâmela fica o apelo de sua mãe que volte logo para casa. Nas redes sociais alguns parentes e amigos estão compartilhando fotos e fazendo apelo para que "Paminha" como carinhosamente é chamada a jovem, volte para casa.

SER CANGACEIRO NO SERTÃO


Por Radir Pereira

Ser cangaceiro no sertão
Fácil tarefa não era
Se o cabra não fosse fera
Virava comida de cão
Na coronha do musquetão
Nós lutava até morrer
Fazendo o chão tremer
Vendo a bala zunindo
O cheiro da pólvora subindo
Dava gosto de se ver


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LAMPIÃO ATACA MOSSORÓ


Por Davi Lima

“Lá em Mossoró o rei do sertão
Uma certa vez tentou adentrar
Antes resolveu por capturar
Um fazendeiro lá da região
Que fez um bilhete escrito à mão
Pedindo ao prefeito para lhe ajudar
Mas Rodolfo Fernandes lá pelo lugar
Armou com o padre a sua trincheira
E até a santa que era padroeira
Também ajudou ao bando expulsar”.


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LAMPIÃO DESISTIU DE ATACAR CUSTÓDIA



Lampião estava decidido atacar o município de Custódia, no Sertão pernambucano, o cangaceiro mandou um garoto até a cidade para verificar quantos soldados havia no quartel ou na delegacia. Ao voltar, o menino anunciou: "No quartel, só tem cem". Temeroso com o grande número de macacos, maneira pela qual chamava os guardas, Virgulino desistiu da invasão. O que ele não sabia é que Cem era o apelido do único soldado presente no quartel naquele dia.

Do livro: Flores, Campos, Barros e Carvalho - Olhando para o passado até onde a vista alcança.

De: Maria Stella Barros de Siqueira Campos.


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VERA FERREIRA: VERDADES DO CANGAÇO. PORTFÓLIO DIGITAL. BLOCO 01



Confira o PORTFÓLIO DIGITAL sobre Vera Ferreira: verdades do cangaço. Assista o programa todos os sábados na Band Bahia com retransmissão na Band Aracaju. Siga o nosso Instagram @portfolioditalnet e fique por dentro de todos os bastidores e novidades do programa que é sucesso na Bahia e em Sergipe.

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