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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

JARDIM BOTÂNICO DO SEMIÁRIDO SERÁ INSTALADO EM SOBRAL


O projeto prevê a manutenção e preservação de espécies do bioma ameaçadas de extinção

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Há cerca de dois meses, o espaço escolhido para abrigar o Jardim Botânico vem recebendo as mudanças estruturais para acomodar as espécies (Fotos: Marcelino Júnior).

por Marcelino Júnior - Colaborador

Além das plantas já existente na área, o novo Jardim Botânico conta com doações para exibir outras espécies do Semiárido oriundas de outras áreas. Também está prevista a construção de um lago a partir de poços existentes no local

Sobral. Em fase de implantação, no terreno que hoje abriga a sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Sobral, o novo Jardim Botânico do Semiárido ocupará a área que divide os bairros Junco, Terrenos Novos e Vila União, sendo entrecortada por trilhas ecológicas que irão circundar os espaços das coleções botânicas.

O projeto contempla a preservação de diversos grupos de plantas de regiões de semiárido, não apenas do Ceará, mas do restante do País e do mundo. Além da garantia de ampliação e manutenção de mais áreas verdes dentro do complexo urbano, melhorando a qualidade do ar, a proposta é a preservação de material genético das espécies, muitas delas ameaçadas de extinção, a exemplo da aroeira e do imbuzeiro.

Estrutura

Há cerca de dois meses, o espaço escolhido pela Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) para abrigar o Jardim Botânico passou a receber as mudanças estruturais necessárias a uma melhor acomodação das cerca de 50 espécies já existentes na área, entre elas o pau-branco, a carnaubeira, o juazeiro e o ipê.

Após a fase de preparação da terra, o Jardim Botânico receberá, por meio de doação, mudas da flora de outros locais, que serão identificadas, selecionadas e plantadas em área adequada ao seu desenvolvimento.

As coleções têm sido adquiridas em parceria com outros jardins botânicos e também com colecionadores. A previsão da Direção de Parques, Jardins e Unidades de Conservação é que os plantios sejam intensificados a partir do mês de março.

Espécies

Na lista das plantas que devem chegar nestes primeiros meses do ano a Sobral, constam mudas de cactáceas variadas, bromélias, baobás, palmeiras diversas e plantas alimentícias não convencionais, muitas vezes confundidas com mato, por crescerem com facilidade em qualquer espaço. Para facilitar a identificação ao visitante, as espécies serão devidamente agrupadas e identificadas com placas contendo nome popular, científico e local de origem.

O Jardim Botânico do Semiárido terá trilhas instaladas em pó de pedra compactado, com acessibilidade a todos os espaços, sendo circundado, na parte externa, por calçadão e ciclovia. No terreno, também serão construídos um anfiteatro e um mirante, para o desenvolvimento de atividades culturais e de Educação Ambiental, em parceria com escolas e universidades.

Além da preservação ambiental, o projeto pretende melhorar a qualidade da água proveniente das residências próximas, que por um motivo ou outro, acaba por ser lançada para dentro do terreno e se mistura à água da chuva, que deságua, por diversas vias, no Riacho Mucambinho. "A ideia é criar jardins filtrantes, com plantas aquáticas, que fazem todo o trabalho de renovação da água naturalmente. Tudo que for jogado aqui passará por essa filtragem, até que saia mais tratada e siga para o pequeno lago que será construído aqui", explica José André Neto, auxiliar técnico da AMMA.

Ensino

"Já existe um bosque de árvores nativas com vegetação diversa. Especialmente exemplares grandes de angico, feijão-bravo, oiticica, embiratanha e cajazeiras. Tudo isto será preservado, e fará parte do novo Jardim Botânico. Também será construído um lago, aproveitando os poços naturais que se formam, por entre a vegetação, durante o período das chuvas. Nesse espaço, serão colocadas espécies como a vitória- régia e outras plantas aquáticas características das regiões de Semiárido", adianta o diretor, que também falou sobre a parceria com instituições de ensino, como prioridade do novo equipamento ao abrigar também projetos educativos.

"O Fundo Socioambiental do Município (Funsams) e a iniciativa privada serão parceiros na viabilização da execução do projeto e da aquisição das coleções, que servirão de instrumento à Educação Ambiental, com potencial turístico", avalia o diretor de Parques, Jardins e Unidades de Conservação do Município, Bruno Ary.

Fonte: DIÁRIO DO NORDESTE, edição de 03 de janeiro de 2018

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso

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CRUZ E SOUSA POETA ACIMA DAS CORES


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso

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TENENTE ZÉ RUFINO

Por Geraldo Júnior

... o célebre Tenente Zé Rufino (José Osório de Farias) comandante de uma Força Volante e apontado como o maior matador de cangaceiros de toda a história do cangaço. Foi certamente um dos maiores e temíveis inimigos de Lampião.

Zé Rufino foi o militar que matou o maior número de cangaceiros em todo o ciclo do cangaço. Entre os cangaceiros mortos por Zé Rufino está o famoso Corisco o "Diabo Loiro".

Geraldo Antônio de Souza Júnior

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ANTÔNIO IGNÁCIO DA SILVA "MORENO II"

Por Geraldo Junior


Personagem de destaque da história cangaceira. Um Cabra que ingressou ainda jovem no cangaço para se proteger das perseguições policiais e de seus inimigos pessoais, que por sinal não eram poucos. Segundo o pesquisador e escritor Magérbio Lucena em determinado momento da história mais de mil pessoas procuravam Moreno para matá-lo. Ainda segundo Magérbio Lucena esse número de pessoas correspondia apenas aqueles que se situavam na região sul do Cariri cearense.

Fato é que esse Cabra atravessou todo o período em que esteve no cangaço lampiônico sem levar um único tiro sequer.

Quando perguntado sobre o número real de pessoas que foram por ele assassinadas durante o cangaço, Moreno apontava sempre o total de vinte e uma vítimas, mas deixava em aberto esse número ao afirmar que alvejou muitos durante confrontos e que não soube posteriormente se sobreviveram ou não.

Acredita-se, portanto que esse número de vítimas citado pelo ex-cangaceiro Moreno chegue ao dobro ou até mesmo ultrapasse.

O tempo se encarregou de aliviar a gravidade de seus crimes, mas não apagou e nem apagará seus feitos das páginas da história, onde essa e as gerações vindouras de estudiosos conhecerão a saga desse implacável e temido cangaceiro, membro do bando de Lampião.

Sua morte ocorrida no dia 06 de setembro de 2010, quando contava com a idade de 100 anos, foi seu ingresso definitivo na história do cangaço nordestino brasileiro. Morreu para a vida e nasceu para a história.

Geraldo Antônio de Souza Júnior

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JOSÉ RIBEIRO FILHO "ZÉ SERENO".

Por Geraldo Júnior

Ex-cangaceiro chefe de subgrupo do bando de Lampião.

Nasceu no dia 13 de agosto de 1913 na Fazenda dos "Engrácias" localizada no município de Chorroxó/BA. Filho de José Ribeiro e Lídia Maria da Trindade. Sua mãe (D. Lídia) era irmã dos cangaceiros Antônio e Cirylo de Engrácia (Ingrácia) e também irmã do afamado Faustino Mão-de-Onça pai do também conhecido cangaceiro Zé Baiano.

Zé Sereno ganhou esse apelido por causa de seu temperamento "aparentemente" calmo e tranquilo.

Ele e Sila sua companheira foram alguns dos cangaceiros que sobreviveram ao ataque da Força Policial Volante de Alagoas ao bando de Lampião, no dia 28 de julho de 1938, na Grota do Angico em Sergipe.

Na ocasião foram mortos Lampião, Maria Bonita, nove cangaceiros e um Soldado da Força alagoana.

Pouco tempo após a morte de Lampião o casal cangaceiro se entregou às autoridades e devido à colaboração com a justiça, foram anistiados e conquistaram a sonhada liberdade.

Diante das incertezas e das dificuldades o casal Zé Sereno e Sila, resolveu sair da região Nordeste e seguiram em direção à região sudeste do país. Uma viagem longa e cansativa, repleta de paradas, até chegar ao estado de Minas Gerais, onde permaneceram por algum tempo até decidirem seguir para o estado de São Paulo, onde se instalaram e recomeçaram suas vidas, longe das armas.

Na capital paulista Sila e Zé Sereno se estabeleceram, criaram seus filhos e terminaram seus dias de vida como pessoas de bem, honestas e trabalhadoras e em nada lembrando a época em que sob as ordens de Lampião, rumavam pelo Sertão em uma vida à margem da lei.

Zé Sereno faleceu na capital paulista no dia 16 de fevereiro de 1981 aos 67 anos de idade.

Sila (Ilda Ribeiro de Souza) faleceu na cidade de Guarulhos/SP no dia 15 de fevereiro de 2005, aos 86 anos de idade.

Geraldo Antônio de Souza Júnior

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CANGACEIROS ANTÔNIO DOS SANTOS O CÉLEBRE "VOLTA SECA"...


... um dos mais polêmicos cangaceiros de toda a história do cangaço.

Filho de Manoel Antônio dos Santos e Arminda Maria dos Santos, nascendo no dia 18 de março de 1918. Era sergipano de Saco Torto, município de Itabaiana/SE. Primeiramente foi apelidado de Antônio da Pinta e depois de Bosta Seca. Juntou-se ao grupo de Lampião nos fins de 1928, quando ele estava reestruturando o bando na Bahia. Foi um dos mais selvagens cangaceiros que se tem notícia. Iniciou sua vida de cangaceiro com apenas onze anos de idade, porque matou um Soldado que tinha violentado uma irmã sua (É uma das versões).

Gostava de “Pepinar” suas vítimas com a ponta do punhal. Estuprou várias mulheres. Deu cabo, sem qualquer motivo, de uma dezena de sertanejos, sem contar os que caíram sob suas balas em combate.

- Estava no bando de Lampião que, no dia 19 de abril de 1929, visitou o povoado de Poço Redondo/SE.

Estava no bando que, no dia 21 de abril, invadiu o Saco do Ribeiro (Ribeirópolis), praticando algumas arruaças, espancamentos e extorsões.

- Participou do combate com a Volante baiana, do Tenente Manoel Campos de Menezes, em Pinhão/SE, em 22 de abril de 1929, onde Lampião e Luiz Pedro ficaram deridos.

- Em 30 de junho de 1929, participa do ataque e incêndio da Estação Ferroviária de Itumirim, município de Jaguarari/BA.

- Ao amanhecer de 04 de julho, sob o comando de Lampião. Participou do ataque à Vila de Brejão da Caatinga ou Brejão de Dentro, atualmente município de Campo Formoso/BA, surpreendendo e matando 04 Soldados e um Cabo sem dar-lhes nenhuma oportunidade de defesa.

- Participou dos ataques aos povoados de Santa Rosa de Lima, município de Jaguarari/BA, e Canoas, município de Senhor do Bonfim/BA, em 27 de setembro de 1929, onde cometeram saques, agressões, extorsões e depredações.

- Em 25 de novembro de 1929, participou das visitas ao distrito de Nossa Senhora das Dores, município de Capela/SE, onde extorquiram comerciantes e populares, depois partindo para Capela/SE, onde permaneceram várias horas na cidade, visitando comerciantes, salão de bilhar e prostíbulo, pagando setenta mil Réis à prostituta que lhe atendeu e extorquiram a quantia de seis Contos de Réis da população.

- Em 27 de novembro de 1929 integrava o grupo que estava na Fazenda Jaramataia, município de Gararu/SE

- Participou do massacre à Queimadas/BA, em 22 de dezembro de 1929. Quando foram mortos sete Soldados do destacamento local.

- Participou do assalto à Mirandela, distrito de Pombal/BA (Atual Ribeira do Pombal/BA), no dia 25 de dezembro de 1929.

- Participou do ataque à Aquidabã/SE em outubro de 1930.

- Participou do ataque à Floresta/PE, em 26 de novembro de 1930, fazendo parte de um grupo de aproximadamente 20 cangaceiros, quando mataram e degolaram vários inimigos de Lampião, extorquiram fazendeiros e praticando depredações.

- Participou do tiroteio na fazenda Umbuzeiro do Touro, município de Paulo Afonso/BA, no dia 24 de abril de 1931, quando morreu o cangaceiro Ponto Fino II (Ezequiel Ferreira). Neste combate a polícia perdeu aproximadamente treze praças, inclusive o Tenente Leonelino Rocha, além de outros seis que foram feridos.

- Logo após violento combate na Fazenda Maranduba, em Sergipe, no dia 09 de janeiro de 1932, do qual participou, desertou do grupo porque tinha tido uma discussão com Lampião e este havia lhe prometido uma surra.

Poucos dias depois, no dia 18 de fevereiro, foi capturado, na Fazenda Lagoa da Onça, próximo à Santo Antônio da Glória/BA pelos irmãos Adão e Roxo, juntamente com sua companheira Bidia.

Após ter sido julgado por seus crimes, foi condenado a uma pena de 145 anos de prisão. Por causa da sua pouca idade, teve sua pena comutada para trinta anos, dos quais cumpriu vinte. Em 1954, foi perdoado pelo Presidente Getúlio Vargas. Aposentou como funcionário da Rede Ferroviária (Leopoldina). Através de seus depoimentos – ele sempre gostou de dar entrevistas – foram reveladas muitas particularidades dos cangaceiros e muitos segredos do cangaço.

Faleceu aos 97 anos de idade de causas naturais na cidade mineira de Leopoldina, onde residia com sua família. Está sepultado na cidade mineira de Estrela Dalva.

Fonte das informações: Livro Cangaceiros de Lampião de A a Z de Bismarck Martins de Oliveira

Adendo: Geraldo Antônio de Souza Júnior

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OS IMPOSTORES...! APARIÇÃO DO SUPOSTO EZEQUIEL ( irmão de Lampião) E, PITOMBEIRA..

Por Voltaseca Volta

Recentemente, vi na net/Facebook um “ post “ de Geraldo Antônio De Souza Júnior que tratava da aparição em 1984, de um suposto “ EZEQUIEL –irmão caçula de Lampião“ na cidade de Serra Talhada-PE, e que viera de Valença-PI, para tirar seus documentos para fins de aposentadoria. Inclusive, o mesmo chegou a ser reconhecido por pessoas da região. Os pesquisadores e estudiosos do tema, dentre eles: Dr. Antônio Amaury ( autor de 15 livros ), Hilário Lucetti ( que realizou uma entrevista com o suposto Ezequiel e, chegou à conclusão de que se tratava de um IMPOSTOR, ou seja, de um cordelista que sabia muitas estórias de cangaço ), além do Dr. Sérgio Dantas, José Sabino Basseti, Dr. Frederico Pernambucano de Melo, João de Sousa Lima ( junto com Dr. Amaury, realizaram entrevista com o Sr. Antônio Chiquinho, proprietário da Fazenda que enterrou e, desenterrou o “ Ezequiel “, após o mesmo ser morto pela polícia, através de uma rajada de metralhadora no Combate da Lagoa do Touro, ou Lagoa do Mel, como preferem alguns, na região de Paulo Afonso-BA. Dito cangaceiro, alguns dias após a sua morte, teve sua cabeça retirada do corpo pela polícia e, levada, sendo exposta em Salvador-BA, havendo foto publicada da mesma em periódico daquela cidade.

No ano de 1969, a pesquisadora /escritora, Dra. Maria Cristina da Matta Machado, professora da USP, (autora de livros/trabalhos sobre o cangaço), no intuito de divulgar seus trabalhos e, promover a integração social de ex-cangaceiros que viviam, anonimamente em SP, utilizando os meios de comunicação jornal/TV, conseguiu reunir uma dezenas desses personagens, os quais, deram entrevistas e foram filmados. Para sua surpresa, apareceu no evento, um cangaceiro com a alcunha de PITOMBEIRA, o qual dizia ter feito parte do grupo de Lampião. Ao vê-lo, o ex-cangaceiro ZÉ SERENO (um dos sub-chefes de bando e, homem de confiança de Lampião), disse que não reconhecia aquele homem como um ex-cangaceiro e, que se tratava de um IMPOSTOR. Sila, ex-companheira de Zé Sereno e, a escritora Maria Cristina, ao tomarem conhecimento desse assunto, evitaram que Zé partisse para cima do impostor e, o desmascarasse, pois , se assim acontecesse, tumultuaria a entrevista e matérias que estavam sendo realizadas pelos órgãos da imprensa falada/escrita. Mas, a notícia da descoberta do impostor, chegou aos ouvidos do mesmo, naquele momento e, logo após a feitura das fotos dos ex-cangaceiros, o mesmo escafedeu-se, sem dar maiores explicações. O escritor/pesquisador Dr. Antônio Amaury foi quem nos relatou esse fato e, teve como testemunhos os depoimentos dos ex-cangaceiros, SILA, ZÉ SERENO e, DADÁ.

Como se constata, o estudo do tema cangaço é polêmico por natureza, mas para sua melhor compreensão, deve ser levado em consideração o bom senso; o princípio da razoabilidade; as provas orais e documentais , além de outros subsídios, a fim de que possamos fazer um “ juízo de valor “ sobre determinado fato ou personagem. Tirem as suas conclusões, pois, as minhas, eu já as tenho, até que me provem em contrário. Forte abraço e, obrigado pela atenção na leitura do texto..
....
Fotos : Maria C. M. Machado e Pitombeira (Revista Machete/1969)
Foto- : Suposto Ezequiel (acervo - vídeo Aderbal Nogueira)

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O VELHO MOTA DA CHARANGA

Por José Mendes Pereira e Zuleide Mota

Antônio Mota da Silva mais conhecido como “O VELHO MOTA DA CHARANGA”, nasceu em Apodi, no Estado do Rio Grande do Norte, no dia 18 de março de 1912, e faleceu em Mossoró, na Casa de Saúde Dix-sept Rosado, no dia 19 de maio de 1984, a causa da morte, “problemas cardíacos”.

Residiu por toda sua vida em Mossoró, no bairro Santo Antonio, à Rua Melo Franco, nº 843. Era casado com Maria Nery Mota, natural da cidade de Upanema, no Estado do Rio Grande do Norte, nascida no dia 15 de março de 1917, e faleceu no dia 11 de agosto de 2008, na Casa de Saúde Wilson Rosado em Mossoró.

O Velho Mota da Charanga era pai dos seguintes filhos:

Francisco Canindé Mota, este foi assassinado no Rio de Janeiro, no ano de 1980, a causa, reagiu um assalto e foi morto pelo seu agressor.  

Maria Zulier Mota Bezerra reside em Mossoró à Rua Melo Franco. 

Maria Zulene Mota Bezerra que já é falecida. 

Maria Zélia Mota de Paiva, também já falecida. 

Antonio Mota da Silva Filho, o grande Carestia, como era alcunhado em Mossoró, também já é falecido.

Por última, Zuleide Mota, já é aposentada, e de dezembro a maio , isto é 6 meses, ela reside no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, no bairro Copacabana, e os outros 6 meses, fixa residência nos nos Estados Unidos, na cidade de Nova York, onde viveu por quase 30 anos, junho, julho, agosto e setembro. Os meses outubro e novembro, ela passa em Los Angeles, na Califórnia, isso porque continua trabalhando na mesma atividade de trinta anos.

Em sua companhia reside Tâmara Cristina a filha mais velha, e tem outra filha por nome de  Cindy Lee, e está fazendo universidade na Califórnia, em San Diego, e trabalha na Apple.

Mas às vezes ela viaja, pois faz Free Lances, quando tem chances em Estádios de Esportes, ou Shows. A sua profissão copiou do seu pai (cozinheira). Normalmente faz campeonatos de Tênis e de Basebol e futebol Americano.

A razão de ainda estar nos Estados Unidos, hoje, é que ela está em tratamento médico, e por ordens médicas não pode viajar. Fez uma cirurgia no dia primeiro de dezembro, e tem outra para fazer a qualquer hora, e já deu início a uma bateria de exames, repetir tudo que já fez mais de 3 vezes, coisas de Americano. Assim que fizer a cirurgia, ela vem se recuperar no Rio de Janeiro.

O Velho Mota da Charanga era católico, devoto de São Francisco e todo ano ia ao Canindé com toda família. Era aluisista de morrer, apaixonado pelo partido do cigano feiticeiro Aluísio Alves. 

Foi dono de uma Roleta, mais ou menos nos anos quarenta, que funcionava na entrada do beco das frutas bem próxima ao mercado central, e no final de cinquenta, abriu o conhecido e famoso "Buraco do Tatu". 

Era um Quiosque que ficava sob uma Tamarindeira, no largo entre a Avenida Alberto Maranhão e a Avenida Rio Branco, seguindo da Estação de trem, no sentido Santo Antônio. Ali era frequentado por todas as pessoas importantes de Mossoró. Para café da manhã, almoço e jantar, comida de primeira qualidade, e às vezes, ele liberava música ao vivo.

O Velho Mota da Charanga pela manhã cedo, todos os dias, fora premiado com dois importantes clientes que tomavam café e em seguida, seguiam para as suas atividades. Um era o afamado cardiologista de Mossoró Dr. José Leão, e o outro era o Professor Solon Moura. 

O Velho Mota da Charanga era uma pessoa muito espirituosa, alegre, e que todos gostavam dele. Muito honesto e íntegro. Como ele gostava de festas, muitos pessoas pensavam que o Velho Mota da Charanga era farrista, mas na verdade, o que ele queria mesmo, era estar sempre acompanhado de toda família.

Quando o Velho Mota da Charanga deu adeus a este mundo, houve um certo desentendimento por parte dos amigos, mas a causa deste, todos que fizeram parte da sua amizade, queriam pagar as despesas da Casa de Saúde e da Funeral.

O Velho Mota da Charanga durante toda a sua vida, só trabalhou para construir amigos, amigos...!!!

http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br

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O NAVIO PIRATA BRASILEIRO

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Combate no alto mar, em pintura do século XIX – Fonte – https://infinda.blogspot.com.br/2013/11/benito-soto-fulgor-y-muerte-de-un.html

A História do Navio Negreiro Brasileiro Defensor de Pedro Que Se Transformou Em Um Barco Pirata

Rostand Medeiros – Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN 
Em 1827 o Império do Brasil era uma nação bem jovem, que apenas cinco anos antes havia deixado de ser colônia de Portugal. O país tinha Dom Pedro I como seu Imperador, que governava em uma época de instabilidades. Era um tempo em que o Brasil era majoritariamente agrário, onde utilizava e dependia da mão de obra escrava vinda da África e tinha no tráfico negreiro através do Atlântico Sul a principal maneira destes cativos chegarem a seus portos.
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Engenho de cana de açúcar na Paraíba na época da invasão holandesa
Mas nessa época a Inglaterra desejava à extinção do tráfico negreiro intercontinental para o Brasil, entretanto suas razões jamais foram por questões humanitárias. Estava no fato do açúcar produzido no Brasil, devido à mão de obra servil, ser bem mais barato do que o produzido nas colônias inglesas do Caribe. Além do que as áreas de plantação nestas colônias caribenhas eram pequenas comparadas com as brasileiras, havia um número de cativos baixo e a escravidão como força de trabalho nestas colônias estava em processo de extinção definitiva[1].
E para acabar com esse tráfico humano os ingleses estavam dispostos a utilizarem até mesmo os canhões de sua poderosa marinha de guerra, a Royal Navy. Dom Pedro I ratificou então um tratado em 13 de março de 1827, que definia um prazo de três anos para extinguir o tráfico de escravos para o Brasil. A partir desta data, quem fosse pego transportando seres humanos cativos no mar seria enquadrado como pirata e a punição básica existente nas leis inglesas para esse tipo de crime marítimo era a forca.
03. Dama em literia, carregada por escravos e suas acompanhantes_Carlos Julião_17xx_Crédito_Carlos Julião
Dama em liteira carregada por escravos e suas acompanhantes. A escravidão no Brasil foi um grave e grandiosos problema que até hoje se reflete no país de muitas maneiras – Foto Carlos Julião.
Essa situação de pressão estrangeira gerou um grande desconforto entre a elite política e agrária brasileira. Estes poderosos contestaram muito o Governo Imperial por ceder aos ingleses em algo que para eles “prejudicava o Brasil”. Até por que, antes mesmo do final do prazo de três anos, navios brasileiros que estavam vindos da África com escravos e não estavam com toda a parte burocrática em concordância com as regras impostas pelos ingleses, começaram a ser detidos pelas naves de guerra. Foram criadas duas comissões mistas com a finalidade de resolver estas questões de retenção e apresamento de navios. Uma das sedes destas comissões era no Rio de Janeiro e a outra na cidade de Freetown, na África Ocidental Inglesa, hoje capital de Serra Leoa[2].
O certo é que entre janeiro de 1827 e dezembro do ano seguinte, nada menos que doze navios negreiros, sendo nove brasileiros e três espanhóis, foram capturados apenas pela corveta inglesa HMS North Star, ocasionando a libertação de um número próximo a 2.000 escravos[3].
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Navio negreiro – Fonte – http://criticallegalthinking.com/2014/05/22/slave-ship-embodies-whole-story-slavery/
Realmente os dias do nefando tráfico de homens, mulheres e crianças negras vindos da África para o Brasil estava chegando ao seu final.
Defensor de Pedro
Mas se o trafico negreiro estava com seus dias contados, não faltava no Brasil quem quisesse pagar por mão de obra escrava para tocar suas fazendas. Com a consequente diminuição do fluxo e do número de cativos vindos da África, o preço por cada escravo começou a subir. O que atiçou a cobiça dos proprietários de barcos negreiros e dos seus capitães a cruzarem o Atlântico Sul, mesmo sem toda a papelada burocrática e a presença vigilante e perigosa da Royal Navy.
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Rio de Janeiro, entrada da Barra perto do alto-mar, 1820 – Fonte – https://culturalrio.wordpress.com/2011/05/18/rio-ontem-e-hoje-bonito-por-natureza/
Não sei se o proprietário do barco brasileiro Defensor de Pedro havia cumprido todas as exigências da burocracia para satisfazer os ingleses, mas em novembro de 1827 este zarpou do Rio de Janeiro em busca de escravos na África[4]. 
O seu comandante era Pedro Maria de Souza Mariz Sarmento, mais conhecido como Pedro de Souza Mariz Sarmento, era um português de Lisboa, nascido em 1790 e que em 1808 fez parte da esquadra portuguesa que veio para o Brasil com Dom João VI. Na época Mariz Sarmento tinha o posto de primeiro tenente e seguiu para a grande colônia portuguesa a bordo da Nau Afonso de Albuquerque. Mas em 1827 sabemos que ele estava reformado na patente de capitão-tenente da Marinha Imperial do Brasil e sua única função naquele ano era o comando do navio negreiro Defensor de Pedro[5].
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Já em relação ao Defensor de Pedro as informações também são bem limitadas. Algumas fontes apontam que ele seria uma nave do tipo Brigue, que era um modelo de veleiro de dois mastros principais, muito utilizado no comércio e podendo carregar de doze a vinte canhões. Já outras fontes apontam que este barco seria do tipo Bergatin, também um veleiro com dois mastros principais, pequenos, que foram utilizados nos séculos XVIII e XIX para o comércio e transporte normalmente em rotas curtas. Os dois tipos de barcos são bastante similares em dimensões, onde as tonelagens são bem próximas e eram muito rápidos e manobráveis. Populares não apenas entre mercadores, mas também entre piratas[6].
Um Corsário Brasileiro 
No dia 22 de novembro de 1827 o Defensor de Pedro se fez ao mar com destino a Molembo, atualmente o município costeiro de Cacongo, no enclave de Cabinda, Angola.
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Descrição da carga do Defensor de Pedro antes de sair do Rio de janeiro.
A nave transportava várias toneladas de tecidos típicos daquela época, como zuarte e chita, além de caixas com 200 dúzias de lenços. Mas o Defensor de Pedro transportava itens mais explosivos. Tais como 100 barris de pólvora, 12 arrobas de balas de chumbo (equivalente a 180 quilos), 15 caixas com espingardas, 4.600 pederneiras para detonar as armas de fogo, 200 facas de cabo de ferro e 24 pipas (barris) de cachaça. Cada uma das pipas tinha capacidade para cerca de 500 litros, ou seja, aquele barco levava 12.000 litros da mais pura “branquinha” brasileira[7].
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Panorama circular do porto do Rio de Janeiro, 1827 (detalhe), pintado pelo artista inglês Emeric Essex Vidal – Fonte – https://culturalrio.wordpress.com/2011/05/18/rio-ontem-e-hoje-bonito-por-natureza/
Na nota existente no Jornal do Commercio do Rio, temos a informação que o capitão Pedro de Souza Mariz Sarmento tinha uma licença, ou carta, de corso, o que significava que para as autoridades brasileiras o Defensor de Pedro era um barco corsário.
No período inicial do Império do Brasil, assim como noutras nações, nosso país teve a sua marinha corsária e é importante aqui fazer a distinção entre corsário e pirata. Os piratas agiam ilegalmente em tempo de guerra e de paz, sem qualquer regra, sem pertencer a reis ou a qualquer governo. Ao contrário dos corsários, que agiam de acordo com seu soberano, exclusivamente em período de conflito, onde seus navios eram armados por particulares, que possuía licença do rei para combater os inimigos do Estado, visando interromper seu comércio e sua navegação. Além de ganhar dinheiro com o que fosse capturado.
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Rota do La Argentina ao redor do mundo – Fonte – http://grupolagazette.com/al/index.php?option=com_content&view=article&id=567:hyppolite-bouchard&catid=9&Itemid=109
A Argentina, por exemplo, possuiu uma frota corsária e um de seus navios realizou uma viagem de circunavegação pelo globo entre 1817 e 1819[8]Mas essa não foi uma viagem de adestramento de Guardas Marinhas, foi uma viagem para atacar barcos e colônias espanholas. Chamado La Argentina, esta nave era comandada pelo francês Hippolyte de Bouchard, esteve em locais como Madagascar, Indonésia, Filipinas, Havaí, costa da Califórnia, negociando com barcos amigos e atacando impiedosamente os espanhóis. Nessa aventura Bouchard capturou 26 barcos, mas acabou preso no Chile pelo almirante inglês Thomas Alexander Cochrane, que na época servia junto à neófita marinha chilena e depois foi o primeiro almirante da Marinha do Brasil, onde combateu os portugueses na Bahia. Na época o cruzeiro do La Argentina se tornou um fato muito conhecido e comentado nos portos do Atlântico Sul[9].
Consta que o capitão Mariz Sarmento pretendia navegar levando toda essa mercadoria para ser trocada por escravos nos portos africanos. A ideia era trazer de 200 a 300 “Peças” de escravos, como se dizia na época. Mesmo com a mortandade média de uns 80 a 100 prisioneiros, era considerado um negócio lucrativo. 
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Comércio de escravos no Cais do Valongo, porto do Rio de Janeiro.
Para isso ele necessitava de uma tripulação experiente e foi no porto do Rio de Janeiro que o capitão arregimentou um grupo de 40 tripulantes onde constavam brasileiros, portugueses, franceses e espanhóis, a maioria deles renegados e fugitivos da justiça de suas nações.
Quando um dos 40 tripulantes soube da rota que o Defensor de Pedroiria seguir e viu o que aquele barco carregava, certamente começou a pensar diferente do seu capitão.
O Pirata Galego 
Benito Soto Aboal é considerado pelos espanhóis não o último pirata do Atlântico Sul, mas o último de todo Oceano Atlântico. 
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Benito Soto Aboal
Mais conhecido como Benito Soto nasceu na área do porto marítimo que deu origem ao atual município de Pontevedra, na Região Autônoma da Galícia, Espanha[10]Desde o século XII Pontevedra era uma das cidades mais importantes da Galícia e, graças ao comércio marítimo e seus estaleiros, um dos mais importantes portos do Atlântico Ocidental na Península Ibérica. Naquele distrito de marinheiros, Benito Soto nasceu em 22 de março de 1805. 
Segundo o pesquisador espanhol Marcos Iglesias, este jovem galego era o sétimo de uma prole de catorze filhos de um pescador e uma dona de casa. Marinheiro desde precoce idade, junto com seu pai e irmãos realizou vários trabalhos nas costas galegas, em diferentes funções, algumas delas de legalidade duvidosa. Tais atividades o levaram a ser respeitado entre os ambientes portuários e de contrabandistas. Então, por volta de 1822, Benito Soto embarca em direção a Havana, Cuba.
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Pontevedra no século XIX – Fonte – https://infinda.blogspot.com.br/2013/11/benito-soto-fulgor-y-muerte-de-un.html
De acordo com algumas fontes foi nessa ilha do Caribe que o espanhol se envolveu primeiramente com piratas e corsários, onde lutou a bordo de barcos cubanos ou colombianos. Segundo outros ele era um marinheiro honesto envolvido com tráfico de escravos, atividade que na época era considerada lícita em vários lugares. Talvez todas as versões mostrem alguma verdade, já que ele poderia estar a bordo de barcos, atacando navios escravos de outras nações para roubar suas mercadorias e suas “Peças” de cativos. E tudo isso sem ter atingido a idade de 20 anos.
Seja como for, segundo o pesquisador espanhol Marcos Iglesias, em 1823 Benito Soto viajou de Havana para o Rio de Janeiro, a bordo de um navio mercante espanhol. Mas este barco foi capturado na área costeira de Salvador, Bahia, pela marinha brasileira, que acreditou ser aquele barco uma nave pirata. Neste ponto o pesquisador Marcos Iglesias aponta no seu trabalho que o rastro deste marujo torna-se nublado e ele só volta a comentar sobre Benito Soto apenas quando este embarca no Defensor de Pedro, quatro anos depois do encontro com a nossa antiga Marinha Imperial[11].
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A Batalha de 4 de maio de 1823 foi o maior combate naval durante a Guerra de Independência do Brasil quando as frotas brasileiras e portuguesas se enfrentaram. A frota brasileira estava sob o comando do inglês Thomas Cochrane – Fonte – Wikipedia
Talvez Benito Soto e outros companheiros, certamente marujos com vasta experiência, tenham passado a atuar como mercenários contratados a bordo de alguma das naves de guerra da nossa recém-criada Força Naval. Não podemos esquecer que em 1823 nossos navios de guerra se bateram contra as naves lusitanas na costa baiana e na Baía de Todos os Santos, na luta pela consolidação de nossa Independência. Além disso, a maioria destes barcos brasileiros eram comandados por capitães oriundos principalmente da Inglaterra, sob o comando geral do inglês Thomas Alexander Cochrane. Então neste contexto, ter um espanhol a mais, ou a menos, não fazia muita diferença nos barcos brasileiros, contanto que ele fosse um bom marinheiro, soubesse usar com destreza a espada em uma das mãos e uma pistola de pederneira na outra.
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Quadro de Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830)-‘Vista do Morro de Santo Antonio” – Museu Nacional de Belas Artes – Fonte – http://viticodevagamundo.blogspot.com.br/2013/03/rio-de-janeiro-by-nicolas-antoine-taunay.html
De toda forma pelos registros da época vamos encontrar Benito Soto como um homem livre no Rio de Janeiro em novembro de 1827 e pronto para zarpar. 
O Motim 
Para vários pesquisadores, talvez pela presença de patrulhas navais inglesas, ou por uma cobiça maior que a desejada, o capitão do Defensor de Pedro não seguiu para a costa do atual enclave de Cabinda, mas para o Golfo da Guiné, especificamente na atual Gana, aonde chegou em 3 de janeiro de 1828.
Para alguns pesquisadores o capitão Pedro de Souza Mariz Sarmento pode ter saído da área angolana para ultrapassar os limites do seu comércio e ganhar mais dinheiro. Ele seguiu para uma região onde provavelmente poderia comprar escravos a uma taxa muito menor do que seria a regular[12]Sabemos que ele chegou a costa africana, conseguiu adquirir um número considerável de escravos, e, para completar a carga, baixou a terra para conseguir mais cativos. Foi aí o seu erro!
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Piratas levando barris rum para trocar por escravos. No caso do Defensores de Pedro os escravos seriam trocados por cachaça e outros produtos.
Benito Soto transmitiu a ideia de tomar pela força o Defensor de Pedro ao colega Miguel Ferreira e torná-lo um barco pirata. Ferreira, um natural da Galícia, não só concordou em se juntar ao seu conterrâneo, mas declarou que ele próprio estava pensando em uma empresa similar durante a viagem.
Sem o capitão a bordo Soto e Ferreira enfrentaram o resto da equipe com gritos de “Abaixo com os portugueses”. Eles, de forma incisiva deram cinco minutos para os membros da tripulação tomar uma decisão – ou se juntavam aos amotinados para assumir o navio, ou eles seriam colocados em um barco com um par de remos. Alguns membros da tripulação leais a Mariz Sarmento recusaram o convite e tiveram de remar por dez milhas náuticas (cerca de dezoito quilômetros e meio) até a costa africana. 
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Quandro que mostra uma típica luta no convés. No caso a cena mostra o combate no barco Triton pelo corsário francês Hasard (ex- Cartier ), sob o comando de Robert Surcouf . No caso do motim do Defensor de Pedro esse tipo de luta não foi necessário.
Defensor de Pedro foi então renomeado La Burla Negra, tendo sido pintado desta cor. Existem versões que falam de um triunvirato para gerenciar o motins, com Miguel Ferreira (Cognominado pelos tripulantes como o Mercúrio e que por alguma razão foi apontado inicialmente como líder), Benito Soto (O Barredo), e um certo Victor Saint-Cyr de Barbazan (O François)[13].
Logo Benito Soto começou a entender que para impor sua autoridade em meio à corja com que convivia, só sendo mais bruto que todos aqueles brutos. E logo alguém iria sentir a sua força.
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Miguel Ferreira, o Mercúrio, como chefe dos piratas passou a agir como verdadeiro tirano. O olho agudo de Soto viu que aquele que tinha adulações com ele no dia anterior, no dia seguinte o governaria com uma barra de ferro na mão. Ele não pensou duas vezes e quando Miguel estava em um forte sono inebriado pela cachaça, colocou uma pistola em sua cabeça e atirou nele.
Soto se desculpou com a tripulação, afirmando que aquela atitude era para sua proteção e fez uma promessa a todos; que como seu novo líder traria uma colheita de ouro nos seus futuros “trabalhos”, desde que obedecessem a ele. 
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Piratas montando um ardil para atacar um barco mercante em alto mar.
Soto foi unanimemente saudado pela equipe do barco como seu capitão e reivindicou a honra de ser o último pirata real do século XIX no Atlântico.
Mas logo também impôs mão de ferro entre os homens. Alguns dos franceses reclamaram que não podiam falar na língua deles. Consta que Soto entendia os marinheiros portugueses e brasileiros, mas não os franceses, que geraram ocasionais altercações. Desconfiava destes quando falavam em “Petit comité”.
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Fonte – http://www.aliexpress.com
O plano inicial foi cruzar o Atlântico para vender a carga de escravos no Caribe. Para este fim a pessoa necessária para o governo do barco era o brasileiro Manoel Antônio Rodrigues, que tinha prática de navegação e possuía a função de “piloto”[14]Entretanto eu acredito que, se essa venda realmente aconteceu, o fato pode ter ocorrido na costa brasileira, mais precisamente em algum ponto na costa do Nordeste[15].
Independente desta questão, após o objetivo da venda dos escravos haver sido pretensamente alcançado, os piratas partiram para a região da Ilha de Ascensão, no meio do Atlântico Sul, abrindo a possibilidade de atacar navios que viam das ricas terras da Índia e dobravam o Cabo da Boa Esperança em direção a Europa.
Logo uma presa surgiu no horizonte.
As Chacinas e Crueldades no Morning Star 
De todos os ataques o mais conhecido e que ensejou uma forte perseguição ao La Burla Negra foi o ataque ao barco inglês Morning Star, o primeiro que Benito Soto realizou. 
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Major William Logie
Seu capitão se chamava Thos Gibbs e havia partido de Colombo, no Ceilão, atual Sri Lanka, em 13 de dezembro de 1827, com uma carga de café, canela e alguns passageiros. O principal destes era o Major William Logie, um Representante Militar de Sua Majestade Jorge IV na Ceilão. Logie estava acompanhado de sua família, além de terem a companhia de um cirurgião assistente, dois civis, cerca de vinte soldados inválidos e três ou quatro de suas esposas e filhas. 
O navio cruzou o Cabo da Boa Esperança em 28 de janeiro de 1828 e avistou a Ilha de Ascenção ao amanhecer do dia 19 de fevereiro. Quando estavam a três milhas náuticas a oeste desta ilha, às sete da manhã, os tripulantes do Morning Star viram surgir no horizonte uma estranha nave negra. 
[The Sea: its stirring story of adventure, peril & heroism.]
Desenho do ataque do La Burla Negra contra o barco inglês Morning Star
O barco estava a seis ou sete milhas a popa, mas era rápido e logo diminuiu a distância. Os tripulantes perceberam que a nave escura era bem armada e trazia as cores britânicas. Quando este chegou a menos de meio quilômetro do Morning Star abriu fogo com seus canhões, destruindo velas e ferindo alguns marujos. Ao cruzar com a proa do barco inglês, os do barco negro içaram a bandeira argentina.
Não é a toa que vários autores apontaram o La Burla Negra, antigoDefensor de Pedro, como sendo de origem argentina, bem como o seu nefasto capitão ser cidadão argentino. Mas eu acredito que a utilização daquela bandeira tinha mais haver com a fama na época do cruzeiro do corsário La Argentina e também servia para, no caso de alguém conseguir se salvar, informar erroneamente as autoridades a origem do barco pirata pela bandeira desfraldada.
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Foto do Morning Star no final de sua carreira – Fonte – http://www.lineagekeeper.com/2009/05/pirate-attack-on-bark-star.html
Logo ambos os veleiros ficaram a menos de cinquenta metros e os piratas jogaram ganchos com cordas e conseguiram emparelhar os barcos. As testemunhas sobreviventes narraram que os piratas eram homens atléticos e estavam todos armados. Cada um deles carregava pelo menos duas pistolas, facas e uma espada longa. Seu vestuário era composto de uma espécie de jaqueta de algodão grosseiro, camisas abertas até o peito, barretes de lã vermelha e cintos largos de lona, ​​nas quais estavam as pistolas e as facas.
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Desenho representando a morte do capitão Thos Gibbs, do Morning Star.
Na sequência mataram o capitão do barco inglês e Benito Soto ordenou ao francês Barbazan que pilhasse o que pudesse e exterminasse todos os tripulantes a bordo. Ato contínuo os ganchos foram retirados e os barcos ficaram afastados por cerca de 100 metros. Barbazan e seus piratas começaram a matança com pistolas e espadas, pois os ingleses, mesmo em maior número, estavam completamente desarmados. Foi quando os atacantes deram conta da existência de mulheres. Estas ficaram trancadas na cabine do capitão.
Depois de prostrarem várias pessoas no convés, eles levaram a maioria dos sobreviventes para o porão principal e reservaram alguns para ajudar suas operações de pilhagem. Começaram a saquear o navio levando as velas, cordas, caixa de remédios, todos os materiais de navegação, dinheiro, sete pacotes de joias valiosas que faziam parte da carga e toda a bebida a bordo. Os piratas também saquearam os passageiros da maior parte de suas roupas, todo seu dinheiro e artigos valiosos que poderam encontrar. Durante duas horas trabalharam no saque, levando o botim em baleeiras até o La Burla Negra.
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Desenho representando o ataque as mulheres no Morning Star.
Depois de muito trabalharem no transporte do material pilhado, enquanto seu capitão apreciava este material, Barbazan decidiu relaxar com seu grupo no Morning Star. Primeiramente obrigaram o mordomo a lhes servir vinhos e comestíveis, onde as testemunhas afirmaram que os Piratas se entregaram aos prazeres da garrafa por algum tempo. Depois Barbazan ordenou que seus companheiros “tratassem bem as mulheres”, então começou o terror para elas. Os gritos destas indefesas mulheres foram ouvidos durante horas por aqueles que estavam presos no porão.
Antes de voltar para o navio pirata, já de noite, depois de doze horas donos do Morning StarBarbazan abriu buracos abaixo da linha d’água do veleiro, de modo que o barco afundaria e afogaria todos a bordo.
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Anne Smith Logie, uma das mulheres que foram atacadas no barco inglês.
No meio da madrugada as mulheres seviciadas conseguiram arrombar a porta da cabine do capitão e libertaram o resto da tripulação. Estes conseguiram parar o afundamento, retiraram depois de penosa atividade a água a bordo, montaram algumas poucas velas e foram se arrastando em direção a Inglaterra. Pensaram em se dirigir primeiramente até Recife, mas tiveram medo de cruzar com outros piratas.
Quase um mês depois, no dia 13 de março, eles encontraram o navio inglês Guildford retornando da China e receberam provisões, instrumentos de navegação e o seu capitão emprestou marinheiros experientes para ajudar. O Morning Star chegou a Londres em 18 de abril de 1828 e sua desgraça foi notícia em todo o Império Britânico.
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La Burla Negra se tornou famoso em toda parte do Oceano Atlântico e passou a ser caçado sem dó e nem piedade por todas as marinhas de guerra, principalmente a Royal Navy.
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Vida de pirata – O capitão pirata John Phillips obrigando um prisioneiro sob uma arma a beber álcool.
Mas se Benito Soto era muito cruel, verdadeiramente insano, também era muito inteligente. Pois após o ataque ao Morning Star ele e sua tripulação vão continuar atacando e destruindo barcos ingleses americanos, espanhóis e portugueses.
Sabe-se que Benito Soto destruiu quase uma dúzia de navios, incluindo a galera americana Topaz, que navegava de Calcutá, na Índia, para o porto americano de Boston. Benito Soto atacou, saqueou, tocou fogo no Topaz e não deixou sobreviventes. Foram atacados também os barcos Cassnock (Capitão Thompson), o New Prospect (Capitão Cleland), o Simbry  (Ou Sumbury) e o barco português Melinda, cujos sobreviventes da tripulação afirmaram conhecer alguns membros do La Burla Negra, quando este ainda era o Defensor de Pedro e estava ancorado no Rio de Janeiro em novembro de 1827[16].
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Fonte – https://br.pinterest.com/pin/263249540694857998/
Estes portugueses certamente foram uma rara exceção de sobrevivência, pois a ideia principal de Benito Soto para navegar por mais tempo era não deixar sobreviventes para narrar as autoridades os ataques. Inclusive quando Soto soube que Barbazan não obedeceu a sua ordem explícita para matar todos no Morning Star, preferindo se divertir com as mulheres e confiar que o barco inglês afundaria pelos furos provocados, recriminou duramente seu comandado e lhe disse um velho ditado pirata – “Os homens mortos não contam contos”.
Mas agora era tarde[17]!
O barco carregava os porões e bodegas cheias e Soto decidiu ir à Galícia para reparar o La Burla Negra e vender o saque.
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Luta em barco pirata – Fonte – http://www.rmg.co.uk/discover/explore/real-pirates-caribbean
Os piratas lidavam com a ideia de se aposentar, ou continuar com suas práticas. Em qualquer caso, qualquer decisão envolvia a venda dos bens. Assim, em 10 de abril de 1828, eles acabaram ancorando nas proximidades da praia de Beluso, perto de Pontevedra. Com a ajuda do tio materno de Soto, José Aboal, e pagando suborno, os piratas vendem grande parte do saque.
O movimento acabou levantando suspeitas, situação que lhes obrigou a deixar a região em direção ao porto de La Corunha. No caminho, em meio a uma situação particularmente desagradável, o La Burla Negra encontrou um pequeno barco que Soto saqueou e matou casualmente toda a tripulação – exceto por uma notável exceção: um indivíduo que havia dito a Soto que poderia encontrar o caminho mais rápido de volta a região de La Coruña, Espanha. Poucos dias depois, à vista da terra e depois de seguir o conselho desse homem, Soto, agradavelmente surpreendido, chamou-o para o olhar do Capitão:
“Amigo, esse é realmente o porto de La Coruña?”
“Sim, meu capitão”, respondeu o rapaz.
“Nesse caso”, Soto sorriu e disse, “você fez bem e agradeço seu serviço.”
Ele então atirou no homem morto e calmamente jogou seu corpo ao mar.
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Festa de piratas – Fonte – http://www.rmg.co.uk/discover/explore/real-pirates-caribbean
Seja esta história verdade, ou não, afirma-se que Benito Soto foi responsável por ferir e matar bem mais de 100 pessoas.
Mas em La Coruña as coisas também não correram positivamente. Mais subornos e mais obstáculos para se livrar do resto da mercadoria, para não mencionar os excessos cometidos por alguns marinheiros sob a influência do álcool, uma questão que resultou em algumas prisões. Eles então partiram para região de Gibraltar. 
O Fim Do Defensor de Pedro e Um Sortudo Pirata Brasileiro
Na noite de 9 de maio de 1828, Soto deu a ordem de encalhar propositalmente o La Burla Negra  ao sul da cidade de Cádiz, em uma praia chamada Santa Maria, na atual Comunidade Autónoma Andaluza, não muito longe de Gibraltar, até hoje uma colônia inglesa na entrada do Mar Mediterrâneo.
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Notícia de jornal carioca de 1828 informando a destruição do Defensor de Pedro na Espanha e a condenação de Benito Soto e seus asseclas.
Quatro meses depois do início desse frenesi de loucura, o antigo Defensor de Pedro, transformado em La Burla Negra, chegou ao seu fim.
Soto rapidamente organizou a dispensa do dinheiro para possíveis subornos e forneceu ordens aos marujos para que se misturassem entre as pessoas comuns sem atrair atenção. O capitão tentou se passar por um honesto navegador de um barco naufragado, junto com seus marinheiros. Sua história foi ouvida com simpatia e durante alguns dias tudo aconteceu conforme os planos.
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Desenho moderno representando Benito Soto sendo preso nas ruas de Gibraltar.
Mas a sorte desse grupo de piratas, com muito dinheiro para gastar nas bolsas, acabou. Os homens cometeram excessos e altercações de todos os tipos, foi quando surgiram suspeitas. Para completar a má sorte destes malfeitores, pesquisadores ingleses afirmam que, incrivelmente, um dos sobreviventes do Morning Star reconheceu um de seus algozes. A filosofia pirata de Benito Soto era, sob alguns aspectos, correta – Os homens mortos não contam histórias. Mas era impossível conseguir que uma pessoa que sobreviveu ao terrível assédio que foi vítima naquele barco inglês parasse de falar. Logo os tripulantes foram presos pelas autoridades espanholas.
Mas Soto e um membro da tripulação, que o pesquisador espanhol Marcos Iglesias aponta como sendo um brasileiro chamado “Dos Santos”, desapareceram instantaneamente de Cádiz[18].
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Gibraltar, quadro de 1836, de Thomas Roscoe – Fonte – http://gibraltar-intro.blogspot.com.br/2011/10/normal-0-false-false-false-en-gb-x-none_25.html
Conseguiram fugir para Gibraltar, onde finalmente os ingleses pegaram o pirata galego. Ainda segundo Marcos Iglesias o único que escapou foi o brasileiro “Dos Santos”, o único usuário do saque, até provar o contrário, que se aproveitou do butim. Já os ingleses afirmam que este fugitivo seria um francês[19].
Charles Ellms, um autor britânico da época, que escreveu vários livros sobre piratas, parece ter conhecido Benito Soto na sua prisão em Gibraltar e visitou-o várias vezes enquanto estava detido. Ellms nos diz que, ao longo de sua permanência na colônia o antigo capitão do La Burla Negra  se vestia com roupas caras, ostentando meias de seda, calças brancas e um vistoso casaco azul. Seu chapéu branco inglês, impecavelmente limpo e da melhor qualidade. Sua aparência, longe de ser a de um bandido, era muito mais a de um comerciante de Londres, dando a impressão de ser um homem agradável e honesto.
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General Sir George Don em 1830 – Fonte – http://gibraltar-intro.blogspot.com.br/2011/10/normal-0-false-false-false-en-gb-x-none_25.html
O antigo capitão foi julgado, considerado culpado de pirataria e condenado à morte. Enquanto ficou na prisão por um ano e meio, Benito Soto continuou a declarar sua inocência, reclamando constantemente sobre a injustiça que estava sendo vítima. Foi somente quando o governador de Gibraltar, o general Sir George Don, o sentenciou oficialmente a ser enforcado, esquartejado, sendo seus membros cortados e pendurados em ganchos, como aviso para todos os piratas da justiça que ali era feita. Só então Soto finalmente desistiu e admitiu sua culpa.
Ele fez uma confissão sem reservas de seus crimes e tornou-se verdadeiramente penitente. Soto entregou ao carcereiro a lâmina de uma navalha que ele escondeu entre as solas de seus sapatos para o propósito reconhecido de adicionar o suicídio como ato final de sua nojenta vida.
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Desenho representando o cadáver do famoso pirata capitão Kidd exibido após sua execução. No caso de Benito Soto o seu cadáver também foi exposto após ser enforcado, só que foi mostrado esquartejado.
Os que testemunharam sua execução no dia 25 de janeiro de 1830, entre eles Charles Ellms, parecem ter ficado impressionados com o seu comportamento, com sua calma e tranquilidade, enquanto ele avançava para facilitar as coisas para o carrasco. No final Soto parecia desejar o momento que seria colocado diante de seu Criador.
O pirata galego disse a plateia presente suas últimas palavras – Adeus, todos. Na época essas palavras criaram um grande debate em Gibraltar, pois foram ditas em bom português[20].
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Navio pirata perseguindo sua presa – Fonte – http://www.aliexpress.com
Apesar da região da Galícia fazer fronteira com o norte de Portugal e o idioma galego possuírem proximidade linguística com o português, as pessoas do lugar achavam difícil acreditar que um espanhol teria falado em português no momento da sua morte.
Mas os que eles não sabiam na época, ou não perceberam, era que talvez para o pirata Benito Soto àquelas palavras ditas na hora da morte não tivessem ligações com fatos ocorridos em terras Lusitanas, mas lhe traziam a memória algo importante que aconteceu em uma grande e ex-colônia de Portugal no Novo Mundo[21].

NOTAS

[1] Fato que efetivamente se consumou em 1834.
[2] Ver o livro O tráfico de escravos no Atlântico. Herbert S. Klein. FUNPEC Editora, 2004.
[3] Os espanhóis transportavam escravos para suas plantações de cana de açúcar em Cuba. Já a HMS North Star era uma corveta da Classe Atholl, construída pela Woolwich Dockyard  em 1824, com 28 bocas de fogo. Ver o site http://www.pbenyon.plus.com/18-1900/N/03276.html.
[4] Apesar de todas as buscas eu não consegui apurar o nome do proprietário do barco Defensor de Pedro. Já Pedro de Souza Mariz Sarmento é apontado em todas as fontes como o capitão do barco. Ele até pode ter sido o proprietário, mas sem confirmação.
[5] Mesmo sem conseguir encontrar qualquer informação que aponte, ou conteste, a razão desse pensamento, é provável que essa situação seja um indicativo que o capitão Mariz Sarmento não conseguiu uma projeção maior na Armada Nacional. Mas qual, ou quais, seriam a causa: Talvez a sua origem portuguesa de Pedro de Souza Mariz Sarmento não tenha lhe ajudado muito na nossa Marinha? Ou ocorreu algo na sua carreira naval que o marcou de forma negativa ao ponto de ser precocemente reformado? Ou porque para ele era bem mais lucrativo transportar escravos pelo Atlântico Sul, do que está a bordo de uma nave pertencente a uma força naval que lhe pagava pouco e da qual ele não tinha espaço para progredir?
[6] Algumas fontes apontam que o Defensor de Pedro era um barco argentino, o que é errado, já que sua denominação remete especificamente ao imperador Pedro I do Brasil.
[7] Sobre aspectos da partida e da carga do barco ver o jornal Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, edições de 20 (terça-feira) e 23 (sexta-feira) de novembro de 1827, respectivamente nas páginas 2 e 4. Já sobre os detalhes das negociações para a compra de escravos, ver o livro O tráfico de escravos no Atlântico. Herbert S. Klein. FUNPEC Editora, 2004.
[8] Esses corsários argentinos deram muito trabalho aos brasileiros durante a Guerra da Cisplatina.
[9] Aparentemente, conforme narro no texto, o cruzeiro do La Argentina teve uma tênue ligação com o caso do Defensor de Pedro, quando este se tornou um barco pirata. Ainda sobre o barco La Argentina ver Nuevos Documentos sobre el Crucero de La Argentina a través del Mundo, Volumen I. Autores: Rossi Belgrano, Alejandro y Mariana, Buenos Aires, 2016.
[10] Segundo as lendas antigas o herói troiano Teucer, filho de Telamon e meio-irmão do Ajax, fundador da cidade, chegou a Terra em Pontevedra. Já de acordo com a história, também foi nesse local onde os romanos fundaram o Ad duo ponte, o atual Pontevedra.
[11] Sobre o interessante texto de Marcos Iglesias, em espanhol, ver https://infinda.blogspot.com.br/2013/11/benito-soto-fulgor-y-muerte-de-un.html.
[12] Para alguns pesquisadores, pelo número de armas e pelo tipo de gente que comandava, é possível que o capitão Pedro de Souza Mariz Sarmento pretendesse retirar pela força o máximo de cativos que pudesse.
[13] Barbazan seria oriundo de uma aristocrática família francesa, sobrinho do marechal Laurent de Gouvion Saint-Cyr, chefe militar dos exércitos napoleônicos. Ver https://infinda.blogspot.com.br/2013/11/benito-soto-fulgor-y-muerte-de-un.html.
[14] No futuro este homem vai declarar que foi obrigado a permanecer com aquela súcia durante o tempo da viagem e pilhagens. E de alguma forma isso deve ter sido verdade, pois ele foi um dos poucos que foram capturados e não morreram na forca.
[15] Em minha opinião existe uma dúvida na história deste barco. Uma viagem entre a costa africana e o Caribe parece ser muito longa, principalmente quando sabemos que o tempo total de ação do La Burla Negra como nave pirata foi de apenas quatro meses. Apesar desta viagem não ser impossível e algumas fontes consultadas afirmarem que esta nave vendeu os escravos no Caribe, eu acredito que a venda se deu mesmo foi no Nordeste do Brasil. Pois, além de haverem brasileiros no La Burla Negra que certamente conheciam a costa nordestina, nesta região não faltavam quem quisesse comprar escravos africanos de forma rápida e discreta.
[16] Ver Ver o jornal A Gazeta de Lisboa, edição de sábado, 27 de fevereiro de 1830, pág. 3.
[17] Existem vários relatos do cruel ataque de Benito Soto ao barco inglês Morning Star. Ver o jornal A Gazeta de Lisboa, edição de sábado, 27 de fevereiro de 1830, pág. 3. É possível encontrar este jornal no endereço eletrônico https://books.google.com.br. Existem dois textos bem detalhados no jornal carioca  ver o jornal Diário Fluminense, Rio de Janeiro, edições de 15 (terça-feira) de julho de 1828, páginas 51 e 52 e do dia 10 (segunda-feira) de maio de 1830, nas páginas 411 e 412. Mas o primeiro destes textos erra o nome do barco atacado. Existem igualmente bons sites ingleses que trazem inclusive reprodução dos depoimentos dos sobreviventes – Ver http://www.scarboroughsmaritimeheritage.org.uk/article.php?article=297 e http://www.lineagekeeper.com/2009/05/pirate-attack-on-bark-star.html
[20] Ver o jornal A Gazeta de Lisboa, edição de sábado, 27 de fevereiro de 1830, pág. 3.
[21] Talvez o trabalho que reúne com mais precisão todos os eventos envolvendo Benito Soto foi escrito em 1892, pelo militar espanhol Joaquín Bautista Lazaga y Garay, que publicou o ensaio histórico intitulado “Los piratas del Defensor de Pedro. Extracto de las causas y proceso formados contra los piratas del bergantín brasileño Defensor de Pedro”.
https://tokdehistoria.com.br/2017/12/27/o-navio-pirata-brasileiro/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com