Seguidores

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O cangaço e Melquíades

Por Renato Casimiro
 
Amigos do Cariri Cangaço: logo, logo também estará saindo esta beleza de trabalho do Mestre Melquíades Pinto Paiva. Talvez, antes que Maio se acabe.

Renato Casimiro
Conselheiro Cariri Cangaço

CANGAÇO

Cangaço

A violência aplicada na colonização para tomar posse das terras indígenas, ainda pairava no ar seco do sertão.
Nos brejos perenes e em períodos de chuva, o interior nordestino tornava-se promissor e produzia muito, mas entre as fazendas havia muitos bandidos que ameaçavam esse progresso.
Os coronéis, que exploravam e oprimiam o povo, não admitiam as ações desses bandidos em seus territórios, tendo nos jagunços e na volante da polícia a segurança local.
Essa contradição de segurança despertou em homens bravios, o sentimento de injustiça, e o abuso de autoridade por parte dos coronéis gerou rixas, que fizeram surgir o cangaço no contexto histórico nordestino.
O cangaço tomou força no começo do século XX e os grupos atuavam em todo o sertão, foi um acontecimento social que produziu uma cultura ímpar, com indumentária, música, versos, dança e um jeito de ser bem característicos.
Luiz Gonzaga tomou emprestadas essas características e absorveu essa cultura para se lançar no cenário da música brasileira.
Os cangaceiros eram homens valentes que começaram a agir por conta própria, através das armas, desafiando grandes fazendeiros e cometendo agressões. Geralmente, os cangaceiros saíam da lida com o gado.
Eram vaqueiros habilidosos, que faziam as próprias roupas, caçavam e cozinhavam, tocavam o pé-de-bode (sanfona de oito baixos) em dias de festa, trabalhavam com couro, amansavam animais, desenvolvendo um estilo de vida miliciano e, apesar da vida criminosa, eram muito religiosos.
A astúcia e a ousadia nos ataques às fazendas e cidades era outra característica desses guerreiros, que quase sempre saíam vitoriosos das investidas, mas às vezes levavam desvantagem, por isso tinham uma vida cigana, de estado em estado, de fronteira em fronteira.
Vestiam-se com roupas de tecido grosso, ou até com gibão, calçavam alpercata, usavam chapéus de couro com abas largas e viradas para cima, gostavam de lenços no pescoço, de punhais compridos na cintura, cartucheiras atravessadas ao peito disputando espaço com as cangas, que eram as bolsas, cabaças e outros suportes, utilizados para transportar os objetos pessoais.
Pelo Nordeste havia vários grupos de cangaço, porém o mais famoso foi o de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, um pernambucano que desafiou todos os poderes políticos. Ficou conhecido pela bravura, a qual Luiz Gonzaga venerava e cantava.

Luiz Romão também é cultura Nordestina


Caros leitores. 
Pesquisando na internet encontrei um blog "Língua Grande Cultural" do amigo "Benjamin Almeida" que também posta artigos sobre a cultura e o cangaço brasileiro. No dia 26/04 encontrei  em seu blog uma postagem muito interessante de um homem soldado de polícia de Pernambuco, conhecido por "Luz Romão, seu nome na polícia se chamava "Luiz Ferreira" e lutou contra o cangaço  de Lampião. Ao término do cangaço, continuou na polícia. Foi injustiçado ao defender um companheiro de farda que estava sendo linchado por alguns homens.
Segue abaixo postagem completa copiada do blog Língua Grande Cultural, do amigo Benjamin Almeida.
“Sou um soldado da polícia Pernambucana. Sentei “praça” para perseguir “Lampião” e defender minha corporação, mais por ter defendido um companheiro  da “morte” hoje vivo lutando contra a prisão. Mas sempre sou o soldado Luiz Ferreira, conhecido por “Luiz Romão”(Luiz Romão na idade de 34 anos, mais ou menos).

Luiz Ferreira do Nascimento, que mais tarde seria reconhecido e imortalizado como “Luiz Romão”, nascido na cidade de Flores - PE, em 15 de Outubro 1916, filho de José Ferreira do Nascimento ( José Romão ) e Jacinta Gomes de Oliveira. Tendo em seu pai “José Romão”,  que já fazia parte da Força Volante da cidade de Flores-PE, seu maior exemplo, Luiz Ferreira do Nascimento  ingressou também na Força Volante aos “ 17 anos de idade” travando vários combates com “facções” do Bando de LAMPIÃO. Sendo extremamente corajoso e habilidoso quanto ao manuseio de armas e táticas da “Caatinga”, com o fim do  “Cangaço” no Sertão, foi escolhido como ORDENANÇA DIRETO DO CORONEL MANOEL NETO. Sentou praça em algumas cidades do Sertão como Flores, Ibimirim, Serra Talhada, Arcoverde, entre outras. Em todas as cidades em que “Luiz Romão” trabalhou como ORDENANÇA DIRETO DO CORONEL MANOEL NETO, fez imperar a Lei e a Ordem, pois não havia missão impossível para o mesmo. Por um lamentável episódio ocorrido em Arcoverde, quando lá destacava, estava de folga nesse dia, quando escuta alguém “gritar” por seu nome; tratava-se de uma mulher que em desespero falava que “havia alguns homens tentando matar um soldado...” Sem pensar duas vezes ele se dirige rapidamente para a cena do crime e se depara do que ele chamava de “linchamento”, o soldado estava sendo “golpeado” a faca e pauladas, por vários homens; outro soldado observava como que pasmo, pois não esboçava nenhuma reação. LUIZ ROMÃO DE ARMA EM PUNHO “GRITA”; “SOLTA O SOLDADO, SOLTA O SOLDADO!!!”, é quando dois homens enfurecidos vêem  ao seu encontro de “ peixeira” em punho e tenta esfaqueá-lo sem dar-lhe  chance de defesa, rápido e habilidoso como era “Luiz Romão” desfere um disparo que atinge um dos homens no pescoço, o outro, com um segundo disparo é atingido no coração, onde tiveram, os agressores, morte instantânea... Sendo “Luiz Romão” impelido pela “turba” a continuar os disparos, tombam mais dois homens mortos. O restante dos agressores foge. O soldado que estava sendo “linchado” escapa gravemente ferido. Por a justiça, na época não entender os detalhes do “fato” ocorrido, “Luiz Romão” se tornou foragido. Foi perseguido, cercado várias vezes, mesmo policial, teve que trocar “tiros“ com a POLÍCIA, pois preferia  a “morte” a ser preso. Mudou de cidade várias vezes, mudou de nome, mais por fim, foi INOCENTADO. “Luiz Romão fixou residência na cidade de Serra Talhada, TERRA DE “LAMPIÃO”, onde seus pais e alguns de seus irmãos já residiam, adotando assim, Serra Talhada, como sua cidade, onde viveu por mais de quarenta anos, tendo falecido no dia 7 de Abril de 2003. Toda a sua “história” será contada em um livro... Detalhes do seu convívio com o Cel. Manoel Neto, seus cercos, suas fuga, seus amigos e parentes; as mortes de seus irmãos e sua vingança sua luta para manter-se vivo e conseguir provar sua “INOCÊNCIA”. Com isso “HONRANDO” seu “NOME” de geração após geração.
O “livro” será lançado em 2012 e terá como tema: “LUIZ ROMÃO, para mim, MAIS VALENTE QUE “LAMPIÃO”.
REDAÇÃO:  Edson Luiz Ferreira Barros [Edson Romão] 
FONTE: LINGUA GRANDE CULTURAL

Extraído do blog do Neto

Morre em Mossoró, radialista Canindé Alves “O Tio do Sertão”

 
Notícia do dia 22 de Abril de 2012
 
Hoje, dia 21 de abril de 2012 (sábado), faleceu em Mossoró o radialista Canindé Alves, “O Tio do Sertão”, com 75 anos de idade, natural de Pau dos Ferros e radicado na terra de Santa Luzia.
Seu primeiro emprego foi em 1946, como Operador de Cinema, no extinto Cinema Pax, na Rua Cel Gurgel, Centro de Mossoró.
Em 22 de maio de 1995, ele ingressa na Rádio Tapuyo, com o programa “Semana em Revista”, ao lado do radialista Souza Luz.
Fez também na Rádio Libertadora, o programa “Chapéu de Palha, Chapéu de Couro”, e atualmente tinha um programa na Rádio Difusora de Mossoró.
Canindé também foi diretor da Rádio Tapuyo. Ele morreu em sua residência no bairro Nova Betânia. Canindé era muito estimado na cidade de Mossoró, onde tinha um grande ciclo de amizades. Sua morte tem repercutido bastante em toda a região Oeste, já que ele tinha muito conhecimento, principalmente nas cidades alcançadas pelas ondas das emissoras de rádio, onde ele trabalhou.
Fonte: Passando na Hora
Observação: Houve um equívoco na data em que Canindé Alves passou a ser radialista. Suponho que Canindé ingressou no rádio na década de 60, pois eu o conheci ainda garoto, ele e sua esposa, já falecida,  já trabalhavam na Rádio Tapuyo de Mossoró. Mas acredito que o equívoco tenha sido no momento da digitação.
José Mendes Pereira
Morreu radialista Canindé Alves
Por J. Belmont
 
Esta foi a última foto que bati de Canindé, quando me visitava no Hospital Wilson Rosado
Lamentamos profundamente informar aos nossos leitores e ouvintes da Rádio Difusora de Mossoró, o falecimento do grande companheiro radialista Canindé Alves, ocorrido nas primeiras horas da manhã de hoje, em Mossoró. Canindé apresentava todos os domingos o seu programa, que era a sua marca registrada:   Chapéu de Couro, Chapéu de Palha. O velório já está acontecendo no Cursilho, próximo a igreja São Paulo no bairro Nova Betânia. O sepultamento será amanhã, domingo ás 9hrs, no cemitério São Sebastião... Mais informações em instantes.
De: J Belmont.
http://erivanmorais.blogspot.com.br/2012/04/morreu-radialista-canidehtml

Velhas novidades - Raimundo Nonato de volta à praça

O Sebo Vermelho relança o livro do historiador Raimundo Nonato. 
Falecido em 1993, Nonato construiu sua obra a partir da análise de documentos e pesquisas em publicações da época.  Foi patrono da cadeira 38 da Academia Mossoroense de Letras, lançou 96 livros, dentre os quais também escreveu sobre "A Revolução de Trinta em Serra Negra" (1955)e o cangaceiro de Patu "Jesuíno Brilhante o cangaceiro romântico" (1970).
Originalmente publicado em 1955, o título traz preciosidades como o depoimento do cangaceiro Jararaca, capturado pela polícia mossoroense e morto na prisão, publicado no jornal O Mossoroense; e a transcrição do diário do coronel Antônio Gurgel, que registrou a experiência de ter sido refém do bando de Lampião por 16 dias. Também reproduz o suposto bilhete enviado por Lampião ao prefeito de Mossoró em junho de 1927; e traz uma fotografia da milícia formada para defender a cidade.
"Tudo aconteceu no dia 13 de junho, fim de tarde de uma segunda-feira chuvosa, quando Lampião entrou em Mossoró, perdeu dois cangaceiros e colecionou sua maior derrota", diz a obra, que ainda aponta como culpado o jagunço potiguar Massilon, "que fez a cachola de Virgolino, dizendo ser negócio atacar a terra de Santa Luzia".

"Lampião em Mossoró" traz narrativa cronológica, imagens históricas, poemas da época sobre o episódio, transcrição de documentos e referência de processos atribuídos ao bando de Virgolino Lampião Ferreira.

A edição apresentada pelo Sebo Vermelho é um fac-símile da segunda versão do livro de Nonato, de 1956. tem 325 páginas, e
custa R$ 40,00 (Quarenta reais) mais frete.  Contatos com Abimael Silva, através dos emails sebovermelho@yahoo.com.br ou argumento@supercabo.com.br.

Maiores informações: 
Blog Sebo Vermelho

- Cabra da peste - "GATO" O sanguinário cangaceiro

Por: Ivanildo Silveira

Sobre o cangaceiro "Gato" cai o estigma de ser o mais perverso dos homens a pisar as fileiras do cangaceirismo.
Grupo comandado por "Gato", ele é o 5º da esquerda para a direita. Começamos pelo currículo deste famoso cabra.
Participou do massacre a Brejão da Caatinga (BA), em 04 de julho de 1929, quando quatro soldados e um cabo da polícia baiana foram mortos;
Participou do assalto a Queimadas (BA), em 22 de dezembro de 1929, quando sete praças da polícia baiana foram barbaramente assassinados;
Participou da invasão a Mirandela, distrito de Pombal, no dia 25/12/1929, onde morreram dois civis e um soldado.
Era descendente dos Índios Pankararé, que habitam o Raso da Catarina.
Breve histórico: Cangaceiros descendentes de índio

No centro do Raso da Catarina, na tribo dos Pankararé, os índios admirados diante do impacto causado pela ostensividade e profusão de cores das vestimentas dos cangaceiros e mais ainda, fascinados pela exuberância dos aparentes cordões de ouro, dos anéis e alianças, sem contar os abarrotados bornais recheados de dinheiro, além das realizações dos permanentes bailes e tanto ainda pela liberdade do livre transitar, sem serem presos ás duras rotinas diárias, cederam aos encantos da nova vida e vergaram sobre seus corpos as vestimentas inconfundíveis, trazidas por Lampião.

Pankararés em festa -Foto de Alcivandes Santos Santana 
A esse mundo diferenciado, índios Pankararé entregaram-se em boa quantidade á vida do cangaço. Os mais famosos a participarem do cangaço foram: Gato, Inacinha, Antônia, Mourão, Mormaço, Catarina, Açúcar, Balão, Ana, Julinha, Lica e Joana.

Não se tem, na história do cangaço, outro homem que tenha sido tão sanguinário, cruel e frio, como foi esse cangaceiro. Além de Gato, duas irmãs dele seguiram os subgrupos do cangaço: Julinha, amante de Mané Revoltoso e Rosalina Maria da Conceição, que acompanhou Francisco do Nascimento, o cangaceiro "Mourão".

Não podemos perder de vista, a forma como cada cultura pensa e elabora determinados fatos históricos. Assim, a percepção que os indígenas têm da participação dos seus "parentes", no cangaço, em muito, difere-se das dos não-indígenas. Hoje, o cangaceiro “Gato” aparece nos relatos dos Pankararé do Raso da Catarina, como uma força espiritual, por eles chamados de “santo do Gato", com um lugar específico assegurado á sua memória.

Mourão além de ser cunhado, era também primo de Gato e acabou sendo morto por ele, depois que Mourão e Mormaço acabaram uma festa acontecida no Brejo do Burgo, onde deram alguns tiros, colocando a população em pavorosa fuga, sendo Gato cobrado por Lampião, para que desse conta da arruaça realizada pelos membros de sua família, resultando que a festa havia sido na casa de um dos fiéis coiteiros do cangaço.

Gato perseguiu os dois cangaceiros indo encontrá-los pegando água em um barreiro, localizado em um coito no Raso da Catarina. Gato fuzilou os dois sentenciados de morte.

Gato, por pouco, não matou a própria mãe por ela ter feito comentários sobre as constantes aparições dos cangaceiros nas proximidades de sua casa. O cangaceiro dirigiu-se até a casa da mãe, com a finalidade de cortar a sua língua, sendo dissuadido por alguns familiares do macabro intento, sem deixar de mostrar prá mãe dois facões que portava na cintura, dizendo:
"Este é o cala a boca corno, e este é o bateu cagô”
Sob o estigma da ferocidade de Gato recai, ainda, a morte de seis membros de sua família, em represália a um sumiço de bodes e cabras que estavam acontecendo e sendo creditado a Lampião.

Outra vez, Lampião entregou o caso a Gato, e ele perseguiu os envolvidos, indo encontrar em uma casa de farinha, Calixto Rufino Barbosa e Brás, ceifando friamente a vida dos dois e seguindo até a casa de Valério, na Fazenda Cerquinha, onde assassinou Luiz Major, seus filhos Silvino e Antônio e o sobrinho Inocêncio. Um duro castigo como pagamento de uma dívida sem provas.

Da chacina, saiu ferida uma criança que conseguiu fugir por intermédio de uma prima de Gato. O jovem faleceu recentemente e trazia na face a marca de um corte feito pela lâmina afiada do punhal do cangaceiro.

Gato foi casado com Antônia Pereira da Silva (ainda viva, com mais de 100 anos de idade). O casamento aconteceu nas Caraíbas, fazenda de Dona Sinhá, no Brejo do Burgo. Tempos depois, o cangaceiro carregou a índia Inacinha, prima de Antônia.

A cangaceira Antonia não aceitou os argumentos do marido quando ele propôs ficar com as duas e por ele foi espancada. Antônia fez queixa a Lampião, prometendo ele que iria resolver o problema, porém ela não esperou a resposta e, durante a noite, aproveitando a escuridão e sonolência dos amigos, deixou o coito onde estavam arranchados e fugiu, indo para a proteção de um tio, capitão reformado da polícia, que residia na margem do Rio São Francisco, pelo lado baiano, e com ele permaneceu até o término do cangaço.


Gato encontrou a morte quando invadiu a cidade de Piranhas/AL, quando tentava resgatar sua companheira Inacinha, baleada e presa, pela volante do Ten. João Bezerra. Gato saiu baleado desse tiroteio, e foi morrer dois ou três dias depois, sem ter a chance de ver o seu filho que Inacinha carregava no ventre, ao ser presa.
Inacinha, apesar do tiro que sofreu, conseguiu dar á luz seu filho e tempos depois retornou para Brejo do Burgo, onde se casou com Estevão Rufino Barbosa. A ex-cangaceira morreu em 1957, de câncer, depois de ter lutado contra a doença, sem ver resultados, fugiu do hospital e mandou um mensageiro ir avisar ao marido que queria morrer em casa. Estevão selou uma junta de burros e foi atender ao último pedido da companheira. Em casa, Inacinha sofreu por alguns dias até descansar, deixando a eterna lembrança, no coração do homem que por ela ainda verte suas lágrimas. Estevão, ainda vive no Brejo do Burgo

FONTE: - João de Sousa Lima co-autor do livro "AS CAATINGAS" organizado por Juracy Marques.
Abraços
Ivanildo Silveira
Natal-RN
Extraído do Lampião Aceso

Os Cangaceiros de Verdade.


Por: Marcos Nogueira

Ao me referir ao filme “Os Cangaceiros”, que no ano de 1953 foi levado às telas, algumas  lembranças relacionadas com essas figuras legendárias me vieram à memória. O épico nordestino mostrou Lampeão como um líder nato, justo com seus comandados, porém violento e insensível com os demais, aos quais aplicava suas próprias leis. Talvez no filme o tenham retratado muito mais fielmente do que se possa imaginar.
De fato Lampeão e seu bando levavam pavor aos ermos lugares dos sertões nordestinos, justificando a perseguição policial que lhe dedicaram os governos da maioria dos Estados daquela região.
Para minha surpresa durante a fase jornalística de meu tio e sogro Luiz Nogueira Filho, com 25 anos, entre seus artigos publicados no “O Serrinhense”, jornal de sua cidade natal, havia um datado de 12 de abril de 1931 cuja manchete “Inacreditável Indiferença”, demonstra claramente o que representava Lampeão e sua gente para a população da região.Vamos acompanhar alguns trechos dessa reportagem feita por quem testemunhou tais acontecimentos naquela época.

Lampeão (primeiro da esq.p/dir.) em Pombal - 1928

Em outro número desse mesmo periódico datado de 28 de dezembro de 1928, encontramos sob a manchete “Lampeão fazendo um raid automobilístico – suas declarações em Tucano” uma raríssima entrevista com Virgulino Ferreira, o Lampeão, tratado como “capitão”, na qual ele tenta explicar e até justificar a causa de sua marginalidade. Acompanhemos alguns trechos.
– Que idade tem o capitão?
- Tenho 28 anos de idade.
- Há quantos anos vive em luta?
- Há 14 anos.
- Quais os motivos que levaram o capitão a abraçar essa vida acidentada e perigosa?
- Questões de família e sobretudo o assassinato de meu pai. Meu pai não sabia manejar uma arma.
Possuía um criatório regular e isso despertou a cobiça de um vizinho nosso que não nos olhava com bons olhos. De uma feita quando meu pai reunia o gado foi atacado traiçoeiramente por esse vizinho. Assassinado meu pai fui para a companhia de um tio, que abandonei quando atingi a idade de 14 anos, para executar meu plano de vingança e de lá para cá não abandonei mais a vida do cangaço.”
Em outro trecho lhe é perguntado o porquê de haver se retirado de Pernambuco, ao que ele responde:
“- Eu lhe conto. Em Pernambuco até as folhas das árvores são minhas inimigas. Lá, quando eu dormia ou descansava embaixo de uma árvore, sempre trazia uma bala na agulha de minha carabina receando que caísse sobre mim alguma “folha inimiga”. (...) Eu sei que esta vida não é lá muito boa, mas se tenho sofrido, em compensação, tenho gozado bastante. E o que é a vida? Sofrer e gozar.”
O município de Tucano é vizinho ao de Serrinha, terra dos Carneiro Ribeiro e dos Nogueira, conhecidos por sua retidão, valentia e destemor. Talvez por essa razão a última pergunta feita pelo repórter ao capitão Virgulino.
     “- O capitão não receia que uma força lhe ataque inesperadamente nesta vila?
- Qual nada, em Serrinha o destacamento conta 9 praças e eles não virão até cá.”
Por alguma razão Virgulino, mesmo com seu bando em maior número, evitou entrar em Serrinha. Dando por encerrada a entrevista resta ao jornalista observar a retirada do bando e seu líder acomodados na carroceria de um caminhão que haviam “requisitado rodando pelas ruas desta vila entoando canções despreocupados, felizes, inteiramente alheios aos comentários da população que assistia a esse quadro inétido, como se fora um sonho irrealizável.” Palavras no repórter.
Uma outra entrevista julho de 1928 no jornal “O Povo”, trazia a seguinte manchete e chamada de primeira página: “A palavra de Lampeão – O monarca selvagem dos sertões” e complementava com a frase do chamado “jaguar bravio do nordeste” - “Não sou cangaceiro por maldade minha, mas pela maldade dos outros...” 
O Governo da Bahia na tentativa de conseguir conter Lampeão, chegou a publicar e distribuir anúncio de recompensa por sua captura, tal qual se fazia no velho oeste americano.
Há apenas uma contradição no filme, que assisti quando garoto, talvez para mostrar o cangaceiro como cowboy ao estilo americano, a grande quantidade de cavalos utilizados como montaria pelo grupo de Lampeão. Pela entrevista acima, o bando ao deixar a localidade em que se encontrava saiu sobre a carroceria de um velho caminhão, o que demonstra a ausência desses animais devido certamente à dificuldade em mantê-los, nessa região tão carente de pasto e água. Em nenhuma das fotos feitas por Benjamim Abraão, que se juntou ao bando para reportar e filmar com a permissão de seu líder, se vê tais montarias. No máximo em alguma oportunidade poderiam se valer de pequeno grupo de resistentes jegues, mas apenas para carregamento de mantimentos, um companheiro ou companheira adoentado além de outros apetrechos desses verdadeiros nômades sertanejos.
A morte de Lampião não foi por acaso, ele foi vítima de uma manobra policial que deu certo entre tantas outras frustradas. Como não era fácil de ser encontrado, quem ajudasse de alguma forma para sua localização, era sustentado a peso de muito dinheiro e sabia muito bem que se fosse descoberto e delatado, ou se fracassasse na tentativa de sua captura, pagaria bem caro com a vida sua e de seus familiares. Desse modo a chamada “Volante”, grupo composto de quase trinta homens que perseguia os cangaceiros, comandado por um certo tenente Bezerra, da Força Alagoana, conseguiu por meio de informantes da região cercar o bando de cangaceiros já reduzido, por deserção ou morte, na madrugada de 28 de julho de 1938, num lugar denominado de “Grota de Anjicos” em Sergipe.

A volante, alguns soldados eram disfarçados de cangaceiros.
Surpreendidos enquanto dormiam em mais um acampamento, onze cangaceiros foram mortos entre eles Lampeão e Maria Bonita. Os que conseguiram fugir se embrenharam na caatinga e viveram escondidos por vários anos. Alguns foram presos ou se entregaram à policia, outros mais tarde seriam descobertos já idosos e senis.

Presos ou anistiados. Cobra Verde, Vinte e Cinco, Peitica, Maria Jovina,
Pancada, Vila Nova, Santa Cruz e Barreira, (advogado?)

Como havia a necessidade de se apresentar provas definitivas de que o bando havia sido dizimado, o tenente Bezerra ordenou que as cabeças dos mortos fossem decepadas e colocadas em latas com sal para serem transportadas com a finalidade de exibi-las em praça pública. Por fim foram mumificadas e mantidas em exibição pública por vários anos no museu Nina Rodrigues, no prédio que ocupava no Centro Histórico da Cidade do Salvador, próximo ao Pelourinho. Em 1967 estive por lá e pude visualizar essa terrível exibição.
Nos dias de hoje tais exemplares macabros já não mais são vistos. Longa demanda jurídica de descendentes dos onze cangaceiros mortos, conseguiram que fossem definitivamente sepultadas com alguma dignidade, como merece qualquer ser humano.

Caros seguidores e visitantes.
Como podem constatar, recebi uma informação do Sr. Everton Francisco que vem enriquecer nossa publicação com uma preciosa e rara imagem do grupo de cangaceiros em seus cavalos, o que achava ser apenas uma leitura cinematográfica dessa prática. 


Ainda há quem afirme que o chefe do bando teria se evadido do local do massacre momentos antes da invasão e até que, por motivos políticos, a notícia do fim do bando de Lampeão teria sido forjada para evitar o desgaste moral da força policial que os perseguia. Esta parece ser uma longa polêmica em torno do assunto, com alguns tentando fazer da figura de Lampeão um herói enquanto que documentalmente por meio de jornais da época, como na reportagem de Luiz Nogueira Filho, foi apenas um fora da lei quadrilheiro que roubava, matava e se arvorava de justiceiro.
O tema Cangaceiros, Cangaço e o agreste do sertão, também serviu para que artistas nordestinos demonstrassem, cada um a seu modo e com o passar dos anos, a sua arte simples e expressiva.



Conforme nos informa o Sr. Everton, em suas montarias,da direita para a esquerda estão, Ezequiel e Lampeão.
Caros seguidores e visitantes.

Como podem constatar nos comentários, o Sr. Everton Francisco nos esclarece acerca do uso de cavalos pelos cangaceiros. Como não havia encontrado referência a essa prática, imaginei que se tratava apenas de uma leitura cinematográfica a caravana que circulava pelo sertão. Para melhor ilustrar o que disse nos fornece uma rara e bonita imagem do grupo em seus cavalos.

BEIJO DE LÍNGUA (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

                                                    
 BEIJO DE LÍNGUA

Coisa de juventude e até de brotinho com pelanca caindo, verdade é que tem gente que gosta de se lambuzar, de ser limpador de pia. Quanto no corpo não resta qualquer pureza, a safadeza jorra até pela boca.

Não tenho nada contra quem não conhece o significado nem a doçura saborosa de um beijo. Mas também não consigo entender qual o gosto de chupar saliva, micróbio e outras impurezas, e tudo com ânsia devastadora da boca do outro.

Se lembro do verdadeiro beijo logo repudio o beijo de língua. Há uma expectativa gostosa no corpo que diferencia tudo; há um calor sobre a pele que faz toda distinção; há um tremular do corpo que delimita o beijar.
Duvido que o beijo de língua anteceda a palavra de amor, o olhar de querer, o toque sensual, o abraço essencial. Duvido que esse beijo esguichado transmita aroma, absorva o calor labial, sinta no outro a ternura do toque.

O beijo, ainda que beijo de amor, é sagrada fruição. A aproximação da pele e o toque no lábio possuem o dom de ser a chave para se alcançar o íntimo. Feito magia, basta essa junção para que aquele que ama comece a se enraizar no outro.

Talvez não seja fácil de entender, mas tenha-se o exemplo da abelha na flor. Aquela, bicho temido, feroz, deixando vítimas onde repousa o lábio, talvez ame demais a flor e por isso mesmo a trata tão suavemente quando beija. Aproxima-se, faz o rasante, toca a pele, sente o néctar e vai embora feliz.

Eis também o exemplo do vento que ama e da folha entristecida. Mesmo que tenha o percurso de ventania, aproxima-se feito brisa da folha frágil e a toca, num beijo leve e sensual, fazendo-a estremecer levemente. E porque ama, e porque a quer, tem o cuidado de não abraçar demais e beijá-la avidamente, sob pena de vê-la despencar lá de cima.

Mas por que certas pessoas têm avidez vulcânica, avançam igual avalanches, se apossam tal qual redemoinho, lambem o que encontram pela frente como barragem que abre a comporta? E depois, qual o sabor do encontro, da passagem, da vivência daquele momento? E também qual o prazer na tresloucada avidez?

Ora, o beijo de língua, o beijo chupado, sugado, lambuzado, nada mais é do que fúria corporal que surge ao acaso. E surge assim, tão incidente e acidentalmente, que logo se depreende ser gesto sem nenhum significado amoroso maior, a não ser pela volúpia e pelo descomedimento erótico. Nesse desvão, a boca avança furiosa como se quisesse ferir inimigo em batalha.

Vivo repetindo que prefiro morder vagarosamente a maçã a abocanhá-la de vez, acho melhor saborear a uva do que mastigá-la com caroço e tudo, opto por experimentar o mel do que derramar a colmeia na boca, não duvido que prefiro sentir o chocolate morno nos lábios do que virar a xícara fumegante.

Quem quiser morda a casca melancia e deixe a carne, dilacere a laranja e deixe o sumo, prefira a castanha ao caju, queira engolir a semente e deixar a polpa, negue a pele da fruta gostosa roçando no lábio. Quem quiser pode até fazer sangrar o outro lábio, cuspir na boca e quebrar os dentes, enfiar língua goela adentro até engasgar. É tudo uma questão de beijar, saber beijar e aceitar o beijo.

Mas a pedra não gosta da violência da onda, pois de tanto açoitá-la vai lhe corroendo; a mata não gosta da ventania feroz, pois não há saraivada de ar que não deixe a natureza mais pobre; a terra não gosta de enxurrada, vez que a correnteza leva adiante todo os nutrientes que restam. E por que alguém gostaria não de ser beijado, mas tomado pela fúria de uma boca que lhe invade feito tufão?

Quem beija na boca assim não pode beijar um rosto, eis que a face possui maçãs. E toda fruta gosta de ser saboreada e não brutalmente devorada.


Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Um amor que ama (Poesia)

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

Um amor que ama


Todo amor que ama
da ausência reclama
do fogo e da chama
da esteira e da cama
do desejo que inflama

todo amor que ama
não se cansa de lembrar
daquele primeiro olhar
da paixão a torturar
do pedir pra namorar

todo amor que ama
constrói uma fortaleza
se impõe na sua firmeza
afasta a dor e a tristeza
traz para si a pureza

todo amor que ama
ama como nosso amor
dá a mão e colhe flor
tão forte nesse fervor
que o vento passou
e não levou...



Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Parabéns a Jairo Luiz !

Por: Manoel Severo
Cacau, Manoel Severo e Jairo Luiz
Hoje é um dia especial. É dia de abraçarmos ao amigo Jairo Luiz, pesquisador, escritor, turismólogo, Sócio da SBEC e Conselheiro Cariri Cangaço; que assume mais um grande desafio: A Secretaria de Turismo do município de Piranhas, em Alagoas. Quem conhece Jairo e sabe de sua competência, retidão e força de trabalho, sabe que o povo de Piranhas está de parabens. Grande abraço amigo Conselheiro, de toda família Cariri Cangaço.

Manoel Severo