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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA


Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.

franpelima@bol.com.br

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: anarquicolampiao@gmail.com.

Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 leidisilveira@gmail.com.

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SEU ATANÁSIO

Memória centenária do cangaço em Paripiranga, BA - Publicado em 2014

Por Kiko Monteiro

Dando continuidade aos registros de minha pisada junto com o confrade Narciso Dias por terras que ontem pertenciam a Paripiranga e hoje são de Adustina, tivemos mais uma grata surpresa ao sermos avisados da existência, eu diria até espetacular existência e presença de Seu Atanásio. Ele é mais uma testemunha ocular dos fatos lampiônicos no sertão baiano, e que para nossa sorte naqueles dias se encontrava em tratamento de saúde na casa da sua filha.

Ex-vaqueiro e coiteiro assumido, Atanásio Gregório dos Santos já não enxerga à onze anos. Precisamente quando completou os 102 anos de idade... Hoje aos "111" desafia o tempo e o vento, sim, o homem nasceu em 05 de fevereiro de 1902. Com prova documental.



Garantiu lembrar de ontem como se fosse ainda ontem. Conversamos com ele por pouco mais de uma hora. Não foi fácil montar o seu depoimento. É preciso intimidade com o ritmo e expressões e corruptelas da fala dos nossos vizinhos de estado. E seu Atanásio nem sempre partia do inicio ou finalizava um episódio. Alguns capítulos ficaram pela metade, portanto sem validade para nossa publicação. Não poderíamos exigir muito, os fatos conhecidos e vivenciados por este baiano fecharam com chave de ouro a nossa tão proveitosa visita.
Pra inicio de conversa, ele nos disse que não era filho de Paripiranga, é natural de Bebedouro (atual cidade baiana de Coronel João Sá que pertencia à Jeremoabo). 

Que na verdade foi um coiteiro de dupla função, pois serviu aos dois lados da força. 

Na época do cangaço ele já residia nos Jardins  mesmo lugarzinho em que vive amparado pelos filhos, (atualmente o Jardins é um povoado do município baiano Sitio do Quinto). 

O que facilitou sua amizade com os cabras de Lampião foi o fato de ser casado com uma prima do cangaceiro "Saracura". Assinala que o grupo que dominava a região era justamente o de Ângelo Roque "O Labarêda" um cangaceiro manso e chefe de Saracura.
Saracura não, o Benício, que era um excelente vaqueiro e conforme a história, um sertanejo que revoltou-se ao ver seu pai quase invertebrado numa rede por conta de uma surra que tomou de uma força volante.

Confiram a data de nascimento no RG do "menino"
Ressalta que manteve boa convivência com policiais. Todavia ao botar na balança quem mais apreciava, deixa claro a sua simpatia pelo modus operandi dos cabras de Lampião. Afirma que presenciou muito mais atrocidades dos "Macacos". Afinal de contas...
 - "O que mais tinha na policia era vagabundo a procura de comida e dinheiro. Era uma época de secas terríveis e estas pessoas não tinham opção. A única alternativa era pegar em armas para perseguir cangaceiros. Mas a única coisa que a maioria sabia fazer era pilhéria, covardia de bater em pobres coitados. Enfrentar os cangaceiros como devia de ser... Ah! foram poucos".
L.A. - Sabendo que havia violência de ambas as partes, por que o senhor preferia lidar com os cangaceiros do que com as Forças?
- "Vamos dizer assim: Eu não fazia nem cara feia, nem corpo mole. A volante exigia que eu matasse um bode dos meus, eu atendia, eles comiam, enchiam o bucho, nem sequer agradeciam e iam embora. Já os cangaceiros pediam a mesma coisa, porem ao se fartarem pagavam pelo animal abatido. Aliás, eu ganhava de cinco a dez mil réis por qualquer favor prestado a cabroeira".
 L.A. - O senhor chegou a frequentar algum baile com os cangaceiros? 
- "Fui dançar uma única vez um "pagode" convidado pelo próprio Ângelo Roque no Pinhão. Mas chegou uma força e teve tiroteio. Nesse dia não morreu ninguém, eu consegui fugir me arrastando pelo batente da choupana". 
 L.A. - E Lampião? 
- "Conheci demais, ele andou muito no sitio (Do quinto), aqui pelas matas de Paripiranga, também, tinha preferência pelos coitos na beira do rio Vaza Barris que corta a região".
  
A cada intervalo Seu Atanásio sempre repetia: 
"Tempo bom, meus amigos, é o de hoje".

Também pudera, o homem na condição de coiteiro, e de quem viu muito assombro e desmandos de toda a sorte no sertão pode fazer o comparativo.
Certa vez ele guiou a cabroeira até a casa de uma mulher chamada Josefa de Bispo, que morava com três filhos no lugar chamado Quixaba. Ao perceber a fome que estes passavam, os cabras ruins do sertão num momento de benevolência (heroismo) se compadeceram da situação e deram-lhes comida.
Mas certa feita esta mesma mulher achou de informar para a volante comandada pelo Sargento Balbino a localização do coito dos bandoleiros. O cangaceiro (cujo nome ele não recorda e prefere não sugerir ) Tomou conhecimento da desfeita e a visitou mais uma vez, desta vez sem piedade nem tampouco caridade.
- "Ele cortou a língua dela com uma faca de ponta para servir de exemplo à  todos que não soubessem manter silencio sobre suas presenças na região".
Pensam que o castigo lhe bastou? Dona Josefa, revoltada e sem a língua para caguetar, apontava com o dedo a direção do bando para a volante. Ligeiramente engraçado? No cangaço nada é cômico. Essas "apontadas" ocasionaram em tiroteio e como nova represália os cangaceiros intimidaram a velha de vez, matando dois dos seus filhos.
Recordou um outro trágico episódio envolvendo gente que desafiou o perigo, narrativas que ouviu dos próprios executores.
O jovem Manoel Caetano, “Manoelzinho” era caçador e certa vez deu de cara com um coito de cangaceiros que se preparavam para tratar uma vaca. Ao voltar para casa ao invés de segurar a novidade resolveu procurar o sargento Balbino e delatar o local. Novo embate com a policia... Não tinha outro, eles já sabiam quem os havia entregado e juraram vingança contra o Manoel. Tempos depois Manoelzinho que pensava que era invisível descia as margens do riacho sozinho e deu de cara com um cangaceiro que o cumprimentou pelo nome, Manoelzinho desconfiado perguntou quem ele era, e o cabra identificou-se como Soldado do governo".
O caçador nem imaginava quem seria a caça, achou de fazer a média com o volante e foi proseando:
- Pois um dia destes, botei vocês no rastro dos bandidos, não mataram porque não quiseram.
- É verdade, mataram ninguém não, tanto que estou aqui conversando com você, seu filho de uma p... vais morrer agora mesmo.
Outros cangaceiros saíram do mato. Manoelzinho se ajoelha clama que poupem sua vida pois tinha uma boa quantia de dinheiro pra lhes dar.
- Tenho pra vocês um conto e quietos réis...
Trato aparentemente aceito, mas o levaram e mantiveram-no prisioneiro no coito e no final da tarde o mataram a punhaladas e deixaram o cadáver exposto em outro ponto da mata. Paisanos que passavam pelo local ao se depararam como aquela cena medonha e fugiram esquecendo-se das montarias.
 Atanásio tira sem dificuldade mais coisas da sua centenária e incrível memória
Conta que conheceu "Mariquinha" prima de Maria Bonita e companheira de Ângelo Roque.

[Mariquinha também era natural de Jeremoabo e foi assassinada por Odilon Flor no lugar Riacho do Negro, (diz que na época o lugar também foi conhecido por Curral do Saco) juntamente com os cabras Pé-de-peba e Chofreu. Quem participou desta diligencia e está vivo para contar esta história é o ex volante Gerson Pionório entrevistado por João de Sousa Lima Leia Aqui ]
 
Cabeças dos cangaceiros Mariquinha, Chofreu e Pé-de-peba
Acervo Lampião Aceso
 
Cruzes dos cangaceiros mortos no Riacho do Negro
Foto: João de Sousa Lima
E que em 1938 após o massacre, descobriu que dois sobrinhos dele estavam junto com Lampião em Angico. Um deles recebeu o vulgo de "Zeppellim" e o outro não lembra, mas enfim, era o Pedrinho. Os dois conseguiram escapar. permaneceram escondidos durante seis meses na fazenda Caraíbas (Divisa entre Adustina e sitio do Quinto).
- "O Pedrinho tinha um ferimento de bala na coxa que ele tratou com farinha molhada".
 L.A. - E o senhor? não chegou a ser convidado para pegar em armas e acompanhar os cangaceiros? 
- "Com os meninos? Não, mas cheguei a marchar com Zé Rufino algumas vezes na persiga de cangaceiros". Recebi um fuzil e uma recomedação dele -"Se ver alguém não seja doido de atirar, espere minha ordem".
Seu Atanásio disse que também serviu como coiteiro do célebre Corisco.
 L.A. - E Dadá, o senhor lembra dela?
"A Dadá? Ah ali era uma “cabocla positiva”. Uma vez eu pesquei não sei quantos quilos de Jundiá pra ela e pra Corisco... Conheci o "Balão" e o Mariano quando ele era comandado pelo diabo Loiro... e outros e outros".

"Esse depoimento foi gravado no dia 2 de julho de 2013 e escrito dois meses depois. Antes de publica-lo eu precisava me certificar da condição atual do nosso entrevistado. Hoje, 07 de junho de 2014, mantive contato com o nosso amigo e anfitrião professor Salomão que foi buscar noticias junto a filha de Seu Atanásio e ela nos assegurou que: Aos "112 anos" o pai dela está vivendo seus últimos dias, meses, ou quem sabe até anos no rancho dele, lá no Sitio do Quinto".

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Utilização das informações deste blog.

VAI COPIAR? POR FAVOR, LEIA ABAIXO.

Este blog destina–se à discussão, preservação e divulgação da memória dos eventos do Cangaço, em todas as suas dimensões e amplitudes.
 

Estão inteiramente liberadas para uso em publicações as postagens de minha autoria neste blog, devendo–se primeiramente realizar a formal gentileza de citá–lo como referência primária.
 

Para citar qualquer uma das postagens em publicações escritas ou em outro blog, site na internet, siga–se a seguinte fórmula: SANTOS MONTEIRO, Alessandro. “NOME DA POSTAGEM”, in: “Lampião Aceso” site: www.lampiaoaceso.blogspot.com acessado em DATA.


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AS BARBAS DE OURO DO CAMARÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.208

ORIGINAL BAR DAS OSTRAS. (FOTO: historiadealagoas.com).
Diante de um prato bem ornado de camarão, não me custou relembrar em segundos, fatos relativos ao saboroso crustáceo. No trecho Pão de Açúcar – Piranhas, um pescador, foguinho acesso perto da canoa, dizia: “esse povo da cidade não sabe comer camarão. É tanto mistura que coloca que perde o gosto verdadeiro. Para sentir o sabor especial do camarão, basta torrá-lo na hora com, no máximo, uma pitada de sal e pronto”. Já em Belo Monte, estava misturado pelos pescadores, camarão, pitu e peixe num escabeche só. Como não estava analisando nem café e nem vinho, para que discutir com pescador? E se o camarão é sozinho ou acompanhado deixe a coisa para quem sabe fazer e limite-se à degustação do oferecimento.
Numa outra oportunidade tive a honra de ser convidado pelo saudoso mestre, Alberto Nepomuceno Agra, para comer camarão no Bar das Ostras. Fiquei surpreso, pois pensava que o lugar não mais existia. Tradição, referência gastronômica de Alagoas, o Bar das Ostras foi ponto de encontro da elite política e intelectual do estado durante o longo período entre 1950 e 2002. “O Bar de propriedade de Dona Oscarlina e Seu Pedro (pescador da lagoa Mundaú e comerciante de peixes e crustáceos no bairro da Levada), mudou de endereço três vezes, tendo fechado as portas de sua última sede no bairro de Jatiúca em 2002. Ao longo desses anos a fama da receita se expandiu, o sabor conservou-se inalterado e a receita se manteve em segredo”.
O local era muito sofisticado e ficava em uma rua próxima ao Estádio Rei Pelé. Mas o camarão seguia todo aquele ritual de  ingredientes, talvez desnecessário, corrigidos pelo pescador do rio São Francisco. Dessa forma fui encontrá-lo em um restaurante do Trapiche da Barra, bairro das rendeiras de Maceió. Camarão puro e no palito, compadre, uma verdadeira delícia que confirmava a primeira teoria.
O Brasil produz artificialmente o camarão em cerca de 50%. São absurdos de toneladas do bicho, mas infelizmente o preço do produto continua restrito a imperadores e imperatrizes como as sortudas baleias dos nossos mares. Não importa se eles são de água doce ou salgada, tipo e tamanho. Em todos os lugares visitados é servido, um para comer, os outros para cheirar.
Mas que o peste é gostoso é.

MISS BRASIL TEREZINHA MORANGO EM 1958

Foto do acervo do Lindomarcos Faustino

A Miss Brasil Teresinha Morango, quando esteve visitando a cidade de Mossoró em 1958, na foto vemos Dr. Duarte Filho e Joaquim Felício de Moura.


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JERÔNIMO DIX-HUIT ROSADO MAIA NA SUA FAZENDA EM GOVERNADOR DIX-SEPT ROSADO

Por José Mendes Pereira
Jerônimo Dix-huit Rosado Maia - Esta foto pertence ao acervo do Lindomarcos Faustino.

Dr. Jerônimo Dix-huit Rosado Maia é o décimo oitavo filho de Jerônimo Rosado Ribeiro de uma prole de 21. Este último nome (Maia) Dr. Jerônimo Dix-huit Rosado não mais usava, porque quando o Dr. Tarcísio Maia foi nomeado a governador do Rio Grande do Norte Dr. Jerônimo Dix-huit Rosado o apoiou, e o acordo foi feito que, ao término do seu mandato, Tarcísio Maia o apoiaria para governador do Estado. Mas, em vez de colocá-lo no governo do Rio Grande do Norte, Dr. Tarcísio Maia apoiou o Dr. Lavoisier Maia para substitui-lo. 

 Ex-governador do RN Tarcísio Maia.

Mas não ficou só aí, e assim que o governo do Dr. Lavoisier Maia terminou Dr. Dix-huit Rosado não foi apoiado por nenhum dos dois, levaram o nome de José Agripino Maia às urnas, sendo este filho do Tarcísio Maia, tendo sido eleito pelo povo, com uma grande maioria de votos válidos. E a partir daí, surgiu a grande rixa entre os primos (Maias), fazendo com que o Dr. Dix-huit Rosado evitasse de qualquer forma usar em documentos o sobrenome (Maia).

Jerônimo Rosado Ribeiro pai da prole.

Dix-huit Rosado foi prefeito 3 vezes de Mossoró e foi considerado o melhor administrador que o município já teve. A sua família é conhecida pela família numerada de Mossoró. 

Jerônimo Vingt-un Rosado Maia

O último filho era Dr. Jerônimo Vingt-un Rosado Maia. Era escritor, agrônomo e historiador. Faleceu em 2005. Era o 21º. filho e último da prole de 21. 

Dos homens abastados de Mossoró se não for Rosado com certeza é Escócia. Uma casa outra não tem um Rosado ou um Escócia, e se voltar pela mesma rua, ou tem um Rosado ou tem um Escócia. Mas infeliz seríamos se não fosse Rosado em Mossoró, estaríamos ainda na beira do rio Mossoró pescando.

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PAULO MEDEIROS GASTÃO UM CANGACEIRO ACADÊMICO VESTIDO DE NORDESTINIDADE

No dia 04 de março de 2019 morre Paulo Medeiros Gastão

Coluna Perfil da revista Nordeste21, edição de Maio 2011.

Paulo Medeiros Gastão é uma dessas personalidades cujos pensar e fazer estão impregnados de nordestinidade. Tem um olhar poético todo voltado para a estética do povo e da terra do Nordeste brasileiro. Sua mente está em constante movimento, criando e maturando ideias para tornar cada vez maior e mais bela a nação nordestina. Nascido no dia 14 de novembro de 1938, na cidade de Triunfo da Baixa Verde, PE, região serrana das mais bonitas do Nordeste, na fronteira com o estado da Paraíba, Paulo Gastão é, em outras palavras, um homem vestido da sabedoria genuinamente sertaneja e nordestina. Homem de invulgar espírito empreendedor, desde cedo demonstrou especial atenção e zelo às coisas da história e cultura do Nordeste.

Ainda nos tempos de estudante destacou- se como um dos mais aplicados e inteligentes alunos, até encontrar uma de suas mais ardentes paixões: A história do Cangaço.

Paulo Gastão, com dedicação extrema e paciência beneditina, própria de pesquisadores da melhor estirpe, adentra a largueza do mundo habitado pelas personagens do cangaço, desvenda os mistérios do fenômeno do cangaceirismo no Nordeste e se notabiliza como um dos mais ativos e determinados pesquisadores do Brasil sobre essa seara onde os eventos tempestuosos são protagonizados por homens e mulheres rudes. Ao enveredar pela temática do Cangaço, inexoravelmente, Gastão acabou deparando- se e se apaixonando por outras temáticas intrinsecamente interligadas, por exemplo: o messianismo, beatos e coronelismo etc.

Daí, mergulhado nesse caudalosorio, Gastão nadou a curtas braçadas na investigação de vidas extraordinárias como as de Antônio Conselheiro, Delmiro Gouveia e o Beato Zé Lourenço, tornando- se também um profundo pesquisador sobre Canudos, Pau de Colher e Caldeirão da Santa Cruz. Detentor de uma cultura vasta e plural, intelectual de bom calibre, Paulo Gastão foi o idealizador e primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC, entidade que reúne pesquisadores de todo o território nacional e que tem sua sede na cidade potiguar de Mossoró.

Também foi membro fundador da Fundação Vingt- un Rosado, de reconhecido trabalho em prol da perpetuação da memória e cultura nordestina, bem como da Academia Mossoroense de Letras. É sócio do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP), ex- professor da Universidade Regional do Rio Grande do Norte e da Escola de Agricultura de Mossoró (RN). Paulo Gastão, respeitado e admirado por quantos têm o prazer de conhecê- lo, ouvir suas conferências e sábias intervenções, tem participado, com assiduidade, fóruns acadêmicos e populares em todo o Brasil, de seminários, congressos e encontros sobre cinema e cangaço, sobre o Nordeste e seu universo. Entre os livros por ele escritos destacam- se “Viagem a Triunfo da Baixa Verde” – 2a edição (1995); e “Contribuição a uma bibliografia do cangaço” – 1845/1996 (1996).

"Homem de invulgar espírito empreendedor, desde cedo demonstrou especial atenção e zelo às coisas da história e cultura do Nordeste"


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CHICO PEREIRA" - O CANGACEIRO



Vingança no Sertão – Código de honra

O sertão nordestino sempre teve seus códigos de honra. Quando alguém ousava quebrar tais códigos, estaria assinando uma sentença de morte.

Sabemos que o sertanejo é homem forte e destemido, enfrentando as intempéries da seca, além de outras adversidades, mas capaz de superá-las, com coragem e altivez. O sertão é misterioso, implacável e não perdoa os erros ou quebra da palavra empenhada, que significa dizer: código principal da honra sertaneja.

O que aconteceu com Chico Pereira não poderia jamais ter sido diferente, mesmo tendo prometido ao pai moribundo, não participar ou promover qualquer tipo de vingança. Vingança aconteceu. E a história já fez o seu julgamento.

Vejamos, através da narração dos fatos, como tudo aconteceu.

O coronel João Pereira, morava na cidade de Nazarezinho, outrora distrito de Souza/PB, era casado com Dona Maria Egilda, proprietário da fazenda Jacu, possuía um barracão em Nazarezinho e tinha sete filhos, sendo quatro homens e três mulheres.

Uma noite, João Pereira, já prestes a fechar seu estabelecimento, viu entrarem três homens armados. Ao atendê-los, o coronel chamou a atenção deles sobre o uso de armas, quando na época havia uma proibição municipal que não permitia pessoas andarem armadas. Isso foi o suficiente para início de uma discussão seguida de tiroteio e facadas, pancadarias e gritaria, resultando em alguns mortos e outros feridos, inclusive o coronel João Pereira, o qual foi levado para sua casa na fazenda Jacu, distante cerca de cinco quilômetros.

Em consequência dos ferimentos graves, o coronel veio a falecer diante de sua família, suplicando aos filhos para que não se vingassem. "Vingança, NÃO." foram suas últimas palavras.

Há revolta do povo que não se conformava com a morte do coronel e pedia justiça, uma vez que a polícia apresentava nenhum interesse em prender o foragido Zé Dias, envolvido na chacina e protegido pelas autoridades locais.

Chico Pereira, o filho mais velho do coronel, com apenas vinte e dois anos de idade, se viu impelido pela comunidade a fazer justiça. Pressionado, sai à procura de Zé Dias que se refugiara nas serras da região. Chico Pereira encontra-o, prende-o e o leva à delegacia, sendo ovacionado pelo povo que queria ver Zé Dias preso.

Após alguns dias, o criminoso já se encontrava solto. A população revolta-se e passa a exigir vingança por parte do filho mais velho do coronel. Este, sem outra opção, se vê obrigado a não cumprir o pedido do pai moribundo e parte para a Vingança, como era costume na época, exigência da lei de honra, familiar do sertão. Depois de alguns dias, o criminoso é encontrado morto. Maria Egilda, finalmente ouve do filho a declaração que mais temia: "Mamãe, fizeram-me criminoso':

E foge, passando a viver clandestinamente nas matas da região. Para enfrentar a polícia e não ser preso cria um bando de cangaceiros.

Chico Pereira começa então sua saga que dura mais de seis anos, ora fugindo da polícia, ora comandando o bando. Mesmo diante de tantos problemas e da vida tumultuada, sua noiva, Jardelina, jovem adolescente de doze anos de idade, quando noivara, não hesitou em se casar com ele, aos quatorze, em cerimônia realizada por procuração. Foi esta a única saída possível e que lhe possibilitou ser pai de três filhos, os quais não chegaram a conhecê-lo, pois Jarda, como era conhecida, já estava viúva com apenas dezessete anos de idade.

Absolvido em júri popular, na Paraíba, Chico Pereira foi acusado de um crime que não cometeu no Rio Grande do Norte, onde nunca estivera. Apesar de contar com a proteção do Presidente do Estado da Paraíba, através de um irmão deste, foi levado para aquele estado e entregue à justiça potiguar.

Tempos depois, foi Chico Pereira transferido do presídio de Natal/RN para o interior do estado. Os policiais potiguares, devidamente instruídos, forjaram um capotamento do carro, massacraram-no e o matam sem a menor chance de defesa. Estava Chico Pereira com vinte e oito anos de idade. Sua mãe, dona Maria Egilda, nem sequer teve a sorte de enterrar o seu filho, pois preferiu seguir a orientação do advogado da família, Doutor João Café Filho ( futuro presidente do Brasil), que recomendou para ninguém da família pisar em terras do Estado vizinho sob pena de ser morta.

A tragédia continua com o assassinato inesperado e brutal de Aproniano, e a prematura morte de Abdon, que estuda medicina no Rio de Janeiro. Este, acometido de tuberculose, veio a falecer nos braços de sua mãe, na fazenda Jacu.

Vida longa teve o único sobrevivente, Abdias, que veio a falecer recentemente, no dia 28 de julho de 2004, com cento e três anos de idade. Dos três filhos de Chico Pereira, Raimundo formou-se engenheiro, no Recife; Francisco ordenou-se padre em Roma e o terceiro, Dagmar, é frade franciscano com nome de Frei Albano.

Chico Pereira foi um dos homens mais destemido do sertão paraibano, que levado pelas circunstâncias da época, fez "justiça" com as próprias mãos e tornou-se cangaceiro.

FONTES DE PESQUISA:
01- Vingança, Não - Autor: F. Pereira Nobrega (Filho de Chico Pereira);
02- A Vingança de Chico Pereira - Autor: João Dantas

Um abraço, obrigado pela leitura, e poste seus comentários, logo abaixo.
Ivanildo Silveira
Natal RN 


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LIVRO "LAMPIÃO NA PARAÍBA - NOTAS PARA A HISTÓRIA".


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SAUDADES DO TEMPO QUE A TV “ENGOLIU”.


A imagem pode conter: nuvem, céu e atividades ao ar livre

Todas as noites, às 18:00h. a amplificadora da Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro tocava Ave Maria de Schubert, logo após, o Monsenhor Raimundo Gurgel apresentava Janelas Abertas para o Mundo.

Às 20:00h. após A Voz do Brasil, ouvíamos pelo rádio Memphis comprado na Casa Lima, por Zé Carlos, Jerônimo, O herói do Sertão.

Texto:autor desconhecido
Foto: Capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro década de 70.


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