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sábado, 20 de junho de 2020

CANGACEIRO AOS 11 ANOS DE IDADE: CONHEÇA VOLTA SECA, O HOMEM DO BANDO DE LAMPIÃO

Por André Nogueira
Volta Seca em imagem rara - Divulgação/Youtube

O cangaceiro Volta Seca, um dos integrantes do bando de Lampião, ficou famoso por embates com algumas figuras famosas de sua época e, ainda, por imortalizar as canções dos bandoleiros em um LP, em 1957. Nascido no ano de 1918, em Saco Torto, com o nome de Antônio dos Santos, ele é um dos mais conhecidos entre os cangaceiros.

Volta Seca era o mais jovem do bando, ingressando o grupo com apenas 11 anos. A principal motivação da criança foi uma série de brigas que tinha com a madrasta e o desconforto da vida cotidiana, marcada inclusive pela violência física. Era responsável pelos cavalos do grupo e também pela limpeza de roupas e louças.

Às vezes, também ficava de tocaia na espionagem das cidades para localizar as rondas da polícia. Como era criança, aprontava brincadeiras que o levavam a ser punido por Lampião. Nunca foi plenamente alfabetizado, mas sabia o mínimo para conseguir escrever versos de canções que ficavam conhecidos por todo o bando, sendo a mais famosa Mulher Rendeira.

Volta Seca / Crédito: Divulgação/YouTube

Volta Seca era uma pessoa bastante astuta e corajosa, apesar da intensidade. Em mais de uma ocasião, foi levado por impulso a criar atritos com personalidades, nunca dando para trás. Uma das mais curiosas situações ocorreu em 1937, quando Jorge Amado publicou Capitães da Areia.

Na obra, o romancista retrata Volta Seca, na época já preso e fora do cangaço, como uma figura menor e não importante no bando. Na situação, ele jurou a um veículo de imprensa que faria Amado “engolir as páginas do jornal”. No entanto, a possível resposta de Amado é um mistério.

Volta Seca foi preso três vezes, sendo que nas duas primeiras ele conseguiu fugir e retornou às fileiras do crime. Porém, numa ocasião em Bonfim, ele foi pego por populares e acabou sendo preso novamente. Em julgamento, foi sentenciado a 145 anos de regime fechado por seus crimes no cangaço. Porém, com o tempo, sua pena foi sendo reduzida até chegar a 20 anos.

O cangaceiro na prisão / Crédito: Divulgação/YouTube

Cumpriu à sentença no presídio de Bonfim-Ba, sendo transferido para Bahia, em 1936. Na prisão, aprendeu a ler perfeitamente e a trabalhar como alfaiate. No local era conhecido pelo bom comportando e pelas canções que criava.

Com isso, nos anos 1950, ele recebeu um indulto presidencial de Getúlio Vargas e foi solto. Pouco depois, colaborou na produção do filme O Cangaceiro, de Lima Barreto, com informações do estilo de vida dos bandoleiros.

Em 1957, finalmente, ele lançou o LP As cantigas de Lampião, com músicas famosas do mundo cangaceiro, muitas delas criadas por ele, como Mulher Rendeira e Acorda Maria Bonita. Na época, também passou a viver tranquilamente, em busca de trabalho, chegando a casar. Em 1982, acabou se mudando para Minas Gerais.

Volta Seca em Estrela Dalva / Crédito: Divulgação/YouTube

Em 1995, o antigo cangaceiro concedeu uma entrevista a Globo. Durante o episódio, revelou viver “modestamente numa casinha do centro da cidade”, com uma aposentadoria de 300 reais. Entre a pesca e as brigas de galo, Volta Seca viveu até os 78 anos, quando foi vítima de um enfisema pulmonar e morreu em 1997, em Estrela Dalva, Minas Gerais.

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VOLTA SECA NO RIO A VERDADE SOBRE LAMPEÃO E SEU BANDO DE CANGACEIROS.


Transcrição: Geraldo Antônio de Souza Júnior

O ex-bandoleiro dirá tudo o que sabe – Uma lição para os moços, a história do homem que foi condenado a mais de cem anos de prisão – Agora, Volta Seca é uma pessoa como outra qualquer – A infância desassistida caminha para o vício e para o crime.

- Vim contar a verdade sobre minha vida e sobre Lampeão – declarou, ontem perante uma dezena de repórteres e fotógrafos, ao desembarcar no aeroporto do Gaeão, o ex-cangaceiro “Volta Seca”.

Depois de cumprir 20 anos de cadeia, na penitenciária da Bahia, Antônio dos Santos (Este é o seu nome verdadeiro), transformou-se num homem de bem, apto a gozar do convívio da sociedade. Durante o longo segregamento, a que a mentalidade mudou por completo e ele aprendeu que a vida do seu semelhante é um dom precioso que os homens não devem destruir pelos imperativos das leis humanas e divinas.

FRUTOS DE UMA ÉPOCA

Volta Seca foi nada mais nada menos que o fruto de uma época de fome e desespero. Aos 11 anos já era bandido, triste condição de uma infância desamparada e desassistida que caminha, quase sempre, para o vício e para o crime. Na idade em que se vai à escola. Volta Seca entrou para o cangaço, aprendeu a matar seus semelhantes, a cumprir ordens sanguinárias sem titubear, e incutiram-lhe no espírito toda sorte de venenos capazes de aniquilar os bons sentimentos e extirpar do coração as raízes da honestidade instintiva de todo ser humano.

NÃO ERA MAU

Mas, Volta Seca não era mau. Apenas foi desencaminhado. E um dia, fugiu do bando e deixou-se prender, num local distante do interior nordestino, por fazendeiros que o entregaram à polícia.

Foi condenado, antes dos vinte anos, a mais de um século de prisão.

RECUPERAÇÃO MORAL

No dia em que resolveu abandonar o grupo de Virgulino “Lampeão”, que os cantadores nordestinos chamavam “de Rei do Cangaço e Interventor do Sertão”, deu o grande passo para a sua recuperação moral e social.

CONTARÁ SUA VIDA

Hoje em dia, ele não gosta de falar no que praticou, no começo da vida, mas a história de suas aventuras, de sua iniciação no mundo hediondo do cangaceirismo, dos seus erros e dos seus crimes será contada dentro de breve dias aos leitores dos “Diários Associados”, que promoveram a sua viagem da Bahia ao Rio, em páginas fortes, porque Volta Seca não encobrirá a verdade para parecer melhor do que foi.

UMA LIÇÃO

Há, também na história do famoso ex-bandido, uma lição para os moços: o drama da sua regeneração, na cadeia onde ele sentia despertar na alma a vontade de ser bom e digno, igual aos seus semelhantes.

Fora do ambiente maléfico em que passou os primeiros anos da juventude, tornou-se uma pessoa diferente, como prova de que a substância mais íntima dos homens pode ser implantada e desviada de suas direções naturais, mas, na primeira oportunidade, reage avassaladoramente e estabelece espírito as bases de uma nova linha de conduta afastada às condições interiores.

GRATIDÃO

Volta Seca, desde o primeiro dia de sua libertação, graças a um indulto concedido pelo presidente Getúlio Vargas que só pensava em vir ao Rio, agradecer o seu perdão, o que para ele representava um verdadeiro milagre:

- Dê no que der – comunicou aos repórteres – não volto para a Bahia enquanto não apertar a mão do dr. Getúlio Vargas.

Continua...

VOLTA SECA, HOMEM PACÍFICO, AGORA SÓ TEM UMA MANIA: BRIGA DE GALO. EI-LO (FOTO) COM O SEU CAMPEÃO PREFERIDO.
Matéria do Jornal Diário da Noite (Rio de Janeiro/RJ) – Ano: 1952.


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AINDA SOBRE MARANDUBA !



Muito bom e pertinente às comemorações dos 10 anos do blog e 80 anos do mestre Alcino. As citações e fontes estão impecáveis. Maranduba é uma mostra de como a soberba e o orgulho são danosos. Essa disputa de Ego entre Mane Neto e Liberato, além da subestima à Lampião, poderiam ter terminado de maneira bem mais trágica... Não sei como as forças pernambucanas e baianas não entraram em confronto entre eles... meus parabéns mestre Severo! Forte abraço!!

Dênis Carvalho, pesquisador, membro da Academia Brasileira de Letras e Artes de Cangaço; Floresta, Pernambuco


Li ontem à noite, com toda atenção, seu belo trabalho sobre o “Fogo do Maranduba”. Trata-se de extensa e bem elaborada pesquisa, com a citação das fontes, inclusive complementada com notas e fragmentos de pesquisa oral recolhida diretamente no palco da luta. Já havia lido vários relatos dessa grande e mortal batalha entre Lampião e a volante dos nazarenos e a força baiana. Seu relato, porém, foi além do esperado, conseguindo ser mais preciso e bem documentado, inclusive com fotografias atuais e de época. Consegue transportar o leitor para o centro dos acontecimentos, dando um toque de realidade que vai dos primórdios até o desfecho da luta. O trabalho também evidencia, de modo contundente, que as forças legais padeciam de graves deficiências de comando, estratégia e tática que lhe impediam, neste e em outros importantes reecontros da luta contra o cangaceirismo, de usar a vantagem numérica, assim como do melhor armamento e fartura de munições para superar o adversário astucioso e valente. A batalha de Maranduba mostrou que não bastava a valentia individual do comandante de volante para vencer Lampião e seus asseclas. Foi uma pena as mortes desnecessárias de tantos heróicos policiais e volantes para nada. Parabéns, mestre Severo!
Dr Herton Cabral, pesquisador do cangaço e nordeste
Fortaleza, Ceará


Meu amigo, que preciosidade! Todo o encadeamento dos episódios que culminaram na (no?). Maranduba. Inclusive as entrelinhas da dissimulação de forças políticas, familiares em tênue equilíbrio. Esse texto merece publicação com livro. Sugiro ao amigo dividí-lo em capítulos e publica-lo. Texto extremamente necessário ao pesquisador realmente comprometido.
Leandro Cardoso Fernandes, pesquisador e escritor, Conselheiro Cariri Cangaço;Teresina, Piauí.

Junho de 2020


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FOTO HISTÓRICA

Por Leandro Cardoso

Compartilhando essa foto com os amigo do Cariri Cangaço:

O casal Napoleão Franco da Cruz Neves (em cujas terras Lampião assume em 1922 a chefia do bando) e Donana Neves do Jardim (Ana Pereira Neves, irmã de Né da Carnaúba). 

Ao lado dela de terno escuro um dos vários Pereiras que se homiziaram em suas terras (segundo Dr. Napoleão estava se recuperando de ferimentos sofridos nas pelejas do Pajeú). 

Atrás dele, Joaquim Pereira Neves, pai do Dr. Napoleão Tavares Neves. A foto é de 1920.

Leandro Cardoso Fernandes
Conselheiro Cariri Cangaço


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A SAGA DO CANGAÇO


Este livro constitui-se no resultado do Concurso Literário "TV MARIA BONITA" sobre essa grande saga nordestina que foi o Cangaço. Não somente cangaceiros fazem parte dela, mas soldados e oficiais de Volantes, nome dado às forças policiais governamentais que combatiam a criminalidade nos sertões do Nordeste brasileiro. Basta clicar no link abaixo:


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ARROGANTEMENTE FRÁGIL

*Rangel Alves da Costa

Tudo, mas tudo mesmo, pode ser resumido nestes três elementos: pedra, grão e pó. E a ventania levando o pó para dizer que a pedra, por maior rochedo que tivesse sido, de repente pouca valia terá no destino.
A pedra representa a força, o poder, a dureza, a firmeza. A pedra é sólida, segura, forte. Do mesmo modo é o ser humano nas suas normais capacidades de existência. Tão firme que parece inquebrantável.
O grão, ou a pedra que é quebrada ou partida em pedaços menores, representa a fragilidade, a fraqueza, a inconsistência, a desestabilidade. O grão, fruto daquilo que já foi rochedo, demonstra bem a validade daquela famosa frase: Tudo que é sólido se desmancha no ar.
Igualmente a pedra, de repente o ser humano começa a se fragilizar, a perder sua força e potência, a sentir diminuída sua solidez, para se transformar apenas em pedaços dentro de um mesmo ser. Passa a sentir mais de perto o coração, a mente, o organismo.
O pó, a poeira ou a partícula, representa o resto do resto do resto. O grão, com o passar do tempo, vai se consumindo de tal modo que logo começa a se esfacelar, a perder o resto de suas forças, a não ter forças para manter sobre si aquilo que lhe permite existir. E então será apenas pó.
O ser humano caminha pelo mesmo percurso, eis que possui esse mesmo destino da pedra ao pó. A frase bíblica deixa induvidoso: Tu és pó e ao pó há de retornar. O rochedo, a pedra intacta, nada mais é que um acúmulo de pó sedimentado. Bem assim o homem, um acúmulo de grãos que se diluirão.
O homem é pedra, é forte, é impávido, e tudo suporta nesta condição. Mas o tempo vai corroendo o rochedo, a idade vai desabando a rocha, e não demora muito para que uma junção de pedras frágeis tome o seu corpo. E a corrosão da pedra leva ao desgaste de tudo, até que o que resta do corpo se transforme em pó.
O pó, pois, é a metáfora de muito que há na vida: o resto, o nada, o adeus, a fragilidade absoluta, a partida, o voo forçado, a despedida, a morte, a submissão ao querer daquilo que nenhum valor havia sido dado noutros tempos, quando ainda era rochedo: a ventania.


A ventania, neste percurso da pedra ao grão, passa a significar a força oculta, a energia do relegado, o que se manteve em silêncio até o momento do grito. A pedra pouca importância dava à sua existência, mas ela, a ventania, continuava passando e sentindo sua aspereza.
A pedra, certamente por se achar indestrutível, nem percebia que a ventania levava minúsculos grãos toda vez que por ali passava. Ao ser quebrada, repartida, fragilizada, sentiu que a ventania se transformava em poeira depois de cada passagem. E  que o tempo se encarregaria de entregar ao seu sopro aquilo que restou de cada grão.
Urge indagar: quem é mais forte, quem tem mais poder, quem é mais consistente, será o rochedo ou a ventania? Ou de outra forma perguntar: a pedra bruta não é infinitamente mais presente e poderosa que o vento? Alguém poderia dizer que a pedra possui existência, enquanto a ventania é apenas aparentemente percebida.
Neste caso, logicamente que a pedra seria muito mais forte e poderosa que qualquer ventania ou vendaval. Ainda que a força do vento chegue destruidora e vá arrastando a pedra para longe, ainda assim esta terá a mesma força e aparência onde for deixada.
Contudo, ouso afirmar que as forças e as fragilidades são iguais. Nem a pedra supera a ventania nem a ventania se sobrepõe ao rochedo. E é muito simples explicar. A ventania some no horizonte e num caminho que não haverá mais volta, e levando consigo o último pó daquilo que um dia foi rochedo.
E ali também o pó do homem. Não aquele que jaz sob a terra, assim transformado de seu rochedo, mas como metáfora de sua extrema fragilidade, de sua força de pluma em meio a todas as forças. Principalmente as forças do tempo, da idade, dos limites da vida.
E também o frágil peso do ser diante da Criação. Pois tudo infinitamente pó. Tudo eternamente na poeira do que passou. E tudo passa, tudo se transforma, do tudo ao nada.
Eis que és pó e ao pó haverás de tornar. Mas não significa o sumiço na poeira dos tempos, no esquecimento na terra sob a terra. As realizações humanas não passam como o próprio homem.
Um imenso rochedo será avistado do pó juntado ao pó, do grão unido ao grão, pelo que o homem fez na sua passagem terrena. E tal pedra será tão inquebrantável quanto a própria memória.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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19/06: DIA DO CINEMA NACIONAL.


Por Kydelmir Dantas

Em Nova Floresta-PB, nos idos de 1959 o sr. Hamilton Marinho teve a coragem de investir numa sala de projeções de filmes... Daí nasceu o CINE ÍRIS. Ponto de encontro de toda uma geração que crescia com a cidade, e que funcionou até o início da década de 1980. 


Muitos começaram seus namoros ali, no escurinho do cinema, ou ali consolidaram seus casamentos. Outros tiveram conhecimentos de outros mundos e da arte cênica naquele espaço. Sei de uma coisa... Até hoje sou cinéfilo por ter sentado naqueles bancos e assistidos tantas películas dos diversos gêneros cinematográficos. (Menos filmes de terror e pornôs - que não gosto até hoje). 

SALVE O CINEMA NACIONAL!


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LAMPIÃO QUE AMAVA SERGIPE


Osvaldo Abreu (Abreu)
Alto (com L) da Compadecida , 18 de junho de 2020
1. Foto de Benjamin Abraão, colorizada por Rubens Antônio

A volante de Sergipe era de mentirinha,
O rei do cangaço era amigo do governador.
Lampião em Sergipe tranquilidade tinha.
Virgolino era respeitado senhor.
Eronides Carvalho boa amizade mantinha.
Lampião em Sergipe não era temor.
O povo receava a chegada de outras volantes:
Da Bahia, a de Zé Rufino;
De Pernambuco, a de Mané Neto, amantes
Da violência e não viviam rindo.
Na batalha com Lampião eles não cantem
Foi sempre vencedor Virgolino.
Em Sergipe, Lampião venceu em Maranduba;
Em Pernambuco, vitória em Serra Grande.
Não se nega a valentia da volante. Curva
A covardia inexistia, de coragem e avante.
Homens de mãos calejadas e sem luvas.
Preparados à luta a cada instante.
Foram tantos e tantos mortos e feridos,
Lampião cantou o hino da vitória.
A notícia se espalhou no sertão sofrido,
Volante e cangaceiros são do Brasil história,
De um Nordeste tão esquecido.
O Nordeste é outro agora.
Não é â toa que João Ferreira,
Irmão de Lampião, veio residir em Propriá,
Aqui ele podia lembrar da mulher rendeira,
Havia tranquilidade no lugar.
Tranquilamente aos sábados ia à feira,
Volante não vinha incomodar.
Em 1927, Lampião chegou em Propriá,
Saudade do irmão, que há muito não via,
Na fazenda Jundiaí foi se encontrar.
Houve, choro, lembrança e alegria.
Virgolino nunca ia se entregar.
Não seria Antônio Silvino que se rendia.
A fazenda era do coronel Hercílio Britto,
Próspero fazendeiro, coiteiro de Lampião,
Virgolino chegou calmo, sem alarido,
Sem receio da volante, sem medo da traição.
 beira do São Francisco era o abrigo.
O atual proprietário é doutor João.
João Alves, de Sergipe, ex-governador.
Lampião em Sergipe não foi traído
O Estado não era perseguidor,
Por Antônio Caixeiro ele era recebido,
Pai de Eronides Carvalho. Lampião tinha valor
De um homem amigo e querido.
Lampião amava o pequeno Estado,
Sua filha Expedita em Sergipe nasceu,
Virgolino era considerado e respeitado.
O capitão em Sergipe morreu.
28 de julho em Angico há missa ao finado,
Lampião adotou Sergipe como solo seu.

2. Rio São Francisco na cidade de Propriá -SE.


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CANGAÇO - A VINGANÇA DE ZÉ BAIANO

Por Aderbal Nogueira


Cangaço - A vingança de Zé Baiano O ex-volante Teófilo Pires narra uma história de muito sangue e sofrimento no sertão no tempo do cangaço. Link desse vídeo: https://youtu.be/mc_fTEIvkSQ

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GRANDES PERSONALIDADES DO NORDESTE

José Bezerra Lima Irmão autor de “Lampião a Raposa das Caatingas”.
Escritores José Bezerra Lima Irmão e João de Sousa Lima

A cada dia, amadurece a consciência do povo nordestino sobre a importância de valorizar a sua história e a sua cultura.

Mais um passo nesse sentido está sendo dado pela Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), que acaba de lançar a série de “lives” Grandes Personalidades do Nordeste, compreendendo um conjunto de sete biografias de figuras do porte de Padre Cícero, Zumbi dos Palmares e Nísia Floresta. A primeira edição foi sobre Lampião, e o palestrante foi o pesquisador Frederico Pernambucano de Mello.

Escritor e pesquisador do cangaço Frederico Pernambucano de Mello

Para julgar quem foi Lampião, é preciso situá-lo nas circunstâncias do seu tempo e no meio em que ele viveu. Costumo dizer que não se pode analisar o passado com os olhos do presente.

Lampião não foi nem herói, nem bandido. Foi um homem do seu tempo – uma época em que o sertão era dominado por chefes políticos e fazendeiros que se impunham em seus territórios com o apoio de jagunços. Quanto mais jagunços, mais respeitado era o ilustre cidadão que fazia questão de ser chamado de coronel.

Hoje, pessoas bem situadas na vida, que já nasceram no conforto da “civilização”, costumam referir-se aos cangaceiros como homens “fora da lei”. Mas, como fora da lei?

Onde estava a lei? Lei só havia – se é que havia – nas grandes cidades, onde imperava todo tipo de patifaria. Nos sertões ermos, nas caatingas bravias, sem estradas, sem escolas, assoladas pelas secas e pela fome, só havia duas profissões: ser cangaceiro ou ser soldado para ir atrás de cangaceiro. Aliás, não havia soldados – havia “contratados” ou “cachimbos”, homens rudes, analfabetos, valentões, muitos deles criminosos, que o governo arregimentava “para manter a ordem”. 

Ocorre que esses homens eram chefiados por um deles, igualmente rude e geralmente analfabeto. Os contratos eram “de boca”. E não havia delegados de carreira: os delegados eram “homens de confiança” do chefe político. Nas questões, tinha razão quem fosse amigo do chefe político, mesmo que estivesse errado. Quem estava com o “partido de cima” (no poder), não pagava impostos e podia fazer e acontecer, pois tinha a proteção das autoridades. Mas quem estava “por baixo” tinha de pagar imposto em dobro, e mesmo quando era vítima de alguma ofensa não tinha a quem recorrer, só a Deus.

O Cabeleira

Cangaceiros como Cabeleira e Antônio Silvino e valentões como Adolfo Meia Noite e Cassimiro Honório foram homens que se revoltaram com aquela situação de descaso e abandono, e já que não havia lei nem governo, decidiram impor a sua autoridade no sertão. O código do sertanejo levava a sério as “questões de honra”. Matar por vingança não era crime. O indivíduo que sofresse uma afronta e se vingasse “não era homem”. A mulher e os próprios filhos se envergonhavam dele.

O cangaceiro Antonio Silvino conversando com o presidente Getúlio Vargas

O Nordeste na virada do século XIX para o século XX era o mundo dos coronéis, dos jagunços, dos cangaceiros, dos beatos milagreiros, das secas e das epidemias. Como não havia lei nem autoridade, as questões políticas, as questões pela posse da terra e as questões de honra eram resolvidas pelo ronco do bacamarte. Todo homem no sertão tinha uma arma. O sertanejo ia para a roça com uma enxada num ombro e a espingarda no outro.

O cangaceiro Quinta-Feira já morto à esquerda.

Houve cangaceiros que eram homens ruins por índole. Outros entraram no cangaço devido às circunstâncias. O cangaceiro Quinta-Feira, que morreu em Angico, era um homem honrado, ex-vaqueiro da família Malta, de Alagoas. Tornou-se cangaceiro por razões que levariam qualquer homem de vergonha a também fazer o mesmo. É só ler a história dele. 

O cangaceiro Luiz Pedro

O mesmo aconteceu com Luís Pedro. Ezequiel, irmão de Lampião, talvez nunca tenha atirado em ninguém. O apelido dele era “Ponto Fino”, mas não porque tivesse boa pontaria, mas porque quando se juntou ao irmão tinha morrido um cabra chamado Ponto Fino (que morreu queimado no povoado Capim, atual cidade de Olivença, em Alagoas), e Ezequiel herdou o apelido.

Lampião e seu irmão Ezequiel Ferreira

Lampião era violento, como a polícia também era violenta – ocorre que a polícia matava, torturava e estuprava, mas agia “em nome da lei”, muitos soldados eram bandidos de farda. Evidentemente, houve policiais íntegros, como, por exemplo, Higino José Belarmino, Domingos Dultra, Manoel Campos de Menezes, Liberato de Carvalho, Aníbal Vicente Ferreira. Agora, houve chefes de volantes como José Lucena em Alagoas e Douradinho na Bahia, diante dos quais Lampião foi um anjinho.

Capitão Aníbal Vicente Ferreira

Naquele mundo primitivo, em que o poder público se omitia em face do sofrimento do sertanejo pobre, desassistido de tudo, entregue à própria sorte, espoliado pelo latifundiário, que sugava as suas forças, conspurcava sua família, sua mulher, suas filhas, sem ter o pobre a quem se queixar, Lampião era visto pelos “coiteiros” como um homem que fazia o que todos gostariam de fazer, mas não tinham coragem.

Zé Lucena responsável pela morte de José Ferreira da Silva (dos Santos) pai dos Ferreiras

Lampião não maltratava os pobres. Pelo contrário, pagava em dobro e em triplo o que consumia, uma galinha, uma vaca, ou um bode que abatia. Quem se via em aperreios eram os grandes proprietários, homens arrogantes, intocáveis, que se consideravam donos do mundo, que matavam e mandavam matar. O sertanejo pobre, que vivia explorado pelos grandes fazendeiros, admirava Lampião porque ele, um filho de almocreve, um zé-ninguém, era capaz de fazer os poderosos coronéis baixar a crista, submetendo-se aos seus caprichos. Acusam Lampião de se aliar aos coronéis. Lampião não se aliava aos coronéis. Ele os humilhava. Seus acordos com os coronéis tinham cláusulas unilaterais, que ele ditava e revogava quando e como queria. Os todo-poderosos do sertão tinham de atender aos seus bilhetinhos se não quisessem ver suas fazendas virar cinzas.

Não é possível mudar a história. O que aconteceu aconteceu. Precisamos assumir os fatos e fenômenos que fazem parte da nossa história, sem juízos de valor contaminados de hipocrisia.

Enviado por José Bezerra Lima Irmão autor do livro "Lampião a Raposa das Caatingas".
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