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segunda-feira, 18 de agosto de 2025

LAMPIÃO: Um tiro no pé (dos historiadores).

Por Raul Menelu Mascarenhas.

Em São José do Belmonte, existe um platô na serra do Catolé, com um conjunto de cavernas em que Virgulino Lampião, rei dos cangaceiros, recorreu como esconderijo natural para se recuperar do balaço que levou no pé, precisamente no calcanhar, que discute-se até hoje, se foi o direito ou o esquerdo. Isso se dera no ano 1924 em refrega com soldados. A história é implacável com quem escreve sobre ela. Nesse episódio temos algumas versões, isso só para mostrar o quanto é confuso diversos casos envolvendo Lampião.

Irei citar aqui nesse artiguete algumas que li em livros de historiadores. Iniciando com "SERROTE PRETO, LAMPIÃO  seus sequazes" escrito por Rodrigues de Carvalho,  onde na página 224 da segunda edição diz textualmente:

"...estava a quadrilha encafuada havia mais ou menos um mês. Esconderam-se a fim de tratar do ferimento que Lampião recebera no pé esquerdo, em tiroteio travado com elementos da familia Gomes Jurubeba. Ou mais precisamente com Odilon Flor, o seu inimigo mais acirrado dentre os membros da aguerrida familía." 

Este episódio, vem sendo descrito pelo autor, a respeito do cerco feito pelo famoso Sargento Quelé, sob as ordens do comandante da volante, o tenente Chico de Oliveira. Mais detalhes os amigos poderão consultar a partir da página 222 da referida edição. Um relato bem contado, pois o informante tinha sido o famigerado e perverso cangaceiro do bando de Lampião chamado Marcos Passarinho. Marcos esclareceu detalhes muito importantes em que o próprio Clementino ignorava completamente. Como por exemplo o fato de Lampião esteve na iminência de ser preso por se entregar ao sargento.

O tenente Oliveira era homem destemido, porém sem nenhuma experiência do que eram os  cangaceiros e sua periculosidade. E além desse desconhecimento de causa, a impetuosidade e a imprudência nele apontava para um desastre à vista, o que reclamou o sargento Quelé quando de retorno à cidade de Princesa, quando ao caudilho José Pereira, prefeito e organizador da campanha de repressão ao banditismo, pediu-lhe que não o designasse mais para servir em uma volante com o tenente impetuoso e suicida, em diligências daquela natureza. O relato vai até a página 232.

Esse meu primeiro relato, deixo bem registrado, fala da recuperação do tiro levado no calcanhar e que tal tiro fora desferido por Odilon Flor, em outra ocasião, tratado como autor genérico.

VAMOS AGORA ao segundo relato encontrado. Este refere-se ao tiro no calcanhar de Lampião. Lembre-se que no primeiro relato, o tiro foi desferido por Odilon ou um dos nazarenos e na serra do Catolé, Lampião estava se recuperando do tiro e quando fugiu do ataque do sargento Quelé, na fuga, não suportou e a ferida veio abrir-se com o esforço:

Nos relata o livro RAPOSA DAS CAATINGAS, do Confrade José Bezerra Lima Irmão, na página 144 sob o título "Lampião é ferido na lagoa do Vieira e escapa por pouco na serra das panelas" que o mesmo se encontra com quatro membros que estavam desgarrados da volante de Teophanes Ferraz, que fizera um chamamento geral para todas as volantes perseguidoras de Lampião fossem lhe dar apoio, pois este se encontrava na região. O relato do livro diz:

"O major Teófanes Ferraz Torres, que vinha no rastro do bando, desconfiou que Lampião estivesse acoitado por ali, Despachou mensageiros para Vila Bela e outras cidades, solicitando reforços. Logo acorreram as volantes dos tenentes Alencar e Ibraim e do sargento Clementino Quelé.

No dia 23 de março de 1924, enquanto aguardava a volta de Livino, Lampião, acompanhado dos cabras Moitinha e Juriti, foi pegar uns mantimentos encomendados a um coiteiro nas proximidades da Lagoa do Vieira, no lado paraibano, ao leste da Pedra do Reino. No caminho, por volta das 10 horas, toparam com quatro integrantes da volante de Teófanes Torres que tinham se desgarrado da tropa - o anspeçada Manoel Amaro de Sousa e os soldados Manoel Gomes de Sá (Sinhozinho), Antônio Brás do Nascimento (Antônio Pequeno) e João Demétrio Soares. Na troca de tiros, uma bala acertou a cabeça do burro em que Lampião estava montado e o animal ao cair prendeu a perna direita de Lampião sob o seu corpo. O anspeçada Manoel Amaro foi atingido por um tiro no rosto. Os outros, vendo que Lampião estava com uma pema presa sob o cavalo, rodearam pelo mato a fim de matá-lo. Percebendo a manobra, Juriti mandou que Moitinha ficasse atirando para lhe dar cobertura e foi correndo socorrer Lampião. Moitinha, atirando de ponto, feriu gravemente dois soldados, pondo os três para correr. Juriti chegou sem perigo aonde Lampião se encontrava, pegou o burro pelo pescoço e virou-o para o outro lado.

Quando os outros cangaceiros escutaram os tiros, vieram em socorro e, tomando todas as precauções para não deixar pistas, levaram Lampião para um esconderijo à distância de uma légua, num trecho da Serra das Panelas, ao lado do Barro, no lado pernambucano, município de Vila Bela. O local foi escolhido pelo cangaceiro Cicero Costa, que era daquela região, assegurando que ali não havia risco de serem descobertos. O coito ficava num lugar onde há vários "caldeirões" de pedras acompanhando uma grota que separa a Serra das Panelas da Serra do Caldeirão.

Como Lampiảo não podia correr, pois a perna estava ferida, Juriti saiu arrastando-o... O lugar é conhecido como Grota do Caldeirão.

Cicero Costa de Lacerda tinha prática na aplicação de primeiros socorros, sendo considerado o "médico" do bando - sabia até extrair bala e costurar ferimentos. Com uma faca, rasgou a calça de Lampião, para descobrir a perna ferida, e fez uma avaliação preliminar.

- Esse horrô de sangue na perma não é nada, foi só um arranhão O qui me preocupa mermo é o firimento no carcanhá. Isso foi bala de fuzi. E eu acho qui o pé tá turcido..."

CONCLUSÃO: Alguns historiadores afirmam que o tiro teria sido dado peio sargento Quelé ou pelo major Teófanes Torres. Porém a participação de Quelé foi no tiroteio, alguns dias depois, na Serra das Panelas, onde Lampião se recuperava de ferimento recebido na Lagoa do Vieira (Lampião não foi ferido na Serra das Panelas - nesta apenas houve agravamento do referido ferimento. Quanto ao major Teófanes Torres, este sequer se encontrava na área por ocasião dos dois tiroteios - chegou depois.

Escrever sobre o cangaço é um desafio. Quando cruzamos informações dos diversos livros, vemos nesse caldo de informações, imprecisões. Recentemente em pesquisas comparatórias* dos escritos, verificamos inconsistências gritantes que são repetidas por diversos autores, levando sem maldade, ao erro, estudantes da história do cangaço.

* Vejam meu ebook 

LAMPIÃO NA JARAMATAIA E BORDA DA MATA, que pode ser copiado gratuitamente no Grupo Ebook Cangaço e Nordeste
https://www.facebook.com/groups/443128926284815/
Eis um "ebook brochura" com poucas páginas, sobre as famosas fotos de Eronides de Carvalho onde exploro nos intrincados labirintos da história do cangaço, com cruzamento de informações que temos à nossa disposição. Desta vez, além de argumentações básicas, procurei usar uma das ferramentas mais poderosas da história, a cronologia. Para isso usei os documentos oficiais, livros e blogs, conforme bibliografia no final da brochura virtual, que pode ser lida em 20 minutos.

https://meneleu.blogspot.com/2019/12/lampiao-um-tiro-no-pe-dos-historiadores.html

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LAMPIÃO ESTUDADO POR REVOLUCIONÁRIOS

 Por Raul Meneleu Mascarenhas

Lampião foi muito estudado pela esquerda revolucionária que lutou contra a ditadura militar de 1964. 
Voltando mais atrás (1924-1927) vemos que o líder da Coluna Prestes (Luís Carlos Prestes) não se deu conta do poder de Lampião, que era respeitado por sua valentia e estratégicas campanhas paramilitares. 

Virgulino Ferreira, o maior bandoleiro nordestino, e porque não dizer, guerrilheiro e estrategista, onde até mesmo guerrilheiros da história brasileira moderna, digamos assim, incentivaram seus comandados a lerem sobre Lampião, como foi o caso do líder guerrilheiro Carlos Marighella, que lutou contra a ditadura implantada em 1964 no Brasil. (Marighella - O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo - Mário Magalhães - pág. 396)

Um dos livros indicados por Joaquim Câmara Ferreira, líder dirigente do Partido Comunista Brasileiro, ao famoso guerrilheiro Marighella, era o livro "As táticas de guerra dos cangaceiros" de Christina Matta Machado. 

Marighella admirava o homem que tinha lutado em seis estados nordestinos e que as táticas de colunas móveis, elaboradas por Lampião, tinha resistido por quase 20 anos."

"Temos que ser como Lampião", repetia o guerrilheiro.

Virgulino Ferreira, o Lampião, foi visto muito antes de nascer, pelos profetas que pregavam no sertão. Seu destino na história já estava traçado. Lampião foi visto em sonhos por Antônio Conselheiro, onde evocou uma profecia anunciando para depois de sua morte a vinda de um guerreiro que se caracterizaria pela sua extrema piedade, mas também pelo furor e sucesso, e que zombaria das forças governamentais.

Em seu livro "Lampião, senhor do sertão : vidas e mortes de um cangaceiro", Elise Grunspan-Jasmin registra na pág. 76 que o major Optato Gueiros, tinha contratado, na Bahia, um velho de mais de 60 anos, muito alto e forte ainda, que andou algum tempo com as Forças Volantes, na região de Canudos, o qual tinha sido um dos generais de Antônio Conselheiro, conhecido por Pedrão. Este usou a "mesma tática de Lampião contra as tropas atacantes, dai a demora da conquista do bastião do Conselheiro. [...]" 

O mesmo fanático de Canudos citou uma "profecia" de António Conselheiro, que julgava ele, referir-se a Lampião, a qual declarava que dentro de 50 anos, haveria de surgir nos sertões dos Estados do Nordeste, um homem que, apesar de ser religioso, seria cangaceiro e daria o que fazer a muitos governos.

Para o ex-jagunço de Antônio Conselheiro, Pedrão, não tinha dúvida de que essa profecia se referia a Lampião, porque "justamente ele encarnava a figura do cangaceiro piedoso, cristão, respeitando a tradição católica". 

E realmente Lampião em qualquer lugar que estivesse, no mato, tirava do bornal a imagem. improvisava um altar e passava a rezar e em algumas vezes, até o dia inteiro, no exercício piedoso de suas orações. Por isso concluiu o jagunço Pedrão: "... é que, o cangaceiro religioso de que falava o Conselheiro. só poderia ser Lampião"

E foi assim que nasceu Lampião, debaixo de numerosas profecias ligadas ao seu nascimento que anunciaram sua vida de maldades, bondades, de religiosidades e de seu estranho destino. Em versos de cordel citados nas feiras, o destino de Lampião era o de ser bandido e que até mesmo a parteira que "o pegou" tinha profetizado que êle seria lembrado por seus feitos, por gerações e gerações.

Perdeu Luís Carlos Prestes a oportunidade de cooptar o famigerado bandoleiro para lutar contra a opressão dos corruptos da primeira República brasileira pois já tínhamos muitos nodestinos no Rio de Janeiro e São Paulo. 

A Coluna Prestes, liderada por Luís Carlos Prestes entre 1924 e 1927, foi um movimento revolucionário tenentista que fez campanha contra diversas estruturas e práticas da Primeira República Brasileira (1889-1930). Seus principais alvos foram:

Oligarquia e Coronelismo:  
   Combateu o domínio das oligarquias agrárias, especialmente de São Paulo e Minas Gerais, que controlavam o poder por meio do sistema "café com leite". Denunciavam o coronelismo, no qual grandes proprietários rurais manipulavam votos e mantinham o poder local através de violência e clientelismo. A grande marcha protestava contra:

Fraudes Eleitorais:  
   Protestavam contra a falta de democracia real, marcada por eleições fraudulentas, voto de cabresto e exclusão política da população rural e das classes menos favorecidas.

Desigualdades Sociais e Econômicas:  
   Criticavam a concentração de terras, a pobreza no campo e a negligência do governo com questões sociais, como educação, saúde e direitos trabalhistas.

Centralização do Poder:  
   Questionavam a exclusão política de outras regiões do Brasil, que não tinham representação efetiva no governo federal, dominado pelas elites paulistas e mineiras.

Corrupção e Autoritarismo:  
   Denunciavam a corrupção endêmica e a falta de transparência nas instituições públicas, além da repressão violenta a movimentos populares.

Embora a Coluna Prestes não tenha alcançado seus objetivos imediatos, sua resistência (com uma marcha de mais de 25 mil km pelo interior do Brasil) expôs as fissuras do sistema oligárquico e inspirou futuras mobilizações, como a Revolução de 1930, que pôs fim à Primeira República. O movimento também simbolizou a luta por justiça social e reformas democráticas na história do Brasil.

Dessa forma, Luís Carlos Prestes perdeu a oportunidade de se sair vitorioso contra a República Velha, mas claro que inspirou futuras mobilizações contra ela.

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MALHADA DA CAIÇARA/BA: O BERÇO DE NASCIMENTO DE MARIA BONITA OU MARIA DO CAPITÃO.

 Por Notícias 24;00 Horas

O projeto Poeta Viagens e Aventura chegou ao estado da Bahia, dessa vez o objetivo foi conhecer in loco um pouco mais da história de Maria Bonita, que numa paixão fulminante por Lampião, ingressou no cangaço na década de 30.


A casa museu Maria Bonita tem recebido visitas de estudantes, estudiosos de várias partes do País e do exterior. Imagine você que na época que Lampião conheceu Maria Bonita, essa casa era rodeada de vegetação de caatinga, se via apenas um pouco do telhado da humilde residência.


Ao lado da casa museu de Maria Bonita tem uma pracinha debaixo de um pé de umbuzeiro que centenário e com sobrinhos de Maria Bonita pude ter muitas informações sobre o convívio da rendeira Maria de Deia.


Simbolizando a região, o carro de boi está retratado numa pequena maquete, onde na época era o segundo meio de transporte mais usado pelos sertanejos.


O umbuzeiro centenário mostra uma das belezas da caatinga. A casa museu Maria Bonita localizada no povoado Malhada da Caiçara foi recuperada na metade do ano de 1999 pela prefeitura municipal de Paulo Afonso.


Pelo menos dois seminários internacionais foram realizados na cidade de Paulo Afonso/BA, onde o objetivo foi retratar a importância de Maria Bonita diante na participação dela no Cangaço. Uma jovem de 20 anos apenas se aventurou pela caatinga ao lado do seu amado que era procurado pela polícia de vários estados do Nordeste.


Os sobrinhos Micael e Felipe que tem os sobrenomes Pereira e Gomes, conversando com esse blogueiro, afirmaram do orgulho que tem da tia que marcou toda uma história pelo mundo a fora.


Casa museu Maria Bonita é mantida pela arrecadação, ou seja, cada visitante paga-se R$ 5,00 para ter acesso a parte interna da casa, onde pode encontrar fotos e pertences da época de Maria Bonita.


Essa máquina de costura que está em um dos cômodos da casa é a mesma que Maria Bonita usava quando morou na Malhada da Caiçara. Segundo os sobrinhos, na época, essa casa era muito escondida na meio da caatinga e por uns 2 anos Maria Bonita ficou morando nessa casa, até tomar a decisão de seguir o marido no Cangaço.


Nessa foto está o cangaceiro Juriti (Homem de confiança de Lampião), ao lado de Maria Bonita. Maria liderava o grupo de mulheres que ingressaram no Cangaço.

Na foto acima: Maria Bonita, Juriti, Amoroso e capitão Lampião.

Nessa imagem da década de 30, Maria Bonita mostra seu poder de liderança, até mesmo para ser registrada.

Moça, Maria Bonita e Benjamim.

Foi Maria Bonita que quebrou o tabu para a entrada de mulheres no Cangaço. Corajosa, decidida e apaixonada, Maria de Deia, como era conhecida, chegou a ter uma filha com rei do Cangaço, porém, vários outros historiados relatam que pelo menos foram 03 filhos (Ananias Gomes de OliveiraArlindo Gomes de Oliveira e Expedita de Oliveira Ferreira Nunes) que o casal deixou quando foram mortos em 1938 após uma emboscada na Grota de Angico em Sergipe.

Micael Oliveira, Cláudio André e Feliphe Gomes

Você que deseja fazer um tour pela região que viveu o rei do Cangaço e sua amada, em especial a casa museu Maria de Deia, no povoado Malhada da Caiçara, você pode falar com um dos sobrinhos de Maria Bonita pelo whatsApp (75) 9 8824-6952 - Micael Oliveira.

https://www.claudioandreopoeta.com.br/2018/12/malhada-da-caicaraba-o-berco-de.html

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