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domingo, 26 de janeiro de 2020

A VIDA RIBEIRINHA É BONITA E TRISTE

*Rangel Alves da Costa

Conhece a vida aquele que não vive de ilusões e sabe que pisa em espinhos, e sabe que nada é fácil de ser conseguido. Conhece a vida aquele que abre a porta ao amanhecer e não se deixa somente encantar, pois sabe da luta que tem e do nunca poder parar. Conhece a vida aquele que conhece a sua despensa e sabe que no guarda-comida não tem além de apenas um pouquinho do que necessita para o prato do dia.
Conhece a vida aquele que não finge, que não vai deixando pra lá e sofre os sofrimentos tão próprios do ser humano. A carestia em tudo, o remédio que sempre falta, a roupa rasgada e já tantas vezes remendada, a chinela nova pra menina, um calção pro menino, as coisas simples da vida e que são tão difíceis demais de serem conseguidas. O olhar de fora nem sempre avista o outro em sua realidade.
Quando imagina ter avistado em sua inteireza, quase sempre faz julgamentos errados ou distorcidos. Como num olhar antropológico, o outro precisa ser olhado por dentro, em sua realidade cotidiana, para que haja uma possível compreensão de suas carências e de sua importância no seu mundo. Digo assim para dizer que o povo ribeirinho de Curralinho, nas beiradas do Velho Chico no sergipano e sertanejo Poço Redondo, deveria ser olhado e, mais que isso, compreendido de outro modo.


O povo de Curralinho possui peculiaridades. O habitante de hoje é muito diferente daquele morador de outros tempos. Atualmente, quem chega naqueles beirais molhados do Opará sertanejo sequer imagina sua pujança no passado. Também não avista mais as grandes embarcações, as carrancas surgindo ao longe, nas curvas do rio, para afastar os maus espíritos das águas. Adiante, do alto das calçadas altas - e assim por que no passado as águas eram tantas que chegavam aos quintais -, apenas lançar o olhar para as saudades tantas de um tempo de efervescente viver.
Ora, Curralinho já foi rico, já foi o local mais progressista e promissor de Poço Redondo. Definhou quando o rio deixou de ser a principal via de transporte e de chegada e saída de mercadorias. Armazéns foram fechados, mercearias deixaram de existir, viajantes e comerciantes escassearam, portas residenciais foram fechadas, muitos curralienses simplesmente abandonaram o lugar. O que restou? Restou uma povoação quase parada no tempo e sobrevivendo das sombras passadas.
As recordações nas belas fachadas arquitetônicas, as calçadas mirando os silêncios do rio passando, as embarcações sonolentas ou adormecidas nas beiradas d’água, e pessoas em intensa luta pela sobrevivência. Foram golpes duros demais ao povo curraliense. Da riqueza ao pouco ter, de um rio antigamente piscoso a um leito magro e sem o pescado do dia a dia. Fazer o que? A verdade é que o povo ribeirinho não consegue mais sobreviver das águas do rio.
Um povo acostumado com surubim e tubarana, mas que hoje dificilmente enche uma cuia de piaba. Quando o homem passou a domar as águas do rio, enchendo o leito ou secando segundo as conveniências das barragens e hidrelétricas, então tudo se transformou como numa esmola do opressor ao oprimido, e este o verdadeiro dono de toda aquela vida. Sem o peixe, sem o comércio, sem empreendimentos que garantam emprego e renda, hoje Curralinho sobrevive de que?
Grande parte das famílias sobrevive apenas do que recebe dos programas sociais do governo. Os barraqueiros da venda de peixe comprado fora e de bebidas. Os barqueiros de um passeio com os visitantes ou de um transporte para locais próximos. As belezas do Velho Chico e das paisagens nunca foram devidamente exploradas para a efetiva melhoria da qualidade de vida da população. O turista ou visitante, infelizmente se interessa somente pelas beiradas d’água e sequer quer saber se ali existe uma comunidade, um povo. Tanto assim que as pessoas descem a ladeira, ultrapassam as esquinas e seguem logo para a proximidade das águas. Ali sentam, bebem e brincam, passeiam pelas margens, tomam banho, depois retornam sem conhecer nada da realidade local.


Precisam saber, pois, que Curralinho não é apenas um rio, não é apenas um leito de banho e uma mesa na proximidade das águas. Precisam saber que ali é lar de um povo, é a vida de um povo, e uma gente com história, com realidades alegres e tristes, com sonhos e esperanças. Que saiam das beiradas e subam nas calçadas, que caminhem pelas ruas, que conversem com o seu povo, que procurem ouvir para ajudar. Difícil, contudo, que assim aconteça. A maioria dos que ali chegam sequer procura conhecer a importância daquela primeira igreja encontrada no alto, em lugar vistoso.
E com isso finalizar dizendo que Antônio Conselheiro e seus seguidores, lá pelos idos de 1874, quando terminaram a reforma e abriram as portas daquela igrejinha, demonstraram maior admiração e respeito por Curralinho do que os visitantes de hoje.

Escritor
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O ÁRABE BENJAMIN ABAHÃO...



O libanês que filmou Lampião e seu bando nas caatingas nordestinas, por volta de 1936.

Abrahão, também, foi secretário do Padre Cícero Romão Batista. A foto, abaixo, mostra a força e, o destaque que o libanês tinha com o citado padre.

Na imagem, o padre recebe uma importante comitiva e, lá estava Benjamin, posando e fazendo propaganda subreptícia de um matutino estampado em sua mão.

Foto, fonte: Cariri das Antigas
Local: Juazeiro do Norte.
Ano: ( ? )


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O CASAMENTO DE LICOR



A fama de Lampião já se espalhava por todos os lados, e sua simples presença causava medo, onde quer que estivesse. Mesmo quando não tinha nenhuma intenção de cometer qualquer delito, todos se apavoravam. Foi assim em Nazaré, Pernambuco, no dia 31 de julho, um sábado.


Para esse dia, estava marcado o casamento de Maria Licor Ferreira, prima de Lampião, com Enoque de Menezes. O oficiante seria o padre alemão José Kherle, que tinha sua paróquia em Vila Bela, e viera especialmente para realizar a cerimônia, trazendo seu sacristão a “tiracolo”.


Lampião não havia sido convidado, mas mesmo assim resolveu comparecer, chegando a Nazaré em companhia de uns quinze homens. 

Os parentes e amigos já antevendo confusão tentaram convencê-lo a retirar-se, para não estragar a festa. Quase todos sabiam, ou desconfiavam que Lampião não via aquele casamento com bons olhos, já que era de conhecimento geral que ele nutria sentimentos especiais em relação à sua prima Licor. É óbvio que não era fácil convencer Lampião a fazer o que não queria, e ele foi ficando por ali mesmo, indiferente aos pedidos para que fosse embora.


Como não ia mesmo, foi servido um jantar para o grupo de cangaceiros, do qual até o padre chegou a participar, sentando-se à mesa, comendo e conversando com Lampião. Sua intenção era, aproveitando-se do respeito que os cangaceiros tinham pelos sacerdotes em geral, convencer Lampião a não ser causa de nenhuma alteração, pedindo-lhe que, à noite, saísse quietamente da vila, deixando a festa prosseguir.

Finalmente, depois de muita conversa, Lampião concordou em retirar-se, mas deixou no ar uma ameaça velada:

- Hoje, aqui, não se dança.

E saiu, levando para surpresa de todos, a sanfona do tocador.

Licor nos disse, em entrevista, que todos ficaram sem saber o que pensar, já que podiam esperar muita coisa de Lampião, menos um papel desses, privando os convidados de um bom baile. Dali para frente, para nervosismo de todos, de vez em quando aparecia um cangaceiro, observando o ambiente, como que para certificar-se de estarem dançando ou não.

Texto do livro De Virgolino a Lampião
Autores: Antônio Amaury e Vera Ferreira.


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CANGACEIRO JACARÉ (IRMÃO DE MORENO), MORTO.


José Ignácio da Silva, vulgo Jacaré.

Em Brejo Santo, Jacaré formou um grupo, que diziam que andavam aterrorizando as pessoas, por isso, teve que fugir junto com o amigo Róseo Moraes, depois de um forte cerco policial, indo encontrar guarida na cidade alagoana de Piranhas, ao lado do coronel José Rodrigues, desafeto de Delmiro Gouveia.

Jacaré casou com Maria Lima, uma moça de Água Branca, Alagoas, que trabalhava na tecelagem da Fábrica da Pedra. Quando da morte de Delmiro Gouveia, Jacaré e Róseo Moraes foram acusados como sendo os matadores deste conhecido sertanejo considerado um homem rico. Com a repercussão do crime, Jacaré fugiu para Brejo Santo, ficando sob a proteção do major Zé Inácio.

O Major quando ficou sabendo do crime, comunicou às autoridades piranhenses, sobre o paradeiro de Jacaré. A prisão do acusado não se demorou e enquanto era recambiado do Ceará para Alagoas, na divisa do Ceará com Pernambuco, nas imediações de São José do Belmonte, Jacaré foi friamente assassinado, como queima de arquivos com o temor de que ele poderia denunciar homens importantes da sociedade, como mandantes do crime daquele que viria a ser considerado um dos maiores progressistas do sertão nordestino.

Por Severino Coelho Viana, João Pessoa - PB, 05 de maio de 2011. Pombalense, Escritor e Promotor de Justiça na Capital paraibana.

Texto enviado pela filha dos cangaceiros Moreno e Durvinha, Lili Neli Lili Neli Neli Lili Neli

PS: Róseo Morais era irmão do cangaceiro Raimundo Morais, vulgo Mundinho, e Xixiu. Residentes no sítio Oitizeiro.


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"O CAMINHÃO QUEIMADO PELO GRUPO DE VIRGÍNIO"


Por Moustafá Veras

O grupo de Virgínio se deslocava por uma estrada alagoana, quando ouviram alguma coisa se aproximar. Diante da aproximação de algo desconhecido, o bando tratou de armar uma emboscada na estrada. 

O alvo da emboscada foi um caminhão que imediatamente foi revistado pelos cangaceiros que buscavam dinheiro, porém só encontraram pacotes com sutiãs. Por não terem encontrado o que queriam, atearam fogo no caminhão 

.A revista Fatos e Fotos, número 97, datada de 08/12/1962, publicou a foto do caminhão queimado, cercado por volantes, e colocou erroneamente como título da publicação: " Como vingança da morte de Lampião, Corisco queima até carros". 

Em conversa com o amigo João de Souza de Lima Durvinha confirmou que o caminhão foi queimado por Virgínio e Moreno, por tanto, não foi Corisco o responsável por este ato. Ainda segundo Durvinha, esse fato ocorreu dois ou três anos antes da morte de Lampião.


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ASCENDÊNCIA DO CANGACEIRO CAJUEIRO

Por Valdir José Nogueira
José Pereira Terto, cangaceiro Cajueiro


Residente nas cercanias da Serra do Reino em Belmonte, o célebre cangaceiro “Cajueiro” tinha como nome de batismo José Pereira Terto, sendo filho de Manoel Terto Alves Brasil e de Antônia Pereira da Silva (Totonha). Amplamente conhecido no mundo do cangaço, Cajueiro foi o homem da mais elevada confiança de seus primos Sinhô Pereira e Luiz Padre.

Conta-se que em princípios do século XX, Cajueiro havia levado uma sova de um soldado por nome Cipriano de Souza, porém, ao chegar em casa, sua mãe dona Totonha Pereira não o abençoou. Dias depois, Cajueiro resolveu assassinar o seu agressor e ao retornar para casa, foi abençoado por sua genitora. Depois deste fato, o mesmo resolveu ingressar no cangaço ao lado dos primos Sinhô Pereira e Luiz Padre. Em 1919 foi para o Planalto Central com Luiz Padre. Retornando ao Pajeú no ano de 1922, Cajueiro foi de fundamental importância no estratagema de Sinhô Pereira, Luiz Padre e Ioiô Maroto que culminou no ataque a Belmonte no dia 20 de outubro de 1922, onde foi assassinado o coronel Luiz Gonzaga Gomes Ferraz, próspero comerciante daquela cidade sertaneja. Cajueiro deixou seu nome marcado na história como um dos homens mais experientes do cangaço, muito valente e moralista.

Ascendentes de Cajueiro:
Lado materno:

Mãe; Antônia Pereira da Silva (Totonha, falecida em 06/05/1946 aos 80 anos de idade), filha do primeiro casamento de Dona Dé (Maria José Pereira da Silva) com o major Joaquim Pereira da Silva Tintão (este filho do Comandante Superior Manoel Pereira da Silva). Dona Dé era filha de Josefa Pereira da Silva (Dona Zefinha do Serrote) e de Joaquim Nunes da Silva. Portanto, Cajueiro era bisneto de Dona Zefinha do Serrote (Josefa Pereira da Silva) e também bisneto do Comandante Superior Manoel Pereira da Silva. O Barão do Pajeú era tio avô de Cajueiro.

Lado paterno:

Pai; Manoel Terto Alves Brasil, filho de José Alves dos Santos e de Carolina Jocelina (ou Marcionila) da Silva, esta filha do Padre Francisco Barbosa Nogueira e de Quitéria Pereira da Cunha da fazenda Cipó em Serra Talhada. Portanto Cajueiro era bisneto do Padre Francisco Barbosa Nogueira (este neto de Manoel Lopes Diniz fundador da fazenda Panela D’Água em Floresta).

Em virtude de umas querelas familiares onde residia, na fazenda Cipó em Serra Talhada, o casal José Alves dos Santos (Cazuza Cego) e Carolina Marcionila da Silva (filha do Padre Francisco Barbosa Nogueira e de Quitéria Pereira da Cunha), comprou em 1881, na Freguesia de Belmonte, uma propriedade na fazenda Campo Alegre, cercanias da Serra do Reino (cuja vendedora foi dona Jacinta Pereira de Souza), onde passou a residir. Este casal deixou nove filhos dentre os quais o Sr. Manoel Terto Alves Brasil que casou com Antônia Pereira da Silva (Totonha, filha do major Joaquim Pereira da Silva Tintão e Maria José Pereira da Silva, Dona Dé), pais de Cajueiro: José Pereira Terto.

Valdir José Nogueira,pesquisador e escritor
Pres. da Comissão Local do Cariri Cangaço
São José de Belmonte, Pernambuco


NOTA DO PESQUISADOR SOUSA NETO:Em 1923 ao chegar em Minas Gerais, Cajueiro ou Joaquim Araújo da Silva, nome adotado naquelas paragens torna-se amigo pessoal do Cel. Farnesi Dias Maciel, irmão do Presidente Olegário Maciel. Foi da guarda pessoal do Governador Olegário onde na revolução de 1930 deu total proteção a esse que junto aos primos JOSÉ ARAÚJO E FRANCISCO ARAÚJO, formaram um pelotão para guardar o Palácio do governador que esteve sob iminente ataque das forças getulistas.

Para ilustrar mais um pouco a bela matéria do nosso valoroso amigo Valdir José Nogueira, vejam acima a certidão de óbito do célebre Cajueiro. Atente para o detalhe: ele faleceu exatamente três meses e nove dias após Sinhô Pereira. No Livro do cartório ambos os óbitos estão na mesma página. Outro detalhe, nasceram no mesmo ano 1896.

Abraço a todos! Depois contarei o resto.


E Vem aí...



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CENTENÁRIO DE NECO DE PAUTÍLIA


Carla Rogéria Rosa Ferraz

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CORONELISMO, O PAI DO CANGAÇO

Museu do Cangaço mantido pela Fundação Cabras de Lampião, Serra Talhada (PE) - Foto: Henrique Rodrigues.

No terceiro capítulo da reportagem especial sobre os 80 anos do fim do cangaço, o professor e colaborador da Fórum, Henrique Rodrigues, conversa com pessoas, entre elas o prefeito de Serra Talhada, que contam mais sobre a história da cidade de Lampião.

Por Henrique Rodrigues*


Numa manhã tórrida assisto a uma apresentação de Xaxado no pátio do Museu do Cangaço de Serra Talhada, o principal equipamento de preservação da história do movimento e que é vinculado à Fundação Cabras de Lampião.

Esta é a terceira parte de uma reportagem especial que será publicada em quatro capítulos. Confira a primeira aqui e a segunda parte aqui

O Xaxado é uma dança criada no cangaço, inicialmente apenas masculina, que era feita pelos bandos para comemorar vitórias sobre os inimigos. A cidade carrega oficialmente o título de “Capital do Xaxado”.

O responsável pelo acervo e pela visitação ao local é o historiador Karl Marx Santos Souza. Logo de início, peço para que ele dê uma definição sucinta do que foi o cangaço, já que tanta gente tenta explicar o fenômeno e acaba se embaralhando.

“O cangaço foi um movimento social, mas não se enquadra num movimento político. Não tinha essa intenção. Ele foi um resultado direto de tudo de ruim que existia no sertão naquele momento histórico, como a ausência do Estado, a desigualdade brutal e a miséria. Dessa equação, surge o cangaço. Eu sempre digo que o coronelismo é o pai, ou a mãe, do cangaço.”

Karl também ressalta que o cangaço não começou com Lampião:

“O cangaço já existia desde o século XIX, ele não surge com Lampião. Porém, sem dúvida foi Lampião quem tornou esse movimento muito mais organizado e hierarquizado, dando um caráter mais abrangente ao fenômeno social.”

Grupo de Xaxado da Fundação Cabras de Lampião – Foto: Henrique Rodrigues

De acordo com o historiador, como o cangaço teve uma forte repercussão nacional, as autoridades acabaram por dar certa atenção à região do semiárido. A guerra travada entre os bandos acabou resultando numa melhora da infraestrutura local da época.

“Curiosamente, se é que podemos dizer assim, foi o cangaço que acabou por trazer aos sertões alguns traços de desenvolvimento, como o telégrafo, a iluminação pública e as estradas, porque os bandos de cangaceiros pintavam e bordavam com as forças policiais e então era necessário trazer uma infraestrutura para região, com o intuito de facilitar a ação de combate por parte do Estado”, explica.

Justamente sobre esse combate, peço para que Karl explique o papel do regime ditatorial de Getúlio Vargas na extinção dos conflitos gerados pelos cangaceiros.

“O Estado Novo, conduzido por Getúlio Vargas, foi decisivo para aniquilar o cangaço. Ele determinou que todos os focos de conflito no território brasileiro deveriam ser sufocados, para garantir um ambiente de paz, quando na realidade o que Getúlio desejava era o controle absoluto de tudo”, conta.

Ainda no âmbito da violência no sertão, falo sobre a onda da imprensa do Sudeste de classificar como ‘Novo Cangaço’ as ações do crime organizado, ao explodirem agências bancárias e tomarem cidades inteiras com reféns em vários Estados. Karl discorda da nomenclatura e cita nominalmente as diferenças entre as duas coisas.

“Não dá pra traçar uma analogia entre o cangaço e essas ações empreendidas hoje por bandos fortemente armados ligados ao crime organizado, que vêm aterrorizando cidades do sertão. Exceto por uma coincidência geográfica, parece-me que uma coisa não tem nada a ver com a outra, diferentemente do que a imprensa vem tentando emplacar ao afirmar isso. Claro que razões sociais estavam por trás do cangaço, assim como também estão por trás do crime organizado moderno, mas as situações históricas, lá atrás e agora, são completamente diferentes.”

Como é chefiar a cidade de Lampião? 

Luciano Duque (PT) inicia o último ano de seu segundo mandato frente à prefeitura de Serra Talhada. Ele também já foi vice-prefeito por oito anos e vereador. O chefe do Executivo municipal fala sem constrangimentos a respeito de comandar a cidade que carrega o peso de ser a terra natal de Lampião, ressalta que para muita gente esse passado ainda é visto como um estigma, mas se queixa do fato desse tratamento não ser dado a todas as cidades que têm relação com o cangaço:

“Há um preconceito muito grande ainda. São fatos que dividem a sociedade e não se pode negar que Lampião é a figura mais conhecida de Serra Talhada. No entanto, se você vai a Xingó (Piranhas), a Fortaleza, a Aracajú, ou Natal, percebe que isso não ocorre por lá. A figura de Lampião é uma fonte de renda, é uma narrativa, e tudo bem”, pontua.

É perceptível que a cidade de Serra Talhada explora a figura do lendário cangaceiro, mas o fato gera controvérsias no meio político. Investir em Lampião às vezes provoca desavenças, explica o prefeito.

“Quando investimos nesse setor somos acusados de incitar a violência… Veja você, somos acusados justamente por essa direita violenta que emergiu no país. Falam que cultuamos Lampião. Sem contar o fato de que ainda muita gente nos critica por terem muito vivo na memória esses episódios do cangaço, por terem internalizado aquilo que ouvem de suas famílias. Não ocorre como em Juazeiro do Norte, com Padre Cícero, que na História também é uma figura muito polêmica, visto que foi parte de uma aliança entre cangaceiros, elites e a religião”, afirma.

O prefeito afirma também que se sente isolado nas outras esferas de poder quando o assunto é preservar a história do cangaço e de Lampião. O governo do Estado, que tem papel central na Cultura, não auxilia em nada, segundo ele.

“O governo do Estado de Pernambuco até investe em ações culturais que eventualmente possam mencionar o cangaço e Lampião, mas especificamente sobre o assunto ele sempre deu as costas. E isso não é uma coisa nova, não! Só mesmo no governo Jarbas Vasconcelos (1999-2006) é que houve uma iniciativa, com o Roteiro do Cangaço, mas para empreender nesse setor é necessário uma parceria com o Sebrae e acabou que ficou tudo no campo das ideias.”

Sobre a economia da cidade, Luciano Duque também esclarece que o município não pode ficar refém da figura de Lampião e que há outras fontes de renda que vêm sendo desenvolvidas.

“O que nós temos é uma vocação econômica comercial, de serviços. Somos um polo de saúde e de educação em toda a região. Nosso PIB dobrou de 2013 para cá e já somos o 2° maior PIB do seminário de Pernambuco, atrás apenas de Petrolina, que é uma cidade quatro vezes maior e que conta com a proximidade com o Rio São Francisco”, declara.

O secretário de Desenvolvimento e Turismo, Marcos Oliveira, que participa da entrevista, endossa as palavras do prefeito, confirma que Serra Talhada explora a figura do Rei do Cangaço, mas frisa que outros caminhos têm sido trilhados para a economia turística local.

“Sim, explora. E eu acho que deveria até explorar mais. Lampião é a figura mais conhecida de nossa cidade e isso deve ser explorado, o que não significa que não tenhamos que buscar uma diversificação econômica, criando novas fontes de renda, como o turismo ecológico e de negócios. Aliás, essa é nossa prioridade agora.”

Pergunto, sem rodeios, se a figura de Lampião é rentável. O secretário responde sem titubear.

“Dá pra dizer que a figura dele é rentável, é óbvio. Você pega um espetáculo como o ‘Massacre do Angico’, encenado pelo pessoal da Fundação (Cabras de Lampião)… Aquilo junta cinco mil pessoas por noite de apresentação, gente de todo o Brasil.”

Finalizo a entrevista com o prefeito Luciano Duque pedindo para que ele diga se há alguma semelhança entre aquela Serra Talhada dos tempos em que bandos de cangaceiros vagavam pela região e a Serra Talhada de sua gestão.

“Não. É totalmente diferente. O que eu posso dizer é que até uns 40 anos atrás parte das pessoas ainda reproduzia a violência vista no cangaço. Mas agora temos novas gerações, foram décadas de educação. Conseguimos produzir massa cinzenta, por meio da educação. Nos últimos anos, nos governos Lula e Dilma, por exemplo, recebemos as instituições federais de ensino. As coisas mudaram completamente.”

*Henrique Rodrigues é professor de Literatura Brasileira e jornalista 

Esta é a terceira parte de uma reportagem especial que será publicada em quatro capítulos. Confira a primeira aqui e a segunda parte aqui
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CHICO PEREIRA" - O CANGACEIRO



Vingança no Sertão – Código de honra

O sertão nordestino sempre teve seus códigos de honra. Quando alguém ousava quebrar tais códigos, estaria assinando uma sentença de morte.

Sabemos que o sertanejo é homem forte e destemido, enfrentando as intempéries da seca, além de outras adversidades, mas capaz de superá-las, com coragem e altivez. O sertão é misterioso, implacável e não perdoa os erros ou quebra da palavra empenhada, que significa dizer: código principal da honra sertaneja.

O que aconteceu com Chico Pereira não poderia jamais ter sido diferente, mesmo tendo prometido ao pai moribundo, não participar ou promover qualquer tipo de vingança. Vingança aconteceu. E a história já fez o seu julgamento.

Vejamos, através da narração dos fatos, como tudo aconteceu.

O coronel João Pereira, morava na cidade de Nazarezinho, outrora distrito de Souza/PB, era casado com Dona Maria Egilda, proprietário da fazenda Jacu, possuía um barracão em Nazarezinho e tinha sete filhos, sendo quatro homens e três mulheres.

Uma noite, João Pereira, já prestes a fechar seu estabelecimento, viu entrarem três homens.

armados. Ao atendê-los, o coronel chamou a atenção deles sobre o uso de armas, quando na época havia uma proibição municipal que não permitia pessoas andarem armadas. Isso foi o suficiente para início de uma discussão seguida de tiroteio e facadas, pancadarias e gritaria, resultando em alguns mortos e outros feridos, inclusive o coronel João Pereira, o qual foi levado para sua casa na fazenda Jacu, distante cerca de cinco quilômetros.

Em consequência dos ferimentos graves, o coronel veio a falecer diante de sua família, suplicando aos filhos para que não se vingassem. "Vingança, NÃO." foram suas últimas palavras.

Há revolta do povo que não se conformava com a morte do coronel e pedia justiça, uma vez que a polícia apresentava nenhum interesse em prender o foragido Zé Dias, envolvido na chacina e protegido pelas autoridades locais.

Chico Pereira, o filho mais velho do coronel, com apenas vinte e dois anos de idade, se viu impelido pela comunidade a fazer justiça. Pressionado, sai à procura de Zé Dias que se refugiara nas serras da região. Chico Pereira encontra-o, prende-o e o leva à delegacia, sendo ovacionado pelo povo que queria ver Zé Dias preso.

Após alguns dias, o criminoso já se encontrava solto. A população revolta-se e passa a exigir vingança por parte do filho mais velho do coronel. Este, sem outra opção, se vê obrigado a não cumprir o pedido do pai moribundo e parte para a Vingança, como era costume na época, exigência da lei de honra, familiar do sertão. Depois de alguns dias, o criminoso é encontrado morto. Maria Egilda, finalmente ouve do filho a declaração que mais temia: "Mamãe, fizeram-me criminoso':

E foge, passando a viver clandestinamente nas matas da região. Para enfrentar a polícia e não ser preso cria um bando de cangaceiros.

Chico Pereira começa então sua saga que dura mais de seis anos, ora fugindo da polícia, ora comandando o bando. Mesmo diante de tantos problemas e da vida tumultuada, sua noiva, Jardelina, jovem adolescente de doze anos de idade, quando noivara, não hesitou em se casar com ele, aos quatorze, em cerimônia realizada por procuração. Foi esta a única saída possível e que lhe possibilitou ser pai de três filhos, os quais não chegaram a conhecê-lo, pois Jarda, como era conhecida, já estava viúva com apenas dezessete anos de idade.

Absolvido em júri popular, na Paraíba, Chico Pereira foi acusado de um crime que não cometeu no Rio Grande do Norte, onde nunca estivera. Apesar de contar com a proteção do Presidente do Estado da Paraíba, através de um irmão deste, foi levado para aquele estado e entregue à justiça potiguar.

Tempos depois, foi Chico Pereira transferido do presídio de Natal/RN para o interior do estado. Os policiais potiguares, devidamente instruídos, forjaram um capotamento do carro, massacraram-no e o matam sem a menor chance de defesa. Estava Chico Pereira com vinte e oito anos de idade. Sua mãe, dona Maria Egilda, nem sequer teve a sorte de enterrar o seu filho, pois preferiu seguir a orientação do advogado da família, Doutor João Café Filho ( futuro presidente do Brasil), que recomendou para ninguém da família pisar em terras do Estado vizinho sob pena de ser morta.

A tragédia continua com o assassinato inesperado e brutal de Aproniano, e a prematura morte de Abdon, que estuda medicina no Rio de Janeiro. Este, acometido de tuberculose, veio a falecer nos braços de sua mãe, na fazenda Jacu.

Vida longa teve o único sobrevivente, Abdias, que veio a falecer recentemente, no dia 28 de julho de 2004, com cento e três anos de idade. Dos três filhos de Chico Pereira, Raimundo formou-se engenheiro, no Recife; Francisco ordenou-se padre em Roma e o terceiro, Dagmar, é frade franciscano com nome de Frei Albano.

Chico Pereira foi um dos homens mais destemido do sertão paraibano, que levado pelas circunstâncias da época, fez "justiça" com as próprias mãos e tornou-se cangaceiro.

FONTES DE PESQUISA:

01- Vingança, Não - Autor: F. Pereira Nobrega (Filho de Chico Pereira);
02- A Vingança de Chico Pereira - Autor: João Dantas
http://lampiaoaceso.blogspot.com/…/vinganca-de-chico-pereir…


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NOTA DE PESAR!


Por Relembrando Mossoró

É com tristeza que o grupo Relembrando Mossoró vem comunicar o falecimento de dona Anunciação Cavalcante, a mesma faleceu em 25 de janeiro de 2020, agora a noite. Nossos sentimentos aos familiares e amigos. 

Vá em paz!


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