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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

FLORO SERÁ REEDITADO

Por Clerisvaldo B. Chagas, 15 de janeiro de 2015 - Crônica Nº 1.346

Ontem tive o prazer de receber em casa o jovem Victor Carneiro Pascoal. O estudante pretende elaborar o seu TCC em cima da biografia de Floro Gomes Novais, que dominou as páginas da Imprensa por cerca de vinte anos. Universitário da UFAL, em Maceió, Victor chegou acompanhado do filho do nosso amigo Brás, de Olivença, major Herófilo Pantaleão Ferro.


Não pensei que o livro “Floro Gomes Novais, Herói ou Bandido?” Fosse fazer tanto sucesso na atualidade, após 30 anos do seu lançamento. A procura tem sido maior por escritores, pesquisadores e pessoas do ramo de Direito. Existe do mundo dessas pessoas, uma espécie de cobrança/pressão visando reeditar a obra. Eu vinha recusando a reedição por motivo de não ser fã de escrever sobre violência real, embora tenha sido levado pelas circunstâncias e ter escrito em parceria também Lampião em Alagoas e, sozinho, Maria Bonita, a Deusa das Caatingas (este, inédito ainda).


Após a conversa com o jovem Victor, pensei pela primeira vez em reeditar o livro; uma segunda edição, na íntegra, apenas com melhor identificação da obra, exibição de registro, autorização, editora, data, coisas que os pesquisadores muito bem conhecem.

Isento de qualquer outra pretensão, embora o livro tenha fama nacional, vamos reeditar a obra unicamente para servir a essa demanda pesquisadora do homem que procurou fazer justiça pelas próprias mãos. Parece até a saga de outro vingador em folheto da minha autoria, episódio histórico de Santana do Ipanema: “A Igrejinha das Tocaias, sua estória”, escrita em versos e único registro sobre o tema.

Após o exposto, vamos aguardar a elaboração dos seis livros anunciados. Estou providenciando. Após o lançamento dos seis livros, partiremos para a reedição de “Floro Gomes Novais”, talvez em pequena quantidade e como encomendas.
Aguardemos, pois.


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DONA CYRA BRITTO


Caro Adauto,

Aí está a foto de dona CYRA BRITO, digna esposa do tenente JOÃO BEZERRA. Dona Cyra, como o sobrenome indica, pertencia à nata da FAMÍLIA BRITO, de Propriá. O membro mais ilustre dessa família é o ministro CARLOS AYRES DE BRITO, que presidiu o Supremo Tribunal Federal. Na época do cangaço, as barrancas do São Francisco, desde Canindé e Piranhas até Penedo, eram dominadas por essa poderosa família. Casamentos e negócios ligavam os Brito aos Correia, formando um só clã – os CORREIA DE BRITO.

Imagem do acervo do pesquisador Adauto Silva - ‎O Cangaço

Dos Correia, a referência mais antiga que se tem é de um cidadão chamado Jesuíno Correia Lima, que participou da Guerra de Canudos. Jesuíno, casado com Delfina Correia de Brito (dona Fina), é o pai do famoso Sinhô Correia (Sinhozinho do Jerimum). Esse Jesuíno é citado por Euclides da Cunha – serviu de guia da terceira expedição a Canudos, comandada pelo coronel Moreira César.

Da parte dos Brito, o tronco é um cidadão chamado Porfírio Romão de Brito, da fazenda Belém, em Porto da Folha, casado com Maria da Costa Nunes de Brito. Porfírio Romão teve oito filhos, conhecidos no sertão como “Os Porfírio”. Um deles, Manoel Porfírio de Brito, foi intendente de Piranhas de 1892 até 1913, quando foi substituído pelo coronel José Rodrigues. Severo Porfírio, Neco Brito e Antônio José de Brito (Antônio Menino) eram senhores de um mundão de terras na região de Piranhas, Pão de Açúcar e Canindé, nas beiradas do rio. Francisco Porfírio de Brito (Chico Porfírio) era dono das fazendas Cuiabá e Curituba, em Canindé, da fazenda Lagoa Grande, vizinha do Gameleiro, em Carira, e das fazendas Telha e Jundiaí, na zona de Propriá, onde residia. O Porfírio de maior destaque chamava-se João Fernandes de Brito (coronel João Brito, também conhecido como coronel João Porfírio), dono das fazendas Caiçara e Belém, na Ilha de São Pedro, negociante, político e grande industrial do Baixo São Francisco.

Alguns autores se equivocam ao mencionar os membros dessa família em virtude de haver muitos nomes repetidos. Confunde-se, por exemplo, Sinhô Correia, de Canindé (Francisco Correia de Brito) com Sinhô Brito, de Propriá (João Fernandes de Seixas Brito). Também há equívocos com relação a Antônio Menino (Antônio José de Brito), por haver muitos membros da família com o nome Antônio, daí ser necessário distingui-los pelos apelidos – Antônio Fernandes de Miranda Brito (Antônio Brito, Totonho Brito ou Totonho do Belém, que foi prefeito de Porto da Folha), seu filho Antônio Fernandes Guimarães de Brito (Toninho Brito ou Toinho Brito, que foi prefeito de Propriá), Antônio de Lima Brito (Totoinho Brito, filho de Chico Porfírio), dentre outros.

Houve quem dissesse que Cyra Brito, mulher do tenente João Bezerra, era filha de Antônio Menino. Outros escreveram que ela era filha de Correinha (João Correia de Brito, irmão de Sinhô Correia), que foi prefeito de Piranhas. Na verdade, Cyra era filha de Sinhô Correia (Sinhozinho do Jerimum), casado com dona Emiliana (dona Mili), filha
de Antônio Menino, sendo este casado com dona Prima (Priminha). Como Cyra foi criada pelo avô, muitos autores dizem que Antônio Menino seria sogro de João Bezerra – o sogro era Sinhô Correia.

Dona Cyra é a genitora do meu amigo PAULO BRITO, uma das pessoas mais gentis que já conheci até hoje.


Dediquei um capítulo específico à família Brito no meu “_LAMPIÃO – A RAPOSA DAS CAATINGAS_” e fiz um esboço detalhado da árvore genealógica dessa nobre família (páginas 410 e 709-710).

Fonte: facebook
Página: Adauto Silva

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LAMPIÃO E O CORONEL - DIÁRIO DE UM RAPTADO - PARTE FINAL








Material do acervo do pesquisador Raul Meneleu Mascarenhas
  
http://meneleu.blogspot.com.br/2015/01/lampiao-e-o-coronel-diario-de-um-raptado.html

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O Dia do Barulho

Por Emerson Monteiro
Archimedes Marques, Emerson Monteiro, Manoel Severo, Cristina Couto, Jorge e Reclus de Pla no Cariri Cangaço Lavras da Mangabeira 2014

Por volta das 12h do dia 09 de janeiro de 1922, se registrara em Lavras da Mangabeira, no pleno centro da cidade, uma luta armada que redundaria na morte de Simplício Augusto Leite, José Leite Filho e do major Eusébio Tomás de Aquino, restando ferido o prefeito municipal coronel Raimundo Augusto Lima. Essa data vincou a tradição do lugar como o dia do barulho, pela monstruosidade e repercussão que produziu na política cearense, vistos os detalhes a seguir consignados.

Eram as primeiras décadas do século XX e nas comunas do Nordeste interior famílias de senhores feudais detinham o poderio de mando, arrebanhando tropas de cabras armados de rifles, mosquetões, bacamartes e fuzis, impondo, à força bruta, seus domínios. Em Lavras, as coisas não se dariam de outro modo. A hegemonia política da localidade coubera a dona Fideralina Augusto Lima, que mandara e desmandara, no sabor de seus humores, até sua morte em 1919, cuja herança contemplou, sobretudo, aos filhos, genros e outros parentes próximos.

Gustavo Augusto Lima

O prefeito Raimundo Augusto Lima, neto da matriarca, no dia aziago, instigado pela agressividade de um irmão, Gentil, viu-se face a face com os mentores principais da facção rival, de armas em punho. Por pouco escapou de ser fulminado de morte nas escaramuças, recebendo balaço de raspão no curso das costas ao crânio, em disparo de rifle, depois de negacear o corpo ao contato do cano da arma adversária. Dentre outros que participaram do tiroteio figuravam Anselmo, Dori e Luiz Teixeira Férrer, vulgo Lela, este que depois contrairia núpcias com Maria, filha de Gustavo Augusto e viúva de José Leite Filho, tombado no conflito.

Apesar das perdas em vida registradas, o grande perdedor da refrega, no entanto, seria, a posteriori, o coronel Gustavo Augusto Lima, filho de Fideralina e pai dos dois envolvidos Raimundo e Gentil Augusto, então deputado estadual e presidente da Assembléia Legislativa do Estado, ausente da cidade naquele dia sangrento. Devido à morte do major Eusébio Tomás de Aquino, seus filhos Roldão e Raimundo Augusto de Aquino, vulgo Raimundo de Eusébio, juraram vingança ainda sobre o corpo do pai. Escolhido por objeto da vindita, o coronel Gustavo era também o padrinho de batismo de Roldão, um dos filhos de Eusébio. Visto isso, restou a Raimundo o papel de perpetrar o ato premeditado.

 
Dona Fideralina Augusto Lima

Passados, pois, um ano e dias do ocorrido no centro de Lavras, a 28 de janeiro de 1923, em Fortaleza, na Praça do Ferreira, ocasião em que o coronel Gustavo, ao lado de duas filhas, Luisinha e Maria Luísa, tomava assento no bonde do Outeiro para se deslocar à sua residência na Avenida Dom Manuel, e tombaria vítima de disparos de revólver deflagrados por Raimundo de Eusébio.

A data lavraria greve golpe na família Augusto pelas sérias consequências impostas ao mando político, abalo multiplicado logo adiante na história com as ações desarmamentistas da Revolução de 30 e outras providências de dissolução dos feudos estabelecidos desde os primórdios da colonização.

Emerson Monteiro - Crato, Ceara
Fonte:
http://blogdocrato.blogspot.com.br

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2015/01/o-dia-do-barulho-poremerson-monteiro.html

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ESTAMOS EM UM PAÍS EM QUE A CULTURA LITERÁRIA É RELEGADA A 2º PLANO.


Caro amigo Robério Santos

Estamos em um país em que a cultura literária é relegada a 2º plano. Infelizmente é uma percentagem pequena que se interessa por livros. Quando se fala em livros do cangaço essa comunidade é mais restrita ainda, há os amantes do tema, os curiosos, os colecionadores e os nossos amigos para adquirirem os livros. Tomando isso por base, por exemplo, quando o livro LAMPIÃO O MATA SETE, finalmente foi lançado depois de tanta celeuma e grande propaganda na mídia que explorou o fato até SATURAR, os amantes do tema (não colecionadores) não se interessaram por ele, pois de antemão já sabiam que tudo não passava de INVENCIONICE DESCABIDA E TOTALMENTE IMPROVÁVEL, piorando ainda pelos tantos erros que pululam em cada página desse livro, sem falar no seu palavreado chulo e nas tantas discordâncias verbais existentes. Aos amigos dele, acredito que poucos o compraram, pois ele na constância da proibição judicial de negociação comercial, distribuiu gratuitamente aos mais íntimos, parentes, aderentes e pessoas ligadas ao seu ramo profissional. Aos colecionadores do tema, esses não deixam de comprar, seja lá o que for, e assim ele vendeu o quinhão correspondente. Quanto aos curiosos, essa foi a maior fatia vendida, pois eles queriam saber se Lampião realmente tinha sido homossexual, entretanto ao lerem o livro logo constatam não haver provas algumas, indícios, nem mesmo suspeitas de tais alegações serem verdadeiras, por isso, essas mesmas pessoas que o adquiriram por curiosidade JÁ FAZEM A PROPAGANDA NEGATIVA BOCA-A-BOCA. Isso eu ouvi dentro da própria livraria uma pessoa dizendo para outra que estava com o livro na mão a analisar: ESSE LIVRO NÃO VALE NADA É UMA VERDADEIRA PORCARIA, DELE NÃO SE APROVEITA NADA, JOGUEI MEU DINHEIRO FORA. Talvez tenha sido por isso que o livro dele apesar de pouco tempo de lançado já aparece em alguns SEBOS de Aracaju, sendo vendido a 20 ou 30 reais, ou seja o adquirente curioso que comprou a 40 já vendeu a 10 no sebo, para diminuir o seu prejuízo, ou seja, perder somente 30, e mesmo assim com raiva por ter sido TÃO IMBECIL. Perguntei na livraria como era que estava a venda do livro dele e me responderam que nos primeiros dias foi um verdadeiro assombro de venda, depois foi minguando e hoje só vende um livro de 15 em 15 dias, com tendência a piorar ainda mais. Dentro do item curiosos, quando ele lançar noutras cidades será a mesma coisa, mas lá ele não terá amigos para comprar em consideração e os colecionadores, que por sua vez já o adquiriram via compra por internet. Assim, acredito que em menos de um ano o livro dele NÃO VALERÁ MAIS NADA e estará aos montes em tudo quanto é sebo do Brasil, sendo vendido a 5 ou 10 reais. Quanto ao meu livro LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE por se tratar de um livro CONTESTAÇÃO englobou todos esses itens citados, entretanto, quanto ao item curiosos praticamente nada vendi, mesmo assim, dentro de uma tiragem de 1200 unidades só me restam em mãos menos de 20 unidades, entretanto, não sei se lançarei a 2ª Edição que está bastante modificada, renovada e MAIS CONTUNDENTE AINDA, um livro bem melhor do que o primeiro, mas que, com toda certeza, PELO FRACASSO DO LIVRO DELE, o meu por consequência perderá todo interesse, ademais os meus amigos que adquiriram a primeira edição e que não são colecionadores não mais se interessarão pela nova edição, mesmo que eu diga que é diferente e bem melhor do que a primeira. Quanto ao seu livro que demonstra ser uma grandiosa obra, com toda certeza haverá CRITICA POSITIVA DE BOCA-A-BOCA mas isso é GRADATIVO, é preciso ter um pouco de calma e paciencia. Ademais, seu livro não entra muito no item curiosidade, a não ser pelo título que alguns perguntam: E LAMPIÃO ESTEVE TAMBÉM EM ITABAIANA? Evidentemente eles não sabem separar a atual Itabaiana da antiga Itabaiana Grande. Voltando ao meu livro, apesar disso tudo que lhe falei, consegui alguns patrocinios mas que somente deram para PAGAR A FESTA QUE FOI GRANDIOSA, regada a muita comida típica e bebida, som de TRIO PÉ-DE-SERRA e tudo mais, enfim uma festa que foi até de madrugada na Sociedade Semear de Sergipe, no seu são nobre. E agora você me pergunta se eu tive algum lucro financeiro e eu lhe respondo que não, não fiz as contas, talvez uns cinco mil reais em dois anos de venda, pois por evidencia também distribui muitos gratuitamente, tomei um CANO de uma livraria de Maceió e de outra de Salvador, também de uma distribuidora para bancas de revistas em Aracaju. Tudo isso, se eu quiser rever o que de fato me cabe, tenho que constituir um advogado, consequentemente gastar mais dinheiro, PARA BUSCAR OS MEUS DIREITOS NA JUSTIÇA, sabe-se lá em quanto tempo, ou então cometer crimes de agressão ou abuso de autoridade. Na ponta do lápis e da minha própria carreira e dignidade, SERÁ QUE VALE A PENA, ou é melhor esquecer esses ESTELIONATÁRIOS rezando para que outros também lhes façam a mesma coisa? Abraço. Estou esperando o meu exemplar (acho que vem amanhã) e depois farei a minha critica quanto à sua obra.

Fonte: facebook

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MATERIAL SOBRE ANTONIO LUIZ TAVARES, O CANGACEIRO ASA BRANCA EM NATAL

Por Rostand Medeiros 

Amigo Mendes,

Como prometido, segue o material do dia 26 de julho de 1928, do jornal "A República", de Natal. Veja que Asa Branca começou a cumprir sua pena em Natal, sendo recambiado para Mossoró, junto com seus dois companheiros de prisão.

Dona Francisca da Silva Tavares é a segunda esposa do cangaceiro Asa Branca, e reside aqui em Mossoró-Rn.

O fato da segunda esposa do cangaceiro Asa Branca (Francisca da Silva Tavares) não saber disso, deve ser bem simples; ele não contou a ela, porque achou que não valia a pena.

Antonio Luiz Tavares - Vulgo Asa Branca

Imagino que alguém que passou vários anos na cadeia, não tinha maior interesse em falar nisso. É o que eu acho.

Aconselho a você imprimir este material e mostrar aos familiares dele, para que conheçam um pouco mais de sua história.

Veja o recorte do jornal A República datado de 26 de Julho de 1928.


TEXTO DIGITADO POR J. M. P. - Não criticar a grafia

NOTAS POLICIAIS:

Com officio datado de 1º. do corrente, do Dr. Secretario da Segurança Publica do Estado do Ceará, foram apresentados ao dr. Director Geral do Departamento da Segurança Publica deste Estado, os criminosos da Comarca do Apody, Antonio Luiz Tavares, vulgo, "Asa Branca", "Julio Santanna de Mello, por alcunha "Julio Porto", e Antonio Joaquim da Costa, por autonomazia "Rocxinol" capturados ultimamente naquelle Estado, os quaes depois de identificados, foram recolhidos a Casa de Detenção. 


O cangaceiro Massilon Leite

Esses criminosos fizeram parte do grupo de cangaceiros chefiado por Massilon Leite, que invadiram em 1926 a cidade de Apody.

Um abraço.
Do amigo

Rostand Medeiros 

Rostand Medeiros é natural do Rio Grande do Norte (capital Natal), historiógrafo, pesquisador do cangaço e administrador do blog: 
http://tokdehistoria.com.br

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RELATOS DE UM DESASTRE ANUNCIADO

Material do acervo do pesquisador Narciso Dias
www.scielo.br

Caderno escrito por Anna de Assis revela bastidores do casamento conturbado, mais de 100 anos após a morte de Euclides da Cunha.

Alice Melo e Angélica Fontella - 1/12/2014

“Vim para matar ou morrer”, anunciou Euclides da Cunha à soleira da porta da residência de seu maior rival, Dilermando de Assis. A ameaça antecedeu o que os jornais cariocas chamaram de “A tragédia da Piedade”, um caloroso tiroteio no subúrbio do Rio de Janeiro que resultou na morte de um dos escritores mais aclamados do Brasil. Os acontecimentos da manhã do dia 15 de agosto de 1909 findaram um matrimônio conflituoso de quase 20 anos: Euclides abraçou a morte, em defesa da honra. No dia anterior, sua esposa, Anna Emília Ribeiro, a S’Anninha, se retirara para a casa de Dilermando com o filho bastardo nos braços, após uma briga em que pedira a separação. Anna foi condenada pela opinião pública como a adúltera que provocou a tragédia, e Dilermando, o campeão de tiro que assassinou o gênio destemperado. Mas um documento descoberto recentemente mostra outras dimensões destes heróis e vilões que foram personagens até de minissérie de TV.

 Capa do caderno de Anna de Assis. A caligrafia, segundo a família, é diferente da que consta no interior do documento. (Foto: Acervo Anna Sharp)

“Não venho ofender nem acusar”, justificou-se S’Anninha na primeira página do pequeno caderno em que se propunha a narrar episódios da vida conjugal com o primeiro marido. Uma vida, segundo ela, marcada por infelicidade, desgosto e humilhação. “Venho cumprir com um sagrado dever e dar desencargo à minha consciência e tranquilidade a meu espírito, dizendo que de nós três: Euclides, Dilermando e eu, três criminosos, o mais responsável sou eu. Sim! E isso porque, abrindo as portas do lar a um desconhecido de meu marido, ausente, longe, perdido no extremo norte do Brasil, abria também as do crime, fechando-as sobre a primeira vítima enlaçada e escolhida pela fatalidade”. 

Até a sua morte, em 1951, Anna não falou publicamente sobre o ocorrido. Segundo a família, ela costumava dizer que o silêncio era sua defesa. Não se calou para sempre: deixou um testemunho que ficou guardado por mais de 100 anos numa estante em Belo Horizonte. O manuscrito intitulado O Caso do homicídio de Euclides da Cunha por Dilermando de Assis – Exposição e narrativa dos fatos feitos escrito do próprio punho da mulher da vítima estava entre as coisas de Gregório Seabra Jr. (1874-1941). Assistente do advogado Evaristo de Moraes, que defendeu Dilermando nos dois julgamentos que o absolveram por legítima defesa, em 1911, pelo assassinato de Euclides da Cunha e, em 1916, pelo do filho, Quidinho. Em maio passado, o bisneto de Seabra Jr., Luiz Henrique Oliveira, encontrou o documento e decidiu devolvê-lo à família de S’Anninha.  “Era o desejo de meu bisavô e, depois, meu pai, mas naquela época não existia internet. Ninguém podia ler, era assunto confidencial”, conta. 

Feita a vontade dos antepassados, hoje o caderno está nas mãos de Anna Sharp, neta de S’Anninha e Dilermando, que é escritora e assumiu um compromisso com a memória da avó. Assim que terminar o livro Vozes do passado, sobre a Tragédia da Piedade, pretende doar o manuscrito à Biblioteca Nacional.  Por ora, o material está fora do alcance de pesquisadores e jornalistas, com exceção de alguns trechos, aos quais a reportagem teve acesso. 
  
O caderno da esposa narra detalhes tórridos de sua vida conjugal, mesmo antes de a traição ser revelada. (Foto: Acervo Anna Sharp)

Sharp diz que o testemunho de S’Annninha no “diário” confirma a história contada à sua mãe, Judith Ribeiro de Assis, por sua vez, autora de Anna de Assis: História de um trágico amor (1989). Para a neta, a avó foi uma mulher à frente de seu tempo, que não aceitava a submissão ao marido, que a maltratava. Amou demais e pagou por isso. A terapeuta imagina que o documento é “a entrevista que nunca deu, contando tudo em detalhes, desde a primeira noite com Euclides. As núpcias foram um estupro, ele rasgou todas as roupas dela, chamando-a de ‘vaca’. Ela conta essa brutalidade, o ódio que ele tinha das mulheres”.

Euclides da Cunha é retratado como um homem que tinha acessos de raiva, antes mesmo de saber que era traído. Nesses momentos de cólera, o escritor xingava a esposa, cuspia-lhe na face e a ameaçava. Em uma página, ela narra que ele “insultava-me como um alucinado, rompendo nos maiores destemperos, tomando os meus vestidos e despedaçando-os todos nas maiores ameaças”. Segundo ela, o marido “queria impor-me o amor e pretendia-o por meio dos insultos e das brutalidades!”. Em uma passagem forte, S’Anninha acusa-o de tê-la forçado a beber seu escarro de sangue que fora depositado em um balde, após uma crise de tosse tuberculosa. “Dispus-me a suportar com paciência o meu triste fardo, tratando com a estima natural e derivada convivência diária. Detestava-o, no entanto, e o temia”, escreve.

Não há registro da guerra entre quatro paredes sem ser pelos relatos de S’Anninha – incluindo o último depoimento à polícia. Mas o caso é que a moça não escondeu a traição durante três anos, tendo engravidado duas vezes do amante. Da primeira, nasceu Mauro, que teve uma morte misteriosa, por inanição, aos 7 dias de vida. S’Anninha acusa Euclides de tê-la proibido de amamentar o bebê. Da segunda, surgiu Luiz, registrado como da Cunha, mas que o escritor chamava raivosamente de “a espiga de milho num cafezal”, devido aos cachos loiros que a criança herdou do cadete. 

Biógrafos do escritor chegaram a supor que S’Anninha se entregou aos desejos da carne devido à ausência prolongada do marido em casa. Em dezembro de 1904, poucos anos após ter sido correspondente do jornal O Estado de S. Paulo na Guerra de Canudos, Euclides, autor já conhecido por Os Sertões (1902), embarcou para uma expedição à Amazônia. Só regressaria ao Rio de Janeiro em 1906, encontrando Anna Emília grávida de três meses. A própria S’Anninha se acusa: “se errei, errava porque queria errar. Tinha liberdade de ideias, de sentimentos, de amar. Portanto, não digam que foi a liberdade derivada da ausência de Euclides a causa do meu passo. Não! Não, porque sempre a tive, mesmo com a sua presença que me não tolhia”. 

A morte de Euclides da Cunha gerou comoção nacional. Ilustração de O Malho feita em 1909 tenta reconstituir o tiroteio que lhe tirou a vida. (Imagem: Reprodução / original da Fundação Joaquim Nabuco)

O historiador Leopoldo Bernucci, professor de Estudos Latino-Americanos na Universidade da Califórnia, pondera que o caderno precisa ser analisado por especialistas. E observa que “o sexo teve uma força decisiva no jeito como S’Anninha seguia com a vida”, já que ela não pensou nas consequências desta paixão para um homem público. Segundo Bernucci, que há 20 anos estuda a poesia de Euclides da Cunha, o escritor, ao contrário da mulher com quem se casou, era pouco ligado ao amor e menos ainda à figura feminina: perdeu a mãe aos 3 anos e foi criado por parentes, já que o pai viajava sempre a trabalho. Desde jovem, outros sentimentos lhe eram mais significativos, como honra, lealdade e honestidade. “A mulher, para ele, era uma parte do protocolo social. Acredito que não teve um pendor muito forte para a relação amorosa. Ele tinha suas perturbações mentais, era muito nervoso, explosivo.

Ficava evidente no meio social e as pessoas tentavam se manter afastadas”. Sua poesia, por exemplo, apesar de romântica, era política, tinha apreço pelos ideais da Revolução Francesa. Poucas foram as vezes em que se aventurou a escrever sobre amor e, segundo o professor, quando o fazia, era de forma superficial. Para ele, “Euclides foi vítima de seu tempo e de si mesmo”.

Mary del Priore, autora de Matar para não morrer, indica que é preciso relativizar o relato autobiográfico, principalmente neste caso, em que S’Anninha teria escrito seu depoimento logo após a morte do marido, em um momento em que era condenada fortemente pela opinião pública. A historiadora comenta que “a questão da honra masculina e a virilidade eram coisas muito importes para o homem do fim do século XIX e início do XX. Homens preferiam morrer a ter a honra questionada”. 

A defesa da honra matou quatro pessoas. O primeiro foi Euclides da Cunha, que num acesso de raiva partiu para Piedade com uma pistola emprestada nas mãos, alvejando não só Dilermando, mas o irmão Dinoráh, jogador de futebol do Botafogo, que cometeu suicídio por complicações posteriores. Logo depois, Euclides da Cunha Filho, o Quidinho, para limpar o nome da família, atacou pelas costas Dilermando, então marido de Anna Emília. Teve o mesmo destino do pai. O quarto morto seria o próprio Dilermando, que faleceu de infarto em 1951. “Ele foi o mais prejudicado, pois foi condenado a carregar nas costas a pecha de causador de um desastre do qual foi vítima. Seu erro: tinha apenas 17 anos e apaixonou-se por uma mulher bem mais velha, que sabia o peso dos passos que deu para a desonra da família”, afirma Mary del Priore. 

A tragédia começou no altar e culminou num desastre com muitas vítimas. Como o professor Bernucci lembrou, “aquele casamento foi uma combinação que não deu certo desde o começo”. Uniu sob o mesmo teto uma mulher que preferiu amar sem se ater às convenções sociais e um homem para quem uma ideia tradicional de família era mais importante do que a própria vida.

Saiba Mais:

ASSIS, Judith Ribeiro de. Anna de Assis: História de um trágico amor. Rio de Janeiro: Bestbolso, 2008. 
DEL PRIORE, Mary. Matar para não morrer. Rio de Janeiro: Editora Objetiva. 2009.
GALVÃO, Walnice Nogueira. Euclides da Cunha – Autos do processo sobre sua morte. São Paulo: Terceiro nome, 2009. 

Fonte: facebook
Página: Narciso Dias

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