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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

MULHERES QUE VIVIAM NO BANDO DE CANGACEIROS CASO VIUVASSE, SERIA SACRIFICADA

Material do acervo do pesquisador Virgulino Ferreira da Silva
Maria Bonita e Dadá

As mulheres que viviam no bando, cujos companheiros morriam em combate deveriam ser sacrificadas como "queima de arquivo", visto que, como conhecedoras das minúcias da vida do bando, elas o deixariam em permanente risco. Mediante tortura sempre praticada pela polícia com supostos protetores ou coiteiros de Lampião, com certeza as viúvas de volta às suas famílias tudo revelariam. Narra o autor em fls. 180 a 182 as mortes em combate com a tropa volante de Zé Rufino dos cangaceiros Mariano, Pai Veio e Pavão, ocorridas no município de Porto da Folha e, em decorrência da viuvez de Rosinha, companheira de Mariano, casal amigo de Lampião, que por sinal sentiu muito a morte desse seu comandado, apesar de ter aberto uma exceção deixando que a cangaceira Rosinha fosse visitar os seus pais, quando da sua volta, resolveu para o bem do bando, matá-la. 

Zé Sereno e Pó Corante foram os cangaceiros encarregados da execução da morte de Rosinha e, assim, sob o falso pretexto de realizarem uma viagem, seguiram os três com destino ignorado. Mais adiante, longe do bando, a cangaceira soube da verdade e, apesar dos seus apelos, pânico, choro e total desespero, Pó Corante desfechou um tiro de misericórdia no seu ouvido, para em seguida os dois executores cavarem a sua sepultura em cova rasa, terminando assim, a existência daquela que um dia fora uma brava guerreira, punida pelo infortúnio de ter ficado viúva, conforme bem explicita o autor no final desse capítulo: “Era a dura lei imposta por Lampião: cangaceira que tivesse o companheiro morto e não encontrasse outro como substituto seria de logo eliminada, para evitar deserção ou traição ao grupo, detalhando à polícia fatos considerados sigilosos pelo capitão Virgulino.”

Nota-se perfeitamente no decorrer da leitura do presente livro que foi Lampião o iniciador da fase do "cangaço sem ética". No seu reinado, dependendo da situação, valia tudo, inclusive o assassinato de mulheres, velhos e crianças, seqüestros, extorsões, torturas, castrações, estupros, saques e destruição de propriedades alheias. E de fato, os episódios relatados ao longo do livro, todos confirmados através da extensa pesquisa e relatos de pessoas, familiares ou amigos das vítimas, são de arrepiar os cabelos. Como primeiro exemplo cito o caso ocorrido no povoado Oiteiro Alto em Capela, quando Lampião espancou e estuprou uma mulher e em seguida mandou que todos os cangaceiros presentes fizessem o mesmo. A vítima por estar sofrendo grande hemorragia na sua vagina após a selvageria sexual do bando, ainda teve o seu órgão entupido de areia, socado com o cabo do punhal de um dos cangaceiros, por ordem do próprio Lampião, em desdém e pouco caso ao sofrimento alheio, com pretexto de estancar o sangramento. A indefesa vítima, com pouco tempo de casada, entrou em profunda depressão, não mais saindo de dentro do seu quarto, logo apresentando evidentes sinais de desequilíbrio mental e, enfim chegando a morte prematura por conta da maldade sofrida.

Zé Baiano

Caso não menos chocante é a comprovação do sadismo de Zé Baiano ocorrido no Sítio Maranduba em Canindé do São Francisco em 1932, quando duas mulheres por ele foram ferradas como se gado fossem. Olindina Marques, mulher de um sargento que pouco antes tinha sido sangrado por Lampião, assim como, Antonia Marques, que além de sofrerem atroz e intensa dor, viveram o resto das suas vidas com as iniciais JB nos seus rostos. 

Adendo - http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Zé Baiano (? — 7 de julho de 1936) foi um cangaceiro que integrou o bando de Lampião. Conhecido por sua crueldade, tinha o costume de marcar com um ferro em brasa as iniciais "JB" no rosto ou no púbis de mulheres de cabelo curto ou por estarem usando vestidos cujo comprimento ele considerava inconveniente, passando a ser conhecido por isso como o "ferrador de gente". Devido à cor de sua pele, foi apelidado também de "pantera negra dos sertões".[1] Liderou seu próprio bando, em companhia do qual foi morto em 1936 após uma emboscada em Alagadiço, povoado do município de Frei Paulo.[2]


Lampião e seu bando invadiram Alagadiço pela primeira vez em 1930, arrombando casas e roubando pertences dos moradores. Pelo povoado estar em uma posição estrategicamente privilegiada, e por não contar com destacamento reforçado de polícia, os cangaceiros transitavam livremente pela região. Lampião voltou mais três vezes à Alagadiço; na segunda ocasião, procurou o coiteiro Antônio de Chiquinho, querendo informações sobre um destacamento policial que perseguia seu bando.[3]

A última visita de Lampião ao povoado foi em 1934, quando deixou Zé Baiano no comando da região. Acompanhado de seus comparsas Demudado, Chico Peste e Acelino, ele aterrorizou a localidade, cometendo atrocidades, saqueando e impondo sua própria lei em Frei Paulo e vizinhanças. O bando costumava esconder-se da polícia nas casas de fazendeiros, ou então na mata, mas foi o coiteiro Antônio de Chiquinho que acabou pondo um fim ao reinado de criminalidade de Zé Baiano.[3]

Cansado de ser perseguido pelos policiais devido ao envolvimento com o cangaço, o comerciante armou uma emboscada aos criminosos. Durante uma entrega de alimentos em 7 de julho de 1936, acompanhado dos conterrâneos Pedro Sebastião de Oliveira (Pedro Guedes), Pedro Francisco (Pedro de Nica), Antônio de Souza Passos (Toinho), José Francisco Pereira (Dedé) e José Francisco de Souza (Biridin), Antônio deu fim a Zé Baiano e seu bando. Manteve segredo do fato durante quinze dias, temendo represálias de Lampião. O cangaceiro, contudo, decidiu não se vingar após ser convencido por Maria Bonita que o empreendimento poderia ser perigoso, pois o povoado contava com a presença de um canhão.[3]

https://pt.wikipedia.org/wiki/Z%C3%A9_Baiano

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COMO SE LOCOMOVIAM OS MOSSOROENSES NO INÍCIO DO SÉCULO XX - 16 DE OUTUBRO DE 2016

 Por Geraldo Maia do Nascimento

De volta ao passado da bucólica Mossoró do início do Século XX, nos deliciamos com as narrativas dos seus habitantes sobre os meios de transporte usados na cidade. Em velhos livros amarelados pelo tempo lemos alguns relatos onde tomamos conhecimento que a condução mais importante em Mossoró era a diligência de “Seu Pompílio”, um carro grande de quatro rodas, puxado por uma parelha de burros. Os passageiros compravam as passagens para andar na cidade ou para irem ao Porto de Santo Antônio, de onde chegavam pessoas de barco pelo Rio Mossoró, vindos de Areia Branca e vice-versa. Outra famosa e muito conhecida era a diligência do Dr. Almeida Castro, médico do lugar.
               

Cavalos e burros eram os transportes principais. Todos que chegavam de fora vinham nesses animais e as casas tinham no quintal um abrigo para eles.
               
O primeiro automóvel a chegar em Mossoró foi em 1912, da firma Tertuliano Fernandes & Cia. Teve pouca duração. Teve também o auto adquirido por Delfino Freire, que era um rico comerciante local, dono de várias firmas comerciais. Era um carro grande, com capota de lona, com lugar para duas pessoas na frente e cinco atrás. A buzina ficava por fora, ao lado do motorista. Parecia uma corneta e era acionada apertando-se uma pera de borracha. Não havia bateria nos carros, por isso era usada uma manivela para fazer o motor funcionar. Com o carro, Delfino Freire mandou trazer um chofer, que por ser francês, não tomava água, somente vinho, que era comprado em Aracati, porto do Ceará.
               
Em 1920 Rodolfo Fernandes comprou um Ford. Fez a primeira viagem a Vila de Apodi, causando sensação. Durante o trajeto, as pessoas fugiam apavoradas das estradas. Quando o automóvel chegou na cidade, o povo que estava na rua correu para dentro de suas casas, fechando as portas, achando tratar-se do diabo, pois além do barulho que fazia, dava estrondos, fumaçava e andava sem ser puxado por animais. Foi preciso a interferência do intendente para acalmar o pessoal, dizer que aquelas pessoas eram amigas e convidar a todos para conhecer o automóvel.
               
Encontrei o relato de um cidadão que em 1924 fez uma viagem de Mossoró para Assú, 12 léguas de distância, como se dizia naquela época. Segundo ele, o carro tinha rodas de motocicleta e pneus finos. Conduziam, no mínimo, seis sobressalentes, além de algumas câmaras de ar. Um jovem preto e forte ia ao lado do chofer como ajudante, para girar a manivela e trocar os pneus que, a todo momento, estouravam. Já andava com um vidro de cola para os consertos das câmaras. Na lateral da boleia eram amarradas “borrachas de água”, para matar a sede dos passageiros durante a longa viagem. A capota era de lona, aberta nas laterais. As estradas eram usadas para tropas de burros ou carros de boi, o que as tornavam péssimas para automóvel. Saíram de Mossoró de manhã cedinho e chegaram a Assú por volta do meio-dia. Voltaram dois dias depois, nas mesmas condições.
               
Eram assim os primeiros transportes que circularam em Mossoró no início do Século XX. 

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É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento
Fontes:
http://www.blogdogemaia.com

 http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

AINDA OUTRAS HISTÓRIAS DE BASTIÃO

*Rangel Alves da Costa

Bastião continuava contando seus causos e ninguém levantava para se retirar. Todo mundo se entusiasmava com os proseados sertanejos e se deleitava com uma história atrás da outra. Logicamente que algumas despertavam mais a atenção, principalmente quando envolvia coisas do outro mundo, mas todas igualmente interessantes.

Por falar em coisas do outro mundo, além daquele causo já relatado em postagem anterior, onde Bastião se deparou talvez com gente já sem vida no meio da noite, outra contação despertou muita vigilância. Disse Bastião de todo tipo de coisa estranha que aparece pelas beiradas dos rios ou mesmo dentro das águas. Todo pescador já se deparou com coisas inexplicáveis e de deixar o cabelo em pé.

O que mais se avista são luzes que vão acompanhando, na margem, o barquinho de pesca, as canoas e todos os tipos de embarcações. Quando o canoeiro está sozinho, então a coisa desanda ainda mais. Além de ter aquela luz estranha e desconhecida seguindo os passos, não é difícil que de repente o facho luminoso suba pelas águas e vá em direção à canoa, ou mesmo repentinamente aparecendo bem ao lado do já estremecido pescador. Quem não tem medo de uma aparição assim?
  
Sem falar nos ruídos terríveis, nos barulhos, nos verdadeiros batins que despontam das margens ou das pedras grandes e abrem vagas arrepiantes no meio das águas. Às vezes são bichos, cágados, capivaras e outros mais, até mesmo peixes, mas outras vezes não. Dizia Bastião que não podia dizer se tratar de nego d’água por que nunca tinha visto o tal negrinho fazendo estripulia para assustar pescador, apenas ouvido falar de sua existência. Mas que era coisa muito estranha e que somente rio sabe o que significa.

Perguntado se ele próprio já havia avistado o barquinho dos mortos, aquele mesmo tão conhecido na região ribeirinha e que passava no meio da noite levando velas acesas, a resposta foi negativa. Ele mesmo nunca havia avistado, mas também não podia dizer que era invencionice, pois sabia que tudo era possível de acontecer dentro das águas de um rio e suas margens. Conhecia muitos pescadores e todos eles sempre tinham uma história assombrosa para contar, e que não podia deixar de acreditar, pois ele próprio testemunha de muita coisa inexplicável.


Dizia Bastião que também os encantamentos são muitos, que coisas muito estranhas acontecem que deixam o pescador sem ao menos saber onde está, ainda que não tenha se afastado muito de sua margem de partida. Teve um que maluqueceu de vez. Saiu com sua canoinha de pesca e foi preciso que outros pescadores fossem recolhê-lo sem saber onde estava. E também estava desajuizado, dizendo coisa com coisa, que precisava descer às águas para atender um chamado. Nunca mais foi o mesmo, o coitado.

Sendo homem de pescaria e caçada, Bastião afirma ter muita saudade daqueles tempos onde as águas não deixavam retornar de mãos vazias. Um tempo onde embarcações navegavam levando imensos peixes presos em grandes anzóis, como uma vaqueirama puxando boiada. E certa feita, no meio da noite, ele deixou sua canoa na beirada e subiu a serra de espingarda à mão para uma caçada. Ao retornar, avistou seu barco sendo arrastado para a areia. Mas nenhuma alma viva estava por ali para desprender tanta força.

Doutra feita, também no meio do breu, ele estava perto de uma beirada quando ouviu uns passos cortando as águas. O cachorro recuou, não tinha jeito de querer saber do que se tratava mais adiante. Que peste é isso, perguntou-se assustado. De repente os passos saíram da água e começaram a roçar a mataria ao redor, bem pertinho de onde ele estava. O cachorro se mijava todo e ele sem saber o que fazer. Um único jeito que encontrou foi apontar o facho da lanterna naquela direção.

Quando a luz cortou o tufo do mato, eis que avistou uma onça preta. Então logo lembrou que era uma danada daquela cor que vinha aterrorizando aquela região, matando bezerro e todo tipo de animal, e que meio mundo de caçador já esteve em seu encalço sem conseguir derrubá-la. E agora ela ali tão perto e perigosa. Sozinho, não adiantava enfrentá-la, pois se errasse o tiro era morte certa. Ela avançaria certeira. Então resolveu não esperar o pior e se danou a fugir por cima de tudo.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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MUITO INTERESSANTE!


Apresentação em tema: "Capítulo VI A morte de Lampião Aquêle ôlho terrível que nos fitava no fundo da história do sertão..."— Transcrição da apresentação:

2 Capítulo VI A morte de Lampião Aquêle ôlho terrível que nos fitava no fundo da história do sertão... 

3 Lampião põe Luis Carlos Prestes para correr do Ceará Virgulino Ferreira da Silva, o Capitão Lampião, que juntamente com seu braço direito Cristino da Silva Cleto, o Capitão Corisco, que receberam a missão do padre C í cero Romão Batista através de seu porta voz Floro Bartolomeu, de combater a coluna Prestes. Prestes, quando soube que o Capitão do nordeste se encontrava preparado para o enfrentamento, mudou a rota e partiu em retirada sendo perseguido por Lampião que o obrigou a fugir, a fim de não ter que passar pelo vexame de ser derrotado e humilhado pelo Capitão do Sertão. Corisco Lampião 

4 Alguns argumentos em prol do envenenamento Depoimento espontâneo e corajoso do coronel JOSÉ ALENCAR DE CARVALHO (Senhorzinho Alencar), oficial reformado da Polícia Militar de Pernambuco, que durante dez anos enfrentou Lampião em combates memoráveis: — "Essa questão de envenenar Lampião era velha. Vendo, dia a dia, agravar-se o problema do cangaço, os chefes de volantes queriam acabar com o terrível bandoleiro de qualquer maneira.. A ordem que vinha de cima (Getúlio), era para liquidar com ele. Desconfiado, ligeiro, ágil como cabrito novo, Lampião escapava sempre dos cercos da polícia. Daí a solução rápida, embora ilegal: a morte pelo envenenamento. E muitos chefes de volantes pensaram assim: 

5 - MANUEL NETO, dos mais heroicos combatentes contra o cangaceirismo, procurou comprar coiteiros para envenenar Lampião. “Eu mesmo, certa vez, prometi vultosa fortuna a uma velha, da inteira confiança de Virgulino, se ela fizesse o Rei do Cangaço beber de um vinho que eu lhe dera ". - Dois episódios em que o coronel Alencar, provando que ninguém jamais pegou Lampião desprevenido, corrobora o propósito geral de matá-lo com veneno: a) "Sabendo que ele (Lampião) tinha desejos de pegar um seu inimigo, fiz do mesmo uma espécie de cobaia. Coloquei-o na fazenda de certo parente de onde ele passou a mandar insultos e recados a Lampião, convidando-o a brigar. A resposta do bandoleiro foi esta: — "Você está muito fácil. Aguardo uma oportunidade mais difícil". Como se adivinhasse que ali perto eu me achava, pronto para atacá-lo pela retaguarda. 

6 b) "De outra vez, no encalço de Lampião, encontrei-me com um vaqueiro que disse saber onde ele estava escondido. Numa casa abandonada, a dez léguas dali, ele tratava de Antônio Rosa, um de seus cabras de confiança, atacado de febre. Guiados pelo vaqueiro, andamos toda a noite. Ao amanhecer, estávamos diante da casa. Mas, que surpresa! As árvores próximas estavam crivadas de balas. Xique-xiques e mandacarus decepados por forte tiroteio. Soube, tempos depois, que a sentinela de Lampião, despertada alta noite por um barulho que vinha do mato, alertou o bando. Abriram tiroteio cerrado e terminaram por fugir. A causa do barulho: um bode que pastava nas proximidades. Foi um simples bode, mas podia ser a volante. Lampião não facilitava nunca". 2. Em PARIPIRANGA, BA, a polícia envenenara toda a comida que Lampião, acampado perto dali, mandara comprar. Somente no dia seguinte iria ele mandar dividir esses mantimentos com os cabras. De manhã, porém, a polícia, em erro de tática, vexou-se em atacá-lo, travando-se tiroteio. Descoberto que a comida estava envenenada, Lampião bateu em retirada deixando-a aos soldados... 

7 3. Pouco tempo antes de Angico havia João Bezerra afirmado a Mane Neto que iria exterminar Lampião a veneno. Pondo de lado o despeito de Mane Neto em não ter podido jamais matar nenhum dos irmãos Ferreiras, os quais, ao contrário, lhe mataram quinze nazarenos, sendo nove familiares, o certo é que, na polêmica mantida na imprensa entre esses dois oficiais, terminou João Bezerra confirmando que "nenhum governo estipulou a espécie de morte que seria aplicada a Lampião". Depois veio ele querendo escamotear dizendo: — "Envenenar Lampião teria sido um prazer, se tivesse tido essa grande oportunidade!" 4. PEDRO CÂNDIDO esteve badalando que botou veneno (Cf. Adendo II).


8 5. O cangaceiro Zé Sereno, em entrevista ao Correio da manhã, do Rio de Janeiro, a 28 de julho de 1971, caderno Anexo, recordando a tragédia de Angico, assim se exprime: — "O, coiteiro (Pedro Cândido) chegou com os alimentos envenenados a mando da volante, menos três litros de pinga que, normalmente, ele próprio, o coiteiro, deveria ingerir em pequenas doses para provar sua confiança (...) minha suspeita com Pedro de Cândido confirmou-se depois que ele se foi (...) Apanhei um LITRO DE VERMUTE Cinzano e notei um pequeno buraco na rolha, pro­vavelmente feito por uma seringa. Chamei Lampião e disse-lhe: — “O SENHOR É CEGO DE UM OLHO, MAS PODE VER QUE ESTA BEBIDA ESTÁ ENVENENADA"'. 

9 6. Padre José Kehrle ouviu o SOLDADO VICENTE, integrante da volante de Angico, afirmar — "Até com juramento!" — que Lampião fora envenenado. 7. José Francisco do Nascimento, vulgo ZEZINHO BARBA AZUL, casado em Catende, PE, donde é natural, atualmente residindo em Caruaru. Origem curiosa de seu apelido: deixou a mulher que prevaricara e foi arranjando outras até completar o número de seis, incluindo a esposa. Com o caso da perda da esposa, perdera também o medo do que quer que seja e adquiriu a tal coragem motivada pelo estado de desespero em que ficara. Em certas ocasiões, chegou a brigar com Lampião perto, enquanto seus "colegas de farda se mijavam de medo"! Afirmando enfim, "com toda a certeza", que Lampião não foi morto a bala. 

10 8. O coronel SENHORZINHO ALENCAR, após ouvir minucioso relato de um ex-volante de Angico e de examinar cuidadosamente o fato, declarou de público: — "Acredito firmemente na hipótese do envenenamento de Lampião". 9. O tenente ANICETO RODRIGUES, um dos principais componentes da Tragédia de Angico, igualmente levantou suspeição (daí por que João Bezerra omite seu nome no livro Como dei cabo de Lampião). 10. O coronel LUCENA, fugindo a um inquérito, que seria contundente, para decidir a questão, saiu-se com esta: — "É tarde demais!" (cf. mais adiante, Adendo II b). 

11 11. Os onze cadáveres foram encontrados numa área apenas de vinte e cinco metros quadrados, não havendo sinal de terem sido arrastados por ali. Indício de que, reunidos para o café, foram ao menos mais da metade dos cangaceiros, caindo envenenados dentro desse reduzido espaço. Em luta teriam sido mortos sim, mas dispersos. Por isso o coronel MANUEL NETO em carta aberta na imprensa: — "Não acreditei e continuo desacreditando, porém, na possibilidade de haver sido Lampião e seu grupo, abatidos como porcos, num único combate e no mesmo chiqueiro, registrando-se, apenas, uma baixa na tropa que o enfrentou". E concluía: "Lampião não era um covarde, um inexperiente para se deixar abater tão facilmente...“ 12. Assim, também, o historiador sertanejo ULISSES LINS, tão escrupuloso da verdade: "... para que todos fossem mortos a bala, fora necessário todos juntos... como passarinhos na bebida..." 

12 13. Outro historiador, RODRIGUES DE CARVALHO, no seu livro Serrote preto, é pelo envenenamento. 14. ANTÔNIO SILVINO, velho cangaceiro muito experimentado, não acreditou em combate e até pilheriou dizendo que Lampião e seus homens estavam "dormindo" URUBUS MORTOS. Sob a orientação dos professores drs. José Joaquim de Almeida e Aníbal Firmo Bruno, formou-se, na Faculdade de Direito do Recife, uma comissão de estudantes segundanistas do curso de bacharelado, a qual, para conseguir facilidades em Alagoas, tomou o nome de Comissão Acadêmica Coronel Lucena, com a finalidade de visitar e estudar os resultados da Tragédia de Angico in loco. Compunha-se a caravana de seis acadêmicos: Edson Cantarelli Caribe (presidente), Wandenkolk Wanderley, Plínio Inácio de Sousa, Haroldo de Melo, Décio de Sousa Valença e Alfredo Pessoa de Lima. A este incumbia apresentar ao interventor de Pernambuco o relatório da missão. Agamenon Magalhães arranjou as passagens, ida e volta, de trem, a Maceió. Edson voltou de Quipapá, alegando não poder fazer face a certas despesas, enquanto os outros prosseguiram, chegando, no mesmo dia 3, a Maceió, onde entraram, de imediato, em entendimento com as autoridades. 

13 Partiram dali em caminhão que levava tropa. Viagem sacrificosa e morosa por estradas carroçáveis, em péssimas condições de conservação, no itinerário de Santana de Ipanema, Pão de Açúcar (onde dormiram na casa do delegado Tenório) e Entremontes, e daí para Angico, em canoa e a pé, como ainda hoje. Nove dias fazia que os cadáveres estavam insepultos! Não se contendo de indignação o ardoroso Alfredo Pessoa de Lima improvisou ali mesmo uma espécie de discurso libelo muito comovente censurando aquele "crime da polícia". Deixando de lado o Relatório desse acadêmico (trechos publicados no Caderno acadêmico, setembro de 1942, p ), vazado em rebuscada linguagem eivada de pruridos das teorias lombrosianas tão em moda na época, o que mais importa é seu depoimento pessoal como testemunha ocular: — "Lampião e seus sequazes foram envenenados. A prova peremptória está nos urubus mortos junto aos corpos putre jactos". Outro acadêmico que, junto com Décio Valença, vencendo a repugnância, se aproximou mais do local para observar melhor. Wandenkolk Wanderley, chegou à mesma conclusão. Mais de vinte anos depois, esse destemeroso advogado criminalista, provocado em debate, declarava: 

14 — "Eu vi com meus próprios olhos, visitando o local, alguns urubus mortos, cinco ou seis, caídos junto aos corpos dos cangaceiros. Devorando as víceras dos bandoleiros (ou os alimentos envenenados), eles também se envenenaram pelo arsênico". E, concluindo: — "A versão dada pela polícia do então tenente João Bezerra não passaria de conversa preparada para iludir crianças. O tal combate não se teria registrado, uma vez que os cangaceiros não podiam mais resistir. Chegando ao esconderijo de Lampião, os soldados teriam encontrado homens moribundos, morrendo sob o efeito do arsênico. Tiveram apenas o trabalho de acabar de matá-los, degolando-os em seguida". 

15 16. Mas, antes dessa comissão de acadêmicos, quem primeiro esteve no coito de Angico foram o repórter Melquiades da Rocha e o fotógrafo Maurício Moura, enviados do jornal A noite, do Rio, os quais encontraram os corpos decepados e os urubus mortos. Mais interessante ainda é que encontraram um vidro contendo pó amarelo. O médico do 2º Batalhão de Policia de Alagoas, dr. Arsênio Moreira, verificou que era estricnina. Remetido para o Rio, o chefe do gabinete de Investigações e pesquisas científicas da Polícia, Antônio Carlos Vila Nova (atual diretor da Polícia Técnica de Brasília, ano de 1962), confirmou o veneno — estricnina! O frasco, talvez, caído inadvertidamente do bolso de Pedro Cândido. Daí sua grande preocupação se o plano falhasse. 

16 17. "VOX POPULI"... O autor deste trabalho, nomeado vigário de Tacaratu de 1942 a 1945, percorrendo aquela região toda — de Itacuruba ao vale do Ipanema, das catingas do Navio e Moxotó às ribeirinhas cidades de Piranhas, Pão de Açúcar, Traipu e Própria, dos vastos sertões baianos, a começar de Juazeiro, passando por Curaçá, Chorrochó, Jeremoabo e Glória, ao pequeno sertão sergipano — não encontrou outra opinião senão esta: — Lampião morreu envenenado! 18. O prefeito de Pão de Açúcar, AL, Joaquim Rezende, afirmou ao cantor Sílvio Caldas que Lampião fora envenenado em Angico, antes do tiroteio. 19. Ainda está vivo o ex-cangaceiro Chá Preto, Eldi Antônio de Oliveira, co-participe da Tragédia, para afirmar que Lampião foi envenenado. 

17 20. O celebrado historiador polemista, Otacílio Anselmo, autor de Padre Cícero — mito e realidade, está escrevendo um livro, fundamentado em longo e cuidadoso trabalho de pesquisa e centenas de depoimentos fidedignos, provando que Lampião foi envenenado. Revelando ainda que o laudo médico da morte de Lampião — inicialmente — atestou a presença de veneno e deu como causa mortis o envenenamento! O resultado desse exame, no entanto, foi mantido em sigilo! (Supondo o autor que para não prejudicar o Turismo). Não teria havido, porém, outro motivo mais forte? Não teria sido por razão política — de exaltação das autoridades e da polícia? 21. O sargento Manuel Bento declarou que "foi a maior covardia do tenente Bezerra fazer o que fez com Lampião, que era homem para morrer brigando no campo e não envenenado". 

18 Depoimento básico sobre o envenenamento Um testemunho de máxima importância no ato supremo da Tragédia de Angico. Suficiente por si só, caso não bastasse os outros, que urdiram o texto deste capítulo — o mais intrincado e difícil de escrever — e os vinte e um argumentos anteriores em prol do envenenamento (Adendo II). Os cangaceiros do coito sobreviventes, distantes do local onde tombaram as vítimas, na surpresa e confusão do momento, quase nada sabem dizer. Conseguiu o autor anotar o depoimento, abaixo fielmente trasladado, mediante compromisso de não comprometer o declarante. Agora, trinta anos depois, com a prescrição legal, quase tudo pode ser revelado. 

19 Do padre Magalhães, vigário de Geremoabo, esta declaração pessoal ao autor: — "Posso afirmar ex-fide que Lampião morreu envenenado". Ex-fide, expressão jurídico-canônica ajuramentaria, como se dissesse: "Juro diante de Deus", diferente do sentido jurídico-civil, que é apenas atestatório. O mesmo pode dizer o autor a respeito do presente depoimento. As circunstâncias de ordem psicológica e sacramentai conferem ao depoimento valor incontestável, dir-se-ia absoluto, e invalidam o princípio jurídico do testis unius. Tão impressionante depoimento tornou-se o ponto de partida determinante do interesse das pesquisas do autor sobre Lampião. 

20 O sono de Lampião Lampião nunca dormia com o grupo. Desconfiado por natureza, ficava separado, sozinho. Um dos cabras de sua inteira confiança, muitas vezes escolhido na hora, chamado por ele de "sentinela-do-sono", lhe montava guarda. Perigos de fora e, pior ainda, de dentro havia, se se oferecesse fácil ocasião. Espreitavam-lhe a ambição de lhe tomar a chefia geral do cangaço, a glória de ser seu matador, o prêmio de cinqüenta contos de réis oferecido por sua cabeça... Numa comunidade humana tudo pode acontecer. A vigilância teria de ser "eterna". 

21 O sono de Lampião Aliás, o bando não dormia todo junto, não. Por ordem tática de Lampião, formavam-se grupos de dois ou três, espalhados, não longe uns dos outros. Assim, difícil o aniquilamento sob um ataque de surpresa. Desde Maria Bonita, quando o cangaço foi aberto às mulheres, essas normas se tornaram mais severas, principalmente quanto aos casais. Nenhuma promiscuidade. A moral era rigorosíssima! 

22 O começo Quando ele se apresentou era moço ainda, mas de cenho fechado no apardavasco da pele e com ar de espanto. No antes, porém, era "menino saído". De família humilde, mas honrada, vivendo dos roçados e de umas poucas de criações, além da vaquinha amojada com bezerrinho, e do cavalo de fazer feira. Os irmãos, antes e depois dele, não vingaram sequer um mês. Apenas lhe fazia par a irmãzinha, mais nova do que ele, então na adolescência. Um dia, desses que surgem repetindo a mesma história, um triste acontecido virou o juízo e a pacatez do moço. Na ocasião em que a menina se achava sozinha em casa, veio, sorrateiro, um tarado soldado da polícia e boliu com ela, à força. Acobertado pela farda e pela justiça, nem um padre nosso teve de penitência, continuando nas suas funções e maldades. Pouco depois, o irmão vingava a honra da família, esfaqueando o miserável cujo nos braços de uma mulher separada. Agora sim, a justiça enxergou e descobriu o criminoso — ele! E dos piores, porque matara uma "autoridade"! Caçado pela polícia, foi recebido por Lampião, que lhe trocou o nome por um de guerra — Paturi, a fim de evitar perseguições à sua família e forjou-o cangaceiro de sua confiança. 

24 O relato Eis o seu depoimento, aliás muito cru, tomado naqueles idos de 1942, quatro anos da morte de Lampião fazendo. Foram eliminadas repetições inúteis e digressões supérfluas. O linguajar, fonético e sintático, corrigido, deixa, entretanto, transparecer, raramente entre aspas, palavras e expressões comuns no sertão. Pausadamente e, por vezes, angustiado, assim falou: "Naquela derradeira noite do Capitão, eu fui escolhido para sentinela-do-sono. Tarde da noite, o Capitão e Maria Bonita, que estavam nas melodias, assopraram o candeeiro para dormir. Noite fria, serenando, estiando, serenando, assim... 

25 Quando foi de madrugada, ainda escuro, Maria Bonita saiu da barraca, acendeu o fogo para ferver água na panela de barro. Botou dentro pó de café e pequenos tacos de rapadura. Logo o Capitão apareceu, de manga de camisa, escovando os dentes, de junto de uma pedra grande defronte da barraca. Alguns cangaceiros foram se achegando, sem armas, caneco na mão, para o café ali fumaçando. Devia começar primeiro pelo Capitão, era o chefe. Ele encheu o caneco e bebeu ligeiro, sem carne assada e farinha, sem nada, puro. Adespois os outros foram fazendo o mesmo. A gente tinha de viajar logo. 

26 A hora do café... 

27 De repente, o Capitão soltou o caneco no chão. Parece que sentiu gastura, porque passou a mão rodando pela barriga. Deu uns passos largos, sem prumo e caiu na rede ainda armada na barraca. Deitou só o corpo, as pernas caídas do lado de fora. Eu ajutorando Maria Bonita a juntar os troços, que a gente ia sair cedo, vi tudo. Ela se queixava de dor de cabeça e os beiços queimando. Dizia que foi adepois que 'exprementou' o café para ver se estava bom de doce, um tiquinho de nada molhado e 'ponido' na palma da mão para lamber. Aí, eu avisei a Maria Bonita. Ela, deixando a bacia, correu para ver. Eu corri também. Chegou logo Luís Pedro e Vila Nova. Num instante, o Capitão virou a bola do olho para riba, ficando só o branco, e abriu a boca. Uma gosma suja, com escuma, saía escorrendo do canto da boca. Luís Pedro olhou o pulso e o coração e disse: — 'Tá morto!' Chorando, ele tapou com as mãos os olhos do Capitão e apanhou o chapéu dele. Aí eu disse: — 'É veneno!' Maria Bonita, aperriada, sacudiu a cabeça dele e os ombros. E ele sem ação, morto de mesmo. Tive, na hora, o maior desgosto de minha vida, os olhos chorando. Maria Bonita, coitadinha!, toda agitada e desesperada, gritou: — 'Virgulino morreu!' Eu gritei repetido: — 'O Capitão morreu! O Capitão morreu!' 

28 Mergulhão, que estava deitado no pé da caraibeira, levantou-se todo espantado e perguntou alto: — 'O Capitão morreu?' Aí eu vi logo cangaceiros cair ali, de todo jeito, para frente, para trás, para os lados, de dejunto da panela de café. Maginei comigo mesmo: — 'O veneno era forte que era danado!‘ Eu acho que algum macaco da volante emboscada, com os gritos e os mexidos no coito, passou fogo em Amoroso. Ele tinha ido ver água talvez para o Capitão banhar o rosto. E quaje igual, outro tiro, que pegou Mergulhão. Atrás veio logo uma trovoada de bala! Aquele despotismo que nem deu tempo mais de pensar! Aí era o causo de se salve quem puder, como diz o outro. Assim de surpresa, bala para todo lado e naquele cafus, como era que a gente podia tomar posição e brigar? Aí me soquei dentro de um buraco comprido e baixo, que eu sabia. Lampião.

29 Ficava no pé do morro, 'próchimo' da gruta e atrás da barraca do Capitão. O buraco só dava para caber o corpo pragatado, a barriga no chão, sem poder se virar mais, muito apertado. Na frente tinha moita de mato tapando. Fiquei aí, os braços incomodados, não tinha posição para botar eles. Mesmo querendo, eu não podia sair dali. Do lado de fora era bala por todo canto zinindo. Adespois, as pernas ficaram 'drumentes', moles, bambas só mulambo. Fiquei sem mexer. Mexia só os olhos e o baticum do coração. O resto estava morto. Vi a hora das balas me pegarem. Deixa que chegaram a açoitar a moita. Foi Deus e a Santíssima Virgem que me livraram. Dali de bem de riba, eu fiquei pombeando tudo pela brecha que fiz na moita. 

30 O horror era grande! As balas vinha de magote. Foi torada de bala a rede do Capitão, que caiu com todo o peso no chão. O pano da coberta da barraca avoou, ficando só as varas. Vi Mergulhão cair. Adespois foi Maria Bonita caindo, as mãos cheias de sangue apertando a barriga. Luís Pedro deu uns tiros, mais arriou logo. Vila Nova correu. Não deu tempo de ninguém brigar. Não teve 'loita', não. Possa ser que mais algum cabra de lá de riba do riacho desse besteira de tiro, sem palpite, à toa. A gente e o riacho todinho se acabando na bala. Não posso dizer nem o que foi. Era a confusão do inferno! Mas, não demorou muito tempo, não. Foi ligeiro, ligeiro... coisa de meia hora. 

31 Quando tudo parou de atirar, começou a chegar macaco de todo lado, quer dizer, de riba do alto das Perdidas e beirando o pé da Imburana, passando 'dadonde' eu estava, coisa de duas braças. Eles vinham se achegando devagar, com medo. Um volante, sem ser alto, caboclo forte, mancando da perna, desceu das Perdidas. Parecia o comandante, porque dava ordens. Mais tarde, já livre dali, eu soube que era o tenente João Bezerra. Junto com ele caminhavam três macacos, deviam ser ordenanças. Alguns macacos subiram um pouco o riacho, disparando a espingarda nos matos para espantar se tinha gente. O comandante foi direto para a barraca do Capitão, como que determinado e sabendo. Eu vi quando ele cascavilhou os troços e pegou o papo-de-ema e a mochila com cinco quilos de ouro que o Capitão ia mandar para sua filha. Me arrependo ainda não ter pegado aquelas coisas, também na hora nem me alembrei. 

32 Os macacos, quinem urubus, deram em riba dos cangaceiros caídos, atrás do saqueio de dinheiro, ouros, jóias, outras coisas mais. Não tinham paciência de tirar os anéis dos dedos, cortavam logo os dedos. Sentado numa pedra, o comandante deu a ordem: — 'Cortem as cabeças dos cangaceiros!' Aí foi um alvoroço, todo o mundo gritando: — 'Cortar as cabeças!... Cortar as cabeças!...' Não sei como não morri vendo aquele horror! Parecia um bando de bicho do mato, de feras selvagens, dando gargalhadas e chamando toda nação de nome feio. Levantavam as cabeças dos mortos, segurando pelos cabelos, botavam o pescoço escanchado numa pedra — ficava uma coisa feia: a boca escancarada, os olhos arregalados! — e metiam o facão. Um macaco furando, furando, de pedacinho, com a ponta da faca no redor do pescoço de um cabra até separar do corpo. Outro rolou o facão no pescoço e, quando puxou a cabeça, saiu a guela de dentro do corpo. Foi uma mangação danada! Nenhuma cabeça era cortada de uma só vez. Davam mais de um golpe.

33 Vi uma coisa horrível, que nunca um cangaceiro fez e só bicho faz: os macacos lamberem o sangue da folha do facão melado! A cabeça cortada era levantada pelo cabelo e mostrada, todos dando risada de gosto, mangando e dizendo nomes feios. Tinha cangaceiro meio vivo, mexendo os olhos e falando. Cortaram assim mesmo a cabeça deles com vida! A sangreira era medonha! Tudo melado: macaco, facão, pedra, chão, água, roupa, 'tudim'. Eu vi tudo, já era dia claro, de dia. Naquele meio, veio a ordem do comandante para acabar depressa. Ele estava sentado numa pedra, o pé amarrado, e muito zangado, acho que era de dor. Eu tive dó quando um macaco levantou a cabeça de Maria Bonita, dependurada pelos cabelos compridos. O outro macaco, que tinha o facão na mão, perguntou meio espantado: — 'Inda tá viva, bandida? Cadê o dinheiro?' Ela respondeu bem fraquinho: — 'Não tenho, não'. — 'Então, lá vai...' E cortou o pescoço dela com duas 'facãozadas'. O corpo ficou batendo no chão como de galinha sangrada, e as pernas se descobrindo. Aí eles arregaçaram a saia dela para espiar o resto e começaram a bolir com as mãos, dizendo lérias. 

34 Tive tanta raiva que veio vontade de sair e avançar naqueles dois sujeitos safados, desculpe a má palavra. Chegou a vez do Capitão. Um macaco conheceu e disse: — 'É o peste do cego!' Danou uma coronhada de fuzil na cabeça e foi avisar o comandante. O outro ficou cortando o pescoço do Capitão em riba de uma pedra. Quando acabou, a cabeça escorregou e rolou pela ladeira da pedra até o chão. Ele pegou ela e levou para mostrar ao comandante, que ficou cercado de macaco examinando e falando. Tudo acabado, botaram as cabeças em três sacos, as bocas amarradas num pau. Sim, botaram, também, um corpo com cabeça dentro de uma rede dependurada noutro pau. Tudo mode ser carregado, nos ombros de dois. Adespois os macacos foram se lavar nas poças mais de riba, de água limpa. Começaram a ir embora. O comandante numa cadeirinha feita dos braços de dois macacos. Levaram todo o saque. Foram subindo, um atrás do outro, feito formiga, pelo caminho do alto das Perdidas. 

35 Fiquei ali deitado o dia todo. A cabeça zoava todinha, o corpo doía, quinem tinha apanhado uma pisa de cacete. Faltei coragem para sair dali. Eu via macaco pulando até pelos galhos mais altos dos pés-de-pau. Não tinha fome, não. Mas a sede era de matar, aperriando. Senti uma agonia doida. Mas, esperei, esperei... O silêncio muito grande. Os passarinhos assustados não voltaram mais. Fechava os olhos e enterrava a cara no chão com medo de ver as almas daqueles defuntos aparecerem sem cabeça. Fiquei tão assombrado que sentia algumas vezes o gume do facão passar no meu pescoço. Rezei tanto a Nossa Senhora do Desterro que cheguei a suar de pingar. Tardinha, fui saindo com medo de assombração e de tudo. Caminhava de quatro pés, não podia ficar de pé causo das pernas feito molambo e tremendo. Eu queria ficar fora da vista daquele açougue de carne de cristão. Subindo o riacho cheguei no dependo do alto, os joelhos esfolados. Me aprumei, fui andando, assim cambaleando, areado, até poder sair correndo, ligeiro ou devagar, a noite inteirinha, até chegar na casa de meus pais. Tava mais morto do que vivo. 

36 Passei aquele dia deitado tomando tudo o que era de meizinha que minha mãe preparava e me dava. Comida de panela comi bem pouquinho. De noite, já no outro dia, meu pai me levou para casa de um tio meu, viúvo, que morava sozinho, lugar mais seguro, um esquisito. Estou lá este tempo todim, fazendo planta, dando limpa, xaxando terra nos pés, colhendo legume e capucho de algodão. Também no cuido das criações. Sem sair pra nenhum lugar. Somente agora saí praqui causo minha mãe mandou pedir perdão a Deus. Adespois desta conversa eu quero que seu vigário escute meus pecados na confissão e me comungue na missa".

37 O fim Satisfazendo a curiosidade do leitor: Esse moço, que escapara da morte para contar a história, logo depois, feito embarcadiço de um vapor do rio São Francisco, rumou para o Sul, sem documentos, de nome novamente trocado, para começar nova vida. E desapareceu... No local onde Lampião caiu morto, o capitão João Bezerra fez erguer uma grande cruz latina, de ferro, com três metros de tamanho, hastes binadas, cravada em peanha natural, de pedra. Seu autor teve uma concepção original, que tornou a cruz única no gênero. 

38 Mandou colocar duas estreitas barras de ferro unindo as extremidades de cada braço ao topo da haste vertical, formando assim dois triângulos- retângulos, em cujas hipotenusas foram levantadas dez pequenas cruzes, também de ferro, com o nome dos companheiros de Lampião mortos com ele, e distribuídas, a começar do topo, na seguinte ordem: do lado esquerdo — Maria Bonita, Elétrico, Mergulhão, Desconhecido (depois se descobriu tratar-se de Mangueira), Diferente (este fugiu; o morto era Moeda); do lado direito — Luís Pedro, Quinta-Feira, Cajarana, Caixa- de-Fósforo, Enedina. Particularidades interessantes e coincidentes: — a cruz de Maria Bonita fica à esquerda — o lado do coração! — a de Luís Pedro, à direita — o lado da confiança! A inscrição reza assim: — "Aqui jaz o Rei do Cangaço, Capitão Lampião, com dez companheiros. Combate a 28 de julho de Lembrança do capitão João Bezerra. Colocação da cruz em 30 de outubro de 1961". A essa inscrição poderia aquele oficial acrescentar as palavras suas, ditadas, anos mais tarde, pela análise sincera e pelo critério sereno e honesto de seu espírito amadurecido a respeito do Rei do Cangaço: 

39 Anjico Angico A Cruz de Lampião 

40 — "Se ele (Lampião) fosse vivo hoje, eu não permitiria que ninguém encostasse o dedo nele. Hoje eu não acho que ele era bandido". Tenente João Bezerra 

41 "Ainda se ouvem os gritos do seu feroz combater, na toada das rendeiras, na voz do cego das feiras, o peito quente do povo espera o seu renascer" (Cancioneiro de Lampião). Lampião morreu... Ficou ali sua cruz de ferro. Cruz simbólica e significativa de uma Época no Tempo... de um Rei no Reinado do Sertão! Cruz eternamente solitária de um Homem — mito e legenda — força telúrica e épica —surgido das estranhas profecias do Conselheiro e em cujo peito de ferro foi fincada a Fé e confiado um Destino!... 

42 Lampião e Maria Bonita Lá ia ela, ao lado do Capitão, caminhando ou a galope, sempre bela, coleante, amorosa e redondinha. Orgulhosa como um pavão a ombrear com o macho temível. Sorrindo sempre, mesmo na hora de praticar amor. E sempre seguida de perto por um cachorro negro e comprido que o Capitão lhe dera de presente, o Zé Rufinho, nome com que a bonita Maria batizara o animal, em debochada homenagem ao sanguinário e destemido comandante de polícia José Rufinho, que estava constantemente nos calcanhares dos dois amantes famígeros. Lampião, Maria Bonita e Zé Rufinho 

43 Depois do bando de Lampião assassinado pela volante alagoana do Tenente João Bezerra a 28 de julho de 1938, expostos na escaldaria na Prefeitura de Piranhas, Alagoas, em composição atribuída a Lisboa. 

44 Corisco - Herdeiro e vingador de Lampião...Corisco levou dois dedos à boca, tirou um som curto; ao ouvi-lo, os cabras invadiram a varanda. Foi um terremoto. No meio do barulho que faziam esses homens sedentos de vingança, ouviu-se a voz de Corisco: - Matem todos! Então, foi um verdadeiro inferno: uma calamidade. As facas reluziram à luz dos lampiões. Só escapou o delator, porque tinha fugido para Alagoas. A varanda estava juncada de corpos e o sangue continuava a correr. Depois, os cabras partiram... 

45 POESIA Menina vou te contar a história de um cangaceiro, bicho bom do pé ligeiro, lobisomem do sertão. Comia moça donzela, reparava a injustiça, estrangulava macaco por crime de traição, entrava nos povoados e deixava em petição de miséria o prepotente vergado na punição. 

46 Desocupado, erradio, vagueou como um papão, por muitos anos a fio não buscou a salvação, tinha grande protetor, o padre Cícero Romão, no lugar onde chegava era vigário e juiz, amancebado casava e livrava o infeliz que nas grades da cadeia vivia curtindo peia, delegado de polícia escapava por um triz. 

47 Nos doze pares de França foi buscar inspiração, seu chapéu era igualzinho ao do rei Napoleão, o imperador Carlos Magno houvera de ter paixão, valente como Olivério, brigava como Roldão, dos tempos mais recuados, só Osório e Cipião podiam ser comparados ao guerreiro Lampião.

48 Nestes autos vou narrar a vida de Lampião, quem tiver oiças, escute e faça do coração a via do entendimento, pois nada vale a razão, sangue e terra se misturam em perpétua comunhão, na linguagem do mistério dou a minha tradução, o demônio sobrevive no descendente de Adão, quem de si não o afugenta apodrece na prisão, o homem não nasce bom, já nasce na expiação, se o anjo prevalecesse já teria morto o Cão. 
Nertan Macêdo 

49 Uma Revista feita com o amor de Maria Bonita e a coragem de Lampião.



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IGREJA CATÓLICA SE RECONCILIA COM PADRE CÍCERO.


O bispo da diocese de Crato, no Ceará, dom Fernando Panico, divulgou neste domingo (13 de dezembro de 2015), que o Padre Cícero foi perdoado pelo Vaticano das punições impostas pela igreja Católica entre 1892 a 1916; a reconciliação é um passo definitivo para a reabilitação de padre Cícero na Igreja Católica; segundo a carta, assinada pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, “a presente mensagem foi redigida por expressa vontade de Sua Santidade o Papa Francisco, na esperança de que Vossa Excelência Reverendíssima não deixará de apresentar à sua Diocese e aos romeiros do Padre Cícero a autêntica interpretação da mesma, procurando por todos os meios apoiar e promover a unidade de todos na mais autentica comunhão eclesial e na dinâmica de uma evangelização que dê sempre e de maneira explicita o lugar central a Cristo, principio e meta da História”' 

Fonte: Ypsilon Felix - Santana do Cariri-CE


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A MORTE DO BOI MANSINHO POR DR. FLORO BARTOLOMEU DA COSTA


Certo amigo (Delmiro Gouveia) ofereceu ao Padre Cícero um bonito garrote, mestiço de zebu, por ser raça ainda não conhecida naquele meio. Na impossibilidade de criá-lo dentro da cidade, confiou o tratamento do animal a um negro, de nome Zé Lourenço, residente no sítio "Baixa Dantas", do município do Crato.


Esse preto, quando ali chegou, já era "Penitente em sua terra", isto é, fazia parte de uma associação oficiosa, fundada pelos antigos missionários e ainda hoje tolerada por um ou outro padre.

Depois das perseguições religiosas ao Padre Cícero, começaram a fazer circular que Zé Lourenço, não tendo mais vida de penitente, abusava da crendice do povo, apresentando o "touro como autor de milagres".


Então se dizia que a urina do animal por ele era distribuída como eficaz medicamento para todas as moléstias, que dos seus cascos eram extraídos fragmentos para, em pequenos saquinhos serem pendurados ao pescoço, como relíquias, à moda do Santo Lenho; que todos se ajoelhavam em adoração diante do touro e lhe davam a beber mingaus e papas; enfim, tudo que uma alma perversa possa conceber.

Quando se procurava apurar a verdade, ninguém sabia informar, a começar pelos proprietários do sítio onde Zé Lourenço residia e trabalhava como rendeiro.

Os padres, não sei sob que fundamento, repetiam essas banalidades. O Padre Cícero, não obstante estar convencido da mentira, por diversas vezes tentou vender o animal; mas, não só Zé Lourenço, como também cavalheiros respeitáveis o impediam, fazendo sentir que além de ser inverdade o que espalhavam, o animal era um bom reprodutor e estava melhorando a raça do gado ali. Por isso mesmo todos os grandes e pequenos, o tratavam com carinho, mesmo porque era muito manso, donde veio a ser conhecido por "Mansinho".

Aconteceu que em um dos meses do ano atrasado, na ladeira do Horto, se deu um conflito entre um doido e alguns indivíduos  conhecidos por "Penitentes" e o inspetor policial do quarteirão.

Havendo ferimentos, foram presos os implicados por crime de natureza leve.

De acordo com o Padre Cícero, procurei, por meios brandos, conseguir acabar com a prática dos atos dos "Penitentes".

Os próprios "Penitentes" concordaram com a minha resolução entregando-me, para serem queimadas, as vestes apropriadas que ainda possuíam e as respectivas cruzes, as quais mandei queimar no cemitério.

Eles me informaram que às vezes, praticavam aquele ritual pelo hábito de suas terras, com o consentimento dos vigários e na intenção de sufragarem as almas do Purgatório, o que realmente não me era estranho.

Alguns amigos aconselharam-me nessa ocasião que eu desmascarasse os que acusavam Zé Lourenço de prática de feitiçaria. Respondi-lhes nada poder fazer, em virtude de ser ele morador no município do Crato.

Não sei quem informou o mesmo Zé Lourenço de que eu ia mandar prendê-lo.     O negro, supondo exata a notícia, no terceiro dia apareceu em minha residência. Foi quando o conheci pessoalmente.

Mandei prendê-lo, e, apesar das suas declarações, dele obtive a promessa de ir morar no Juazeiro, para evitar os boatos.

Ao mesmo tempo fiz vir o touro, e, de acordo com o padre, vendi-o para o corte, sob a condição de ser abatido pelo comprador em frente à cadeia.

Abatido o touro em frente à cadeia, em plena rua, às duas horas da tarde, perante centenas de pessoas, de acordo com o Padre Cícero, foi a carne conduzida para o açougue público, onde também foi vendida toda ela, não chegando para todos que quiseram comprá-la, visto ser da melhor qualidade.

Ao chegar a notícia, no Crato, de que Zé Lourenço não mais voltaria ao sitio Baixa Dantas, indo fixar residência no Juazeiro, recebi diversos telegramas, cartas e visitas de homens respeitáveis daquela cidade vizinha, empenhando-se para que eu não retirasse Zé Lourenço do seu sítio, tal a falta que ele fazia aos proprietários, pelo auxílio que lhes prestava nos trabalhos de agricultura, e em outros préstimos.

O pedido, porém, que calou mais no meu espírito foi o do capitão João de Brito, cunhado do nosso colega Deputado Hermenegildo Firmeza, o dono da terra da qual ele, Zé Lourenço, era rendeiro.

Consenti na volta do negro ao seu sitio, e assim terminou a história "das mil e uma noites" do touro "Mansinho".

Interrogando esses cavalheiros que se empenharam pela volta do negro, pelo motivo de não desmentirem os que o caluniavam, me responderam todos sempre assim terem procedido; mas que os boatos eram para desmoralizar o Padre Cícero e, dessa maneira, não podiam evitá-los.

Zé Lourenço, que não frequentava o Juazeiro, depois disso começou a frequentá-lo aos domingos para ali fazer sua feira, e, durante o tempo que eu lá estive, nesses mesmos dias, almoçava comigo, em minha casa, onde se hospedava.

(Extraído do seu livro Juazeiro do Padre Cícero –Depoimento para a história).

http://historiadejuazeiro.blogspot.com.br/2012/07/morte-do-boi-mansinho-por-dr-floro.html

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O ÚLTIMO IRMÃO DA EX-CANGACEIRA DURVALINA



Segundo a cangaceiróloga Neli Conceição filha dos cangaceiros Moreno e Durvalina este era o seu tio Manú, o último irmão da Durvalina. Foi enterrado ontem (16 de outubro de 2016) no Estado do Rio de Janeiro, na cidade de Saquarema, onde lá ele fez sua vida. Manú era  do Estado de  Pernambuco e nasceu no Povoado Arrasta Pé.

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A ENTRADA DE LAMPIÃO EM JUAZEIRO

Por Analucia Gomes

Num misto de temor e de admiração, o povo não resiste à curiosidade. O fato foi descrito da seguinte forma: 

No dia 4 de março de 1926, Lampião e 49 cangaceiros chegavam a Juazeiro. Nas ruas, para vê-los, aglomeravam-se umas quatro mil pessoas. Estavam os bandidos bem armados e municiados. Vestiam, na maioria, brim cáqui. Calçavam alpercatas de rabicho e chapéu de couro. Usavam lenços de cores diversas amarrados ao pescoço. Conduziam rifles e fuzil máuser, revólver e punhal. Traziam à cintura três a quatro cartucheiras, acondicionando nelas, cada homem, um total de 400 balas (MONTENEGRO, 1973, p. 286). 

Havia, é certo, na trajetória e no encalço dos cangaceiros poderosos inimigos, pois essa lida dividia opiniões, mas nessa ousada investida os cangaceiros contavam muito com a habilidade de dialogar ou de alguém por eles exercer essa função com mandatários locais em diversas situações. 


Padre Cícero, poderoso que era, teve a sagacidade e, igualmente, a capacidade não só de contornar qualquer posição contrária, mas de receber o bando e cumprir com a promessa empreendida por Bartolomeu. 

Deputado Floro Bartolomeu

Concedeu a patente sugerida tanto por este e tão desejada por Lampião: Capitão. Padre Cícero redigiu a patente. O Dr. Pedro de Albuquerque Uchôa, engenheiro agrônomo, a pedido do padre, assinou o documento (OLIVEIRA, 1970, p. 58). 

Dr. Pedro de Albuquerque Uchôa

No entanto, Lampião não percebeu que fora logrado, pois o papel que o punha como oficial não teria valor, e, portanto, não gozava do reconhecimento das ditas Forças. * Pesquisa de Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro/Simão Pedro dos Santos.

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