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domingo, 5 de maio de 2019

NOVOS FILHOTES DE ARARA AZUL NASCEM E SALVAM ESPÉCIE DA EXTINÇÃO

Foto: reprodução / Tv Andradas ANTV

O nascimento de três filhotes de arara-azul-grande – ou arara azul como é conhecida – é a esperança para a espécie, considerada em extinção. “Essa ave está atualmente ameaçada de extinção devido à caça, ao comércio clandestino e à degradação em seu habitat natural por conta do desmatamento”, diz a WWF.

Duas delas nasceram no Brasil no apagar das luzes de 2018. Uma terceira nasceu em fevereiro em um cativeiro do Paraguai.

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As brasileiras nasceram no zoológico de Poços de Caldas, em Minas Gerais. Uma deles é saudável a outra teve problemas de formação e precisou de tratamentos. (vídeo abaixo).

“Nós estamos muito felizes, comemorando o nascimento dos dois filhotes”, disse Letícia de Carvalho, diretora técnica do zoo das aves de Poços de Caldas.

Arara azul – Foto: ilusionviajera

Paraguai

Já o nascimento da arara azul paraguaia foi anunciado pela agência de notícias do Paraguai “Ultima Hora”.

A agência contou que a ave nasceu em cativeiro na oficina de aves da ONG “Associação de Ornitófilos e Aliados na cidade de Luque, no Paraguai.

O responsável pela oficina de aves, Gustavo Espínola, disse que o filhote já mostra suas penas azuis iniciais e está em ótimo estado de saúde.

“Como este belo pássaro, há muitas espécies em perigo de desaparecer e nós temos que dar o grande passo, contribuindo para tentar preservar a beleza natural que nos rodeia”, disse.

A arara azul chegou a ser declarada extinta em 2018 por motivos desumanos, como tráfico e comércio ilegal dessas aves.

Veja como foi o nascimento das araras azuis brasileiras:

Com informações da ANTV PlanetaDosAnimais

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Blogdomendesemendes: - Para quem não sabe dona Dulce Menezes é a última cangaceira vida da empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia de Lampião.

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DONA DULCE E A filha Martha Menezes


Material do pesquisador Devanier Lopes


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PADRE CÍCERO


Material do acervo do Francisco Davi Lima


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SAUDADE DE ALGUÉM POR PERTO

*Rangel Alves da Costa

A saudade surge pela distância. Sente-se saudade pela ausência, pelo distanciamento ou pela perda. É a separação que faz brotar o sentimento de querer estar junto, reencontrar, novamente conviver. Na saudade, geralmente os sentimentos redobram em desejos. O amor é acrescido a outros amores não amados quando juntos estiveram. A amizade se torna muito mais reconhecida. A perda se torna muito mais sofrida e dolorosa. Contudo, há um tipo de saudade que se tem até como algo raro de acontecer, vez que mais aproximada a um desejo de estar junto ou novamente ao lado, mas que acaba se tornando saudade mesmo. Estranho, mas é possível sentir saudade de alguém que está por perto, talvez alguns passos ou algumas ruas. E a saudade de alguém por perto é quase tão dolorosa quanto a saudade pela perda de alguém querido, pois comumente se trata de perda também.
Geralmente provocada por uma relação terminada, desamada, distanciada ou por que alguém achou melhor dar um tempinho depois de alimentar uma paixão que parecia duradoura, a verdade é que a saudade dói. E dói mais ainda quando a saudade é de alguém por perto. Que coisa mais terrível, mais destruidora, mais tempestuosa! Muitas vezes, o simples ato de avistar a pessoa motiva ainda mais a saudade, que sempre chega como cruel punhalada. A pessoa amada por perto e nada mais ter ou sentir que a saudade de instantes inesquecíveis, de beijos e abraços inebriantes, de instantes colados um no corpo do outro.


E ao longe, apenas na réstia de um entristecido olhar, o imenso desejo de correr até lá e ser recebido com sorrisos e palavras boas. E ficar imaginando aquela boca que beijou, aquele corpo que abraçou, as promessas sussurrantes e os delírios dos apaixonados. E na mente surgir um filme daqueles instantes na beira das águas, das viagens escondidas, dos encontros camuflados por medos das imediatas descobertas. Na mente, tudo isso surge como furacão, como ventania, como vendaval. E a inevitável pergunta: por quê? As respostas são igualmente dolorosas. O que veio fácil e partiu não será tão fácil assim retornar. Ou será mais fácil ainda, tudo na dependência do destino e o seu desejo de acontecer. Ou não.
De vez em quando eu sinto esse tipo de saudade. Sei que está ali, sei que está pertinho, sei que é muito fácil chegar até lá, mas a separação sempre impede. De repente, saiu pela porta e a saudade já bateu. Vai virando a rua e a saudade aumentando. O pensamento vai rebuscando instantes, momentos, e então tudo vai causando aflição. Estava aqui e já não está mais. Por quê? Brigou, discutiu, enraiveceu, deu meia volta e foi embora. Ao menos por instantes, tudo terminado. Ou mesmo mais demoradamente, e tudo terminado. Bem poderia voltar e não voltou. E por isso mesmo bate uma saudade danada, imensa, e de alguém por perto. Talvez esticando a mão pudesse alcança-la, talvez dando alguns passos pudesse estar perante sua presença. Mas não. Apenas a saudade.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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LAMPIÃO E O "LAJEDO DO BOI" UM DOS LOCAIS DAS FILMAGENS DE ABRAHÃO

Na historiografia do cangaço são muito analisadas as filmagens que Benjamin Abrahão fez com Lampião e seu bando.
  



No ano de 1936, o árabe passou vários meses filmando o bando nas caatingas, e, no governo de Getúlio Vargas, o "DIP" - departamento de imprensa e propaganda confiscou o filme produzido, entendendo que o mesmo, ia contra os princípios da república e afetava a imagem do governo.

Das filmagens originais de Abrahão, sobraram, apenas, em torno de 10 minutos, uma vez que, o restante foi estragado pelo tempo, nos porões da ditadura.

Onde foram feitas as filmagens de Abrahão com o grupo de Lampião?

Segundo estudiosos, apesar de Benjamin ter passado vários meses filmando o grupo um dos locais destas foi No lugar “Lajedo do boi”, próximo ao povoado do "Capiá da igrejinha ", pertencente ao município de Canapi , estado de Alagoas .
Pequeno templo que batiza o povo e o povoado.


O Lajedo fotografado há alguns anos.
Nesse lajedo, os cangaceiros se abasteciam de água, cozinhavam etc. Veja, logo abaixo, a imagem da época feita por Benjamin Abrahão, vendo-se, um cangaceiro carregando água em um pote, em cima do lajedo que acumulava o precioso líquido.naquele “lajedo”, que Lampião se acoitou com seu grupo, em 1936.
  
Cangaceiros carregando potes com água, para abastecimento do grupo.

 Mais um ângulo do grande "Lajedo do boi” hoje.

Fotos recentes Cortesia do escritor do cangaço, Dr. Sérgio Augusto Souza Dantas.

Créditos
Ivanildo Alves Silveira
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC
Natal/RN

JOAQUIM NEVES PINTO (1901-1987)


Joaquim Neves Pinto nasceu com o início do século vinte, no dia 6 de abril de 1901, em Maceió, sendo filho de Manuel Lopes Pereira Pinto, que exercia a função de Juiz de Direito da província.

Sua educação e a de mais oito irmãos exigiu os maiores sacrifícios de seus pais. O jovem Neves Pinto ajudava nas despesas da família tocando violino em cinemas mudos daquela época.

Enfrentou com denodo e perseverança o curso médico, tendo colado grau na Faculdade Nacional de Medicina em 1924. Escolheu a oftalmo-otorrinolaringologia com como especialidade e frequentou, durante três anos, a Clínica de Olhos Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Durante este tempo esteve sob a competente orientação do professor Abreu Fialho, do qual veio a ser assistente na faculdade.

Instalou-se profissionalmente em Maceió, pelos idos de 1925, sendo o primeiro especialista da cidade. Fundou o primeiro serviço de oftalmológico do estado na Santa Casa de Misericórdia de Maceió, e em 1926 conquistou o título de doutor em medicina, defendendo a tese “Tuberculose Ocular.



Possuidor de um espírito pioneiro e inovador, dotado de grande inquietação intelectual e científica, Neves Pinto viajou por diversos países da América e da Europa. Destacam-se os cursos que frequentou em Berlim, Paris, Chicago e Nova Iorque. Dono de uma profunda cultura humanística, Neves Pinto dominava vários idiomas, principalmente o alemão, sendo também grande conhecedor de música clássica, além de competente instrumentista.

Convencê-lo da necessidade de criar a Casa de Saúde Neves Pinto foi tarefa de curta duração. Mas não como um empreendimento comercial, e sim para ter um local apropriado ao tratamento clínico e cirúrgico das enfermidades dos olhos, ouvidos, nariz e garganta. A data de inauguração foi em 10 de janeiro de 1937, em pleno centro comercial da cidade, à rua Boa Vista, 105/107.

Em 1948 resolveu despender alguns meses em Nova Iorque, especializando-se em um curso sobre lentes de contato. De volta, trouxe na bagagem um laboratório para iniciar sua atividade prática com as lentes, consideradas a novidade da época.

Neves Pinto clinicou até a avançada idade de 86 anos. Mas muitos anos antes, quando sentiu que não poderia mais manter a casa de saúde em funcionamento, apenas com o movimento de sua clínica particular, arrendou-a para um grupo de médicos, conservando para seu uso apenas uma parte das instalações. Nos últimos anos de sua vida, Neves Pinto limitou-se à refração ocular. Manteve-se atualizado até seus últimos momentos e recebeu o reconhecimento da comunidade científica, dos companheiros de profissão e de sua vasta clientela.

Fonte: SAO - Sociedade Alagoana de Oftalmologia 


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LAUDO MÉDICO SOBRE A VISÃO DE LAMPIÃO (após sua morte): examinada pelo Dr. Joaquim NEVES PINTO.



P.S: FAC-SIMILE - Respeitando a ortografia do documento.

Por: Dr. Neves Pinto

Considerações do oftalmologista Dr. Neves Pinto sobre os OLHOS de LAMPIÃO.

O Dr. Neves Pinto nos enviou-nos hontem a seguinte carta:

Ilmº Sr. Director do Jornal de Alagoas. Saúde..!

Tendo saído truncado as informações que prestei em meu consultório a um dos repórteres desse conceituado jornal, sobre a DOENÇA NO OLHOS DE LAMPIÃO, julguei necessárias as linhas que se seguem, para que fiquem bem focalizado do ponto de vista científico, o meu diagnóstico.

Confesso que ao ver a CABEÇA do celebre bandido, como oculista e, pelo facto de ser do domínio público que VIRGULINO FERREIRA era cego de um dos olhos devido a uma “belida", tive a curiosidade de examinar de modo mais detido o aparelho visual.

Ora, entre nós o leigo chama de “belida“ a toda mancha de olho, até mesmo a “catarata“, denominando-o “pterígio" a outras neoformaçõesas de "belida de carne“.

Encontrei, effectivamente no OLHO DIREITO do famoso bandido, UMA MANCHA BRANCA tomando quase toda a superfície da córnea na qual pude facilmente reconhecer o que em linguagem ophtalmológica se denomina de LEUCOMA ADHERENTE CENTRAL que é na maioria das vezes a consequência das úlcera perfurantes de córnea...

Em vista da extensão das lesões córneo-irianas poderia assegurar que o caso era INCURÁVEL.

No olho esquerdo encontrei, também, uma MANCHA BRANCA, que na realidade não deveria existir anteriormente, pois se tratava de cristalino luxado na camada anterior. Essa luxação cristaliniano deve ter sido provocada pelo choque das balas que atingiram a cabeça ou violentos traumatismos posteriores.

Quanto ao motivo de LAMPEÃO usar ÓCULOS ESCUROS, o que também me perguntou o aludido repórter, poderia ser por vaidade para esconder o defeito de seu olho direito ou mais provavelmente para se defender da “Photophobia" (medo da luz ) que é um dos sintomas mais frequente das moléstias oculares, agudas ou chronicas.

Sem outro assunpto, agradeço-lhe de antemão a publicação dessas linhas e, me subscrevo com estima.

Do patrício e admirador.
Dr. Neves Pinto.
Maceió, 04 de agosto de 1938.
Fonte: Jornal de Alagoas, 05 de ago. 1938.
Transcrição e grifo: Voltaseca Volta
Joel Reis

A RODA DOS ENJEITADOS


Material do acervo do professor Adinalzir Pereira

A Roda dos Enjeitados, também conhecida como Roda dos Expostos, era um dispositivo cilíndrico instalado do lado de fora de uma igreja que era dedicado ao recolhimento de recém-nascidos rejeitados no século XVIII. A mãe que desejasse abandonar seu filho, ao invés de abandoná-lo em qualquer lugar, tinha a oportunidade de entrega-lo à igreja sem se identificar. Inicialmente no Brasil havia cerca de 5 rodas e no Rio de Janeiro haviam 2. A mais conhecida era na Santa Casa de Misericórdia no Centro, a outra em Campos.

Como o número de crianças abandonadas crescia no Brasil, entre os séculos XVIII e XIX, a corte portuguesa inicialmente se preocupou em resolver o problema adotando esse antigo costume europeu, já que o infanticídio não era visto como crime, mas pecado. Ao saber que as crianças abandonadas eram devoradas por cães e porcos, isso se tornou um incômodo aos administradores portugueses.

A roda foi também um processo civilizador. O Estado começa a desestimular as práticas infanticidas, pois não era aceitável uma selvageria dessas. Como as crianças normalmente eram abandonadas perto de rios, em monturos (lixões da época) ou até na beira das praias, muitas morriam sem ao menos receber o batismo. Por isso, o acolhimento em instituições católicas seria favorável para, pelo menos, as crianças receberem a “salvação”. Criou-se um medo entre os adultos de que as almas das crianças ficassem penando naquele lugar de espera eterna.

Até a invenção da mamadeira e do leite em pó e pasteurizado, o único alimento que podia garantir a vida do recém-nascido era o leite materno ou da ama-de-leite. Desde a antiguidade o problema de como alimentar crianças órfãs e expostas já se colocava como relevante, dada a absoluta impossibilidade de alimentá-las de outras formas. Experiências feitas com papas e caldos e água adoçada sempre foram responsáveis por altas taxas de mortalidade entre os recém-nascidos. Na época, nos Relatórios encaminhados anualmente pelo Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro ao Ministro do Império, observa-se uma crescente preocupação em demonstrar que os índices elevados de mortalidade dos recém-nascidos não eram devidos a maus-tratos recebidos na Casa dos Expostos, mas ao fato de serem os recém-nascidos já depositados mortos ou moribundos.

Segundo os Relatórios do Ministério do Império, foram recolhidas na Roda do Rio de Janeiro 47.255 crianças, no período de 1738 até 1888. As explicações mais comuns apontadas pelos estudiosos para o número crescente de crianças deixadas na Roda sempre foram: para que os senhores pudessem alugar as escravas como amas-de-leite; para proteger a honra das famílias, escondendo o fruto de amores ilícitos; para evitar o ônus da criação de filhos das escravas, em idade ainda não produtiva; pela esperança que tinham as escravas de que seus filhos se tornassem livres, entregando-os à Roda; para que os recém-nascidos tivessem um enterro cristão, já que muitos eram expostos mortos ou adoecidos, em decorrência de epidemias que se abateram sobre o Rio de Janeiro, fazendo grande número de vítimas, dizimando famílias inteiras e deixando crianças órfãs ou em estado de necessidade.

O Brasil foi, talvez, o último país a abolir a Roda. Temia-se que, com sua extinção, aumentassem os abortos e os infanticídios de filhos indesejados ou ilegítimos, uma vez que o dispositivo da Roda mantinha o anonimato de quem depositava a criança, preservando a honra das famílias.

Atualmente ainda se abandonam recém-nascidos, e sem a Roda dos Enjeitados, eles são encontrados em lixeiras ou lugares abandonados. É muita crueldade!

Fonte: Fotos Raras do Rio Antigo


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ADRIANA NEGREIROS: “MARIA BONITA FOI UMA MULHER EMPODERADA”


A escritora Adriana Negreiros (Crédito: Marcos Vilas Boas).

A autora da biografia da cangaceira Maria Bonita conta como realizou a pesquisa para o livro – e o que ela descobriu

Luiz Antonio Giron

Paladina dos pobres, amazona dos sertões, bandoleira ou precursora do feminismo? São variadas e contraditórias as versões de Maria Bonita (1910-1938), a companheira do capituão Virgulino, ou Lampião, o Rei do Cangaço. Para fornecer um retrato mais fiel e desvendar os mistérios em torno de Maria Bonita, a jornalista paulistana Adriana Negreiros dedicou-se a pesquisar sobre o tema. O resultado é o livro “Maria Bonita – Sexo, violência e mulheres no cangaço”, lançamento da Companhia das Letras. Trata-se de seu primeiro livro. Ele é importante porque evidencia o papel das mulheres na bandidagem rural nordestina dos anos 1930, no qual Maria de Déa, ou Maria Gomes de Oliveira se destacou. É a trajetória de Maria (que não foi chamada de Maria Bonita em vida) que fornece a estrutura do livro, pois foi ela a primeira mulher a entrar no cangaço, ao se juntar ao bando do marido Lampião, em janeiro de 1930.

Nesta entrevista, Adriana conta como realizou a pesquisa e por que Maria foi uma espécie de precursora da liberdade feminina.

Por que você se dedicou a pesquisar o papel da mulher no cangaço? 

Havia uma lacuna nos estudos da área nesse aspecto? Os historiadores do cangaço costumam mitificar as mulheres?

Sempre fui fascinada pela história do cangaço – minha família é da cidade de Mossoró (RN) e cresci ouvindo minha avó contar histórias de cangaceiros. Quando escolhi o tema para meu primeiro livro, motivada por esse fascínio, decidi que deveria conta-lo a partir da perspectiva de Maria Bonita, e não de Lampião. A história costuma ser contada pelo ponto de vista do homem (branco e ocidental) e a decisão de adotar como fio condutor uma personagem feminina foi, também, um ato político.

Na universidade, há excelentes estudos sobre a participação das mulheres no cangaço. Mas, nas livrarias, são raros os livros a respeito do tema. Geralmente, quem escreve sobre o cangaço escolhe como personagem central a figura de Lampião.

Os melhores historiadores que estudaram o cangaço estão longe de mitificar as bandoleiras – Frederico Pernambucano de Mello, Luiz Bernardo Pericás e Elise Grunspan-Jasmin já demonstraram, em seus livros, como se dava a relação de opressão contra as mulheres no interior do bando. Porém, a literatura de cordel, alguns relatos memorialísticos e, sobretudo, a indústria cultura criaram a imagem da cangaceira como uma valentona, uma matadora, uma justiceira voraz. Nada mais equivocado.

Com que tipo de fonte e documentos você trabalhou? Conseguiu algum depoimento direto ou usou testemunhos deixados pelos cangaceiros?

Jornais e revistas de época, livros, testemunhos deixados pelos cangaceiros e entrevistas com descendentes.

A situação oprimida das mulheres, e de Maria Bonita, já era conhecida por meio de outras pesquisas sobre o tema? Em que aspecto o seu livro traz novidades?

Os melhores livros sobre o cangaço, como os dos já citados historiadores, deixam claro que as mulheres viviam sob a égide da opressão. Acredito que meu livro contribua para o debate e para os estudos sobre o cangaço por seu enfoque: as mulheres são o assunto principal do meu trabalho. A história é contada pelo ponto de vista delas, e seus relatos não são relativizados. Narro, com o máximo de detalhes que pude levantar, como se deram as experiências de violência contra as cangaceiras. Examino essa história dos anos 30 com o olhar de uma mulher de 2018 e faço uma pergunta que, penso, ainda não havia sido feita: por que os relatos dessas mulheres têm sido costumeiramente desacreditados? Por que, quando as cangaceiras contaram sobre suas entradas no bando – muitas delas, raptadas e estupradas quando crianças – foram tidas por mentirosas, exageradas e dramáticas? Concluí que se trata da mesma lógica que, até hoje, insiste em transformar vítimas em culpadas. Uma distorção atávica.

Maria Gomes de Oliveira a Maria Bonita (Crédito:Benjamin Abrahão) Benjamin Abrahão

Como se criou o mito da Maria Bonita como uma Joana D’arc? Você pode descrever como era a mulher real? Era realmente chata, como diz Dadá? Agira como primeira-dama?

O mito começou a ser criado pela lacuna de informações sobre Maria. Os jornais da época davam pouca importância às cangaceiras. Estavam mais interessados em Lampião, Corisco e outras celebridades masculinas do banditismo rural. As raras informações publicadas sobre as mulheres, inclusive Maria, vinham quase sempre das fontes oficiais, ou seja, da polícia, que tratava as cangaceiras como bandidas – embora elas não atirassem, não participassem dos combates e nem dos saques. A despeito de não serem criminosas, eram presas e, muitas delas, mortas e decapitadas. Para justificar esses atos bárbaros, o melhor para a repressão era incutir nelas a imagem de matadoras, cruéis e sanguinárias.

Esse retrato foi perpetuado pela TV e pelo cinema, mas com uma roupagem romântica, como convém à indústria do entretenimento. Assim, as cangaceiras, Maria Bonita em especial, foram ganhando ares de heroínas, justiceiras, sertanejas revolucionárias.

Maria agia, sim, como primeira-dama, razão pela qual era tida como chata por Dadá. Quem participava da intimidade do grupo, ainda que por alguns dias, destacava que Maria trabalhava bem menos do que as outras bandoleiras. Também tinha influência sobre as decisões de Lampião, para desgosto de Corisco, que dizia que “homem governado por mulher não dá certo”. Zombeteira, caçoava das colegas por darem duro na labuta e ria alto, de forma escandalosa, eventualmente fazendo troça das características físicas de Lampião, como suas pernas finas. Era uma mulher bem-humorada.

Você dá a Maria Bonita o status de ter sido a primeira mulher a acompanhar os cangaceiros. Neste ponto, ela foi pioneira da liberação feminina?

Maria foi uma transgressora. Em pleno sertão do nordeste dos anos 30, largou o marido, com quem era infeliz, para acompanhar o fora-da-lei mais procurado do Brasil. O esperado de uma mulher insatisfeita com o esposo mulherengo era que se conformasse com a situação (e não nos esqueçamos que o Código Civil em vigor na época, de 1916, determinava que as mulheres deveriam ter autorização do marido para trabalhar e dava aos homens o direito de anular o casamento caso descobrissem que sua senhora não era virgem). Nesse aspecto, Maria Bonita foi uma mulher “empoderada”.

Ao mesmo tempo, Maria Bonita era conivente com os estupros coletivos que o bando de seu marido empreendia nos assaltos pelo sertão. Eram duas faces contraditórias da mesma mulher?

Maria era dona de si, não dava muita bola para o que diziam dela – a ponto de, mesmo casada, frequentar os forrós e, ao que tudo indica, ter um amante –, mas não era uma feminista. Não estava preocupada com as questões de gênero – tampouco era adepta do que se viria a ser conhecido como sororidade. Não se opunha às execuções de mulheres por traição. Chegava até a incentivá-las, como aconteceu quando Cristina foi morta por suspeita de trair Português.

Bando de Corisco (Crédito: Benjamin Abrahão) Benjamin Abrahão

Em que consistia o código de conduta do cangaço, com seus interditos e regras rígidas em relação ao sexo?

Havia um código de conduta elaborado a partir de crendices e superstições que desestimulava o sexo em algumas ocasiões: por exemplo, às sextas-feiras e em vésperas de mudanças. Também estabelecia a dedicação ao sexo apenas quando a situação se mostrasse segura – antes da relação, em respeito ao Todo Poderoso, os cangaceiros tiravam os colares com saquinhos nos quais carregavam orações para santos escritas em pequenos pedaços de papel. Desse modo, ficavam desprotegidos, ou com o “corpo aberto”.

Lampião era ele próprio um mitômano, frequentador de cinema e leitor de romances policiais e de aventura. Será que de alguma forma ele não alimentava o mito de Rei do Cangaço e, por isso, vendia a imagem de par romântico de Maria?

Lampião foi um gênio do marketing. Soube construir, em torno de si, a imagem de um rei, um bandido de classe, a ponto de, ainda hoje, ser adorado por muitos sertanejos (não são poucos os que dizem que, fosse ele o presidente da República, o Brasil estaria melhor). Para isso, soube fazer uso da imprensa, que nos anos 20 e 30 começava a tomar forma mais profissional, com jornais e revistas organizados em grandes empresas – em 1926, por exemplo, aceitou dar entrevista a um jornalista do Ceará, ocasião em que tratou o repórter com cortesia. Mas não o classificaria como um mitômano. Lampião era um homem discreto quanto a seus feitos, um sujeito de alguma elegância no trato com aqueles que tinha por seus pares, como coronéis e políticos. Bebia, mas não gostava de ficar bêbado. Tinha autocontrole. Era educado e cumpridor de promessas – fazia questão de ser reconhecido como um homem de palavra. Até na hora de sangrar seus inimigos agia com sofisticação.

Há alguns registros de idas de Lampião ao cinema, mas não se pode dizer que ele fosse um entusiasta da sétima arte – em uma das ocasiões, inclusive, abandonou a sessão na metade porque achou o filme chato (“Ninho de amor”, do diretor Buster Keaton, de 1923). Tampouco acredito que Lampião fosse um leitor voraz de romances policiais e de aventura. Essa versão de um Lampião apreciador de livros policiais foi criada pelo fotógrafo sírio-libanês Benjamin Abraão, segundo a qual o Rei do Cangaço consumia a obra de Georges Simenon e Edgard Wallace. Lampião tinha noções rudimentares de escrita, o que pode ser atestado pelos bilhetes eivados de erros de ortografia que deixaria para a posteridade. A escrita precária, quase incompreensível, não combina com um espírito inclinado à literatura. Embora consumisse o que se publicava a seu respeito, acho improvável que se dedicasse a leituras de maior fôlego.

Também não restam dúvidas de que Lampião foi o Rei do Cangaço. Nunca houve cangaceiro mais poderoso do que ele. E, em vida, seu romance com Maria não foi consideravelmente celebrado. Ela só seria conhecida no final de 1936, pouco antes de sua morte (em julho de 1938), em decorrência do registro de Benjamin Abraão.

Bando de Lampião com Maria Déa em primeiro plano (Crédito:Benjamin Abrahão)Benjamin Abrahão

Em que medida os meios de comunicação da época – jornais, revistas, emissoras de rádio, cinema – ajudaram a espalhar – e a deturpar, às vezes, a fama de Lampião e Maria Bonita?

Lampião foi presença quase diária nos jornais nas décadas de 20 e 30. Embora as matérias dos jornais e das revistas narrassem os feitos do cangaceiro a partir das fontes oficiais, destacando sua crueldade, havia, entre os articulistas, alguns que interpretassem sua figura como a de um mártir dos oprimidos. A partir dali, já se começaria a desenvolver a dupla interpretação que, até hoje, predomina sobre o fenômeno do cangaço – há quem veja nos “cabras” a figura de bandidos e os que, por outro lado, tomem-nos por heróis. Segundo essa última versão, Lampião seria uma espécie de Robin Hood da caatinga.

Quanto ao cinema, o filme da época que chegaria aos dias de hoje seria “Lampião, o Rei do Cangaço”, de Benjamin Abraão, que humanizaria os cangaceiros, apresentando-os em sua rotina mais comezinha. Por meio das imagens captadas por Abraão, descobre-se que os cangaceiros rezam, usam perfume e dançam. Nas cenas, vê-se Lampião e Maria Bonita na intimidade, afetuosos um com o outro. Com o filme, percebe-se que os facínoras também amam, o que tornaria a leitura acerca dos cangaceiros bastante difícil para os que gostam de análises mais chapadas, como se personagens históricos pudessem ser classificados entre aqueles que são “do bem” e os que são “do mal”.

As mulheres do cangaço eram puramente vítima ou de alguma maneira partilhavam os valores de seus homens?

As mulheres eram vítimas de um ambiente extremamente machista e opressor que as colocavam umas contra as outras. Nesse ambiente, reproduziam os valores de seus homens, não se reconhecendo como oprimidas e naturalizando a violência da qual eram vítimas. Não à toa, muitas consideravam que suas colegas, ao ser punidas com a morte por adultério, haviam feito por merecer o castigo.

O legado de Maria Bonita como símbolo da mulher destemida, disseminado sobretudo pela literatura de cordel, deve ser descartado? Por quê?

Não. Maria Bonita era, sim, uma mulher destemida. É preciso muita coragem e determinação para decidir acompanhar o bando de Lampião, enfrentando fome, sede e a perseguição policial em nome de amor e aventura.

Você afirma que o apelido de Maria Bonita foi póstumo. Mas os cangaceiros do bando de Lampião costumavam cantar a canção “Acorda, Maria Bonita”, atribuída a Lampião, desde o início dos anos 30. A música precedeu a mulher real?

O hino de guerra dos cangaceiros era a canção “Mulher rendeira”. Ao que tudo indica, a canção “Acorda, Maria Bonita”, de autoria desconhecida, é posterior aos fatos do cangaço. A confusão deve-se ao fato de, em 1957, Antônio dos Santos, nome do cangaceiro Volta Seca, ter gravado um LP intitulado “As cantigas de Lampião”, no qual consta, além de “Mulher rendeira”, “Acorda, Maria Bonita”. No disco, Antônio dos Santos (este, sim, um mitômano de primeira) aparece como autor das canções. Mas, como disse Dadá em uma entrevista de 1970, “Acorda, Maria Bonita” não é de Volta Seca coisa nenhuma (tampouco de Lampião). É “música do povo”, como ela definiu.



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ENTRADA DO CANGACEIRO VOLTA SECA PARA O CANGAÇO


Por Orildes Holanda

Fazenda Caritá, Sítio do Quinto-BA, aqui o cangaceiro Volta Seca entrou para o Cangaço! Mais uma novidade para nosso canal que sempre tem algo novo e exclusivo. 


Enfrentamos fome, chuva, queda de moto e tudo mais por vocês! Valeu! Quer ver o programa?

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