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domingo, 23 de setembro de 2012

Vingt-un Rosado e o petróleo mossoroense - 23 de Setembro de 2012

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Na próxima terça-feira, 25 de setembro, se vivo fosse, o professor Jerônimo Vingt-un Rosado Maia completaria 92 anos de idade de uma vida dedicada à cultura da região denominada por ele mesmo como \"O País de Mossoró\". Seus feitos sempre são lembrados como editor da maior coleção de livros do país (Coleção Mossoroense), como fundador e incentivador de diversas bibliotecas e museus e fundador da Escola Superior de Agricultura de Mossoró - Esam. Nada se fala, no entanto, da sua luta em prol do petróleo mossoroense. E foi uma luta árdua, para um jovem de pouco mais de vinte e cinco anos de idade, que usando as armas que sempre lhe foram peculiar, enfrentou mais uma batalha em prol de Mossoró.
               

O envolvimento de Vingt-un Rosado com o petróleo mossoroense começou em 1945, quando o então soldado padioleiro 494 da Companhia Escola de Engenharia sediada na cidade mineira de Ouro Fino tomou conhecimento de um artigo elaborado em 1922 pelo norte-americano John Casper Branner e outro redigido pelo geólogo brasileiro Luciano Jacques de Morais em 1929 em que se falava da possibilidade de existência de petróleo no Rio Grande do Norte, mais precisamente na cidade de Mossoró.
               
Conhecedor que era de outras manifestações espontâneas de petróleo na região, como a que foi relatada em 1853 pelo padre Florêncio Gomes de Oliveira, em que afirmava que em Apodi \"em um dos recantos da lagoa desta vila que está mais em contato com as substâncias minerais da serra, tem-se coalhado, em alguns anos, uma substância betuminosa inflamável, e de boa luz semelhante à cera, em quantidade tal que se pode carregar carros delas\", e pelas observações feitas pelo farmacêutico 


Jerônimo Rosado, seu pai, que identificou elaterite na região de Caraúbas, resolveu abraçar a luta pela descoberta do \"ouro negro\" na sua Mossoró. Foi assim que usando as páginas do jornal \"O Mossoroense\" em 6 e 13 de abril de 1947, publicou um trabalho sobre a Wildcat Mossoroense, que é a zona onde se supõe existir petróleo, por dados vagos ou informações superficiais, sem comprovação.
               
A partir de 1949 foram realizados diversos estudos geológicos no litoral do Rio Grande do Norte, mas os resultados não foram satisfatórios. Mesmo assim os estudos prosseguiram. E o incansável Vingt-un, convencido da existência de petróleo na região, lia na 

Rádio Tapuyo, em 11 de maio de 1955, um trabalho no qual já defendia a construção de uma refinaria para Mossoró. Um sonhador Talvez. Mas alguém que soube, através de sua luta, tornar o sonho realidade.
               
Em 25 de fevereiro de 1956, Vingt-un profere uma aula sobre a Geologia da Região de Mossoró e suas consequências naturais para o curso de Antropologia Cultural, em que fala também do petróleo mossoroense. Em 31 de maio de 1956, escreve para a Rádio Tapuyo um pequeno trabalho sobre o mesmo tema. Em 1957, em tese apresentada à Faculdade de Ciências Econômicas de Mossoró, registra: \"Petróleo: Fracassado o Poço Pioneiro de Gangorrinha, G-1-RN\". Parecia o fim do sonho do petróleo mossoroense, mas não para Vingt-un, que visionava: \"Um dia as torres voltarão ao sagrado chão de Mossoró e dirão bem alto que Jonh Gasper Branner, o sábio de Stanford, e Luciano Jacques de Morais, o grande geólogo patrício, estavam certos, ...\" .
               
Em 1967, Vingt-un publicou um livro na Coleção Mossoroense sob o título: \"Alguns Apontamentos sobre o Petróleo Mossoroense\". A esperança não havia morrido para aquele homem de fé. E o seu sonho se torna realidade em 1979, quando finalmente é descoberto a primeira acumulação economicamente viável num poço perfurado para captação de água que deveria atender ao Hotel Thermas. 


Ao lado desse poço, foi perfurado pela Petrobras um poço gêmeo que até hoje é produtor. E com a descoberta de outros campos, como o de Canto do Amaro, o Rio Grande do Norte assume a posição de maior produtor terrestre do Brasil.
               
Em 1982, Vingt-un reedita: \"Alguns Apontamentos sobre o Petróleo Mossoroense\", com um novo título \"Um dia, as torres voltarão ao sagrado chão de Mossoró\". Essa luta de Vingt-un foi reconhecida pela Petrobras em 2003, por ocasião das festividades dos 50 anos da Petrobras.
               
Vingt-un Rosado faleceu em 21 de dezembro de 2005, deixando um imenso vazio na cultura de Mossoró. Hoje é só lembranças. Sete anos se passaram, e a terra cumpriu sua missão. A matéria, como na sentença bíblica, voltou ao pó. Hoje, Vingt-un é Mossoró.


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Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

Fontes:

CANGAÇO – MILLENARIAN REBELS: PROPHETS AND OUTLAWS - PARTE I

Para os países que falam (Inglês)

Translator’s Introduction

It is no surprise that the French group of revolutionary outlaws, Os Cangaceiros, would take an interest in millenarian revolt since their namesakes in Brazil fought side by side with millenarian rebels on more than one occasion. And such an interest is no mere whim. During the Middle Ages, revolt almost always expressed itself in millenarian language in the Western world, and such expressions continued, though increasingly less frequently, into modern times. Thus, those of us who are interested in understanding the ways in which the spirit of revolt develops in individuals and in larger groups of people could perhaps learn something from examining millenarianism in its various forms.

In Prophets and Outlaws of the Sertão, Georges Lapierre[1] tells the story of two movements of revolt in northeastern Brazil whose activities often intertwined. On the one hand, there were several millenarian movements involving dispossessed peasants, rural migrant workers, and urban poor. On the other hand, there were the cangaceiros, individuals whose acts of revenge against a very visible ruling class and its lackeys had driven them to live as outlaws and who joined together in bands called cangaços to wage their battle against a social order to which they were neither willing nor able to belong.

Map of the Empire of Brazil in the nineteenth century – http://blogdoestado.blogspot.com.br

For me, the most interesting aspect of this historical tale lies in the comparisons and contrasts that can be made between these two very different ways of rebelling that manifested themselves in Brazil as the 19th century moved into the 20th century.

Though Georges Lapierre’s account mentions several millenarian movements in Brazil during that period, he only goes into any detail about two of them: the one that gathered around Antonio Conselheiro (Antonio the Counselor)[2] and the one that gathered around Father Cicero. In my opinion, the former is far more interesting, because it was truly a movement of millenarian revolt, whereas Father Cicero’s movement, regardless of any apocalyptic or millenarian language it may have used, was essentially just a movement of social reform[3]. The very fact that its leader was able to maintain a possession in the church hierarchy and gain a significant in the state hierarchy shows that neither revolt nor the bringing of the millennium had any real significance in his activities. He was merely seeking to bring his concept of a christian social morality into the existing social order.

Conselheiro, on the other hand, had a true hatred of the existing social order, and firmly believed that its end was at hand. Being a true believer, he was convinced that god was about to rain his wrath down upon the ruling order and bring a holy kingdom of real equality to the earth, one with neither state nor property, where the entire world would be equally accessible to all. Such a vision was bound to attract many of the dispossessed. Conselheiro’s vision was apocalyptic, but also a vision of action. If the movement that gathered around him ended up forming a “holy city” (Canudos), a commune in which to begin the new way of living, it was also prepared to fight the ruling powers. That battle, however, took a form quite typical of a particular sort of millenarianism. It was a defense of the holy city that was based on trust in a supernatural intervention.

Cangaceiros – Ronald Guimarães – http://www.ronald.com.br/

The cangaceiros, on the other hand, were not religious. They were simply outlaws, driven to leave society behind after taking revenge on someone from the ruling class or one of its lackeys for some humiliation. Like the millenarian rebels, they were from the poor, dispossessed classes. But the path they chose for their revolt was different, reflecting a personal humiliation they pushed them to attack, rather than a more general humiliation. Lacking the faith of the millenarians, they built no utopian communal “cities”, choosing rather to roam the countryside, attacking the rich and raiding cities. When their raids on cities were successful, they often expressed a type of utopian vision as well, throwing huge drunken feasts with music and dancing, often giving away some of what they had stolen. But they sought no permanence and faded back into the countryside to wander.

I find the sympathy of the cangaceiros  for the millenarian movements of their time interesting because their way of life in their world seems to parallel that of the Free Spirit movement of the middle ages. The Free Spirits are often described as millenarians, but their millenarianism was distinctly different from that of Conselheiro, Thomas Münzer, the Münster millenarians and most other millenarian movements. The distinction lies in the fact that the Free Spirits did not see the millennium as something that was going to come soon, but as something that already existed within them. Their perspective was not apocalyptic — aiming toward a future end of the world — but rather based in the immediate present. This is why the Free Spirit, while still using religious language, actually attacked the foundations of religion: dependence on an external supernatural power, hope in a heavenly future, faith in an external source of salvation. Quite rightly, the Free Spirits declared themselves to be greater than god, and apparently lived as vagabond outlaws… much like the cangaceiros. Their perspective left no room for passivity, because they had chosen to be the creators of their own lives.

Drawing depicting Antonio Conselheiro and disseminated via newspapers and books in southern Brazil in the late nineteenth century – http://culturapauferrense.blogspot.com.br

The millenarians of Canudos and Münster, and the followers of Thomas Münzer certainly expressed a more active — and downright fierce — form of apocalyptism. They were ready to fight to the death for their future millenarian dream. But this willingness was based on the delusions of faith and hope — faith in a supernatural savior; hope in divine intervention. Thus, they are not so different from groups like the Branch Davidians in Texas — groups made up largely of the poor, waiting for the apocalypse and ready to defend themselves to the death if necessary. But the fact is that apocalyptism is far more often passive, precisely because it hopes in an external intervention. This is true whether or not it is religious in nature. We are currently living in a period in which apocalyptic thinking is rampant even among people with no religious belief. Whether it takes the form of paralyzing fears of massive plagues and disasters or idealized dreams of a collapse that will do away with the technological and bureaucratic horrors of the present, it doesn’t ever seem to lead to active revolt. The fears, when they manage to get past their paralysis, tend toward the desperate grasping at any action the might “give us more time”, and such desperation sees any sort of anarchist revolutionary and utopian practice — especially one that is live here and now — as a hindrance to this acceptance of any action that works — because such a practice rejects all litigation, all legislation, every form of working through the ruling order… And the apocalyptic hopes for a collapse have always tended to move people toward a mere survivalism, a “practice” that is nothing more than an accumulation of skills in the hopes of being the most fit to survive in the post-collapse world. In my opinion, a small and shabby vision.

Millenarian revolt is interesting mostly because when millenarian perspectives actually led to revolt, to one extent or another, those involved had begun to recognize that they themselves had to act to realize their own liberation. Its limits lie precisely in the continued reliance on a supernatural force to guarantee this. As long as this faith remained, millenarians tended to paint themselves into corners, creating small utopian settlements that they defended with courage and ferocity, but that ended up as their graveyards. But a few, like the Free Spirits, seem to have gotten beyond faith and hope, beyond dependence on a supernatural power to uphold them. And it is interesting that their practice becomes much more that of the outlaw who doesn’t settle down, but remains on the move, thecangaceiro, who may perhaps develop a revolutionary perspective, and thus learn to aim all the more clearly.

Continuaremos quarta-feira

Source of information
http://theanarchistlibrary.org/library/os-cangaceiros-millenarian-rebels-prophets-and-outlaws

Extraído do blog "Tok de História" do historiógrafo e pesquisador do cangaço: 
Rostand Medeiros

Lampião - Parteiro


“Em 1932, o casal de cangaceiros tem uma filha. Chamam-na de Expedita". 

Expedita Ferreira

Maria Bonita dá à luz no meio da caatinga, à sombra de um umbuzeiro, em Porto de Folha, no Estado de Sergipe. Lampião foi o seu próprio parteiro”. Por isso era chamado de médico.

Maria Bonita insistia muito para que Lampião cuidasse do olho vazado. Diante dessa insistência, ele se dirige a um hospital na cidade de Laranjeiras, em Sergipe, dizendo ser um fazendeiro pernambucano. Virgulino tem o olho extraído pelo Dr. Bragança - um conhecido oftalmologista de todo o sertão - e passa um mês internado para se recuperar. Após pagar todas as despesas da internação, ele sai do hospital, escondido, durante a madrugada, não sem antes deixar escrito, à carvão, na parede do quarto:

"Doutor, o senhor não operou fazendeiro nenhum. O olho que o senhor arrancou foi o do Capitão Virgulino Ferreira da Silva, Lampião”.


Além das emboscadas planejadas para liquidá-lo, cabe ressaltar que Lampião conseguiu sobreviver ao veneno e ao fogo. Do primeiro, contou com a dosagem fraca que lhe deu, somente, um inconveniente desarranjo intestinal; do segundo, apesar de chamuscado, conseguiu escapar pulando. Mas foi ferido à bala diversas vezes.

Apesar de ter sido baleado nove vezes, Lampião sobreviveu a todos os ferimentos, sem contar com qualquer tipo de assistência médica formal. Naquela época, desconheciam-se os antibióticos e as sulfas. 

Para estancar o sangue e curar os ferimentos, por exemplo, usavam-se mofo, pó de café e, até, excrementos de gado. Eram usadas ainda, ervas medicinais e rezas dos curandeiros, que nem sempre funcionavam como se esperava. 

Um ferimento em seu pé, neste sentido, condenou Virgulino a mancar para o resto da vida”.Cauteloso

“Desconfiado, só ingeria algo depois que alguém tivesse provado o alimento. Por outro lado, só entregava o dinheiro após ter recebido a mercadoria. Entretanto, não conseguiu se livrar da traição dos falsos amigos”.

http://mariolopomo.zip.net/arch2010-04-18_2010-04-24.html 

PARA NÃO CONFUNDIR AS COISAS (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

PARA NÃO CONFUNDIR AS COISAS

Afirmo sempre que primeiro é preciso conhecer a realidade, sopesar a situação, entender seu contexto, para depois se intrometer sem correr o risco de agir imprudentemente, de falar besteira, perdendo uma ideal oportunidade de ficar calado. E tudo para não confundir as coisas.

Verdade é que pensam que porque um parente meu tem emprego na prefeitura, é comissionado por lá, recebe sem fazer nada ou simplesmente exerce a deplorável função de bajulador, de descarado baba-ovo, de adulador sem-vergonha, tenho que, por reconhecimento e agradecimento familiar, também me tornar um safado.


Ledíssimo engano. Cada um responde na medida do que faz, cada um é agraciado com o que merecer, cada um é dono de seu nariz e de seus atos. Ora, se é submisso, arrasta-se aos pés pelo emprego, pelo que recebe na moita ou possui apenas expectativa de arranjar qualquer coisa, então que vá - sozinho ou junto com pai, mãe e irmãos - pedir voto, bater palmas, segurar bandeira. É grave erro pensar que todos da família têm de agir da mesma forma, que todos têm de abençoar a safadeza.

Seria um absurdo querer tapar o sol com a peneira diante do inegável. Se o candidato é imprestável, claramente não possui capacidade de administrar, é o pior entre todos, seria um aberração de repente pretender transformá-lo no melhor do mundo, no mais confiável e trabalhador, e somente porque um parente meu faz parte do seu metiê.

Ademais, se o parente vende a alma ao diabo em busca de proveito atual ou futuro, isso é problema só e apenas dele. E ninguém venha querer insinuar que uma família inteira deve votar num candidato somente porque um e outro tiram proveito com a candidatura. Ao querer vincular a família, seria o mesmo que querer desonrar a todos em defesa de uma desonra maior ainda.

Citando exemplos. O proveito que um parente tira bajulando um candidato não se estende a outros parentes; o que um ganha defendendo a candidatura não é estendido nem repartido com os demais; aquele que ganha, seja lá quanto for, bota no bolso e pronto, nem pensa nos outros. O que recebe é por mérito ou desonra sua. Então por que os outros familiares têm de apoiar o candidato do parente?

Ora, quem tiver seu nome sujo que limpe, quem rasgou sua roupa que costure, quem comprou fiado que pague. Ninguém venha nesse momento falar em solidariedade, compartilhamento ou união familiar porque inegavelmente isso não existe. Quando querem esculhambar, ferir, macular, nem lembram que são parentes. E muitas vezes são os primeiros a alardear inverdades e a chegar com quatro pedras na mão.

Tem gente que se diz de família, porém só lembra que existe parente nessa hora. E tal lembrança chega de maneira totalmente contraditória. Se o dito parente, mesmo enxergando a imprestabilidade do candidato escolhido, se predispõe a alardear qualidades inexistentes, dizendo que é o melhor, é o máximo, então receberá mimos e abraços. Mas se fala na cara que sua honra e o seu caráter não permitem sentir a podridão e dizer que é perfume, então será xingado, achincalhado, transformado num verme.

Mas talvez alguns aspectos expliquem porque agem assim. Certamente não sabem que o indivíduo é um ser único em si mesmo e caracterizado por fatores fundamentais que o predispõe a ser reconhecido socialmente: honra, caráter, integridade, ser livre para pensar e agir, procurar sempre preservar-se diante dos chamados desonrosos do mundo. Se não for assim logo será transformado num alienado, num submisso, num escravo do novo tempo.


Quando alguém diz que vou seguir por aquela estrada porque sei o que encontrarei adiante, deverá sempre ser respeitado nessa decisão. O caminho do homem quem faz é ele próprio, a cada dia constrói sua condição cidadã e se firma com o reconhecimento que merecer. Mas basta um ato, um só, para que se transforme num asqueroso ser. Basta que deixe de fazer o que achar correto para seguir pelo lamaçal, puxado pelo braço do familiar que já anda de botas longas.

É aquela velha história. Para salvar alguém, o indivíduo pula na água sem saber nadar. Depois que o outro está salvo simplesmente vira as costas e segue adiante. Nem olha pra trás para ver o outro se afogando.

(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com