Seguidores

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

FERNANDO DA GATA

 Por Memória da Polícia Civil de São Paulo-

(3 versões sobre o homem que aterrorizou a vida de muita gente).

Na década de 80, um bandido cearense, da cidade de Russas, de 21 anos, tornou-se famoso no Brasil inteiro por aterrorizar a população de várias cidades em sequências de assaltos e fugas que deixavam a Polícia atônita. Fernando Soares Pereira, o "Fernando da Gata" acabou morrendo à bala, no dia 3 de setembro de 1982, durante uma perseguição policial, no município mineiro de Santa Rita do Sapucaí, que vivia em clima de terror em decorrência das ações bandidas. A morte de Fernando da Gata, que era acusado pela Polícia, na época, de 21 assaltos e 19 estupros somente em São Paulo foi noticiada com destaque na imprensa de todo o País, principalmente nos noticiários de televisão. O corpo dele foi sepultado, mesmo como indigente, de terno e gravata e urna de luxo, doados pela população da cidade mineira de Pouso Alegre, que também viveu em clima de terror. Lá um industrial muito conceituado na cidade, por conta do terror que se criou sobre Fernando da Gata, matou em casa, de madrugada, a própria filha ao confundi-la com o assaltante. Mas no Ceará o mito Fernando da Gata também não foi diferente. Na época me reportei sobre o assunto nos noticiários policiais do O POVO. O corpo de Fernando da Gata, depois de exumado no cemitério de Pouso Alegre foi trazido de avião para Fortaleza. No momento do seu desembarque no Aeroporto Pinto Martins, dezenas de curiosos estavam lá e houve até quem o aplaudisse como herói. Do Aeroporto Pinto Martins, o corpo de Fernando da Gata foi levado para Russas, na Região Jaguaribana. Na tarde do dia 21 de setembro foi sepultado. Dezenas de pessoas dormiram no portão principal do cemitério aguardando a hora do enterro. A Rádio Progresso de Russas anunciava em sucessivas edições extraordinárias a chegada de caravanas de cidades e distritos vizinhos, em ''paus-de-arara" para assistirem o sepultamento. Muitos traziam flores. Um locutor de uma TV de Fortaleza disse que a emissora estava no ar extraordinariamente naquele momento (do enterro) por causa da importância do fato. Depois do sepultamento de Fernando da Gata, a imprensa cearense voltou a se reportar sobre o assaltante maníaco que aterrorizou cidades do Pais. O repórter Francisco Taylor, o "Mão Branca", da TV Cidade, questionou o fato de que o assaltante cearense morreu mais por fome do que pelo único tiro levado. Disse quando caçado nas matas de Santa Rita do Sapucaí passou dias sem se alimentar. O jornalista Oswald Barroso, do O POVO, na época questionou a fama que se formou sobre o assaltante e escreveu uma reportagem intitulada: "Fernando da Gata, um simples de chinelo ou apenas um pirangueiro".

Russas nunca gerou um individuo de mais alto grau de quociente de inteligência e imaginação excessivamente projetadas pelo seu próprio idealismo criminoso, como Chagas da Gata e Fátima Paz, ao tornarem vulto, o famoso bandido Fernando da Gata, Francisco Soares Pereira. Menino pobre, bonito, inteligente, esperto, rápido, educado, diferente dos outros, cresceu na infância, calmo, sem traumas, maus-tratos e violência, no desejo de ser cantor sem pensar em ser bandido, o seu maior sonho era ser soldado do exército. Por conta desse sonho, aos 13 anos de idade, partiu para Fortaleza e trabalhou com o seu tio. Estudou e terminou o ginasial, mesmo no ofício de encanador. Aos 17 anos, partiu para São Paulo, trabalhou e conheceu aquela imensidade. Quando veio o recrutamento voltou para Russas e convocado para servir o Tiro de Guerra, raspou logo a cabeça como soldado, e ao se apresentar com cabelo de militar, fizeram uma investigação e ele foi preso. Prisão essa que findou o sonho de ser sargento do exército e começou o seu tormento. Fernando da Gata só tinha na sua ficha policial um crime de furto com a sua primeira prisão no distrito de Redenção, quando fora autuado em flagrante delito. Mas, para distanciar do fantasma de menino pobre, Fernando, com aplicação em tudo que fazia, sua ambição era ganhar muito dinheiro para tirar a sua mãe da pobreza. Por conta dessa extrema generosidade, na pretensão de ser militar, consegui uma farda e se passando por sargento do exército, em Russas, pegou mais um apelido, o de sargento. Embora considerado o mais célebre dos estupradores, Fernando da Gata foi um bandido romântico, escrevia cartas para a mãe e mandava flores para a namorada, a desaprovar qualquer negação de Deus, com a oração de São Francisco do Canindé que lhe dava sorte e protegia a vida. Com as cem mulheres estupradas com um sorriso no rosto, nem mesmo no disfarce da face do mal, e no pesadelo dos ataques, nunca demonstrou ódio do terror e do espanto como prática de assassinos tenebrosos que estupram e matam por prazer. Desconhecia as crueldades dos bizarro, loucos, cruéis e assustadores monstros que desfilaram mundo afora nas galerias dos serial Killers. Como os que matam quem mais ama, que planejam fantasias sexuais, estupram, torturam, estrangulam e retalham as suas vítimas. A imprensa simplesmente escrupulosamente sobre o perigoso bandido dava notícias de análises e impactos de crimes absurdos e violentos, de forma atroz e odiosa a pintar como Michelangelo, as terríveis cenas do inferno com as façanhas e a famigerada alcunha de Fernando da Gata, muito embora que esse apelido infernal e duvidoso, terrivelmente bizarro de Fernando da Gata, tenha surgido por uma extrema brutalidade, de quando criança, perante ao comandante do quartel de Russas, ao fulminar friamente uma gata ao jogá-la na parede. A outra pelo estigma do destino de que como um fantasma o desgraçado corria por cima dos muros e dos telhados com agilidade dos felinos. E a última, particularmente, por o seu genitor chamar-se Chagas da Gata. E a sua avó conhecida como a velha gata. Para quem era considerado como um bandido perigoso, nunca cometeu nenhum crime violento, homicídio ou assalto a mão armada, mas deixou o país perplexo com os furtos e os estupros. Um dos caso de maior repercussão na trajetória do maníaco, foi quando em Minhas Gerais, o empresário Jair Siqueira, atirou e matou sua filha adolescente, pensando ser o estuprador Fernando da Gata, que invadira a sua residência. Com as histórias de que Fernando da Gata estuprou mais de cem mulheres, o que renegou a sua própria mãe: “100 mulheres estupradas, essa história está errada, meu filho estuprava moça.” Embora que Fernando da Gata tenha estuprado somente moça. Nunca se ouvi dizer que ele tivesse drogado, espancado ou assassinado uma delas. Nem cometido crime de rapto, corrupção de menores ou lesão corporal. Pois por muitos policiais e pelas próprias mulheres estupradas, todos afirmaram que ele era um rapaz, calmo, educado, meigo e muito afável, embora considerado um dos maiores criminosos de todos os tempos. E de tanto vivificarem o bandido, fizeram samba enredo, filme, poesia, literatura de cordel, embora temido, para muitos tornou-se querido até pela polícia que dele tinha medo. Fernando da Gata não nasceu em nenhum mundo-cão, nem fora a besta humana que pintaram, não teve parceiro, nunca usou arma, droga e nem álcool, nem apresentava distúrbio psíquico. Apenas no triunfalismo dos mistérios e invocações demoníacas, Fernando da Gata, sabia ler o destino nos olhos dos gatos, ao ponto de se tornar invisível diante dos policiais e dos cães que quando o farejam voltavam espavoridos. Assim como o homem tentou descobrir o elixir da eterna juventude e o segredo da invisibilidade, Fernando da Gata considerado um dos bandidos mais astucioso e inteligente que esse país conheceu, no uso da extrema manifestação sobrenatural desaparecia diante dos olhos da polícia sem deixar rastro. Assim como furou vários cercos policial, no Ceará, São Paulo e Minas Gerais. Assim, como nas inúmeras perseguições, com helicóptero, cães treinados e centenas de policiais experientes. Principalmente com a fuga cinematográfica da cadeia de Mossoró, pondo fogo no teto do xadrez e com o grampo de cabelo de sua namorada abriu o cadeado da cela, fugiu e nunca mais foi preso. Ele entrava nas casas, pedia para a mulher fazer comida, descansava, estuprava e depois ligava para a policia e sumia. Era um facínora de malícia, orgulhoso e astuto. Ameaçava juiz e delegado, telefonava, mandava bilhete e recado que ia estuprar, escalava o muro e invadia as casas com maior tranquilidade deixando o General Assis Bezerra desmoralizado. Fernando da Gata, Francisco Soares Pereira, morto pela polícia mineira foi enterrado quatro vezes, a última no cemitério de Russas.

Airton Maranhão

POR AIRTON CHIPS.

Fernando Soares Pereira nasceu em 1961 na pequena Russas-CE e aos 21 anos, depois de meteórica carreira na capital paulista e em Pouso Alegre, tornou-se a pessoa mais temida e mais popular do Brasil. Sua fama começou na própria Russas onde mais tarde ele voltaria de avião fretado pelo governo do Estado e, sob o ruflar de tambores seria….. enterrado, como herói e mártir. Suas estripulias, brincadeiras com a policia e abusos sexuais começaram ainda na adolescência e aos vinte anos Fernando já era o mais ilustre ladrão e estuprador da cidade… e o maior fujão do velho hotel de Russas. Prende-lo até que não era tão difícil. Bastava chantageá-lo. O difícil era mantê-lo na cadeia. Diziam que ele tinha parte com o demônio, praticava magia negra ou algo assim, pois simplesmente desaparecia da cadeia na hora que queria. Quando os policiais não conseguiam prende-lo, diante da pressão da população, prendiam algum de seus familiares e então ele se entregava e o chefe da policia o exibia na sacada da delegacia para acalmar a população. Esta ultima parte até que pode ter acontecido, pois naqueles tempos, antes do advento da Carta Magna do jurássico Ulisses Guimarães, nos mais distantes rincões do nosso brasilsão verde-amarelo, especialmente nas pequenas cidades, políticos e policia faziam as leis de acordo com suas conveniências – Faziam….?

Mas o baixinho que na lá no Ceará gostava mesmo de meninas novas de família, cansou-se da farra, da rotina e da pobreza do nordeste e resolveu descer para o rico sudeste. Fixou residência na periferia de São Paulo e se tornou Manoel Rufino da Silva, trabalhador da construção civil. Casou-se com Maria de Fátima, mas logo recomeçou a vida de crimes contra o patrimônio e contra os costumes. Seis meses depois estava em todos os noticiários impressos, radiofônicos e televisivos do país. Agora, o Fantástico Show da Vida já o apresentava ao Brasil como o misterioso “Fernando da Gata”. Em São Paulo ele pulava muros e quintais usando apenas um calção, dominava cães ferozes com um simples estalar de dedos, entrava nas ricas mansões de revolver em punho, estuprava a dona da casa no seu quarto com o marido trancado no banheiro ao lado ou na presença dele mesmo, comia refeições frias ou quentes preparadas pela dona da casa. As vezes fazia xixi – e o ‘dois’ também – nos pratos e panelas e ia embora levando somente objetos que pudesse carregar nas mãos ou numa sacolinha presa à cintura; joias.

Herói, bandido, demônio, mito, folclore. Não sabemos o que é fato e o que é boato, mas foi com este perfil que Fernando da Gata chegou a Pouso Alegre em meados de agosto de 82. Aqui começa a historia que podemos atestar sobre o maior bandido que conhecemos, o qual passou como um furacão por Pouso Alegre e morreu na margem direita do rio Sapucaí, no bairro Pouso do Campo, em Santa Rita do Sapucaí. Morreu tão solitário quanto sua vida criminosa, duas semanas depois de adentrar o Estado mais eficiente do Brasil no combate ao crime.

Um pouco de sua fama era verdadeira, pois os mais famosos policiais de São Paulo vieram para Pouso Alegre tão logo souberam de sua presença… para espantá-lo.

Quando um próspero comerciante da cidade recebeu a visita sorrateira de um baixinho seminu, na calada da noite, sem ser incomodado pelos dobermans, o cão de guarda da época, a policia se lembrou da principal reportagem do Fantástico na noite anterior e ligou os fatos ao bandido. Mas somente depois da terceira visita noturna, três estupros e roubo de cerca de um quilo de joias diversas, é que a policia de mobilizou à altura do perigo que enfrentava. As principais autoridades da cidade se reuniram formando uma mesa redonda, composta pelo General Carlos Aníbal Pacheco, comandante da AD4, Dom Jose D´Ângelo Neto, bispo arquidiocesano, Candido de Souza, prefeito Municipal, Abel Lobo Cordeiro, Delegado Regional, Capital Odilon Jose Gomes, comandante da 56ª Cia do 8º BPM e Jose Murilo Maia, radialista proprietário da Radio Clube – coincidentemente conterrâneo do meliante – para manter a população informada do que estava sendo feito para capturar o perigoso marginal, supostamente Fernando Soares Pereira, O Fernando da Gata, bem como transmitir à população orientação de como evitar pânico, pois este era o caso.

Todos os policiais da cidade foram convocados, independentemente de escala de serviço, para participar da caçada ao maníaco. Era uma operação de guerra. Foi aí que eu entrei na historia de Fernando da Gata. Eu acabara de sair do plantão de 24 horas e fui chamado para voltar para a Delegacia e continuar de plantão enquanto os colegas saiam na captura. Eram mais de 60 policiais rondando a cidade a noite toda, em carros particulares, pois não havia viatura para todos. Na cidade todos se trancavam em casa, mas ninguém dormia, tamanho o medo que sentiam de ser a próxima vitima. Duvido que alguém tenha passado tanto medo quanto eu ali naquelas três noites frias de agosto. Meu raciocínio era que se o meliante era ousado o suficiente para enfrentar cães ferozes e pais de famílias assustados e armados, ele devia saber que eu estava sozinho na delegacia assistindo “Starsk & Hutch” na tv Philips preto branco. O que o impediria de visitar o jovem policial com um caquético HO enferrujado e seis balas com a pólvora solta, na cinta?

Em Pouso Alegre Fernando da Gata fez apenas três visitas nas quebradas da noite. Só anfitrião escolhido, dois ricos empresários e o mais famoso advogado criminal da cidade e região, todos tiveram suas joias levadas… e a honra de suas mulheres também. Numa das casas, a de um empresário do ramo de automóveis, ele chegou com fome… de arroz com feijão de corda, buchada de bode ou jabá com farinha como estava acostumado no Nordeste e ficou mais tempo que o habitual, pois tinha também fome de sexo. Após satisfazer seus apetites sexuais, exigiu que a dona da casa fosse para a cozinha preparar-lhe um banquete. Somente depois de encher o ‘pandu’, e fazer suas necessidades fisiológicas em pratos e panelas ele foi embora levando as joias, a dignidade e a paz da família.

No entanto, o maior dano que Fernando da Gata causou em Pouso Alegre, viria três dias depois de sua ultima visita noturna, já com dezenas de homens na sua sombra e ele a centenas de quilômetros da cidade.

Um prospero empresário, que se tornaria um dos maiores políticos da historia recente de Pouso Alegre, apavorado como todos os pais de família da cidade, dormia com o revolver na cabeceira da cama. No meio da madrugada a porta de seu quarto se abriu lentamente. Ele despertou sobressaltado, pegou a arma e atirou…. não era o bandido. Era sua filha adolescente de 13 anos, que sem conseguir dormir, fora buscar abrigo no seu quarto, e tombou sem vida. O tiro disparado no meio da madrugada despertou toda a vizinhança e atraiu os policiais que faziam a ronda, mas não havia nada mais a fazer. Desnecessário dizer que o empresário recebeu o perdão judicial, pois o mal que ele causou a si mesmo foi muito maior do que o que a justiça poderia lhe impor.

Desde que todas as forças policiais da cidade se mobilizaram para prender o maníaco, os crimes cessaram. Mas as investigações continuaram e dias depois Fernando da Gata fez contato com sua esposa Maria de Fátima, dizendo que estava na histórica Mariana, na região metropolitana de Belo Horizonte. Marcaram um encontro no posto Mavesa, no trevo da “Brasilinha”, entroncamento da BR 381 com 459, onde ele entregaria a ela as jóias roubadas, para fazer dinheiro.

O encontro foi marcado para as duas horas da tarde do dia seguinte, no “play graund” do restaurante ao lado do posto e desde a manhazinha, frentistas e garçons viraram policiais à paisana, prontos para dar o bote. O dia passou sob imensa tensão e somente às quatro da tarde um baixinho com pinta de somongó, levando mochilinha nas costas aproximou-se do fiat 147 que aguardava na sombra frondosa de um Ficus. Ao volante estava o advogado de Maria de Fátima e ela ao seu lado. No banco de trás estavam o famoso investigador Fininho e um delegado paulista, que fizeram questão de participar da prisão. – Na verdade, concluímos depois, o objetivo dos policiais paulistas era exatamente o contrario. Queriam afugentar Fernando da Gata, para que ele não fosse preso em solo mineiro. Eles queriam ter a honra de prender o mais famoso bandido do país – Ao reconhecê-los, O gatuno fugidio nem chegou a falar com a esposa, saiu correndo em direção à rodovia e embrenhou-se no mato. Fininho e seu parceiro saíram primeiro na perseguição e despistaram nossos policiais, informando que o bandido se refugiara à direita da Fernão Dias, sentido São Paulo. O cerco foi feito rapidamente e toda a área varrida até a noite. Sem sucesso. No dia seguinte o assaltante estuprador foi visto no município de Cachoeira de Minas, do lado oposto da rodovia indicada por Fininho. Reiniciada a perseguição, ele rumou-se para Santa Rita do Sapucaí, de onde sairia no rabecão do IML com um único balaço no lado direito do peito.

O diretor da Guarda Municipal de Santa Rita, que era sargento comandante da policia militar na época e participou da caçada, disse-me que durante as duas semanas da presença do bandido na região, a criminalidade na cidade de Santa Rita caiu a zero. “Ate mesmo os bandidos da cidade ficaram com medo de sair de casa”, conta ele.

A bala que acabou com a farra do famigerado Fernando da Gata, o terror dos ricaços e devolveu a paz e a tranquilidade a milhares de famílias da região, saiu do revolver particular do sargento da Policia Militar Ambiental Jose Lucio Campos. – A policia de Minas Gerais não fornecia armamento a seus policiais na época.

Vinte e sete anos depois, Sargento Campos como é conhecido, aposentado desde 88, atendendo meu convite, voltou ao local do fato e me contou como foi.

“Como todos os policiais da nossa área, eu estava à disposição do comando para caçar sem tréguas o perigoso bandido. Eu subi o Rio Sapucaí de barco com minha equipe e quando me preparava para voltar por terra, com o barco a reboque, recebi informação do meu comandante de que o suspeito fora visto próximo à cidade de Santa Rita, nas proximidades da Moore, descendo para o rio Sapucaí. Depois de vasculhar a área indicada, sem sucesso, determinei ao soldado que retornasse ao ponto de partida para buscar a viatura. Enquanto aguardava sua volta, me abriguei deitado ao chão numa restinga há menos de cem metros da margem direita do rio, atrás de uma moita de ‘assa-peixe’. Fiquei ali uns 20 ou 30 minutos até que começou a escurecer e os curiangos começaram a cantar. Eu estava numa pequena depressão do terreno e então me levantei para ter melhor visão do local. Ao dar os primeiros passos, surgiu à minha frente, há menos de dez metros, um vulto vindo do rio. Apesar da penumbra de inicio de noite pude ver que ele usava apenas calção. Ordenei;

- “Quem estiver aí, pare ou eu atiro”.

Não houve dialogo. Neste momento vi um movimento que parecia seu braço se levantando ao lado do corpo e puxei o gatilho do meu revolver que trazia engatilhado, ao mesmo tempo em que me jogava ao chão. Ouvi dois tiros, o meu e o dele e o vulto caiu ao chão. Caiu mas levantou-se rapidamente e saiu correndo. Levantei e corri atrás gritando:

- “pare, você está cercado”, e dei mais um tiro mas ele não parou, soltou uma praga qualquer que não entendi e se embrenhou na restinga ciliar. Como eu estava desprotegido em campo aberto, parei para me abrigar e fui lentamente contornando a restinga de onde o fugitivo talvez pudesse sair. Cerca de 25 minutos depois chegaram ao local o capitão Calçado, o tenente Ponzo, um civil e dois cães farejadores. Após narrar os fatos ao superior, voltamos ao local onde acontecera os disparos e encontramos no chão o revolver branco calibre 38 banhado de sangue. Deduzimos que meu tiro havia atingido o bandido e passamos a vasculhar as imediações. Por volta de nove da noite, ainda sem sucesso, pedi ao capitão calçado para me liberar para ir para casa, pois eu estivera desde a manhazinha num patrulhamento florestal no município de Bom Repouso e teria que retornar às cinco da manha seguinte. Dispensado, fui para casa e dormi tranquilamente, como de costume depois de um dia cansativo. Por volta de uma e meia da manha, fui acordado pelo cabo Paula Costa, que me disse:

– “Você matou o bandido”. Nós achamos seu corpo há poucos metros de onde você o baleou, com um tiro no peito. “O comandante quer você no batalhão para prestar esclarecimentos”.

Eu soube então que meu tiro havia acertado o lado direito do peito do bandido e como ele estava de perfil, a bala caminhou e atingiu o coração. Com o impacto ele caiu ao chão levando a mão com a arma ao peito e com a dor derrubou o revolver e não conseguindo achá-lo no escuro e não querendo se entregar, fugiu de mim desarmado. Seu corpo foi encontrado por volta de onze e meia da noite, de bruços, junto a uma moita de capim, há poucos metros do local onde eu o acertei.”

A vida do mais famoso, misterioso, solitário e aterrorizador bandido que já passou pela região acabou ali, há poucos metros da margem direita do rio Sapucaí, num pastinho de capoeira da fazenda do Sr. Huet Moreira no bairro Pouso do Campo, na altura da Moore Formulários, onde hoje, 27 anos depois, cresce um viçoso milharal.
Acabou a vida, mas não a saga.

Ele ainda daria trabalho e renderia muita historia “post mortem”, inclusive a mim.

O maior terror do Brasil no momento tornara-se um troféu, não poderia ser simplesmente enterrado, tinha que ser exibido – sua família demoraria um pouco para reclamá-lo. Seu velório aconteceu nos corredores da 13ª Delegacia Regional de Policia de Pouso Alegre. Lá estava eu novamente para coordenar a entrada da multidão de curiosos na delegacia, para ser apresentada e se despedir do gigante, do terror, do endiabrado bandido de 1,68m de altura que deixava cães ferozes choramingando nos cantos de quintais com sua passagem.

Não foi bem um velório, foi mais uma exposição à visitação, até porque, as pessoas não acreditavam que o perigoso bandido havia morrido. ‘Matada a cobra, era preciso mostrar o pau’… e não foi uma boa ideia. Menos de duas horas depois o corpo do baixote ossudo, fortinho e sereno, quase angelical, teve que ser retirado da delegacia no rabecão, sob forte aparato policial, revolta e descontrole da população que queria invadir a delegacia. Talvez para esquartejá-lo. Confesso que não sei onde ele passou as próximas horas esperando a população se acalmar. Somente à noite com a poeira assentada, seu corpo desceu à terra numa cova rasa no cemitério municipal.

O epílogo da historia de Fernando da Gata em Pouso Alegre seria escrito quase três semanas depois devido a uma falha profissional. Esquecemos de colher suas impressões digitais. Romeu Norte Pereira, um baixinho invocado filho de fazendeiro do Triangulo Mineiro, fora meu colega no curso de detetive da Acadepol e como cursava medicina, exercia as funções de Auxiliar de Necropsia. Foi ele que desenterrou o gatuno naturalmente nauseabundo e fez a coleta das impressões papiloscópicas. E a coleta foi feita na garagem da delegacia regional… Mas apenas os dedos foram levados para lá numa baciinha, ‘delicadamente’ cortados com uma tesoura. O resto do corpo não saiu do tosco caixão.

No dia 20 de setembro de 1982, já sem alarde, sem clamor e sem glamour, sem saudade e sem os dedos, Fernando da Gata embarcou num carro funerário em Pouso Alegre e desceu no aeroporto de Guarulhos. De lá fez sua primeira e única viagem de avião – da morte – rumo ao aeroporto Pinto Martins em Fortaleza. ‘… foi-se o bandido… ficaram-se os dedos…’ numa lata de lixo qualquer. Seguiu pela madrugada de carro fúnebre para Russas, onde era esperado como herói, com centenas de pessoas dormindo na porta do cemitério para recebê-lo enquanto uma radio local anunciava de hora em hora sua chegada.

Os fatos, mitos e boatos que se passaram antes de sua chegada e depois de sua partida de Pouso Alegre, continuarão por conta do imaginário popular. “O que se passou em terras manduanas, plagiando Chico Lorota”, são fatos “acontecido”. Eu estava lá. E tem mais…

Santa Rita do Sapucaí tem mais a ver com a historia de Fernando da Gata do que se imagina. Meses depois da passagem do terror dos ricaços por aqui, uma pescador – não seria o Portelinha? – que margeava o rio Sapucaí depois de um dia frustrado de pescaria, teve seu dia de gloria. Olhando por acaso para o alto, talvez para perguntar à Deus: “ Ó Pai, porque não me deixa pegar um dourado de 15 quilos?” Teve sua recompensa. Viu alguma coisa pendurada num galho de um ingazeiro, parecia uma meia. Cutucou com a vara de pescar e choveu pulseiras, brincos, anéis e correntes de ouro em sua cabeça. Talvez por medo de levar para casa, levou para a Delegacia e entregou ao delegado Jose Eustáquio Nicolau de Lima e os dois levaram o ‘pescado’ para o delegado Abel Lobo Cordeiro de Pouso Alegre. As joias roubadas por Fernando da Gata voltaram aos seus donos. Dizem as más línguas que teve vitima que recebeu até mais do que lhe fora roubado. O ‘pescador de ouro’ do Sapucaí, naturalmente recebeu uma gorda gorjeta.

Um ano depois de acabar com a raça do famigerado ladrão e estuprador que fez até os bandidos de Santa Rita tremerem e se esconderem debaixo da cama, Sargento Campos, hoje com 67 anos, sentou-se no banco dos réus, diante do homem da capa preta. Ele tinha a seu favor duas excludentes de criminalidade, “legitima defesa” e “estrito cumprimento do dever legal”, por isso, como manda o figurino, foi absolvido pela morte do facínora. Apesar de ter sido eleito vereador de Pouso Alegre por duas legislaturas, e ter desistido de continuar na política por questão de princípios, Sargento Campos disse que o fato de ter matado Fernando da Gata não mudou nada em sua vida.

- “Eu era um profissional a serviço da sociedade”, concluiu.

E nós que conhecemos o cidadão, o policial e o político, que vive na mesma casa desde antes do fato, em Pouso Alegre, acreditamos. Porém, não conhecemos muitos profissionais que teriam a coragem de adentrar aquela restinga de várzea no crepúsculo daquele 03 de setembro, sozinho.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=313298715459373&id=282332015222710&set=a.282588918530353&locale=pt_BR

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O SINDICATO DO CRIME EM CAICÓ – A NOTÍCIA DA PRISÃO DO PISTOLEIRO TONHO DO LETREIRO EM JORNAIS DE RECIFE.

 

Houve um tempo que na bela cidade de Caicó, na região do Seridó potiguar, membros de sua sociedade resolveram seus problemas na bala. Mas alguns deles não seguravam as armas. Preferiam contratar pistoleiros utilizando os serviços de agenciadores com atuação em várias áreas do Nordeste, que formaram um grupo que ficou conhecido como Sindicato do Crime. Entre as mortes ocorridas em Caicó na época, a que alcançou maior repercussão e chegou a ser notícia na mídia nacional, foi a do médico e deputado estadual Carlindo de Souza Dantas. Um dos seus algozes foi o pistoleiro Edmar Nunes Leitão, conhecido por Tonho do Letreiro, pois tinha uma mira tão acurada que com tiros “escrevia” qualquer letra do alfabeto em uma parede. Aqui trago a transcrição e as notícias divulgadas nos periódicos recifenses Jornal do Comércio e Diário de Pernambuco dos dias 28 e 29 de abril de 1970.

AGRADECIMENTO – Ao amigo Marcelino Barbosa, verdadeira lenda da Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Norte, com grande atuação contra o crime no sertão e grande conhecedor da História dessa instituição de segurança pública.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO, TERÇA-FEIRA, 28 DE ABRIL DE 1970.

POLÍCIA FEDERAL SE CONCENTRA NO RIO GRANDE DO NORTE PARA DESBARATAR “SINDICATO DO CRIME”

O pistoleiro Edmar Nunes Leitão, autor de oito crimes na região nordestina, inclusive dos assassinatos dos deputados Carlindo de Souza Dantas e Francisco Miguel, ocorridos em Caicó e Sergipe, chegará às 7 horas de hoje ao Aeroporto Augusto Severo, em Natal, fortemente escoltado por quatro agentes do Departamento de Policia Federal. O delegado regional da Polícia Federal, Sr. Júlio Freire de Revoredo, viajará na manhã de hoje para a capital potiguar, a fim de presidir as investigações que serão procedidas e, inclusive, pessoalmente, fazer acareações e ouvir depoimentos no curso dos trabalhos que serão realizados. Objetiva, segundo as próprias declarações do Sr. Júlio Revoredo pôr a limpo a série interminável de crimes em Caicó e, consequentemente, a detenção de todos que, direta ou indiretamente, concorreram para o estabelecimento do “Sindicato do Crime”.

ORDEM É PRENDER

Frisou o agente federal que fará executar no Rio Grande do Norte, as determinações dadas anteriormente. Baseia-se nas prisões de todos aqueles que estejam envolvidos nos crimes ocorridos em Caicó, quer sejam os autores materiais ou intelectuais das chacinas. Razão porque, acrescentou o Sr. Júlio Revoredo, as pessoas apontadas pelo bandoleiro Edmar Leitão, no curso de seus depoimentos, serão imediatamente detidas, principalmente aqueles que têm ou tiveram ligação com o “Sindicato do Crime”.

Um detalhe que vem intrigando a Polícia Federal diz respeito à “cobertura” que um influente cidadão residente em Natal vem dando ao médico Osvaldo Lobo, acusado de mandante no crime que foi vítima o deputado Carlindo Dantas. Informou o agente Otávio Ruas que o Sr. Osvaldo Lobo é natural da Paraíba, onde foi preso numa fazenda, juntamente com o capataz conhecido por Eronildes. Na fazenda, que é de propriedade do médico, foi encontrado um verdadeiro arsenal composto de seis revólveres, três rifles e uma arma calibre 45.

PONTO OBSCURO

Posto em liberdade, após prestar depoimento na Paraíba, o médico Osvaldo Lobo dirigiu-se a Natal, a fim de homiziar-se na residência de um cidadão influente naquela capital, fugindo à responsabilidade e, inclusive, furtando-se a prestar novos depoimentos á Polícia.

Repórteres, fotógrafos e correspondentes de jornais do Sul radicados em Natal, estão sendo impedidos de entrevistar-se com o médico. Os federais, por sua vez, estão tentando descobrir o local onde se encontra o acusado. Edmar Nunes Leitão, ou “Antônio Letreiro”, como vulgarmente é conhecido, denunciou, como mandantes da morte de Carlindo Dantas, os médicos Osvaldo Lobo e Pedro Militão (assassinado no ano passado), além de um coronel da Polícia Militar do Rio Grande do Norte.

VIÚVA PRESENTE

Edmar vai para Natal, segundo deixou claro, com “a finalidade de resolver esta questão”. Além de vários interrogatórios a que será submetido, “Antônio Letreiro” será acareado com o médico Osvaldo Lobo, com o sargento Antônio Libório e com a viúva do médico Pedro Militão, que também já se encontra era Natal para prestar informações aos federais, acerca da chacina de que foi vítima o seu marido, que por sua vez foi acusado de mandar matar Carlindo Dantas. Edmar Leitão, por outro lado, voltará a avistar-se com pistoleiros e empreiteiros do “Sindicato do Crime” da Paraíba. Todos os pistoleiros e “coiteiros” dos bandidos, presos recentemente em fazendas paraibanas, serão acareados com Edmar, a fim de que seja estabelecido o elo entre os crimes praticados naquele Estado e também no Rio Grande do Norte. As acareações terão início hoje, em Natal, com a presença do delegado regional da Polícia Federal, Sr. Júlio Freire de Revoredo, além dos agentes Otávio Ruas, Mair de Oliveira, Júlio Teixeira e outros.

Antiga cadeia de Pombal, ainda dos tempos do Império. Quem desse local fugiu foi o cangaceiro Jesuíno Brilhante.

POMBAL ERA “QUARTEL GENERAL” DO CRIME

JOÃO PESSOA (De Raimundo Carrero e Maurício Coutinho, enviados especiais) — No depoimento que prestou à Polícia Federal da Paraíba o pistoleiro Levi Olímpio, apontado como um dos principais membros do “Sindicato do Crime” tende agido, inclusive, como empresário para os crimes de Edmar Leitão, preso no Ceará, negou que tivesse até o momento praticado qualquer crime. Mas confirmou a existência do “Sindicato”.

Disse ainda que a reunião para o assassinato do médico rio-grandense, Carlindo de Sousa Dantas, realizou-se na casa de um dos coiteiros do grupo, na cidade de Pombal, não tendo precisado o nome. Negou que alguém recebesse dinheiro para os crimes. Acrescentando: “As mortes eram feitas por amizade aos mandantes ou por prazer, nunca por dinheiro”.

MORTE DO DEPUTADO

“Posso acrescentar ainda — disse — que Antônio Letreiro” foi “peitado” pelo deputado e coronel José Alves Lira, para matar o também deputado coronel Luiz de Barros”.

Na Paraíba, Edmar Leitão, por questões de segurança, fazia se passar por “Antônio”, assim como seu irmão José Maria, por “Ednaldo”; Acusou este último de ter assassinado em São Bento do Bofete, na Bahia, o cidadão conhecido por “Neném Leiteiro”.

POMBAL

Pombal, a cidade do terror, foi apontada por Levi Olímpio, como o quartel general do “Sindicato da Crime”. Na extensão dessa cidade, todo fazendeiro, pobre ou rico, colaborava com os membros do “Sindicato”, uns por cumplicidade (coiteiros), outros por medo.

 Embora Levi tenha negado que recebesse dinheiro com os crimes, a polícia acredita que ele detém em seu poder uma verdadeira máquina montada para morte contra pagamento.

CIGANO BITÓ

Entre os coiteiros apontados por Levi Olímpio, dois nomes são completamente desconhecidos da polícia, e parecem criação do pistoleiro, na esperança de esconder o nome de algum amigo seu. São eles: “Cigano Bitó” e “Dedé Boiadeiro”. “Cigano Bitó”, segundo afirmou Levi, é fazendeiro em Campina Grande, embora até bem pouco tempo fosse um “pobre diabo, não ostentasse nenhuma riqueza”.

Quanto a “Dedé Boiadeiro”, não soube acrescentar nada, afirmando apenas “uma pessoa boa, mas muito perigosa”.

FEDERAIS ADMITEM QUE BANDIDOS FORMAVAM ORGANIZAÇÃO PODEROSA

JOÃO PESSOA (De Raimundo Carrero, Maurício Coutinho e Teobaldo Landim, enviados especiais) — A descoberta de como funcionava o “Sindicato do Crime”, começa a estarrecer o povo desta cidade. A própria polícia mostra-se impressionada, pois não imaginava ser o “Sindicato” uma organização de tamanha amplitude. Os membros do “Sindicato do Crime”, não somente matavam, como ainda fabricavam dinheiro e por cima, realizavam casamentos. Dentro da organização existia até posições hierárquicas, pelo menos, por questão de segurança. O chefe maior era o mandante; depois vinha o empresário; a seguir o contato; e finalmente o assassino. O primeiro mandava eliminar o inimigo e pagava pela execução; o segundo ficava com a missão de conseguir um bom pistoleiro(o assassino), que tivesse boa pontaria: o contato, encarregava-se de saber como andavam as coisas; o último executava o crime conforme o preço que pedisse, Exigia-se muita segurança, honestidade e pouco conhecimento com a Polícia.

CASAMENTO

Até casamento o “Sindicato” fazia. O mais importante deles, foi o de Edmar Leitão (preso em Fortaleza), também conhecido por “Zé Letreiro” e “Antônio”. Edmar vivia aperreando Levi para casar. Já tinha uma noiva; Rosa Pereira. Como gostava muito dela queria casar e abandonar sua vida de crimes. Todos os dias fazia o mesmo pedido e insistia muito. Levi Olímpio não sabia o que fazer; Edmar era muito procurado pela polícia do Estado e seria perigoso levar um padre para a fazenda. Um juiz, pior ainda. Não era nem para se pensar. O que fazer então? Mas Edmar vivia insistindo. E agora até ameaçava matá-lo se não conseguisse, imediatamente, um padre.

Um dia indo na cidade de Pombal, mandou o motorista do carro em que viajava vestir uma batina, arranjou uns papéis para servir de documento, e mais dois padrinhos e fez o casamento. Levi assegura que nem o próprio Edmar sabe disso.

EDMAR E LEVI VÃO SE AVISTAR CARA O CARA

JOÃO PESSOA (De Raimundo Carrero e Maurício Coutinho, enviados especiais) — O pistoleiro Levi Olímpio Ferreira, pessoa importante dentro do “Sindicato do Crime”, estará seguindo, hoje, para Natal, para um encontro com Edmar Leitão o “Antônio Letreiro”, que virá de Fortaleza, Ceará.

Levi Olímpio seguirá fortemente escoltado por policiais da Polícia Federal, em horário não divulgado, pois teme-se um atentado. A vida de Levi é importante para que se possa desvendar muita coisa que ainda está escondida, na existência do “Sindicato”.

DINHEIRO FALSO

A polícia paraibana continua investigando a denúncia de que os participantes do “Sindicato do Crime” teriam diversas máquinas de fabricar dinheiro. Dessas máquinas eram extraída as cédulas para pagamento aos pistoleiros. Já foram realizadas diversas batidas nas fazendas dos coiteiros apontados por Levi Olímpio Ferreira, nada sendo encontrado.

Enquanto será feito o encontro dos assassinos Levi e Edmar, em Caicó. A Polícia Federal continuará suas investigações, acreditando-se que qualquer novidade possa surgir de um instante para outro.

NECO DA IMACULADA


Noticia-se, ainda nesta cidade, que o pistoleiro Neco da Imaculada, um dos mais perigosos do Nordeste, foi preso numa cidade do interior paraibano, ninguém, no entanto, sabe precisar o local.

Neco da Imaculada é acusado de mais de 20 crimes bárbaros a serviço de poderosos donos de terras e políticos influentes. Os agentes federais admitem, por outro lado, que Neco da Imaculada esteja envolvido em cinco crimes ocorridos era Caicó. Sabe-se, até agora, que das chacinas ali ocorridas, somente as que foram vítimas Carlindo Dantas e o industrial Aníbal Macedo estão praticamente esclarecidas. Edmar Leitão seria o autor das mortes dos dois cidadãos, muito embora os crimes de que foram vítimas os médicos Onaldo Queiroz e Pedro Militão, além do jovem Aníbal, filho do industrial Aníbal Macedo, estão sem solução, admitindo-se que Neco da Imaculada seja autor de um deles.

Isto será minuciosamente investigado pelos federais, a partir do momento em que as diligencias forem prosseguindo em Caicó, principalmente agora com a presença, ali, do bandoleiro Edmar Leitão.

JORNAL DO COMÉRCIO, RECIFE, 28 DE ABRIL DE 1970

FEDERAIS CAPTURAM BANDOLEIRO QUE PRATICOU 20 ASSASSÍNIOS

JOÃO PESSOA (Sucursal) — Durante diligências realizadas ontem, na cidade de Teixeira (PB), 12 agentes do Departamento de Policia Federal efetuaram a prisão do bandoleiro Manoel Batista de Araújo, o “Neco de Imaculada”, autor de 20 assassínios no Nordeste e Juntamente com o pistoleiro Edmar Leitão, é responsável pelos últimos crimes ocorridos em Caicó.

O profissional do gatilho que é considerado um dos mais lendários e sanguinários, há alguns anos vive exclusivamente a custa de coiteiros e ricos fazendeiros a quem prestou serviços na execução de perversos crimes a exemplo do seu comparsa “Tonho do Letreiro” que se acha recolhido em Fortaleza, depois de sua captura na cidade de Icó (CE).

SADISMO

“Neco de Imaculada”, conforme afirmam os marginais que o cercam nunca esconde o enorme sadismo e para provar que é um homem mau, conta que Já eliminou 20 pessoas e cortou muito busto de mulheres, alguns somente para ver a fisionomia de quem sente dores horríveis.

De acordo com as Informações em poder das autoridades policiais a área de ação do bandoleiro sempre foi no interior do Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Ceará, onde cumpriu contratos mediante elevadas importâncias para eliminar inimigos dos mandantes, dependendo da posição social das vitimas e poder econômico dos contratantes dos crimes.

ESQUARTEJA, TAMBÉM

Os dois últimos homicídios por ele praticados, verificaram-se há cerca de 45 dias, no Interior cearense, onde matou e esquartejou um casal de Jovens namorados, repetindo o que anteriormente havia feito com uma amante que prometeu abandoná-lo para viver com outro homem. De conformidade ainda com as informações transmitidas pelas autoridades policiais o bandoleiro ora detido na cidade de Teixeira, formava com Edmar Nunes Leitão a dupla de bandidos mais procurada para execução de assassínios, não só pela excelente pontaria que possui, mas, sobretudo em decorrência de não deixar pista.

A ÚLTIMA PRISÃO

 A última vez que “Neco de Imaculada” esteve sendo interrogado pelas autoridades, foi no dia 30 de março do corrente ano quando sequestrou a Jovem Maria José dos Santos, no sitio Saquinho, no interior paraibano, a quem infelicitou nos arredores de Pombal.

Durante a resistência oferecida, como castigo, o bandoleiro a deixou despida diversos dias sob o sol ardente da caatinga e, além de sucessivas surras, foi arrastada sobre cardeiros e proibida de beber água, até ceder aos Intentos do sequestrador.

QUASE LOUCA

No final de suas declarações fornecidas a polícia, a jovem acrescentou que, de certa feita, ele amarrou as suas mãos com o cinturão, lhe cortou a barriga a faca e, não satisfeito, a arrastou pelo chão sobre pedras, paus e espinhos até cansar.

Foi nessa oportunidade que, pensando que a Jovem se achava morta e não desacordada, ele a abandonou e fugiu. No dia seguinte, após recobrar os sentidos, a moça, quase louca, saiu rastejando até que encontrou um casal de agricultores, o qual penalizado de sua situação a levou a um hospital, onde ela pastou diversos dias internada.

FAZENDEIRO QUERIA MATAR PISTOLEIRO

Em depoimento prestado a Polícia Federal, o fazendeiro Levi Olímpio, preso na semana passada juntamente com outros mandantes de crimes, confessou que pertencia ao Sindicato da Morte, contratou pistoleiros para eliminar Inimigos e diversas vezes tentou matar o bandoleiro Tonho do leiteiro envenenado, porque ele sabia demais. O rico agricultor, a quem é atribuída a responsabilidade por uma série de crimes, esclareceu também que há multo tempo pertence à organização que espalha o terror em diversas regiões do país, especialmente no Nordeste, onde nos últimos anos profissionais do gatilho derrubaram indefesos cidadãos.

APONTADO POR LETREIRO

O fazendeiro Levi Olímpio, em virtude de denúncias transmitidas as autoridades pelo pistoleiro profissional Edmar Nunes Leitão, o Tonho do Letreiro, como é conhecido entre os integrantes do Sindicato da Morte, foi detido na semana passada no município de Pombal, juntamente com os criadores Antônio Pereira, Zeca Mãezinha e Francisco de Assis. No transcorrer da gigantesca operação que visava desmantelar a força da organização criminosa atuante nos Estados do Ceará, Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba, os agente do Departamento de Polícia Federal conseguiram também apreender numerosas arma s e farta munição principalmente na propriedade pertencente a Levi Olímpio.

SABIA DEMAIS

Por mais de uma vez, segundo revelou o fazendeiro, verificando que Tonho do Leiteiro sabia demais a respeito de sua vida e futuramente poderia complicá-lo, fato que constantemente se observa entre mandantes de crimes e profissionais do gatilho, tentou matá-lo envenenado.

Entretanto, muito hábil e desconfiado o bandoleiro sempre recusou fazer refeições e tomar bebidas em sua fazenda, fato que fez ruir todos os seus planos. Agora, em decorrência da delação do bandido, teve o seu nome ligado aos recentes acontecimentos, inclusive com provas difíceis de serem pelo menos atenuadas.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO, TERÇA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 1970.

PISTOLEIRO CHEGA A NATAL ESCOLTADO POR FEDERAIS

NATAL (Gledson Oliveira e Maurício Coutinho enviados especiais) — O bandoleiro Edmar Nunes Leitão, que chegou ontem fortemente escoltado a esta capital, deverá ser acareado hoje com o coiteiro Levi Olímpio e o tenente Antônio Libório. O oficial está preso no Quartel da Polícia, em Natal, como autor intelectual da morte do medico Pedro Militão, uma das vítimas dos crimes ocorridos em Caicó.

Edmar chegou a Natal exatamente às 7 horas, escoltado por agentes federais que não permitiram o acesso de repórteres no aeroporto Augusto Severo. Nosso fotógrafo, inclusive, foi solicitado a deixar o “hall” do aeroporto, momentos antes do pouso do Boeing da VASP.

Embora discreto, o aparato policial foi dos mais rigorosos temendo se pela vida do famigerado pistoleiro.

COM MEDO

Edmar ao ser conduzido a Rural Willys da Polícia Federal, placa 2-66 85, que desde às 6 horas se encontrava na pista do Augusto Severo, mostrava-se nervoso e assustado, temendo ser assassinado pelos seus inimigos do “Sindicato do Crime” que ainda estão soltos no Rio Grande do Norte, embora já denunciados nos depoimentos do marginal.

O aparelho da VASP pousou distante a fim de possibilitar aos federais o cerco do pistoleiro. Três agentes entraram na aeronave e o algemaram, enquanto mais dois cercavam no quando desciam a escada do avião em direção a Rural Willys, estacionada frente ao aparelho, aguardando a descida de Edmar, que, propositadamente foi o ultimo passageiro a deixar o Boeing.


Em seguida ele foi levado para a sede da Polícia Federal, Rua Vigário Bartolomeu, 581, sendo de Iá transferido para o Quartel da Polícia Militar onde ficou incomunicável. Hoje, Edmar deverá avistar se com o Sr. Júlio Freire Revoredo, que se deslocou do Recife a fim de acompanhar, em Natal, as investigações que estão se processando. O delegado regional da Polícia Federal chegou a esta capital por volta das 15 horas evitando manter contato com a imprensa.

Não quis revelar, inclusive, onde Edmar será interrogado no dia de hoje, mas admite-se que os trabalhos serão realizados na Polícia Militar, Iocal mais seguro para evitar um possível atentado contra a vida do bandoleiro.

VIU SÔ

O medico e deputado Carlindo de Souza Dantas, abatido pelo pistoleiro Edmar Nunes Leitão, na noite de 28 de outubro de 1967, defronte ao Caicó Esporte Clube, vem sendo apontado como o homem que matou, sozinho, o diretor do SESP daquela cidade, médico Onaldo Pereira de Queiroz, crime ocorrido na madrugada de 28 para 29 de junho de 1968.

O doutor Onaldo, na noite do crime, após tomar alguns drinques com amigos num restaurante daquela cidade, dirigiu-se ao seus aposentos no posto de saúde, onde ficou a descansar numa rede. A noite era fria. Checou a tirar uma soneca, mas despeitou ao ouvir um tiro.

 O CRIME

Notou então que a iluminação da rua fora apagada com a quebra da luminária de um poste que ficava a uns 6 metros de onde estava. Olhou em seu redor e nada viu ou ouviu. Voltou a deitar-se. Um minuto depois ouviu outro disparo, desta vez contra a lâmpada que estava no alpendre do terraço.

Não teve tempo de levantar-se. Um terceiro tiro trespassou-lhe o crâneo, matando-o instantaneamente. Ninguém viu o criminoso, o médico estava só. No chão ficou uma poça de sangue que ia escorrendo pela calçada, enquanto a cabeça da vitima pendia da rede.


Onaldo, um jovem médico de 28 anos, gozava de grande prestígio na classe e junto à população. A sua fama corria o Estado, a ponto do ganhar o cargo de diretor do SESP. A nomeação veio estarrecer e causar inveja a muita gente, inclusive ao Dr. Carlindo Dantas, que sempre pleiteava o lugar. No dia da nomeação houve certo tumulto na cidade, provocado pelo deputado que tinha um temperamento explosivo, razão porque gostava de bebericar na cidade, onde, também, era, enormemente conceituado como bom médico e líder político.

PUNIDO

Carlindo tempos atrás, fora diretor do SESP. Algumas irregularidades afastaram-no das funções. Muito pior: trabalhando no posto subordinado ao médico Onaldo Queiroz, Carlindo voltou a cometer outros desatinos, a ponto de ser novamente por este punido. Isto inflamou os ânimos e provocou, mais ainda, a inveja.

As autoridades que investigam o crime estão propensas a admitir esta hipótese: um acerto de contas em função do orgulho profissional de Carlindo. Vão mais além, fixando-se na suposição de o deputado ter se ressentido porque tinha sido substituído por Onaldo Queiroz. E, assim, sem auxílio de pistoleiro, foi sozinho dar vasão aos recalques que lhe tomaram conta: matar o médico Onaldo friamente, utilizando-se de um revólver calibre 38 duplo.


O LÍDER

Desde tão Carlindo passou a ser visto como criminoso. Todos o apontavam como assassino do colega do SESP, por questões de ciúme e Inveja. Mesmo assim Carlindo continuou sua campanha política, enquanto prosseguiam as investigações que culminaram com a decretação sua custódia preventiva. 33 anos, moço, líder em Caicó pela maneira de tratar seus clientes, a quem, inclusive, receitava de graça. Era querido e estimado por todos. No Estado o seu nome passou a ser uma bandeira em defesa dos humildes.

No período da decretação da prisão preventiva, ele, acusado de assassino, já era visto como um virtual candidato a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Foi preso. Conseguiu a liberdade pelo Tribunal de Justiça, saindo vitorioso nas urnas. Então abriu frente de combate contra seus acusadores e inimigos, entre os quais o médico Pedro Militão e Osvaldo Lobo.

A MORTE

Eleito deputado, Carlindo voltou a ofensiva, combatendo os que lhe acusavam e prometendo apontar os verdadeiros assassinos de Onaldo Queiroz. Isto muitas vezes, da tribuna da Assembleia, ele, prometia fazer. E fez.

No dia 28 de outubro de 1967, um ano após a morte do diretor de SESP, Carlindo de Souza Dantas, naquela noite, dirigiu-se a um bar e publicamente disse que “eles não tem para onde fugir, vou apontá-los, muito breve”. Passaram-se cinco dias. Carlindo no volante de um Aero-Willys, ia participar de uma festa no Caicó Esporte Clube. Ao entrar foi interceptado pelo pistoleiro José Maria, irmão de Edmar Leitão:

A história de Edmar Nunes Leitão foi transformada em cordel pelo poeta João Domingos da Silva. O pistoleiro seria morto em uma emboscada, anos depois, após fugir da penitenciária de Natal.

“Doutor, o Senhor deixou a luz do carro acessa. Carlindo voltou e ficou de frente para Edmar que, de um DKW passou a disparar incessantemente com dois 38, enquanto “Zé Maria” fazia a cobertura, disparando a esmo, indo três balas atingir o industrial Aníbal Macedo, que, naquela noite — eram 23 horas — acompanhava o deputado. Ambos caíram na calçada, morrendo tempos depois.

 MAIS DUAS MORTES

O jovem Nilson Macedo, filho do industrial Aníbal Macedo, em dezembro do ano passado foi assassinado. Para vingar a morte do pai e do irmão, o jovem Antônio Macedo, “Toinho”, descarregava toda a carga do seu revólver contra o médico Pedro Militão, quando este entrava na Escola Normal de Caicó, onde era professor.

Estes crimes estão impunes. A Polícia Federal investiga a possível participação de Edmar e alguns de seus comparsas nas chacinas. Até agora os federais obtiveram valiosas informações que estão sendo mantidas em sigilo, evitando-se a divulgação pela imprensa. Sabe-se que três inquéritos estão concluídos nos quais estão relacionados os matadores de Nilson Macedo e Pedro Militão.

Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros. 

https://tokdehistoria.com.br/tag/edmar-nunes-leitao/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com