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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA

 

Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.

franpelima@bol.com.br

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: 


Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 


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LAMPIÃO E O CANGAÇO EM TRIUNFO - PERNAMBUCO.

 Por Geraldo Júnior

https://www.youtube.com/watch?v=K_DdYgHGXQM&feature=share&fbclid=IwAR0AYOJo8PcyMjv4VQBD-Uqytand1e35KiLe0TNR4aGpjCcdDAJRdNbBP1o&ab_channel=Canga%C3%A7ologia

Cangaçologia

A história da passagem de Lampião pela região de Triunfo no estado de Pernambuco, contada pela Professora, pesquisadora e historiadora, Diana Rodrigues Lopes. Um relato importante sobre a passagem de Lampião por Triunfo antes e após seu ingresso no cangaço, a entrada de Luiz Pedro e Félix da Mata Redonda ou Félix Caboje no bando de Lampião, o ataque de Sabino das Abóboras à cidade, entre outros assuntos que vocês conhecerão no decorrer desse documentário. Assistam e ao final deixem seus comentários, críticas e sugestões. INSCREVAM-SE no canal e ATIVEM O SINO para receber todas as nossas atualizações. 

Forte abraço, cabroeira! 

Atenciosamente: 

Geraldo Antônio de Souza Júnior - Criador e administrador do canal.

https://www.facebook.com/groups/GrupoCangacologia/?multi_permalinks=3619210424802571&notif_id=1606163644546023&notif_t=group_activity&ref=notif

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15 DE NOVEMBRO DE 1889, A REPÚBLICA NO BRASIL

Por  Antônio Sérgio Ribeiro*

Dom Pedro II e dona Thereza Cristina em 1888

O embarque para o exílio

Todos permaneceram o dia 16 detidos no Paço, com soldados com baionetas e cavalarianos cercando o prédio. Ficou acertado que no dia seguinte, domingo, 17/11, por volta das 15 h, D. Pedro II e os demais embarcariam, tendo sido permitido a ele assistir de manhã à missa na Capela do Carmo, vizinha ao palácio. Mas, de madrugada, o Conde d´Eu foi inesperadamente despertado com a chegada do seu ajudante de ordens, o tenente-coronel João Nepomuceno de Medeiros Mallet, acompanhado do brigadeiro José Simeão de Oliveira, que lhe comunicou que o governo provisório temia o derramamento de sangue na partida da família imperial, pois soubera que havia um grupo disposto a provocar atritos quando da saída do monarca.

Acordado, o Imperador foi informado que deveria se vestir para embarcar. Surpreso e revoltado, disse "que não sairia como um negro fugido...". Mas, por volta das três da manhã, foi escoltado juntamente com a Imperatriz e toda a família, além de alguns amigos, para o Cais Pharoux, bem atrás do Paço Imperial, hoje Praça XV. Somente um coche negro puxado por dois cavalos estava à disposição, onde foram os imperadores e a princesa Isabel; os demais seguiram a pé. Uma lancha do Arsenal de Guerra, tripulada por quatro alunos da Escola Militar, aguardava-os, sendo transportados para o pequeno cruzador Parnaíba, apelidado de "gazela do mar", fundeado na Baía da Guanabara, próximo à Ilha Fiscal.

Às 10 horas da manhã chegaram os três jovens príncipes, Pedro de 14 anos, Luiz de 11 anos, e Antônio de 8 anos, que se encontravam em Petrópolis, acompanhados pelo seu preceptor, o Barão de Ramiz Galvão, e do engenheiro André Rebouças, amigo da família imperial, que havia subido a serra especialmente para trazer os filhos da Redentora e do Conde D´eu. A bordo, profundamente abalada, estava a Imperatriz D. Thereza Christina, que muito chorava; não menos comovida estava a Princesa Isabel, mas aliviada com a chegada dos seus filhos.

O segundo decreto assinado por Deodoro concedia ao Imperador deposto uma soma de dinheiro para sua viagem à Europa. O tenente Jerônimo Teixeira França foi incumbido de levar esse documento do governo provisório a D. Pedro; primeiramente deveria ser entregue no Paço, mas o major Mallet, receando que o imperador pudesse criar algum mal estar no momento, não deixou entregá-lo, o que foi feito somente a bordo do Parnaíba. Mas ele recusaria por mais de uma vez a oferta monetária. Entre os poucos amigos que foram se despedir de D. Pedro II, estava o velho almirante Joaquim Marques Lisboa, o marquês de Tamandaré.

Ao meio-dia de 17 de novembro de 1889, a embarcação sob o comando do capitão-de-fragata José Carlos Palmeira, levantou ferros e partiu em direção a Ilha Grande para encontrar o paquete Alagoas, da Companhia Brasileira de Navegação a Vapor, o mais novo e moderno navio de passageiros da marinha mercante do Brasil, que fora requisitado pelo governo republicano, para levar a realeza destronada para o exílio na Europa, e o seu pequeno séquito. Além dos membros da família imperial, de André Rebouças, viajaram o barão e baronesa de Loreto, Franklin Américo de Meneses Dória, e a sua esposa Maria Amanda Lustosa Paranaguá; o marquês e a marquesa de Muritiba, Manuel José Vieira Tosta e sua esposa Maria José Velho de Avelar, amiga e dama da princesa Isabel; a octogenária viscondessa de Fonseca Costa, Josefina de Fonseca Costa, dama da Imperatriz por mais de 40 anos; o professor de línguas orientais dr. Cristian F. Seybold; o médico do imperador Claudio Velho de Motta Maia, conde Motta Maia, e seu filho Manoel Augusto, de 14 anos; as criadas da imperatriz Joana de Alcântara, Leonídia L. Esposel, Ludomilla de Santa Mora, Maria da Gloria e Julieta Alves; o criado do príncipe D. Pedro Augusto François N. Boucher; os criados dos filhos da princesa Isabel, Eduardo Damer, e Guilherme Wagner Camerloker; o professor dos príncipes mais novos Fritz Stoll, além de Francisco de Lemos Faria Pereira Coutinho, o conde de Aljezur, substituindo o mordomo imperial. O transbordo dos passageiros para o navio Alagoas foi realizado com dificuldades e perigos de um mar agitado, sendo a Imperatriz ajudada por dois marinheiros.

O novo governo determinou que o encouraçado Riachuelo da Marinha de Guerra, sob o comando do então Capitão-tenente Alexandrino Faria de Alencar (seria ministro da Marinha em três governos da República), fizesse a escolta até a linha do Equador do Alagoas, já fora de águas territoriais brasileiras. Durante a viagem Dom Pedro notou a que a velocidade da embarcação estava muito lenta e indagou ao comandante do navio - português, mas brasileiro por adoção -, João Maria Pessoa, a velocidade do Riachuelo. Foi informado que era de apenas sete ou oito milhas náutica. Apesar de não ser antigo - tinha apenas pouco mais de cinco anos de uso - e D. Pedro II de muita boa memória, sabia que quando foi construído sua velocidade máxima era de 16 milhas. Concluiu-se que a embarcação de guerra estava com problemas mecânicos. Um dia o imperador reclamou ao capitão Pessoa, e apontando ao 1º Tenente João Augusto do Amorim Rangel, oficial da Marinha que estava a bordo para cumprir as determinações das autoridades republicanas, juntamente com seu colega, o 2º Tenente Antônio Barbosa de Magalhães Castro:

- Diga a esse moço que vem a bordo, que se o Riachuelo é honraria, eu dispenso; se quer dizer receio, eu não quero voltar. O Brasil não me quer, vou-me embora!

Na altura da Bahia, no dia 22 de novembro, para alívio de todos, e em especial de D. Pedro, o Riachuelo encerrou sua missão, e deu meia volta para dirigir-se a Salvador, e o Alagoas pode então seguir sua longa viagem, em uma velocidade compatível com suas caldeiras.

Durante a viagem, o jovem príncipe D. Pedro Augusto, neto de D. Pedro II, e por ele criado e pela imperatriz, desde a morte de sua mãe a princesa Leopoldina de Bragança, quando contava com quase cinco anos de idade, começou a dar sinais de debilidade mental. Com mania de perseguição, no seu primeiro surto psicótico, tentou esganar o comandante do navio, a quem acusava de ter recebido dinheiro para eliminar a todos. Contido e confinado em seu camarote, foi acometido de delírios persecutórios, chegando a envolver seu corpo numa boia salva-vidas, temendo que o navio fosse bombardeado. Alternando momentos de excitação e de letargia, Pedro Augusto jogava garrafas ao mar com pedidos de socorro. Pelo menos uma dessas mensagens, foi encontrada na praia de Maragogi, próximo a Maceió, em Alagoas. Posteriormente seu pai, o príncipe austríaco Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, o internou primeiro em Graz, e depois em um sanatório em Tülln an der Donau, onde permaneceu por quarenta anos, até sua morte em 1934.

No dia 1º dezembro, houve uma parada para reabastecimento em São Vicente, no arquipélago de Cabo Verde, uma possessão portuguesa, no oceano Atlântico, próxima da costa africana. Os passageiros foram autorizados a descer, e foram visitar alguns pontos da cidade, incluindo uma igreja, onde rezaram. Dessa escala, foi içada na popa do Alagoas uma bandeira imitando o "M" do Código Internacional de Sinais, com o fundo completamente vermelho e sobre filetes brancos as 21 estrelas em filete azul, sendo a estrela do centro maior. Essa bandeira foi entregue em alto mar pelo comandante do Riachuelo ao capitão Pessoa, como símbolo do novo regime brasileiro. A nova bandeira iria causar uma quase crise com Portugal, que determinou a sua retirada por não ser reconhecida de acordo com as normas internacionais. Para evitar maiores problemas, o governo provisório brasileiro determinou que durante a permanência do navio em águas portuguesas não fosse arvorado nenhum pavilhão.

Quando da partida do Alagoas, o navio da marinha portuguesa Bartolomeu Dias, que estava no porto, deu uma salva de 21 tiros de canhão. Nesse momento, foi içada a bandeira do Império, e todos que estavam a bordo, se levantaram e bateram palmas, alguns emocionados até as lágrimas. Da embarcação lusitana e de alguns navios alemães que ali se encontravam, tripulantes e passageiros sacudiram lenços brancos. No dia seguinte, foi comemorado a bordo o 64º aniversário do Imperador, que ficou muito comovido ao ouvir as palavras de saudação do comandante Pessoa em sua homenagem, quando este ergueu um brinde, ao lado dos presentes. D. Pedro respondeu com palavras trêmulas:

- Bebo a prosperidade do Brasil!

Em Portugal

Em 7 de dezembro, com a bandeira do Império tremulando no mastro, o Alagoas finalmente chegou a Lisboa. D. Pedro foi recebido com honras por seu sobrinho D. Carlos, e toda a corte portuguesa. Permaneceu na capital lusitana por 15 dias. Nesse curto período, visitou o túmulo de seu pai D. Pedro I (D. Pedro IV para os portugueses), na Igreja de São Vicente de Fora, onde rezou, e depositou, no mesmo local, uma coroa de flores no túmulo do Rei Luís, recentemente falecido, tendo participado de uma missa em intenção da alma desse seu sobrinho. Foi a escolas superiores, associações científicas, como o Museu do Carmo, a Escola Politécnica, o Curso Superior de Letras, onde assistiu aulas, o bairro lisboeta da Alfama, o Jardim Zoológico, a Escola Médica, o Hospital São José, a Academia de Ciências, o Mosteiro dos Jerônimos, onde colocou uma coroa no túmulo do poeta e escritor português Alexandre Herculano, e no hotel onde ficou, recebeu algumas visitas. Esteve também nos palácios das Necessidades, residência dos reis de Portugal, e de Queluz, em Sintra. Nesse permaneceu em silêncio por muito tempo, meditando, diante da cama aonde havia falecido seu pai. Esteve ainda na Ajuda, palácio real de verão, e em Belém, residência oficial dos príncipes reais, para retribuir as visitas do Rei e da família real portuguesa fizeram no hotel Bragança, onde estava hospedado com sua família e comitiva.

Seu sobrinho D. Carlos seria coroado rei de Portugal em 28 de Dezembro, e D. Pedro resolveu então realizar uma visita à região do Minho, no norte do país. No dia 22, chegou a Coimbra, sendo recepcionado pelos estudantes e professores da velha universidade, e depois seguiu para a cidade do Porto. Seu único intuito era não perturbar os festejos reais. No Porto, enquanto visitava a Academia de Belas-Artes, no mesmo dia 28, a imperatriz D. Thereza Christina, com a saúde debilitada, sofrendo de bronquite, amargurada e abalada com a situação causada com a proclamação da República, e o consequente exílio, faleceu repentinamente, aos 67 anos de idade. Avisado do grave estado, retornou rapidamente ao hotel, mas quando chegou sua companheira por longos 46 anos, estava morta. Sua tristeza foi profunda; em silêncio, chorou a partida de sua amada Thereza Christina. Sua filha Isabel, com seu marido Conde D´Eu, e seus filhos tinham ido à Espanha visitar os tios, os condes de Montpensier que lá residiam, e retornaram a Portugal assim que receberam a notícia do passamento da imperatriz.

O corpo de D. Thereza Christina, depois de embalsamado, e velado na igreja da Lapa - local onde permanece guardado o coração do imperador do Brasil, D. Pedro I - foi transportado de trem do Porto para Lisboa e depositado no Panteão dos Braganças na Igreja de São Vicente de Fora, ao lado da segunda imperatriz do Brasil, D. Amélia, com a presença da família real portuguesa, e autoridades. Após os funerais de sua esposa, permaneceu poucos dias em Lisboa, seguindo para a França, hospedando-se em Cannes, para fugir do forte inverno europeu.

Exílio e morte do imperador

Menos de dois anos depois, o Imperador se encontrava em Paris, para participar das sessões do Instituto de França, na Academia de Ciências, da qual era sócio. Em 24 de novembro, foi fazer um passeio em carruagem aberta até Saint-Cloud, nas margens do rio Sena, onde apesar do frio do inverno resolveu fazer uma caminhada. No dia seguinte, amanheceu febril, contraindo um forte resfriado e seu estado de saúde foi se agravando.

O último imperador do Brasil veio a falecer aos vinte minutos do dia 5 de dezembro de 1891, vitimado por uma pneumonia aguda no pulmão esquerdo, em um modesto quarto do Hotel Bedford, três dias após completar 66 anos de idade.

D. Pedro II, em seu leito de morte, estava vestido com o uniforme de marechal do Exército imperial brasileiro, com as condecorações do Brasil, França, Portugal, e um crucifixo em suas mãos, que havia recebido do Papa Leão XIII. Um livro, significando que descansava sobre o conhecimento, foi colocado embaixo do seu travesseiro com terra de todas as províncias (hoje estados) brasileiras. Um pedido que havia deixado por escrito.

O governo francês resolveu prestar as últimas homenagens de Estado ao Imperador brasileiro, e comunicou à princesa Isabel que aceitou as honras oficiais, mas o governo brasileiro protestou por essa atitude. No Brasil, ao saberem da morte do antigo monarca, o comércio fechou as portas, e várias missas foram realizadas por sua alma por todo o país.

O corpo embalsamado do imperador foi levado para a Igreja da Madalena, situada perto da Praça da Concórdia, a poucos passos do hotel onde morreu. Ao meio dia de 9 de dezembro, com o caixão coberto com a bandeira do Império brasileiro, colocado em um catafalco elevado na nave da igreja, foi celebrada as exéquias solenes, pelo arcebispo de Paris, com a igreja totalmente lotada, e a presença da Casa Militar do presidente da França, Sadi Carnot, que o representou. Além dos presidentes da Câmara e do Senado da República francesa, esteve presente o cônsul-geral de Portugal em Paris, o escritor Eça de Queiroz, todo o corpo diplomático, dentre inúmeras autoridades.

Pelas ruas de Paris, 80 mil homens das tropas francesas participaram das honras. O coche fúnebre, puxado por oito cavalos cobertos de negro, foi escoltado pela guarda republicana, acompanhado por uma banda de música militar tocando a marcha fúnebre de Chopin, e nada menos que 300 mil pessoas, apesar do frio, foram prestar as homenagens a D. Pedro II. Quando o cortejo passou pela Praça da Concórdia, foram prestadas as honras militares, e uma bateria de artilharia deu as salvas de estilo. O corpo foi transportado em um trem especial para Lisboa, com uma parada em Madrid, onde a Casa Real espanhola prestou também suas homenagens. Em Lisboa, o rei D. Carlos, toda sua família, o ministério, altas autoridades, e milhares de pessoas participaram também das honras e despedidas ao velho imperador brasileiro. Na igreja de São Vicente de Fora, o cardeal Dom José Sebastião de Almeida Neto, Patriarca de Lisboa, recebeu o esquife. Depois de rezada uma missa, o corpo do Imperador foi colocado ao lado da imperatriz Thereza Christina, no panteão da família Bragança.

No governo Epitácio Pessoa, em 1920, foi revogado o decreto de banimento da família imperial, e no ano seguinte a bordo do encouraçado São Paulo, da Marinha de Guerra, os restos mortais de D. Pedro II e de D. Thereza Christina foram trazidos para o Brasil. No ano de 1939, foram finalmente depositados em um túmulo especialmente construído na catedral de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, em solenidade presidida pelo então presidente Getúlio Vargas.

*Antônio Sérgio Ribeiro, advogado e pesquisador. É diretor do Departamento de Documentação e Informação da ALESP.

https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=346367

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DIÁRIO INÉDITO NARRA A VIAGEM DE DOM PEDRO II AO EXÍLIO

 Por Por Cecília Ritto

PERTO DO FIM - Em 1889, a família posa em Petrópolis (Teresa Cristina, sentada, e, de pé, Isabel, dom Pedro, o neto Pedro Augusto, e o conde d’Eu): no diário, o sofrimento ao partir Museu Imperial/VEJA

Textos escritos por uma integrante da corte do imperador descreve o clima de melancolia e saudade que marcou o círculo íntimo da família imperial brasileira no exílio.

Clique no link abaixo para ler o texto completo:

https://veja.abril.com.br/brasil/diario-inedito-narra-a-viagem-de-dom-pedro-ii-ao-exilio/

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COMO ARQUIVO - MOSSORÓ E OS PROGRAMAS DE AUDITÓRIO

Por Edvaldo Morais

A terra de Santa Luzia teve sua fase áurea dos programas de auditório realizados pelas emissoras de rádios. Desde o Vesperal das Moças, do saudoso Genildo Miranda e José Maria Madrid, resgatado certa vez por Aldir Dudemant, até o Show das 10, com Seu Mané da Rural; passando por Jota Belmont na Difusora/Cine Caiçara. 

Eram várias as atrações musicais e brincadeiras, como por exemplo: "Só vale quem tem", onde o animador costumava perguntar ao auditório quem tinha ali coisas inusitadas, como: meia furada; relógio parado; agulha e linha; bola de gude; carta de baralho, etc... Alguns “prevenidos” já levavam consigo vários objetos que poderiam ser alvo e valer brindes do comércio e ingressos para o cinema... 

Lembro de uma vez que ganhei no "Show das 10", uma camisa da extinta loja "Neyber Magazine." Estabelecimento ficava na Rua Idalino de Oliveira. Velhos tempos e belos dias... (Imagem ilustrativa, da internet).

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FOTOGRAFIA INÉDITA DO PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA

 Por Robério Santos

Fotografia inédita do Padre Cícero no Juazeiro do Norte-CE, 1925. Conversando com amigos durante a visita de Moreira da Rocha “Moreirinha”, presidente do Ceará. Acervo: UFCA/ Daniel Walker, Renato Casimiro. Abraço, meu amigo e professor Francisco Weber dos Anjos. 

Em breve teremos esta e outras preciosidades no museu UFCA e nosso canal O Cangaço na Literatura estará sempre ao lado de quem faz cultura.

Adendo:

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Os pesquisadores sabem de tudo! 

João Marcos disse:

ESPETACULAR - Raríssima foto de padre Cícero em 1925 conversando com amigos em Juazeiro do Norte (CE), fonte: Universidade Federal do Cariri.

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CANGAÇO - TRIBUTO A ANTÔNIO AMAURY

 Por Aderbal Nogueria

https://www.youtube.com/watch?v=SEwxBqaLNdU&feature=share&fbclid=IwAR147tsVR3WLbdir6suVx5iZcXwpV0xng7HkEiWJ622RSiCOw0fnoCYAepA

Hoje, é o aniversário de Dr. Amaury.

Ele dedicou sua vida ao estudo do cangaço. INDAGO:

QUEM NUNCA BEBEU NAS ÁGUAS DO CONHECIMENTO DOS LIVROS DE DR. AMAURY ?????

Vídeo com selo e qualidade Aderbal Nogueira

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A GRANDE DEMOLIÇÃO, LACRIMANDO A HISTÓRIA

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.424

Quando a Praça Senador Enéas Araújo ainda não tinha nome, em Santana do Ipanema, marcava bem o Centro Comercial com a enorme construção (espécie de Shopping) chamado pelo povo de “prédio do meio da rua. A grande cobertura construída no tempo de Santana vila, abrigava entre oito a dez estabelecimentos comerciais. Lojas de tecidos, armazém de secos e molhados, sinucas, barbearia, farmácia... e apenas um pequeno apartamento como primeiro andar, onde morava o prefeito da época. Ao lado, guardando distância de cerca de 50 metros, o belíssimo edifício em que a população denominava “sobrado do meio da rua”, da mesma época do primeiro. Andar de baixo, lojas diversas: Casa Atrativa, Arquimedes Autopeças, Casa A Triunfante. Primeiro andar repleto de janelões e salão único e enorme.

Nesse primeiro andar já funcionara, teatro, cinema, escola e, no seu ocaso, o Tribunal do Júri.

Um belo ou feio dia, correu o boato que o prefeito iria demolir ambos os edifícios. O povo foi pego de surpresa e nem deu tempo discutir, protestar, aprovar e nem sequer pensar. Mal o boato vazara na cidade, teve início o destelhamento do “prédio do meio da rua”. Tudo foi ligeiro e brutal assim como fora demolido no cacete à meia-noite, o primeiro cemitério de Santana. O povo, estarrecido, não aplaudia, nem protestava, nem chorava e nem sorria. Apenas o nó na garganta coletiva. Recorrer a quem? Terminado o violento serviço diante do povo estupefato, teve origem a limpeza do terreno e imediatamente o início de construção de uma pracinha, em seu lugar.

Enquanto se construía a pracinha, o “sobrado do meio da rua” sofria a mesma barbaridade das históricas cacetadas. Purgatório para a alma da tradição santanense. Destelhado, demolido e pracinha em cima da ferida.

Demorou um tempão para os habitantes da cidade deglutirem a arrogância ditatorial.

Esse episódio é sempre lembrado quando surge uma foto antiga do centro de Santana do Ipanema: “Hem, hem! Ainda lembro de tudo mulé”. Armazém de Seu Marinho, Sinucas de Zé Galego, lojas de tecidos de Seu Doroteu, João Agostinho, Pedro Chocho, barbearia de Nézio, farmácia de seu Caroula... Tudo no “prédio do meio da rua”. Arquimedes Auto peças de Arquimedes, A Triunfante de Zé e Manoel Constantino, a Casa Atrativa de Abílio Pereira de Melo, no “sobrado do meio da rua” ...

Mas como as novas gerações podem conhecer a história se O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema ainda não foi publicado! O maior documentário da terra de Senhora Santana, continua aguardando o interesse das autoridades desde o ano de 2006.

ASSASSINATO DO SOBRADO DO MEIO DA RUA (FOTO: LIVRO 230/DOMÍNIO PÚBLICO).

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LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS SOB AS LENTES DE BENJAMIN ABRAHÃO

 Benjamin Abrahão

Com registros do fotógrafo sírio Benjamin Abrahão Calil Botto (1901 – 1938), a Brasiliana Fotográfica lembra Lampião, Virgolino Ferreira da Silva (c. 1898 – 1938), o rei do cangaço, e seu bando. A iconografia produzida por Benjamin – registros fotográficos e filme – não é a única sobre o cangaço, mas por sua extensão contribuiu enormemente para o conhecimento da história dos cangaceiros no Brasil. É uma comprovação visual da marcante estética dos bandoleiros da caatinga e os trouxe para os jornais e à imaginação popular. Logo os personagens do cangaço passaram a protagonizar lendas do sertão, canções e cordéis populares e, apesar de sua violência, Lampião tornou-se, para muitos, uma espécie de mártir dos oprimidos. As notícias chamavam atenção ou para a crueldade dos cangaceiros ou a sua bravura. Seriam bandidos ou heróis?

Outros fotógrafos registraram os cangaceiros e as volantes – forças especiais criadas para combater o cangaço. Foram eles Alcides Fraga, Chico Ribeiro, Eronildes de Carvalho, Lauro Cabral e Pedro Maia, todos na década de 1920. Há também imagens de autoria desconhecida.

Acessando o link para as fotografias do cangaço disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Cerca de um ano após a morte do Padre Cícero, de quem Benjamin havia sido secretário particular, ocorrida em 20 de julho de 1934, Benjamin levou a Adhemar Bezerra de Albuquerque (1892 – 1975) sua ideia de fotografar e filmar Lampião e seus cangaceiros. Adhemar, pai do fotógrafo Chico Albuquerque (1917 – 2000), havia fundado, em 1934, a Aba Film, em Fortaleza, para a qual, trabalhando como cinematografista, Benjamin produziu entre 1936 e 1937 fotografias e um filme sobre o rei do cangaço e seu bando. Adhemar forneceu a Benjamin equipamentos cinematográficos e fotográficos, além de filmes. Também passou a Benjamin noções básicas de como utilizá-los.

No primeiro encontro, Benjamin foi levado pelos cangaceiros Juriti e Marreca a Lampião, que o recebeu oferecendo comida e conhaque, dizendo: Não sei como você veio bater aqui com vida, bicho velho. Só mesmo obra de Marreca que é muito camarada. Benjamin, então, armou a máquina e quando ia bater as fotografias, foi impedido por Lampião, que examinou o equipamento e ordenou: Primeiro a gente tira o seu retrato. Depois disso, Benjamin pode fazer seus registros, até ser interrompido por Lampião. Uma observação: na matéria do Diário de Pernambuco acima citada, um dos cangaceiros mencionados como tendo levado Benjamin a Lampião, foi Mergulhão. Em janeiro de 1937, Benjamin esclareceu que tratava-se de Marreca.

Quatro meses depois, teve um novo encontro com Lampião e seu bando. Nessa ocasião, passou três dias com o grupo e pode registrar vários de seus hábitos como a reza da missa de domingo, celebrada pelo próprio Lampião, o almoço e a maneira de se vestirem e se comportarem. Revelou também que Maria Bonita, devido a uma promessa não trabalhava aos sábados, domingos e segundas-feiras.

Ao longo de 1937, várias fotos de Lampião e de seu bando produzidas por Benjamin foram publicadas pelos Diários Associados.

Diário de Pernambuco, 16 de janeiro de 1937

Tanto as fotografias como o documentário de Benjamin Abrahão foram considerados uma afronta ao governo federal. Todo o material foi apreendido após uma exibição do filme em sessão fechada para autoridades locais no Cine Moderno, em 10 de abril de 1937, em Fortaleza. Segundo o fotógrafo Chico Albuquerque, quando, em 1941, os sócios da empresa tentaram reaver o filme apreendido, receberam apenas 20 contos como indenização (Novidades Fotoptica, 1970).

Segundo Angelo Osmiro Barreto, muitos anos depois, os negativos do filme e das fotos foram encontrados empoeirados e jogados em um canto qualquer de uma sala de repartição pública. Foram recuperados por Alexandre Wulfes (1901 – 1974) e Al Ghiu (1925 – ) e montados em 1955. Posteriormente, a Cinemateca Brasileira recuperou as imagens e encontrou aproximadamente mais cinco minutos do filme original. Segundo Ricardo Albuquerque, filho de Chico Albuquerque e neto de Adhemar, depois o material foi reavaliado e novamente montado seguindo um critério estritamente documental do filme.

Nas palavras de Elise Jasmin, Lampião era manipulador, estrategista, dotado de um senso inato de comunicação – soube como poucos se utilizar do poder da fotografia, em especial quando estampada nas páginas da imprensa, que ajudavam a torná-lo onipresente. E mesmo perto do fim de sua “carreira”, quando – depois de aterrorizar sete estados nordestinos – optou por uma vida sedentária, sua imagem circulava em grande parte do sertão, como um corpo figurado que vinha substituir simbolicamente o corpo real do guerreiro que antes percorria a região (Joaquim Marçal de Andrade in Cangaceiros, 2014).

Segundo o historiador Frederico Pernambucano de Mello, autor do livro Guerreiros do Sol (1985), um clássico sobre a história do cangaço, não há dúvidas de que Lampião foi derrotado e morto pelas forças policiais em julho de 1938. Porém sua derrota não teria sido completa: se perdeu militarmente, o rei do cangaço foi vitorioso esteticamente. Seu chapéu e uniforme cheio de ouro e detalhes bordados estão entre os principais símbolos do nordeste brasileiro; e, não por acaso, seja em uma visão romantizada ou através do repúdio, Lampião continua sendo alvo de fascínio (Jornal do Comércio, 20 de outubro de 2015).

As cenas filmadas por Benjamin do cotidiano do bando de Lampião, das quais restaram aproximadamente 15 minutos, inspiraram os filmes O Cangaceiro, de 1953, dirigido por Victor Lima Barreto (1906 – 1982), e O Baile Perfumado, de 1997, de Paulo Caldas e Lírio Ferreira.

Em 2013, o Instituto Moreira Salles adquiriu junto ao Instituto Cultural Chico Albuquerque o direito de uso dessas imagens para fins culturais.

Um pouco sobre o cangaço e sobre a morte de Lampião

O cangaço, segundo Moacir Assunção, é um fenômeno social característico da sociedade rural brasileira.  No nordeste, existiu desde o século XVIII, quando José Gomes, o Cabeleira aterrorizava populações rurais de Pernambuco. O movimento atravessou o século XIX, só terminando em 25 de maio 1940, com a morte de Corisco (1907 – 1940), sucessor de Lampião e seu principal lugar-tenente, pela volante de Zé Rufino (Diário de Pernambuco, 1º de junho de 1940, na sexta coluna).

‘Os homens do cangaço espalhavam fama, violência e aplicavam um conceito muito particular de justiça em sete estados do Nordeste. Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia sofriam não apenas nas mãos desses grupos nômades, mas também com a seca, com a fome e com uma sociedade desigual e injusta, que perpetuava um modelo pérfido de exploração do trabalho.'(Ângelo Osmiro Barreto in Iconografia do Cangaço, 2012)

Em 28 de julho de 1938, na grota de Angico, em Sergipe, perto da divisa com o estado de Alagoas, o bando de Lampião foi cercado por uma força volante comandada pelo tenente João Bezerra da Silva (1898 – 1970), pelo aspirante Ferreira Mello e pelo sargento Aniceto da Silva. Além de Lampião, foram mortos sua mulher, Maria Gomes de Oliveira (c. 1911 – 1938), conhecida como Maria Bonita, e os cangaceiros Alecrim, Colchete, Elétrico, Enedina, Luiz Pedro, Macela, Mergulhão, Moeda e Quinta-feira. Foram todos decapitados. No combate, foi morto o soldado Adrião Pedro de Souza. João Bezerra e outro militar ficaram feridos (Jornal do Brasil, 30 de julho de 1938, na primeira colunaDiário de Pernambuco, 30 de julho de 1938, com uma fotografia de autoria de BenjaminDiário de Pernambuco, 31 de julho de 19383 de agosto de 1938 e  25 de agosto de 1968). Quando Lampião foi morto o, o fotógrafo Benjamin Abrahão havia sido assassinado há cerca de dois meses.

 

No dia seguinte à morte de Lampião, foi publicada uma entrevista dada por Chico Albuquerque (1917 – 2000), filho do proprietário da Aba Film, na primeira página do Diário da Noite, onde contou a história da produção do filme sobre Lampião produzido por Benjamin (Diário da Noite, 29 de julho de 1938).

As cabeças decapitadas dos cangaceiros, após exposição nas escadarias da prefeitura de Piranhas em Alagoas, seguiram para a capital do estado, Maceió. De lá, seguiram para Salvador, onde ficaram no Museu Nina Rodrigues, também conhecido como Museu Antropológico Estácio de Lima. Em 1969, as cabeças de Lampião e Maria Bonita foram enterradas no cemitério Quinta dos Lázaros, na mesma cidade (Correio da Manhã, 13 de fevereiro de 1969, na última coluna).

Uma curiosidade a respeito do apelido de Lampião, segundo publicado no Diário da Noite de 8 de fevereiro de 1937, na primeira coluna:

 ‘Lampião é um cabra desconfiado e perverso. O apelido que usa é o seu maior orgulho. Foi lhe dado num combate no início de sua carreira criminosa quando se filiou ao cangaço do famoso Luiz Padre. Na peleja, travada ao descambar da tarde, Virgolino atirava com tanta rapidez que da boca do seu rifle saía verdadeira faixa de fogo, iluminando o chão.

_ “Nós não precisa mais de sol porque já temos um lampião!”, gritavam os cangaceiros.

E desde aí ficou ele com o seu nome de guerra consagrado’.

Segundo seus familiares, Benjamin Abrahão Calil Botto nasceu, em 1901, em Zahle, na época uma cidade da Síria e atualmente do Líbano, e veio para o Brasil, na década de 1910, provavelmente, fugindo da Primeira Guerra Mundial. Segundo o próprio, havia nascido em Belém, mesma cidade natal de Jesus Cristo. Tinha parentes no Recife. Trabalhou como mascate na cidade e no interior nordestino. Foi durante algum tempo secretário particular do venerado padre Cícero Romão Batista (1844 – 1834), na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará. O reverendo havia ficado impressionado pelo fato de Benjamin ter nascido em Belém.

Foi em 1926 que Benjamin provavelmente conheceu Lampião, que havia ido fazer uma visita ao Padre Cícero, organizada por Floro Bartolomeu (1876 – 1926), deputado federal e coronel poderoso da região do Cariri (Jornal do Recife, 10 de abril de 1926).  Na ocasião, Lampião e seu bando foram convencidos a entrar para o Batalhão Patriótico, uma milícia para combater a Coluna Prestes, e Lampião recebeu a patente de capitão, armamentos e uniformes do Exército. Pouco tempo depois, o acordo foi desfeito.

Cerca de um ano após a morte do Padre Cícero, ocorrida em 1934, Benjamin levou a Adhemar Bezerra de Albuquerque (1892 – 1975), proprietário da Aba Fim, em Fortaleza, um projeto para fotografar e filmar Lampião e seu bando. Adhemar forneceu a Benjamin equipamentos cinematográficos e fotográficos, além de filmes e, entre 1936 e 1937, Benjamin produziu fotografias e um filme sobre o rei do cangaço.

Em matéria publicada no Diário de Pernambuco de 27 de dezembro de 1936, Benjamin foi apresentado como sírio naturalizado brasileiro e como fundador do periódico Cariri, em Juazeiro do Norte. Segundo a mesma reportagem, em meados de 1935 ele havia tido a ideia de documentar a vida de Lampião. Meteu-se numa roupa de brim azulão, sacudiu a tiracolo sua máquina fotográfica e se internou nas caatingas. Ao longo de 18 meses, viajou pelo sertão de Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Sergipe, e encontrou-se duas vezes com Lampião.

Ao longo de 1937, várias fotos de Lampião e de seu bando produzidas por Benjamin foram publicadas pelos Diários Associados. Foi também divulgado um bilhete escrito por Lampião atestando a autenticidade dos registros de Benjamin (Diário de Pernambuco, 18 de fevereiro de 1937).

Diário de Pernambuco, 18 de fevereiro de 1937.

‘Illmo Sr. Bejamim Abrahão

Saudações

Venho lhe afirmar que foi a primeira pessoa que conseguiu filmar eu com todos os meus pessoal cangaceiros, filmando assim todos os movimentos da nossa vida nas caatingas dos sertões nordestinos.

Outra pessoa não conseguiu nem conseguirá nem mesmo eu consentirei mais.
Sem mais do amigo.

Capm Virgulino Ferreira da Silva
Vulgo Capm Lampião’

Benjamin Abrahão foi assassinado com 42 facadas, em Águas Belas, hoje Itaíba, no interior de Pernambuco, em maio de 1938 (Diário da Noite, 9 de maio de 1938, na quarta coluna,  Diário de Pernambuco, 10 de maio de 1938, na quarta coluna e Diário de Pernambuco, 19 de maio de 1938, na quinta coluna). Os motivos de sua morte ainda não estão esclarecidos. As hipóteses vão desde crime passional até queima de arquivo, já que ele sabia do envolvimento de autoridades com Lampião.

Pequena cronologia de Benjamin Abrahão Calil Botto (1901 – 1938)

Anônimo. Benjamin Abrahão, uma criança e a matriarca dos Elihimas, 1938. Recife, Pernambuco / Acervo IMS

1901 – Segundo sua família, Benjamin Abrahão Calil Botto nasceu em Zahle (na época, cidade na Síria e, atualmente, do Líbano). Segundo o próprio, havia nascido em Belém, local de nascimento de Jesus Cristo.

c. 1910 – Por volta desse ano, todo fim de mês ia para Damasco, na Síria, com um tio que armava caravanas para a venda de utensílios aos beduínos.

1915 – Benjamin desembarcou no porto de Recife, fugindo ao alistamento militar obrigatório devido à Primeira Guerra Mundial. Aqui fez contato com parentes distantes, os Elihimas, que trabalhavam no comércio da cidade, no ramo de miudezas por atacado, das ferragens, de equipamentos de caça e da pesca, na Rua Visconde de Inhaúma, nº 83-91, com filiais em João Pessoa e em Campina Grande, Paraíba.

c. 1915 – Fugiu do colégio onde os seus primos Elihimas o matricularam e foi para Rio Branco, atual Arcoverde. Devolvido aos parentes, passou a trabalhar como mascate.

1916 – Em São Bento do Una, ficou amigo do fazendeiro José Ferreira de Morais é foi acolhido na casa-grande.

1916 / 1917 – Em Arcoverde, toma conhecimento da existência do Padre Cícero Romão Batista (1844 – 1834), o Padim Ciço, por romeiros que partiriam para Juazeiro do Norte, no Ceará, onde morava o sacerdote, considerado virtuoso e místico, que havia se ordenado no Seminário de Fortaleza, em 1870. O religioso obteve sua aura de santidade ao transformar a hóstia em sangue na boca da beata Maria de Araújo, em 6 de março de 1889. O fato teria se repetido diversas vezes durante cerca de dois anos.

Benjamin, soube que milhares de nordestinos iam a Juazeiro do Norte para receber a bênção do padre pelo menos uma vez por ano, o que tornara a cidade um excelente local para negócios. Decide então ir para Juazeiro do Norte.

Todos os dias, o Padim Ciço dava uma bênção, de sua casa, a seus fiéis. A mensagem costumeira era: Meus amiguinhos, quem matou, não mate mais! Quem roubou, não roube mais! Quem pecou, não peque mais! Os amancebados se casem! Um dia, Benjamin conseguiu ser avistado pelo sacerdote, que perguntou a ele sua origem. Benjamin identificou-se como natural de Belém, a terra de Jesus, e pediu para ficar na cidade, sob a proteção do religioso. O padre então respondeu: Fique meu filho. Seja bom e pode sentir-se aqui como se fosse a sua própria casa.

Benjamin foi morar na casa de Pelúsio Correia de Macedo (1867 – 1955), pessoa da inteira confiança do Padre Cícero. Pelúsio foi dono da primeira oficina mecânica da cidade e também fundou a primeira escola de música, onde surgiu a primeira banda de Juazeiro do Norte, que animava desfiles e festas sob sua regência. Foi também proprietário do Cine Iracema, primeiro telegrafista da Estação Telegráfica de Juazeiro do Norte, além de fabricante de quase todos os relógios públicos da região.

Padre Cícero mandou matricular Benjamin no Colégio São Miguel, do professor Manuel Pereira Diniz (1887 – 1949).

Foi incumbido de fotografar a primeira visita feita por um governador do Ceará, José Tomé de Sabóia e Silva (1870 – 1945), a Juazeiro do Norte.

Retomou o ofício de ourives, tentando aprimorar os rudimentos que havia trazido da casa de seus pais. Estudou no Crato com o mestre Teofisto Abath.

c. 1920 – Como ourives, viajou por Cajazeiras, Crato, Jardim e Barbalha. Teve a notícia da morte de sua mãe e recebeu uma herança, enviada por seus primos de Recife.

Abriu um armazém de artigos religiosos e fixou-se em Juazeiro do Norte, em 1920.

Benjamin tornou-se secretário particular do Padre Cícero e passou a morar na casa paroquial. Pouco tempo depois, recebeu as chaves da casa. Como assistente pessoal do sacerdote passou a ter muito poder e a exercer diversas atribuições públicas e privadas. Conheceu personalidades de destaque nacional, clérigos, políticos, militares e educadores.

Benjamin começou a prosperar com a venda aos romeiros de objetos supostamente abençoados pelo Padre Cícero.

Participou também de jogatinas e do desvio de valores doados à igreja, o que decepcionou Joana Tertulina de Jesus, a beata Mocinha, que mais prestígio tinha com o Padre Cícero.

1924 – Benjamin, que dizia-se jornalista, no periódico O Ideal, envolveu-se na denúncia feita pelo farmacêutico José Geraldo da Cruz com o auxílio de Manuel Diniz sobre o fuzilamento sumário de presos tirados da cadeia pública pelo médico e político baiano Floro Bartolomeu da Costa (1876 – 1926), velho amigo do Padre Cícero. Foi Floro que, em 1914, liderou o episódio que ficou conhecido como a Sedição de Juazeiro, um confronto entre as oligarquias cearenses e o governo federal, quando um exército de jagunços derrotou as forças do governo federal e Marcos Franco Rabelo (1851 – 1940) foi deposto do governo do Ceará. Além disso, Floro havia sido importante na ocasião da emancipação de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o Padre Cícero tornou-se o primeiro prefeito da cidade.

1925 - Na festa de descerramento da estátua de bronze do Padre Cícero, em 11 de janeiro, ocasião em que a cidade atraiu cerca de 40 mil romeiros, no intervalo dos discursos, Benjamim tentou falar algumas palavras, mas foi interrompido por Floro Bartolomeu, que abriu seu paletó e gritou Desça daí! Seguiu-se a fala do Padre Cícero.

O padre Manuel Correia de Macedo, filho de Pelúsio de Macedo, acusou Floro Bartolomeu de déspota, de subjugador do Padre Cícero e de corrupto no livro Juazeiro em foco, publicado em Fortaleza pela Editora de Autores Católicos.

Em junho, José Landim, compadre de Floro e escrivão da Coletoria, agrediu Benjamin, durante os festejos de recepção ao padre Macedo, em Juazeiro.

Em agosto, Floro alegou ter sido alvejado à bala pelo turco Benjamin Abrahão quando participava de uma reunião na casa de Francisco Alencar. Benjamin foi preso. Segundo telegrama enviado por Floro ao advogado Raimundo Gomes de Matos, em Fortaleza: Não podendo ser provado que o turco Benjamin Abrahão realmente quisesse cometer um atentado, por isso que não chegeui a lançar mão da arma, e mais ainda porque escreveu carta, para ser publicada, declarando querer morar aqui e outreas coisas, foi solto completamente encabulado.

1926 - Nesse ano, Benjamin já vivia com Josefa Araújo Alves, com quem teve dois filhos: Atallah e Abdallah. O primeiro foi criado como filho por seu amigo, Gonçalo Mundó.

De 4 a 7 de março, Lampião e seu bando ficaram em Juazeiro do Norte em visita organizada por Floro Bartolomeu (1876 – 1926), que faleceu em 8 de março, no Rio de Janeiro. Foi na ocasião dessa visita que Benjamin provavelmente conheceu Lampião. Foram realizados saraus dançantes em homenagens a Lampião, que participou de conferências com autoridades públicas. Encontrou-se com o Padre Cícero e com o coronel Pedro Silvino, comandante do Batalhão Patriótico, uma milícia para combater a Coluna Prestes. Lampião e seu bando entraram para o citado batalhão e Lampião recebeu a patente de capitão honorário das Forças Legais de Combate aos Revoltosos, manuscrita por Pedro de Albuquerque Uchoa, ajudante de inspetor agrícola federal. Ele e seu bando receberam armamentos, munição e uniformes do Exército. Pouco tempo depois, o acordo foi desfeito. Em Juazeiro, os cangaceiros foram fotografados por Lauro Cabral de Oliveira Leite e por Pedro Maia (Jornal do Recife, 10 de abril de 1926).

Durante sua estada em Juazeiro do Norte, quando já estava hospedado no sobrado de João Mendes de Oliveira, Lampião foi visitado pelos ourives da região, levados por Benjamin Abrahão.

1927 – Benjamin prestava serviços a jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo.

1929 – Benjamin residia na casa do Padre Cícero (A Razão, 17 de outubro de 1929, na terceira coluna).

Benjamin despachou para todo o sertão emissários com a notícia, falsa, de que o Padre Cícero daria uma bênção de despedida aos romeiros. Juazeiro foi invadida por romeiros e Benjamin, que havia reforçado o estoque de sua loja, lucra muito.

Benjamim foi confirmado como colaborador especial do jornal O Globo, no Cariri.

A Razão, 3 de outubro de 1929. Benjamin participa de almoço com o padre Cícero

1930 – Em 4 de janeiro, Benjamin fundou o jornal O Cariri, dirigido pelo advogado do Padre Cícero, Antônio Alencar Araripe, e editado pelos professores Manuel Diniz e J. Rocha. Teve pelo menos doze edições até março de 1931, quando teve seu título arrematado por editores do Crato.

Benjamin foi recebido pelo presidente do estado do Ceará, Manuel Fernandes Távora (1877 – 1977) (A Razão, 18 de outubro de 1930, na terceira coluna).

1932 – Era uma das pessoas mais influentes do círculo do Padre Cícero (O Jornal, 19 de maio de 1932, na segunda coluna).

1933 – Após uma viagem a Juazeiro do Norte, Otacílio Alecrim publicou no Diário de Pernambuco o artigo “O desencanto de Macunaíma”, em que estranhou dois fatos quando visitou a casa paroquial do Padre Cícero: uma vitrola de corda e a onipresença de um secretário turco: Francamente, com um turco e uma vitrola, não há messias que possa ser levado a sério…(Diário de Pernambuco, 12 de fevereiro de 1933, na penúltima e última colunas).

Benjamin concluiu ao lado de dezessete rapazes de Juazeiro do Norte e de cidades ao redor, a primeira turma do Tiro de Guerra 48, implantado no Juazeiro em 1931.  A instrução havia sido suspensa, em 1932, devido ao movimento constitucionalista de São Paulo. Benjamin tornou-se, assim, reservista do Exército.

1934 - Falecimento do Padre Cícero, em 20 de julho. Segundo o escritor Otacílio Anselmo, em meio às dezenas de repórteres , um deles chama a atenção de todos, tanto pela mobilidade como pelo modo de manejar sua máquina, provida de pequena manivela…o tal cinegrafista era o sírio Benjamin Abrahão, antigo leão de chácara do sacerdote, aproveitando o acontecimento para concluir um filme sobre a vida do famoso líder sertanejo.

Benjamin fotografou o morto de diversos modos e cortou uma mecha de seu cabelo, que vendeu a diversos devotos até que um deles se seu conta que o padre não tinha tanto cabelo…

Fundação da Aba Film por Adhemar Bezerra de Albuquerque (1892 – 1975), funcionário do Bank of London & South America Limited em Fortaleza. A empresa era de material fotográfico e de produção de imagens, inclusive cinematográficas. Adhemar era pai do fotógrafo Chico Albuquerque (1917 – 2000) e de Antônio Albuquerque.

Adhemar foi para Juazeiro do Norte realizar o documentário Funerais de Padre Cícero. Provavelmente, nessa ocasião, conheceu Benjamin Abrahão.

1935 – Abrahão apresentou seu projeto de fotografar e filmar Lampião e seu bando à Aba Film. Adhemar forneceu a Benjamin equipamentos cinematográficos e fotográficos, além de filmes. Também passou a Benjamin noções básicas de como utilizá-los.

Benjamin meteu-se numa roupa de brim azulão, sacudiu a tiracolo sua máquina fotográfica e se internou nas caatingas. Ao longo de 18 meses, viajou pelo sertão de Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Sergipe, e encontrou-se mais duas vezes com Lampião (Diário de Pernambuco de 27 de dezembro de 1936).

Segundo anotações em sua caderneta de campo, esse foi o início de seu trajeto:

10 de maio – partiu de Fortaleza para a missão/ 12 de maio – está em Missão Velha / 13 de maio – Brejo Santo / 14 de maio – Jati / 15 de maio – Belmonte, e Fazenda Boqueirão, em Pernambuco / 16 a 21 de maio – Vila Bela, atual Serra Talhada / 22 e 23 de maio – Custódia e Rio Branco, atual Arcoverde / 24 de maio – Pedra de Buíque / dian25 de maio – de Negras a Jaburu, quando deixa Pernambuco e chega a Alagoas / dia 26 de maio – de Caititu a Mata Grande / 27 de maio – de Manuel Gomes ao Capiá / 28 de maio – Olho d´Água do Chicão/ 3 de junho – Maravilha.

Benjamin radicou-se na vila do Pau Ferro, município de Águas Belas, em Pernambuco, tomando o lugar como sua base de operações. Inaugurou a parte terrestre de sua busca em Maravilha, no estado de Alagoas. Assim começava a aventura de Benjamin em busca de Lampião e seu bando.

No segundo semestre, perambulou pelos sertões de Alagoas e de Pernambuco. Em Pau Ferro, hospedava-se na casa de Antônio Paranhos, motorista de Audálio Tenório de Albuquerque , chefe do lugar, e protetor de Lampião.

1936 - Em 20 de janeiro, Benjamin autorretratou-se contra uma cerca com seu equipamento trançado em xis sobre os ombros. Naquela altura, ainda não havia encontrado os cangaceiros.

Ao longo do ano, encontrou-se duas vezes com Lampião e seu bando.

O historiador Frederico Pernambucano de Mello estima que o primeiro encontro tenha acontecido em fins de março, nas caatingas alagoanas da ribeira do Capiá, soltas bravias do Canapi, então do município de Mata Grande, no limite entre as fazendas Lajeiro Alto e Poço do Boi. A localização do encontro foi revelada em entrevista por Aristeia, mulher do cangaceiro Catingueira, em depoimento de 2004. Benjamin foi levado até Lampião pelos cangaceiros Juriti e Marreca. Almoçaram bode assado com farinha de mandioca e beberam conhaque Macieira. Segundo matéria publicada no jornal O Povo, de 12 de janeiro de 1937, Benjamin ficou com o grupo central, o de Lampião, por cinco dias.

Benjamin viajou para Fortaleza, em 17 de maio para, na Aba Film, situada na rua Major Fecundo, iniciar a revelação dos negativos realizados de Lampião e seu bando.

Em meados de julho, voltou a encontrar Lampião, com quem passou três dias.

‘…Lampião estava pronto para confirmar sua presença na História através da linguagem moderna do cinema. Benjamin passava de solicitante a solicitado, revalando para a garupa do projeto, a ser tocado doravante pelo próprio cangaceiro. Pior seria ficar a pé…

Somente a ocorrência dessa troca de postos, soprada pelo sírio a Antônio Paranhos no segundo regresso ao Pau Ferro, explica o número de cenas que se irá obter nos cerca de quinze minutos de película e cerca de noventa fotografias que se salvaram para a história, a variedade das revelações desveladas a cada segundo – algumas pungentes, como a do bando a rezar, todos descobertos, momentaneamente desarmados, joelhos fincados na poeira – e a docilidade dos “atores”, a tudo se prestando diante das câmeras. Não somente da Ica, cinematográfica, mas da Universal, de fotografia, uma “caixão” de objetiva dupla, também da Zeiss, negativos de 6 x 6 cm’ (Frederico Pernambucano de Mello in Benjamin Abrahão – entre anjos e cangaceiros).

Em 28 de setembro, os cangaceiros atacaram a cidade de Piranhas, em Alagoas, para libertar Inhacinha, a mulher do cangaceiro Gato, que havia sido baleada e presa pela volante do tenente João Bezerra da Silva (1898 – 1970). Porém, ela estava presa na cadeia da Pedra de Delmiro Gouveia. Foram recebidos por uma resistência feita apenas por civis, homens e mulheres. Uma das mulheres era dona Cira de Brito Bezerra, mulher do tenente João Bezerra. Os cangaceiros espalharam que a prenderiam caso Inhacinha não fosse encontrada ou morresse durante a ação. Sobre o ocorrido, Benjamin comentou:

‘Atravessava o rio quando se travou o combate. Encontrava-me a uma distância de meia légua da cidade. Corrio ansioso para lá. Era uma oportunidade que não devia deixar escapar. Infelizmente, cheguei tarde. Os bandidos já se retiravam. Bem junto a mim, em um sofá, ferido, passou Gato, chefe do grupo. Quando entrava na cidade, tomaram-me por bandido e, por um triz, não me bateram‘.

Até outubro, Benjamin fez diversas incursões a cada um dos chefes de subgrupos de Lampião. Produziu mais fotografias e um filme.

No Recife, deu uma entrevista, publicada no Diário de Pernambuco de 27 de dezembro de 1936, quando anunciou a realização de um filme e a produção de diversas fotografias de Lampião e seu bando. Foi apresentado como sírio naturalizado brasileiro e como fundador do periódico Cariri, em Juazeiro.

Diário de Pernambuco de 27 de dezembro de 1936

Benjamin apresentou-se na Aba Film, em Fortaleza, no dia 28 de dezembro, mesma data em que João Jacques publicou no jornal O Povo, matéria intitulada Carta ao Leota, na qual questionava o fato de Lampião e seu bando ter sido filmado e fotografado e continuar solto. Leota é Leonardo Mota, autor do livro No tempo de Lampião, de 1930.

‘Que acha desse furo? Que me diz sobre o caso? Será possível, meu amigo, que se possa ainda, por esses tempos tão mudados, filmar um bandoleiro, um gangster, um assassino mil vezes assassino e não se tenha meios de apanhá-lo?‘

No dia seguinte, dia 29, foi publicada na primeira página do jornal O Povo a matéria intitulada Sensacional vitória da Aba Film: uma das mais importantes reportagens fotográficas dos últimos tempos, Lampião, sua mulher e seus sequazes filmados em pleno sertão, ilustrada por fotografias de Benjamin ao lado de Lampião, de Maria Bonita, e da guarda pessoal do cangaceiro. A tiragem do jornal foi duplicada e totalmente esgotada.

No dia 31 de dezembro, o jornal O Povo publicou uma fotografia inédita de Maria Bonita sentada com os cachorros Ligeiro e Guarani.

1937 – No dia 10 de janeiro, Benjamin, que havia estado no sertão, retornou a Fortaleza.

No jornal O Povo, de 12 de janeiro de 1937, Benjamin revelou que Maria Bonita escolheu ser mulher de Lampião por livre e espontânea vontade, contrariando a versão de que ela havia sido raptada e estuprada pelo cangaceiro.

Foi publicada pelos Diários Associados, uma fotografia onde Benjamin aparecia ao lado do casal Lampião e Maria Bonita (Diário de Pernambuco, 16 de janeiro de 1937). Dias antes, o Diário da Noite, havia publicado uma notícia sobre o encontro de Benjamin com Lampião. Benjamin revelou que havia trazido também, além de imagens, a primeira entrevista escrita e assinada pelo bandido (Diário da Noite, 8 de janeiro de 1938, na última coluna). Outras fotografias de Lampião foram publicadas, uma delas mostrando o cangaceiro lendo um romance policial. Segundo Benjamin, Lampião gostava muito dos livros do belga Georges Simenon (1903 – 1989) e do inglês Edgard Wallace (1875 – 1932) (Diário de Pernambuco, 20 de janeiro de 193712 de fevereiro de 193714 de fevereiro de 193717 de fevereiro19 de fevereiro20 de fevereiro de 193721 de fevereiro 30 de julho de 1938; Diário da Noite, 8 de fevereiro de 193729 de julho de 1938 e  30 de julho de 1938). Foram também publicadas fotografias das volantes (Diário de Pernambuco, 27 de abril de 1937).

Segundo o comerciante Farid Aon, amigo de Benjamin, dias depois do carnaval, terminado em 10 de fevereiro, Benjamin foi ao quartel da Sétima Região Militar, no Recife, para tentar obter uma licença do general para exibir o filme sobre Lampião em cinemas públicos. A oficialidade exigiu o exame do filme e, ao assistir à projeção, achou que o documentário era vergonhoso para o Brasil, ficou irritada, rebentou o filme e o projetor, e Benjamin foi maltratado e detido por uma semana.

Lampião escreveu um bilhete atestando a autenticidade dos registros de Benjamin (Diário de Pernambuco, 18 de fevereiro de 1937).

Na revista O Cruzeiro, de 6 de março de 1937, publicação de uma página com cinco fotografias de Lampião, de autoria de Benjamin, com o título Filmando Lampeão! Na matéria, mais uma vez, foi questionado o fato do bando de cangaceiros ainda estar solto. 

As fotografias dos cangaceiros em poses que transmitiam orgulho e segurança irritaram o presidente Getúlio Vargas, fato que impulsionou o definitivo esforço de repressão que exterminaria os bandoleiros do sertão. Além disso, o documentário sobre Lampião foi apreendido.

Não poderá ser exibido o filme de Lampião! Com essa manchete na primeira página do jornal O Povo, de 3 de abril de 1937, ilustrada com uma fotografia de Benjamin ladeando Lampião e Maria Bonita, era informado que o documentário sobre o cangaceiro deveria ser apreendido, por ordem do dr. Lourival Fontes (1899 – 1967), diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda, durante o governo de Getúlio Vargas (1882 – 1954). O filme não poderia ser exibido nos cinemas do país, por atentar contra os créditos da nacionalidade.

Foi publicada no Correio do Ceará, 7 de abril de 1937, a transcrição da ordem dada por Lourival Fontes, que por telegrama determinou a apreensão do filme Lampião, que se exibia em Fortaleza:

‘Secretário Segurança Pública Estado do Ceará – Fortaleza.

Tendo chegado ao conhecimento do Departamento Nacional de Propaganda, estar sendo annunciado ou exhibido na capital ou cidades desse Estado, um filme sobre Lampeão, de propriedade de “Aba Film”, com sede á rua Major Facundo, solicito vos digneis providenciar no sentido de ser apprehendido immediatamente o referido filme, com todas suas copias, e respectivo negativo, e remettel-os a esta repartição, devendo ser evitado seja o mesmo negociado com terceiros e enviado para fora do paiz.

Attenciosos cumprimentos. Lourival Fontes, director do Departamento Nacional de Propaganda do Ministério da Justiça.’

Em 10 de abril, houve uma exibição especial do filme, às 17h, no Cinema Moderno, em Fortaleza, para o chefe de Polícia, o capitão Manuel Cordeiro Neto (1901 – 1992), assistido também pelo secretário do Interior do Ceará, pelo juiz federal de Fortaleza,pelos delegados de polícia da capital, pelos comandantes do 23º Batalhão de Caçadores do Exército e da Força Pública do Estado, por representantes de jornais e de empresas telegráficas. Em 22 de junho de 1979, o então já reformado general do Exército Brasileiro, Cordeiro Guerra, declarou sobre o filme apreendido: Se nada do conteúdo do filme ficou na minha lembrança de maneira viva, é porque as cenas a que assisti, em exibição especial que solicitei, ao lado de um conjunto de autoridades, eram triviais, coisas domésticas.

Foi publicado o artigo O reduto do “Caldeirão” do beato José Lourenço, de autoria de Benjamin Abrahão (Diário de Pernambuco, 2 de junho de 1937). Fiel seguidor do Padre Cícero, José Lourenço (1872 – 1946) foi o líder da comunidade Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, localizada na zona rural do Crato, extinta em 9 de maio de 1937. Segundo revelou a seu sobrinho Aziz, escreveu o artigo para sobreviver publicamente e regressar à imprensa.

Na edição de 7 de agosto do Diário de Pernambuco, o poeta e folclorista Ascenso Ferreira (1895 – 1965) convidava para a vaquejada de Surubim, em Pernambuco, evento de maior destaque dos esportes regionais do estado. Benjamin, que estava hospedado, no Recife, na casa de dona Wadia, matriarca da família Elihimas, viu na convocação para as vaquejadas uma oportunidade de trabalho. Como uma das vaquejadas mais tradicionais acontecia na fazenda Barra Formosa, no Pau Ferro de Águas Belas, Benjamin foi para lá a tempo de se engajar nos preparativos da festa, que aconteceria em novembro. A fazenda era de propriedade do coronel Audálio Tenório de Albuquerque (1906 – ?), grande amigo de Lampião. O coronel Audálio deixou que Benjamin explorasse a jogatina durante o evento, além de instalar tendas de bebidas e aperitivos.

Chegou em Pau Ferro um carregamento da Aba Film, de Fortaleza, para Benjamin: centenas de fotografias em diferentes tamanhos, com predominância do formato de cartão-postal, de cangaceiros dos vários grupos de Lampião. Começaria, então, a distribuir seu produto, barato e muitíssimo vendável, pelas feiras livres e pelo comércio fixo de Pernambuco. Começaria, assim, a tentar recuperar parte do prejuízo causado pela apreensão do filme que repercutiu sobre o patrimônio da Aba Film e da Benjamin & Cia, do Juazeiro.

Em meados de outubro, as fotografias estavam espalhadas por todo o sertão. O major Lucena Maranhão, comandante da unidade sertaneja da polícia de Alagoas, homem temido em todo o nordeste e perseguidor ferrenho de Lampião, mandou recolher as imagens. Benjamin, então, tocou fogo nas fotografias estocadas. Benjamin foi a Recife obter do Diário de Pernambuco uma declaração de que está em Pau Ferro como colaborador do jornal.

Em 5 de novembro, foi aberta a vaquejada do Pau Ferro, com a presença do major Lucena Maranhão. Benjamin fotografou o evento e quatro imagens produzidas por ele foram publicadas no Diário de Pernambuco de 13 de novembro de 1937. Também realizou um filme documental do acontecimento, fazendo com que a vaquejada do Pau Ferro se tornasse a primeira a ser filmada em Pernambuco. Fotografou uma cena inédita: o coronel Audálio Tenório, maior amigo de Lampião em Pernambuco passeando de braços dados com Lucena Maranhão, maior inimigo do cangaceiro em Alagoas, ladeados pelos coronéis Gerson Maranhão e João Nunes.

Em 10 de novembro, foi estabelecido o Estado Novo, regime político fundado pelo presidente Getúlio Vargas (1882 – 1954). Vigorou até 31 de janeiro de 1946.

No Diário de Pernambuco, de 13 de novembro de 1937, foram publicadas quatro fotografias da vaquejada da fazenda Barra Formosa, em Águas Belas, produzidas por Benjamin Abrahão.

Em 23 de novembro, Benjamin filmou a vaquejada da fazenda Lagoa Queimada e, em 25 de novembro, a da fazenda Riachão, ambas no município de Quebrangulo, em Alagoas.

O tenente Luís Mariano da Cruz, sertanejo de São José de Belmonte, oficial a serviço da volante de Pernambuco revelou em entrevista dada ao Diário de Pernambuco, de 24 de novembro de 1937, que Lampião fazia uso de seus retratos com salvo-condutos autenticados com suas assinaturas. Esse retratos foram confeccionados pela Aba Film, em operação intermediada por Benjamin. Na entrevista, o tenente traçou os roteiros de Lampião, descreve o poderio bélico de seu bando e acusa alguns militares de omissão ou cumplicidade. Sobre a confecção dos cartões para Lampião, foi feito um relato por Chico Albuquerque, na Gazeta de Alagoas, de 2 de agosto de 1938.

1938 - O lucro das bancas de vaquejada foi desastroso. Benjamin discutiu com um de seus auxiliares, tendo chamado um deles de ladrão.

O coronel Audálio Tenório, com quem Benjamin tinha negócios, cobrou o que havia sido previsto na comercialização de tudo o que fornecera a Benjamin, que prometeu levantar a quantia com seus familiares no Recife. Emitiu promissórias que venceriam em 18 de fevereiro.

No Recife, hospedou-se com dona Wadia, a matriarca dos Elihimas, e com o primo Francisco, na casa nº 579, da avenida Rui Barbosa, no bairro das Graças. Solicitou a Francisco três contos de réis e teve seu pedido negado.

De 5 a 9 de fevereiro, brincou o carnaval e foi todas as noites aos bailes do Clube Internacional. Na Quarta-Feira de Cinzas, embriagado, quase foi atropelado por um bonde da rua Nova.

Em 18 de fevereiro, Benjamin nem resgatou as promissórias nem deu satisfações. Seguiu tentando conseguir empréstimos entre Recife e Juazeiro.

No início de maio, Benjamin voltou a Pau Ferro, município de Águas Belas, dizendo que pagaria tudo o que devia. Alguns atribuíram a ousadia de seu retorno ao fato de estar apaixonado por Alaíde Rodrigues de Siqueira. Ao amigo Antônio Paranhos, confessou não ter nem a metade do que devia e que estava pensando em vender seu silêncio, já que com seu convívio com Lampião e seu bando em 1936 teria tido acesso a várias informações que seriam incômodas para a elite sertaneja.

Segundo o ex-cangaceiro Manuel Dantas Loiola, conhecido como Candeeiro, em 6 de maio, véspera do assassinato de Benjamin, Lampião e seu bando estavam acampados perto do riacho do Mel, a menos de duas léguas do Pau Ferro.

Benjamin Abrahão foi assassinado com 42 facadas, em Águas Belas, hoje Itaíba, no interior de Pernambuco, em 7 de maio de 1938. Saiu do bar rumo à pensão onde se hospedava quando as ruas principais da cidade ficaram às escuras. Foi atacado, gritou por socorro e seu amigo Antônio Paranhos foi ao seu encontro, mas foi detido pela voz de um desconhecido que o avisou Arreda, cabra, que é encrenca. (Diário da Noite, 9 de maio de 1938, na quarta coluna,  Diário de Pernambuco, 10 de maio de 1938, na quarta coluna e Diário de Pernambuco, 19 de maio de 1938, na quinta coluna). Seu assassino confesso foi Zé da Rita, marido de Alaíde Rodrigues de Siqueira, por quem Benjamin estaria apaixonado. Mas o fato dele ser franzino e paralisado da cintura para baixo gerou dúvidas quanto a sua capacidade de dominar Benjamin, que era um homem corpulento. Sendo assim, os motivos de sua morte ainda são misteriosos. As hipóteses vão desde a possibilidade de um crime passional até a de queima de arquivo, já que ele sabia do envolvimento de autoridades com Lampião. Em sua missa de sétimo dia, só estava presente o padre celebrante, Nelson de Barros Carvalho.

Em 28 de julho, na grota de Angico, em Sergipe, o bando de Lampião foi cercado por uma força volante comandada pelo tenente João Bezerra da Silva (1898 – 1970), pelo aspirante Ferreira Mello e pelo sargento Aniceto da Silva. Além de Lampião, foram mortos sua mulher, Maria Gomes de Oliveira (c. 1911 – 1938), conhecida como Maria Bonita, e os cangaceiros Alecrim, Colchete, Elétrico, Enedina, Luiz Pedro, Macela, Mergulhão, Moeda e Quinta-feira. Foram todos decapitados (Jornal do Brasil, 30 de julho de 1938, na primeira colunaDiário de Pernambuco, 30 de julho de 1938, com uma fotografia de autoria de BenjaminDiário de Pernambuco, 31 de julho de 19383 de agosto de 1938 ).

Para a elaboração dessa cronologia, a pesquisa da Brasiliana Fotográfica valeu-se, principalmente, dos livros Iconografia do Cangaço, organizado por Ricardo Albuquerque, e Benjamin Abrahão – Entre anjos e cangaceiros, de Frederico Pernambucano de Mello, além de inúmeras consultas à Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Links para outras publicações da Brasiliana Fotográfica sobre conflitos:

A Revolta da Armada

Guerra de Canudos pelo fotógrafo Flavio de Barros

Registros da Guerra do Paraguai (1864 – 1870)

Fontes:

AON, Farid. Do cedro ao mandacaru. Recife : Fida Editorial Comunicação Especializada, 1979.

ALBUQUERQUE, Ricardo (org). Iconografia do Cangaço. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2012.

ANDRADE, Joaquim Marçal de. Os cangaceiros in Revista de História da Biblioteca Nacional, 6 de abril de 2014.

BARRETO, Ângelo Osmiro. Assim era Lampião e outras histórias. Minas Gerais : Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, 2012.

CASCUDO, Luiz da Câmara. Vaqueiros e cantadores para jovens. Minas Gerais: Editora Itatiaia, 1984.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

JASMIN, Élise. Cangaceiros. Apresentação de Frederico Pernambucano de Mello. São Paulo : Editora Terceiro Nome, 2006.

LUSTOSA, Isabel. De olho em Lampião: violência e esperteza. São Paulo: Claro Enigma, 2011.

MELLO, Frederico Pernambucano de. Benjamin Abrahão: entre anjos e cangaceiros. São Paulo: Escrituras, 2012.

MELLO, Frederico Pernambucano de. Guerreiros do Sol. São Paulo: Girafa, 2003.

MELLO, Frederico Pernambucano de. Estrelas de couro: a estética do cangaço. São Paulo: Escrituras, 2010.

MELLO, Frederico Pernambucano de. Quem foi Lampião. Recife: Stahli, 1993.

Site Cinema Cearense

Site História do Cinema Brasileiro

Site Miséria

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