Por: Francisco Carlos Jorge de Oliveira
Sergipe 1934, é introito de
outubro e após caírem as escassas chuvas da primavera, os sete cascas
com seu colorido perfumado adornam o
lúgubre cenário sertanejo das
inóspitas caatingas que ao longe,
visto lá do alto da serra;
apresentam-se como visíveis pigmentos amarelados
entre a parda flora nordestina. A
doçura do néctar e o aroma da floração espalhados pelo vento atraem vespas,
marimbondos, moscas, abelhas e outros insetos. Os cuitelos fartam-se na doçura
do mel de suas flores, o sabiá gorjeia em seus galhos tenros enquanto os tatus,
veados, cotias e caititus alimentam-se da florada que cai cobrindo o chão. Ah! Deus! Quanta beleza! Presente da mãe natureza e... Deleitam-se
vidas, é grátis!
Lampião e seu respeitado bando
O Rei
do Cangaço e
seu bando, chegam
e acampam próximo a um povoado
por nome de Alagadiço perto da cidade de Frei Paulo à mais ou menos
90km da capital Aracajú, estão cansados com
fome e desprovidos de munição. Os
cangaceiros Mané moreno, balão, Volta Seca e Cravo Roxo liderados por Luiz
Pedro a mando do Capitão, se
deslocaram até o supracitado lugarejo
com destino à propriedade de um determinado morador comerciante e
coiteiro por nome Antônio de Chiquinho,
em busca
de víveres e suprimentos bélicos
para abastecer o
bando.
E por aquelas bandas, os asseclas
permaneceram por uns dois dias.
Lá no acampamento á tardinha, Zé Baiano
vai buscar água em um arroio
e vê no brejo
as pegadas de um catingueiro, rapidamente ele volta e
chama Virgulino para ir caçar o
bicho, então seu Capitão mais que
depressa pega o fuzil e convida o atroz Cirilo de Ingrácias que de
imediato chama e atrela Guarany e Ligeiro,
os cães de Lampião que além de ótimos
guardiões eram também excelentes caçadores. Daí os cangaceiros soltam a parelha
no rasto do
veado e afoitos saem,
formando a corrida que
se alonga caatinga a dentro. Bem
ao longe no sopé de uma
serra
os cachorros latindo dão
sinal de acuação, o sol já se pós
e logo
irá escurecer, Lampião e
Cirilo de Ingrácias opinam em voltar
mas, o intrépido Zé Baiano
resolve seguir em frente sozinho, quem é
caçador sabe que é comum
numa caçada a matilha abandonar
um rasto e
seguir novas pegadas, foi o que
aconteceu, e quando o facínora
chegou onde a caça encontrava-se
encurralada, achou estranho pois veado
anda pelo chão e
os cães estavam rosnando e olhando para o alto, Zé
Baiano curioso resolveu ir ver o que
tinha sucedido, mas para
subir até lá em
cima teria que desfazer de todo
seu aparato e assim foi feito;
ele só levou presa á cintura
seu parabellun calibre 9mm, e se agarrando em
raízes, galhos e cipós,
conseguiu escalar a parede de
pedras e chegar até o local que era de
superfície plana, e havia uma
gruta de passagem bem estreita entre as escarpas rochosas.
O cangaceiro Zé Baiano
O
cangaceiro ouviu um barulho
dentro da caverna e ao tentar
ver o que era, escorregou em uma pedra solta e perdendo o equilíbrio veio a
cair de costas dentro de um
buraco no interior da furna. Meio atordoado pelo baque, ele
procurou no bolso a caixa de fósforos e
por seu asar só tinha
um palito, ascendeu-o então
e ao clarear viu
encolhidinhos num canto,
dois filhotes de onça
pintada e para completar sua desgraça
ao procurar sua
arma, não a encontrou pois a
havia perdido durante a queda. "-Meu Padrim Cirço! Estou ferrado!" Dai bateu o
desespero, ele tentou subir e sair
do buraco inúmeras
vezes, e de todas as formas tentou, e
tentou tanto que sangrou todos os
dedos e a única coisa que
conseguiu, foi cair e pisar
em cima de um dos gatos que lhe cravou
os dentes no calcanhar, então
anoiteceu e o escuro
ficou preto, o preto tornou-se
negro e
o negro virou retinto, o jeito foi sentar num canto e ficar olhando a boca do
buraco esperando pelo pior, isto é; o fim mas...ah! Que lindo!
Nisso surge a lua no céu cheia esplendor.
Zé Baiano com fome contempla o astro nas
alturas, ele a imagina um enorme e suculento queijo redondo, e chega até
sentir o gostinho coalho na
boca, quando de repente escurece
de uma vez a boca do buraco, mas como é
de hábito ou por
instinto; em estado natural, todos
os felídeos entram de costas em
suas tocas, daí quando o facínora
se prepara para ser devorado, rapidamente se
posiciona de pé encostado na parede
de rochas, e quando chega a
hora fatídica ele sente a cauda
do grande felino tocar
suavemente em seu rosto soado, então se lembra do
velho ditado: ”Quem tá
perdido não escolhe caminho“.
Daí o Pantera Negra agarra com toda
sua força no rabo
da onça pintada e solta um
enorme grito: - Bicho Diabo! A fera se assusta da um esturro bestial e num
pulo violento salta para fora da
toca, libertando assim o
cangaceiro que sai
atarracado em seu rabo, e quando se sentem
livres, as duas feras apavoradas
correm para lados opostos tomando rumos
diferentes, o cangaceiro quebrando galhos e rebentando cipós no
peito se embrenha em meio á
caatinga, a onça idem. E junto a brisa perfumada que acompanha
a madrugada enluarada, crocitando
nas baixadas em galhadas orvalhadas,
pernoitam mochos, bacuraus, urutaus e caburés.
No começo da tarde do dia seguinte, Zé
Baiano quase despido chega todo lascado no acampamento, procura seu líder e o
coloca a par dos fatos. Lampião por um
momento fica em silêncio depois diz:- Vá comer e descansar um pouco, a depois chame
dois cabras pra ir cum ocê busca seu
armamento. Mané Moreno
gargalhou ao ouvir e ver o velho
cangaceiro passar por ele em estado
deplorável, mas logo foi repreendido pelo
rei do cangaço
que como castigo desferiu
um golpe com o
coice do
mosquetão atingindo-lhe bem em
cima do dedão do pé
esquerdo, azulando lhe a unha.
Zé Baiano já bem recuperado voltou com seus
comparsas até o local do fato, e após
localizar seus pertences, armando-se e com todo o cuidado
subiu até á caverna para certificar se o
bicho ainda estava lá mas, para sua surpresa a fera
e seus filhotes
já haviam partido, abandonado o
abrigo. Daí então o referido cangaceiro resolveu confiscar a toca
da onça
fazendo daquele local seguro a sua mais recente moradia. E foi assim que o “Pantera Negra “ dos sertões encontrou
seu famoso esconderijo, escuso entre as rochas em meio ás caatingas sergipanas, onde se escondia toda vez após praticar as mais cruéis atrocidades, espalhando
o terror pelos lugares que passava.
Amigo Mendes, esta é mais uma das
minhas mil historias do fantástico
mundo do cangaço.
‘“‘Saudações Militares”
Francisco Carlos Jorge de Oliveira – Cabo QPM 1-0 PMPR RR
Enviado pelo cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira
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