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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A ONÇA PINTADA E O PANTERA NEGRA DOS SERTÕES

Por: Francisco Carlos Jorge de Oliveira
Cabo- Francisco Carlos Jorge de Oliveira

Sergipe 1934, é introito de outubro e após caírem as escassas chuvas da primavera, os sete  cascas  com seu colorido perfumado adornam o  lúgubre cenário sertanejo das  inóspitas  caatingas que ao longe, visto lá do alto da serra;  apresentam-se  como  visíveis pigmentos  amarelados  entre a parda  flora nordestina. A doçura do néctar e o aroma da floração espalhados pelo vento atraem vespas, marimbondos, moscas, abelhas e outros insetos. Os cuitelos fartam-se na doçura do mel de suas flores, o sabiá gorjeia em seus galhos tenros enquanto os tatus, veados, cotias  e caititus  alimentam-se da florada  que cai cobrindo o chão. Ah! Deus!  Quanta beleza!  Presente da mãe natureza e... Deleitam-se vidas, é  grátis!

Lampião e seu respeitado bando
    
O Rei  do  Cangaço  e  seu  bando,  chegam  e  acampam próximo a  um povoado  por  nome de Alagadiço  perto da cidade  de Frei Paulo à  mais ou menos  90km da capital  Aracajú, estão  cansados com  fome e  desprovidos de munição. Os cangaceiros Mané moreno, balão, Volta Seca e Cravo Roxo liderados por Luiz Pedro   a mando do Capitão, se deslocaram  até o supracitado lugarejo com destino à propriedade de  um  determinado morador comerciante e coiteiro  por nome Antônio de Chiquinho, em  busca  de víveres  e suprimentos bélicos para  abastecer  o  bando. 


E por aquelas bandas, os asseclas  permaneceram por uns  dois dias. Lá no acampamento á tardinha, Zé Baiano  vai  buscar água  em um arroio  e  vê  no brejo  as  pegadas  de um catingueiro, rapidamente ele volta e chama Virgulino  para ir caçar  o  bicho, então seu Capitão  mais que depressa  pega o fuzil  e convida o atroz Cirilo de Ingrácias que de imediato chama e atrela  Guarany e Ligeiro, os cães de Lampião   que além  de ótimos  guardiões  eram também excelentes  caçadores. Daí os cangaceiros soltam  a parelha  no  rasto  do  veado e afoitos  saem, formando  a  corrida que  se alonga caatinga  a dentro. Bem ao  longe no sopé  de  uma  serra  os  cachorros latindo  dão  sinal de acuação, o sol já  se pós e  logo  irá  escurecer, Lampião  e  Cirilo de Ingrácias  opinam  em voltar  mas, o intrépido Zé  Baiano resolve seguir em frente sozinho, quem é  caçador  sabe que é  comum  numa  caçada a matilha  abandonar  um  rasto  e  seguir novas  pegadas, foi o que aconteceu, e  quando o facínora chegou  onde a caça encontrava-se encurralada, achou estranho pois  veado anda  pelo chão  e  os  cães  estavam rosnando e olhando para o alto, Zé Baiano curioso resolveu ir  ver o que tinha  sucedido, mas  para  subir  até  lá em  cima  teria que desfazer de  todo  seu aparato e assim  foi feito; ele só levou  presa  á cintura  seu parabellun calibre  9mm,  e se agarrando  em  raízes, galhos  e  cipós,  conseguiu escalar  a parede de pedras  e chegar até o local  que era de  superfície  plana, e havia uma gruta de passagem bem estreita entre as escarpas  rochosas. 

O cangaceiro Zé Baiano

O  cangaceiro  ouviu  um barulho   dentro da  caverna  e ao tentar  ver o  que  era, escorregou em uma  pedra solta e perdendo o equilíbrio veio  a  cair  de costas dentro  de um  buraco no interior  da  furna. Meio atordoado pelo baque, ele procurou no bolso a  caixa de  fósforos e  por seu asar  só  tinha  um  palito, ascendeu-o  então  e ao  clarear  viu  encolhidinhos num  canto, dois  filhotes  de onça  pintada e  para completar  sua desgraça  ao  procurar  sua  arma, não a encontrou  pois a havia perdido durante a queda. "-Meu Padrim Cirço! Estou ferrado!" Dai bateu o desespero, ele tentou subir e sair  do  buraco  inúmeras  vezes, e de todas as  formas  tentou, e   tentou tanto  que sangrou todos os dedos e a única  coisa  que  conseguiu,  foi cair  e pisar  em  cima de um dos gatos que  lhe cravou  os  dentes no calcanhar, então anoiteceu  e o   escuro  ficou  preto, o preto tornou-se negro  e  o  negro virou  retinto, o jeito foi  sentar num canto e ficar olhando a boca  do  buraco  esperando  pelo pior, isto é; o fim mas...ah! Que lindo! Nisso surge a lua no céu cheia  esplendor.
     
Zé Baiano com fome contempla o astro nas alturas, ele a imagina um enorme e suculento queijo redondo,  e chega até  sentir o  gostinho coalho  na  boca,  quando de repente escurece de uma vez a boca do  buraco, mas como é de  hábito  ou por  instinto; em estado natural, todos  os felídeos  entram de costas  em  suas tocas, daí quando o facínora  se prepara  para ser  devorado, rapidamente  se  posiciona  de pé encostado na  parede  de rochas,  e quando chega a hora  fatídica ele sente  a cauda   do grande  felino  tocar  suavemente  em seu  rosto soado, então se  lembra do  velho ditado: ”Quem tá  perdido  não escolhe  caminho“. 

Daí o Pantera Negra agarra  com toda  sua  força no  rabo  da  onça pintada e solta  um  enorme grito: - Bicho Diabo! A fera se assusta da um esturro bestial e num pulo violento salta para fora  da toca,  libertando assim   o  cangaceiro  que  sai   atarracado  em seu  rabo, e quando  se sentem  livres, as  duas feras apavoradas correm  para  lados opostos tomando  rumos  diferentes, o cangaceiro quebrando galhos e rebentando cipós  no  peito se embrenha em  meio á caatinga, a  onça  idem. E junto a brisa perfumada que acompanha a madrugada  enluarada, crocitando nas  baixadas em galhadas orvalhadas, pernoitam  mochos,  bacuraus, urutaus  e caburés.
       
No começo da tarde do dia seguinte, Zé Baiano quase despido chega todo lascado no acampamento, procura seu líder e o coloca a par dos  fatos. Lampião por um momento fica em silêncio depois diz:- Vá comer e descansar um pouco, a depois chame dois  cabras  pra ir cum ocê  busca seu  armamento. Mané Moreno  gargalhou  ao ouvir e ver o velho cangaceiro passar por  ele em estado deplorável, mas  logo  foi repreendido  pelo  rei  do  cangaço  que como  castigo   desferiu  um  golpe  com  o coice  do  mosquetão atingindo-lhe  bem em cima do  dedão  do pé  esquerdo, azulando lhe a  unha.
        
Zé Baiano já bem  recuperado voltou com  seus  comparsas até o local do fato, e após  localizar  seus  pertences, armando-se e com todo o cuidado subiu até á caverna para  certificar  se o  bicho  ainda estava  lá mas, para sua surpresa a  fera  e  seus  filhotes  já  haviam partido, abandonado o abrigo. Daí então o referido cangaceiro resolveu confiscar  a  toca da  onça  fazendo  daquele local  seguro a sua mais recente  moradia. E foi assim que o “Pantera  Negra “ dos sertões  encontrou  seu  famoso  esconderijo, escuso entre as rochas em  meio ás caatingas sergipanas, onde  se escondia toda vez  após praticar as mais cruéis atrocidades, espalhando o terror pelos lugares que passava.

Amigo Mendes, esta é mais uma das minhas mil historias  do  fantástico  mundo do cangaço.
‘“‘Saudações Militares”

Francisco Carlos Jorge de Oliveira – Cabo QPM 1-0 PMPR  RR

Enviado pelo cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira

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Quando fui a grota de Angico com o mestre Alcino...

Por José Cícero*
JC na grota de Angico- SE com o saudoso Alcino Alves Costa (ao meio) e Bosco André

Que ninguém mais possa acreditar que o perdemos como quem perde simplesmente um pedaço importante de uma estória, um causo, uma epopéia, uma vida inteira... Isso não! Apressado, ele apenas partira  antes de nós. Quem sabe se encantara numa dessas bibocas aprazíveis  dos sertões do mundo. Das coisas que ele amava  e defendia com unhas e dentes.  Ou esteja, quem sabe,  apenas  tirando um cochilo nas sombras dos arvoredos  nos caminhos  que dão pras bandas da sua querida Poço Redondo ou mesmo na sagrada grota de Angico, nas areias do imenso rio...

Com os  olhos do coração haveremos de sentir e vê-lo  de novo, agora eternizado nas palpitantes histórias que seus livros contam. Digamos então, para que todos o saibam:

- O caipira de Poço Redondo não morrera, apenas despertou para à eternidade!

Ele é teimoso e ousado. De modo que nunca deixaria o sertão assim tão fácil.

E a vida por seu turno, é assim mesmo. Um longo caminho marcado por uma  sucessão de encontros e desencontros. Nesta eterna marcha, às vezes avançamos, outras vezes ficamos para trás quase sem nos dá conta. O que não se pode no entanto, é nunca desistir desta árdua caminhada.  Porque a marcha da vida nunca cessa. Pois só existe um grande segredo: é caminhar e caminhar...

De Piranhas para a grota de Angico pelo rio São Francisco

Em geral, todos os que trilharam estas veredas ao menos uma vez na vida acreditam inapelavelmente  na possibilidade do grande encontro. A esperança é o que nos move a nunca desistir.

Pelos menos quando pela primeira vez (em março de 2011) segui a trilha na direção da grota de Angico foi assim. Tive a mesma sensação de está viajando na máquina do tempo. Um importante instante de reflexão que fiz acerca da história do cangaço e da minha própria vida; dentro de um cenário típico da caatinga nordestina. Ainda com meus pés molhados com as águas límpidas e divinais do São  Francisco. Tive com este rio, também um encontro dos mais fantásticos e inesquecíveis... E ao meu lado, com seus passos lentos, o mestre Alcino Costa – o velho caipira de Poço Redondo.  Boa conversa, aqui e acolá entrecortada por uma observação histórica, ou mesmo  uma das suas piada chistosas e apimentadas.

Aninha  da Petrolina segurava a sua sombrinha. O mestre como sempre estava feliz. E o sorriso largo era por assim dizer, o cartão-postal da sua agradável presença. Também ao seu lado, a sua grande amiga Juliana.

Sua alegria contagiava todos que estavam a sua volta. Todo o ambiente ficava assim, meio leve e fagueiro com sua presença de espírito.

E assim seguíamos no rumo da famosa grota.

Vez por outra uma parada para um descanso rápido. Perguntei-lhe quantas vezes ele já estivera ali percorrendo o mesmo caminho. E ele me disse: - “pra mais de vinte”. Era de fato, um apaixonado por tudo que dizia respeito à história do cangaço em qualquer parte do Nordeste.

Estava visivelmente cansado pela longa caminhada dentro da caatinga sergipana. Mas não desistira. Muitos como o próprio Severo, decidiram ficar na palhoça às margens do rio. Oferecera-me  inclusive a câmara.Fiquei assim responsável pelo registro das imagens dali em diante.

Subíamos a trilha íngreme do cangaço sob o sol escaldante de maio.  O velho Chico ficava para trás como um antigo guia com a obrigação de nos levar de volta à bela e histórica cidadela de Piranhas.

Parada rápida para mais uma “fuga” como se diz nos sertões. Mais uma piada. Uma brincadeira. E de novo prosseguimos até a próxima parada sob a sombra rala dos arvoredos típicos daquele bioma de Sergipe – a pátria agreste do Alcino.

Chegamos, diríamos que todos exaustos. Os homens citadinos por mais que o queiram não estão mais afeitos a caminharem com seus próprios pés dentro dos matos, como assim fizeram seus ancestrais e os próprios cangaceiros dos sertões.

Na trilha para Angico JC logo atrás, Alcino Costa, Juliana, Kiko Monteiro e Ana Lúcia

 A grota estava escaldante. A estiagem a castigara muito mais que no seu entorno. Quase nenhuma sombra se encontrava ali. Todos ficaram literalmente entre pedras. As cactáceas dominavam aquele ambiente quase inóspito, marcado por uma histórica de sangue e tragicidade.

Após alguns instantes o mestre Alcino tomara a palavra. Quase meia hora de rica apresentação ao lado da cruz que indicava aos visitantes o local exato onde morreram o reio do cangaço e sua amada Maria. O local era de fato, a marca literal de uma grande tragédia. E a  própria natureza parecia querer perpetuar aquela sensação imagética de tristeza absoluta.  Depois, Vilela discorreu sobre  a homenagem ao soldado Adrião que também tombara morto no mesmo local...

A caminho de Angico: Alcino, Juliana, Kiko Monteiro e Ana - Março de 2011.

Muitas fotografias começaram a ser feitas. Quase todos queriam um registro com o mestre Alcino ao lado do cruzeiro. Inclusive eu. Entreguei a câmara a um dos companheiros. E lá estávamos prontos para à posteridade: Eu ao lado do Alcino e Bosco André. Eis agora a imagem da minha própria saudade.

Revendo esta foto hoje, sou tomado por um cipoal de lembranças que me invadem a alma, como se fossem a própria enchente do Velho Chico rompendo sem piedade as ribanceiras dos sertões como a nos dizer que também sente  saudade do mestre caipira de Poço Redondo.

Quando navegar de novo as doces águas do rio São Francisco de Piranhas à Angico, sei que me encontrarei com Alcino. E aí haveremos de botar o papo em dia... falaremos de pesquisas, de livros, do Cariri Cangaço, da Aurora, do coronel Izaías e de outras amenidades no sentido de aplacar nossas saudades. 

(*) José Cícero
Secretário de Cultura e Turismo - Aurora/CE.
Pesquisador do Cangaço.
Conselheiro do Cariri Cangaço.

LEIA MAIS EM:
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Saudades do mestre amigo e pesquisador Alcino Alves Costa

Por: José Cícero - Secretário de Cultura de Aurora
 
José Cícero, Alcino Alves e Bosco André


Fonte: http://lampiaoaceso.blogspot.com e Lampião acesso.

http://jcaurora.blogspot.com.br/
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Preparem os corações – e mentes – aficionados da História do Sertão nordestino: vem aí o Cariri Cangaço!

Por:Honório de Medeiros
 Família Honório de Medeiros

Vem aí o Cariri Cangaço, edição 2013, a acontecer de 17 a 22 de setembro do corrente, no Cariri cearense, sediado em Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Aurora, Barro e Porteiras, terras abençoadas por nosso Padrinho Padre Cícero, cidades belas e plenas de histórias envolvendo coronéis, cangaceiros, místicos, jagunços, repentistas, cordelistas, bem como gestas, feitos-de-armas, traições, valentia, banditismo, tudo quanto constitui a ancestral saga do sertanejo nordestino.

O Cariri Cangaço é um evento singular, único, e anual, e congrega todos quanto se interessam pela História do Sertão do Nordeste brasileiro. Na região aportam desde estudiosos de outras nacionalidades até fascinados estudantes juvenis, passando por doutores tipo Ph. D. - com anelão na alma e vetustos textos no cérebro, a pontificarem acerca de todos os temas que se apresentem -, sem esquecer os narradores, aqueles que mesmo sacrificados por dificuldades inimagináveis, cortam o Sertão de ponta a outra, pesquisando, perguntando, fotografando, gravando, fazendo ilações – às vezes mais literárias que científicas – registrando e trazendo a lume tudo quanto de relevante na região aconteceu. Que belos e fundamentais papéis esses narradores vêm fazendo ao longo do tempo!

Manoel Severo

À frente dessa Babel organizada a coordenação firme e talentosa de Manoel Severo Gurgel Barbosa, um exemplo de empreendedor cultural, liderando alguns amigos dedicados e tão fascinados quanto ele por essa rica variante da História do Brasil. Os números com os quais lida Severo, em termos de logística e pessoal são impressionantes, principalmente se levarmos em conta que não estamos escrevendo acerca de um evento a ocorrer em uma grande cidade.

Muito antes pelo contrário. Severo, por si só, e o “como” surgiu e se expandiu o Cariri Cangaço já valem um livro que com certeza há de ser escrito: inegavelmente constrói-se uma interessante história enquanto é promovido seu resgate e discussão. Aonde quer chegar o Cariri Cangaço? Se no início a ideia era resgate e discussão, hoje, premido pelo próprio crescimento sustentado e receptividade em todos os quadrantes, o evento alcança outros Estados do Nordeste, movido pelo mesmo ideal e, assim, permitindo a participação de um fluxo maior de interessados, agregando-os e dando continuidade a essa festa cultural – festa, isso mesmo – ímpar, onde os protagonistas, mais que os palestrantes, debatedores, conferencistas, plateia, é a História, com “H” maiúsculo, do Sertão nordestino, o Sertão dos coronéis, de Padre Cícero, e Lampião. O Cariri pode não saber onde vai chegar. Mas com certeza quer ir. Assim seja!

Honório de Medeiros
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Tipi e Ipueiras receberão visitas de pesquisadores durante o Cariri Cangaço 2013

JC ladeado pelos irmãos penitentes: Seu Chico e Geraldo Caboclo

Tendo em vistas a realização de mais um Seminário Cariri Cangaço edição 2013 o secretário de cultura e turismo de Aurora  professor José Cícero, juntamente com  assessor  da pasta  João Silva  visitaram na manhã do último  sábado (24) alguns do locais históricos de Aurora que serão visitados em setembro  pela comitiva de pesquisadores do CC, oriundos de várias parte do país, inclusive do exterior a exemplo do pesquisador francês Jack de Witte e um historiador Uruguaio.

Este ano o evento abordará a palpitante história da famosa Marica Macedo do Tipi, cuja palestra ficará a cargo do seu neto residente em Brasília - Dr. Vicente Landim de Macedo, autor do livro 'Marica Macedo - a brava serteneja de Aurora. Na noite do evento, ocorrerá também o lançamento de mais uma obra de Landim, desta festa abordando a formação daquele distrito.

 
 Ruinas do velho Engenho e da Casa de Marica macedo no Tipi


"A intenção é realizarmos um mapeamento destes lugares, incluindo os contatos com os moradores, além da escolha do  melhor  itinerário levando-se em conta as condições de acesso, o valor histórico do lugar, bem como a menor distância para o cumprimento fiel do horário contido na programação", disse o secretário José Cìcero.

Os lugares escolhidos para a visitação técnica desta edição do Cariri Cangaço foram o sítio Mel nos arredores do distrito de Tipi  onde ainda existe o casarão e o antigo engenho que no passado pertenceram ao clã de Marica  Macedo. Como também o local dos escombros da antiga residência da matriarca no antigo sítio Sabonete. Ainda, um pouco mais à frente,  a famosa fazenda Ipueiras, pertencente ao coronel Isaías Arruda e Zé Cardoso, palco da trama para invasão de Mossoró, além da traição e cerco ao rei do cangaço com todo seu bando ocorrido em julho de 1927. 

 
 Fazenda Ipueiras, visita certa do Cariri Cangaço 2013 em Aurora


No roteiro também está incluído o casarão da cultura (sede) com exposição de fotos antigas da cidade e a estação ferroviária onde ocorreu o célebre atentado/assassinato do coronel Isaías Arruda em agosto 1928.

A equipe da Seult visitou também a residência do Sr. Geraldo Caboclo, de curião do grupo dos penitentes no sítio Salgadinho e Cobra, cujo mesmo fará apresentação  durante o evento, dia 20 de setembro na cidade. Os representantes da Secult-Aurora visitaram ainda o nonagenário Elias Menezes do  Tipi e o filho do Sr. Davi Silva (antigo guia de Lampião) na Malhada Vermelha que, inclusive,  guarda consigo uma relíquia - um punhal original dado de presente ao pai pelo rei do cangaço durante a sua passagem pelo lugar.

Então que Venha o Cariri cangaço 2013 !!!

José Cícero - Conselheiro Cariri Cangaço
Pesquisador e escritor,

Secretário de Cultura de Aurora

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Cronica - O CANGAÇO DE BOCA EM BOCA

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Phabio Pio

Os fatos acontecem e posteriormente são interpretados e reinterpretados, produzindo conhecimento acerca do fenômeno ocorrido. Tal processo implica, necessariamente, na tomada de posições que se voltam para preservar a maior proximidade possível da realidade ou do fato ou mesmo disseminá-lo sem qualquer compromisso com a verdade. E isto, nas duas vertentes, aconteceu com o cangaço.

O que se tem hoje é uma diversidade de feições sobre o mesmo fenômeno, mas disseminadas em vias paralelas: uma que se oficializa como interpretação do cangaço, através dos estudos realizados, e outra através do senso comum, da concepção própria de cada um, das posições tomadas e que são alardeadas boca a boca. A primeira busca se aproximar da verdade histórica; a segunda produz uma verdade segundo a conveniência pessoal.



Fred Ozanan

Com relação ao cangaço, o senso comum, ou seja, aquele conhecimento que o ser humano vai adquirindo, por experiência cotidiana, ao longo dos anos, acaba se transformando num imaginário coletivo onde estão refletidas as concepções populares acerca do cangaceirismo. Desse modo, é a imaginação popular que passa a valorizar ou desvalorizar o fenômeno, a concebê-lo da forma que pressuponha ter acontecido ou mesmo buscar na inventividade um modo de dignificar ou de macular.

Weine Vasconcelos

De qualquer sorte, a noção que um estudioso ou pesquisador possui do cangaço geralmente se diferencia muito da visão que uma pessoa comum possui sobre a mesma saga sertaneja. A pessoa desprovida de análise mais aprofundada tenderá a imaginar o cangaço como um todo dentro da mataria, sem se preocupar com suas causas, motivações e percursos. Já o pesquisador procura compreender as partes desse todo.

O sertanejo comum, muito menos que um movimento de revolta, de contestação armada ou de banditismo social, ou mesmo como grupo organizado de sublevação à lei e à ordem social, proporá uma concepção que vai desde o mítico ao modo simplista de se fazer justiça pelas próprias mãos. E, diferentemente da concepção acadêmica, passa a mostrar uma clara tendência a sacralizá-lo ou excomungá-lo.


Longe de explicações academicistas, de refinamentos conceituais ou de arcabouços teóricos, a visão tida pela maioria das pessoas é a mais realista possível, ainda que possa não corresponder à verdade. Fruindo puro do que ouviu ou do que aprendeu, não há muito lugar para refinadas interpretações no conhecimento vulgar. A maioria das pessoas se contenta em ouvir e falar sobre o cangaço a ler sobre as versões existentes ou mesmo conhecer mais profundamente seus meandros.

Muitas vezes traz da nordestinidade, da elevação do seu herói conterrâneo, uma defesa já pronta, já na ponta da língua. Do mesmo modo que santifica a figura do Padre Cícero, a maioria dos sertanejos - estes priorizando o imaginário - poderá fazê-lo com relação a Lampião. Não é de se admirar que alguns coloquem o rei dos cangaceiros no mesmo patamar do Padre do Juazeiro, de Antônio Conselheiro e Frei Damião. Daí que aquela cruz fincada na boca da Gruta do Angico possui uma extrema significação para o nordestino.

Marcelo Abreu

E não haverá acadêmico ou pesquisador que possa fazer o sertanejo pensar de outro modo. Jamais aceitará que digam que Lampião não passou de um bandido feroz, um assassino cruel nem que o bando se prestou apenas a levar a morte, o medo e o terror por todo lugar aonde chegasse. E na ponta da língua do caboclo estará que aquele povo das caatingas teve coragem de enfrentar os poderosos e combater as injustiças sociais. E ainda que naquele tempo havia homem verdadeiramente valente para enfrentar o que de pior existia.

Neste último aspecto, o que se tem é a visão cimentada do cangaço como algo justo, necessário e que ainda hoje seria de muita serventia para combater as injustiças que se alastram. Eis o imaginário nascido da idealização do cangaço como fenômeno justificado pela injustiça se alastrando em todos os quadrantes sertanejos, fazendo preponderar aquela saga como uma luta em busca de justiça na carcomida sociedade nordestina de então. E que continua.

Cybele Varela

Para a maioria dos sertanejos, falar em cangaço é dizer da valentia e do destemor daqueles bravos errantes das caatingas, é dizer das estratégias matutas para fugir do encalço da volante perseguidora, é asseverar do romantismo daquela vida debaixo da lua e do sol, é pensar aquele modo de vida como uma grande aventura. Aquelas roupas, aqueles adornos, o ouro brilhando desde o chapéu à ponta dos dedos, tudo tão belo e atraente. Assim, não se volta para as vinditas sangrentas em si, mas sempre para os aspectos e aparatos grandiosos que envolviam os cangaceiros no seu percurso.

As explicações oferecidas através do senso comum não são consideradas pelos estudiosos por diversos fatores. Afirmam os pesquisadores que as pessoas tendem a misturar noções pessoais a um fenômeno muito mais abrangente; que procuram enxergar apenas o fato e desprezam todo um cenário que estava por trás e movia o cangaço; que geralmente se posicionam para opinar sobre o heroísmo ou o reles banditismo de Lampião.

Fagner Bispo

Com efeito, o imaginário comum sobre o cangaço não é muito diferenciado, nos tempos atuais, das concepções controversas travadas em torno da religião, do futebol, de partidos políticos e candidatos, bem como dos acontecimentos cotidianos. Cada um fala com cátedra, defende sua posição e até acirra a discussão se o outro for frontalmente contra seu posicionamento ou sua bandeira.

Nesse entremeio de paixões e abominações, eis que surge o cangaço como a luta maior de um povo sofrido ou como um bando de baderneiros e violentos que aterrorizava o pacífico sertão. Contudo, insista-se em dizer, são concepções sempre nascidas de uma tendência pessoal, de relatos ouvidos e acreditados, de suposições que foram se firmando como verdades. Daí que pouco frutificará o trabalho daquele que pretenda ensinar ao sertanejo outro modo de pensar o cangaço.

Como ocorre com toda paixão popular, não só de defensores vive o cangaço. Mesmo que a maioria dos nordestinos se orgulhe dos feitos de Lampião e seu bando, há aqueles que ainda hoje fazem o sinal da cruz só de ouvir qualquer referência. E quando maldizem sua existência vão buscar no ferro em brasa de Zé Baiano, no mito das criancinhas jogadas para o alto e esperadas na ponta do punhal, no assassinato covarde de sertanejos inocentes, dentre outras versões cangaceiras, a sua feição mais negativa.


Gontran Guanaes

Mas nenhuma forma de desonra parece ter o poder de se sobressair ao culto quase sacralizado que a maioria dos sertanejos ainda conserva com relação ao cangaço. Pouco importa se Lampião foi herói ou bandido, se o seu bando foi responsável pela morte de inocentes ou se o medo se alastrou pelos sertões durante o seu reinado. Nada disso importa quando a consciência popular já firmou o entendimento de que o cangaço, e principalmente Lampião, é o próprio Nordeste na sua bravura maior, na sua luta incessante contra todas as injustiças.

Juliana Araújo

Herói ou bandido? Depende de quem esteja do outro lado. Não é um fraco e sem motivos que sua e sangra aquela luta; mas também não é virtuoso quem tanto, além do inimigo, faz sangrar na luta. E não apenas o sangue escorrendo do ser, mas também a vermelhidão do pavor.

(*) Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
Pescado in www.blograngel-sertao.blogspot.com

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