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sábado, 19 de janeiro de 2013

A vida e a obra do sagrado filho de Januário e Santana em cordel de Arievaldo Viana

(*) José Romero Araújo Cardoso

Luiz Gonzaga do Nascimento foi a maior expressão sonora da autêntica cultura popular nordestina, tendo legado um verdadeiro relicário musical acerca das tradições, costumes, cotidianos e outras coisas mais referentes a uma região seca cujos desafios fizeram do seu povo uma fortaleza espetacular e admirável.

Luiz Gonzaga

Nascido a 13 de dezembro de 1912, no pé da serra do Araripe, divisa dos estados do Ceará e Pernambuco, o velho “lua”, apelido carinhoso que ganhou de

Mário Lago

Mário Lago quando de sua aceitação para labutar na saudosa Rádio Nacional, se tornou uma legenda insubstituível como resposta ao que efetivamente faz ser nordestino.

Ainda “molecote”, como ele gostava de dizer, Luiz Gonzaga teve um desentendimento com importante homem de sua terra, resultando em uma surra incomensurável de Santana, aprovada por Januário, levando-o a abandonar o seu pé de serra em direção a outras plagas.

Santana e Januário
Engajado no Exército Brasileiro, Gonzaga teve participação tímida, como corneteiro, quando da revolução desencadeada em outubro de 1930. Rumo à cidade maravilhosa, passou a tocar na zona do mangue, a fim de buscar a sobrevivência na então capital federal.

Desafiado por um grupo de estudantes cearenses, Luiz Gonzaga voltou a fazer o que gostava, recordando-se das quebradas do sertão. Surgia assim um dos maiores ícones da música popular nordestina, responsável pela “descoberta” por parte do restante do país, bem como pelo exterior, dos valores de um povo, da riqueza da cultura popular nordestina, denunciando o desprezo em que ainda vivem milhares de pessoas espalhadas pelos rincões adustos da terra do sol.

Luiz Gonzaga teve dois parceiros que se rivalizaram no intuito de eternizarem verdadeiras pérolas que hoje compõem o cancioneiro nordestino. Chamavam-se 

Humberto Teixeira

Humberto Teixeira, cearense de Iguatú, e José Dantas filho, pernambucano de Carnaíba de Flores.

José Dantas e Luiz Gonzaga
O ostracismo e um certo repúdio permeavam os diversos olhares nacionais com relação à cultura nordestina, sendo Luiz Gonzaga o mais importante agente responsável pela ênfase a um processo de aceitação do que o nordeste produziu em trezentos anos de contínua fixação, desde quando os rastros das boiadas ocuparam os sertões mais distantes, fomentando uma identidade própria que foi gradativamente se aprimorando, sendo influenciada ao longo dos séculos por matizes de diversas vertentes culturais.

Gonzaga foi a representação da alma do sertão, a essência máxima de um povo e de uma cultura extraordinariamente rica. O velho “Lua” trouxe para a música a simplicidade e o bucolismo de um sertão que marcou a infância e a juventude do eterno cantador que nunca esqueceu sua terra, o chão sagrado do semi-árido.

Em excelente folheto publicado em terceira edição pela Editora Queima-Bucha, por título Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, o qual traz xilogravura de autoria do poeta popular João Pedro do Juazeiro, o poeta popular cearense 

Arievaldo Viana Lima

Arievaldo Viana Lima traça um perfil ímpar do grande e eterno mestre da sanfona, cuja influência foi decisiva para que grandes e apoteóticos momentos da MPB e da cultura regional fossem concretizados.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Enviado pelo autor: José Romero Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

A Literatura de Cordel em defesa do lado bom do Nordeste

Por José Romero Araújo Cardoso(*)

A responsabilidade que tem a “indústria das secas” articulada à mídia irresponsável para a veiculação de uma idéia negativa do Nordeste brasileiro é algo impressionante, pois é extremamente nefasta a imagem disseminada da pobreza crônica e insolúvel dos desditados nordestinos. Atendendo a indisfarçável interesse de classe, a idéia de que o Nordeste amargue de forma inclemente e absoluta com as secas e com a miséria faz com que o restante do Brasil crie formas distorcidas quanto ao imaginário referente a esta região de cultura esplêndida e riquíssima. Em folheto por título O Lado Bom do Nordeste, o poeta popular Moreira de Acopiara, em perfeita sincronia entre rima, métrica e oração, destaca o que há de belo e positivo no povo e na cultura da região. Publicado no Estado de São Paulo no ano de 2004, o folheto traz ilustração de capa de autoria de Fausto Bergoni. Moreira de Acopiara convida àqueles que foram alienados pelo trabalho meticuloso e impecável de pura essência ideológica a conhecer de perto as riquezas nordestinas. O autor destaca as belezas de sua terra natal, frisando a grandeza da hospitalidade do homem nordestino, a beleza das mulheres cearenses, as delícias da culinária regional e a necessidade urgente de se conhecer o sertão.Constata-se que a urgência em conhecer o sertão talvez se deva às formas assumidas pela intensa antropização, a qual está suscitando a exponencialidade do processo de desertificação do semi-árido nos dias atuais, fruto da irresponsabilidade da ganância imediatista que despreza as condições edafo-climáticas ímpares que caracterizam o quadro natural da região. Invocando a necessidade de verificar os dois lados da moeda, o autor destaca que há riquezas em São Paulo assim como em Fortaleza, Salvador e Maceió, ressaltando que também há pobreza no norte e no sul.Centro econômico dinâmico da América Latina, a região sudeste não conseguiu resolver problemas graves presentes na atual conjuntura, referentes à geração de emprego e renda, moradia, saúde e educação, assistindo passivamente ao surgimento de favelas como cogumelos após chuvas, problemas infelizmente também constatados no nordeste brasileiro. Paisagens sertanejas que encantaram Catulo da paixão Cearense, as quais inspiraram um dos maiores clássicos do cancioneiro regional, são fomentadas a fim de implementar a atração e a mudança de concepções presentes no imaginário referente à região enfocada no folheto.Em um telúrico passeio literário pelas belezas dos Estados Nordestinos, Manoel de Acopiara enfatiza a grandeza da cultura local, conclamando os brasileiros a conhecer e se conscientizarem sobre o verdadeiro potencial do lado bom do nordeste.Fértil celeiro da mais autêntica cultura popular, o nordeste é cantado e decantado em versos pela brilhante verve do poeta popular cearense, a qual não esqueceu de mencionar figuras imortais como Patativa do Assaré, Gonzagão e Manoel Monteiro. Finalizando o folheto com uma declaração de amor ao nordeste, Manoel de Acopiara destaca que a região é a terra melhor do mundo, pois a maior virtude está justamente na afabilidade do seu povo e no coração imenso que bate no peito dos sofridos e esperançosos nordestinos.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em geografia e Gestão Territorial e em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

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A civilização do couro


José Romero Araújo Cardoso(*)

Enquanto no litoral nordestino  subúmido firmou-se a agroindústria canavieira voltada para o mercado externo, a hinterlândia formou-se a partir da expansão da pecuária pelos sertões distantes tendo como pólos irradiadores Bahia e Pernambuco.

A civilização do couro, conforme definição do historiador Capistrano de Abreu,  objetivava abastecer com os produtos da pecuária o mercado interno, pois as áreas valorizadas pelo capital mercantil não tiveram condições concretas de cumprir qualquer ênfase à própria sobrevivência, seja de oprimidos ou de opressores.

As classes abastadas que povoaram os sertões nordestinos tinham na quantidade de gado bovino sinônimo de status socioeconômico, enquanto aos menos privilegiados restou o consolo de criar pequenos animais domesticados, como cabras e bodes, motivo pelo qual se formaram as denominadas raças nativas, como Moxotó, Morada Nova e Canindé, resistentes às secas e adaptadas extraordinariamente ao meio ambiente inóspito, cujo suporte forrageiro, em geral, encontra-se nas plantas das caatingas.

No sertão nordestino o couro passou a fazer parte do dia-a-dia, pois quase tudo era feito dessa matéria-prima de origem animal. As cadeiras, os alforjes, as mesas, os gibões, os chapéus, enfim, a cultura sertaneja passou a utilizar o couro em quase tudo que era confeccionado, usado cotidianamente pelos sertanejos em afazeres, alimentação, conforto, etc .

Quando das grandes secas era comum usar o couro como recurso alimentício a fim de tentar sobreviver aos rigores das intempéries. A estiagem histórica de 1877-1879 marcou significativamente o uso do couro para a alimentação do sertanejo, o qual antes era  utilizado para deitar-se, sentar-se ou enfrentar os espinhos da vegetação caatingueira.

O manuseio com o gado, do qual o couro é retirado, fez surgir verdadeiros artesãos nas quebradas dos sertões distantes. Artistas populares anônimos proliferaram, assim como as feiras de gado, executando trabalhos hábeis que ainda hoje marcam de forma extraordinária a cultura sertaneja.

Mãos calejadas passaram a fabricar selas, chapéus, relhos, sandálias, etc., os quais se tornaram indispensáveis para enfrentar a vida dura no sertão, simbolizando em muitos casos a própria tradição da região.

Vaqueiros e cangaceiros adotaram indumentária própria, confeccionada com o couro. Incontestáveis obras de arte foram feitas a partir do tecido animal, exemplificado através dos chapéus-de-couro dos mais proeminentes chefes de cangaço que palmilharam o sertão nordestino.

O campeador de gado do sertão nordestino, por sua vez, difere de seus congêneres espalhados pelo país, pois a roupa com a qual enfrenta as dificuldades da labuta diária, condicionada pelos desafios impostos pela vegetação extremamente agressiva, dotada de espinhos afiados e cortantes, exige dureza e rusticidades, as quais são conseguidas com as vantagens que o couro oferece.

(*) José Romero Araújo Cardoso é Geógrafo. Professor-adjunto do Campus Central da UERN. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Contato: romero.cardoso@gmail.com.

Enviado pelo autor: José Romero Araújo Cardoso

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