Seguidores

domingo, 31 de março de 2019

“O SUPLÍCIO DO CANGACEIRO BALIZA”


Em dias quentes, quando o ‘Astro Rei’, sem dó nem piedade, calcina as terras sertanejas, os animais e aves da caatinga procuram refugiarem-se do abrasador calor, popularmente conhecido como ‘maiá’, nos mais diversos lugares possíveis.

O cangaceiro conhecido pela alcunha de “Baliza”, que na verdade tratava-se de Venceslau Xavier, junto com sua companheira Antônia Maria, em princípios de 1933, estão a aninharem-se na beira de um barreiro, mais ou menos ao meio dia, do dia 19 de março do ano que corria. Ali, juntinhos e abraçados estão, no silêncio da mata, pois tudo que tem vida, respeita a força do poder do clima no Sertão. 

A ‘coisa’ estava pegando fogo igual ao calor do sol do meio dia, tão boa e gostosa que, mesmo naquele total silêncio, não notaram a aproximação da volante que os cercavam.

Tratava-se da volante comandada pelo cabo Justiniano. Os soldados volantes os cercam e dão ordem de prisão. Após serem amarrados, o casal de cangaceiros é levado para um povoado próximo. 

Ficando preso naquela localidade, servindo de atração para aqueles de maior curiosidade em conhecer um cangaceiro de perto, como que fossem ‘coisa de outro mundo’. Esquecia que eram gente igual a todos, menos seus atos, isso, os fazia diferentes.

Depois de vários dias detidos naquele pequeno povoado, vem a ordem para que o cabo escolte o prisioneiro para a cidade de Santo Antônio da Glória. O cabo manda que entre em forma seu pequeno contingente e seguem, em cortejo, com o prisioneiro entre duas fileiras humanas, rumo à localidade designada. 

Havia naquela região um comandante de volante, Ladislau Reis, que tinha sua fama propagada por toda ribeira. As atrocidades comandadas pelo tenente foram tantas que, mesmo diante de tão horrendas histórias, o sertanejo, sem nunca perder a inspiração, dão-lhe o apelido de “Tenente Santinho”. Quando algum lavrador escutava que o ‘tenente Santinho’ estava pela redondeza, seu coração disparava, seu corpo, involuntariamente, reagia como que o repugnando, e seus pelos, todos, arrepiavam-se, descendo uma corrente elétrica do ‘talo’ do pescoço ao osso do ‘mucumbu’. 

O dito comandante era mais perverso do que Lampião e Corisco, juntos. Gato, Zé Baiano e Sabino foram ‘fichinhas’ diante da ‘dureza’ do tenente.

Seguindo pelas estradas tortuosas do longo caminho, o cabo, seus homens e o prisioneiro, a certa altura, encontra-se com uma volante que estava de passagem por aquela várzea... E era, justamente, a volante comandada pelo “Tenente Santinho”.

Tendo a patente superior a do cabo, o tenente ordena que seja lhe entregue a guarda do prisioneiro. O cabo, tremendo mais que vara verde, apressadamente entrega o prisioneiro ao superior. Ladislau diz que levará o mesmo para a cidade designada pela ordem escrita e que o cabo poderia retornar para sua cidade com seus comandados.

Depois de assumir a custódia do prisioneiro, o tenente Santinho imediatamente ‘ordena’ a seus homens que comessem a dar um ‘trato’ no cabra Baliza. 

A seção de tortura inicia-se ali mesmo. O ‘cacete come solto’ de tal forma, que em pouco tempo, em vez de ver-se um rosto, via-se um acúmulo de sangue e edemas os quais desfiguraram totalmente a cara do prisioneiro. 

Por horas, os soldados da volante aplicam inimagináveis atos torturantes naquele corpo, que mais parecia uma peneira de tantas perfurações de pontas de punhais e facas peixeiras. E segue aquela sessão horrível aplicada ao corpo de Venceslau Xavier. 

Em determinado momento, os soldados do tenente Santinho, acatando suas ordens, o amarram em uma árvore. O laço da corda de fibras de agave, sisal, e colocado na altura dos tornozelos do cangaceiro. Arrastam-no como se arrasta um tronco de madeira e amarram-no de cabeça para baixo num galho de uma árvore próxima.

Após está dependurado, é colocado pedaços de madeira bem perto da sua cabeça. Uma fogueira estava arrumada, a qual, logo, logo, estaria acesa, pelo próprio tenente Santinho.

O prisioneiro debate-se, gira para um lado, depois para o outro... Contorcendo-se feito uma cobra na areia quente, na tentativa vã de esquivar-se das chamas que consumiam seu corpo, Venceslau Xavier, tenta amenizar as dores causadas pelo calor das labaredas que assam, no sentido próprio da palavra, seu corpo. 

No princípio, ouvem-se gritos horripilantes saídos das cordas vocais do cangaceiro Baliza, acompanhado do odor de cabelos chamuscados, para em seguida, a fumaça levar um cheiro de carne assada pelos campos sertanejos. Por fim, o suplício tem seu término, Baliza está morto. 

Santinho não deixa nem o fogo apagar-se totalmente, puxa da bainha seu facão e corta o pescoço daquele corpo, chamuscado, queimado, assado...

Deixando o corpo naquela posição, o tenente Ladislau leva seu troféu macabro para Santo Antônio da Glória, e lá o mostra a população, exibindo, com orgulho e satisfação, o ‘produto’ de seu ato de selvageria.
Fonte “CORISCO - A Sombra de Lampião”- DANTAS, Sérgio Augusto de S., pg 145. 1ª edição, editora Polyprint Ltda, Natal-RN,2015

Foto "A noite Ilustrada", Revista, edição de 30 de Novembro de 1932.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=747840275356527&set=gm.683421981821921&type=3&theater

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

AGRADÁVEL BATE-PAPO LITERÁRIO COM TEMA NO LIVRO SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO

Por Luiz Serra

Em Brasília, no Espaço da Livraria Visconde, troca de ideias em rodas de conversação sobre o assunto, esclarecimentos acerca da feitura e pesquisa do livro, e com sonorização da Casa com músicas do mestre Gonzagão, encontro se estendendo até às 21h30.


Reiterando que minha tese central do livro, quanto ao cangaço, é que o ambiente sertanejo por quase 100 anos resumia-se a uma hostilidade sem tamanho. A vida humana era só um pecado da existência. Inumações improvisadas ocorriam à pressa, à margem dos caminhos. 


Lampião feria e até esquartejava a quem aprouvesse, da mesma forma que da mente de um coronel sertanejo saíam ordens não menos doentias. 


Quanto às volantes de contratados, jagunços, torturas para revelar paradeiros de bandos cangaceiros furtivos eram despropositadas, alienantes e nefastas. No entanto, a voz do povo revelou algo inesperado: a imagem de Lampião como alguém que enfrentou a "ordem dos coronéis e políticos", que, na realidade, distanciadas de qualquer resquício de Estado, todos respirando naquele agreste ambiente francamente anárquico.


Neste sábado, 17, será a vez da Manoela Serra com seu Diário Bipolar, este opúsculo criativo e enriquecedor ao tema psicológico, em recente lançamento.

Ambos os produtos da literatura, em seus quadrados mágicos temáticos, à venda na Livraria Visconde, na Asa Sul, SCS405, Brasília.

Fonte: https://www.facebook.com/
Página: Luiz Serra

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com

LUIZ GONZAGA - ASA BRANCA FT. FAGNER, SIVUCA, GUADALUPE - YOUTUBE

https://www.youtube.com/watch?v=zsFSHg2hxbc

Letras
Quando oiei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Quando oiei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por falta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Entonce eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Entonce eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar ai pro meu sertão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar ai pro meu sertão

Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na plantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração

Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração

Compositores: Humberto Teixeira / Luiz Gonzaga
Letra de Asa Branca - Participação Especial: Luiz Gonzaga © Ubc
Gêneros: Easy listening, Salsa e tropical, Pop


http://blogdomendesemendes.blogspot.com