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terça-feira, 27 de outubro de 2020

A NOITE

 

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LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS

 Por José Mendes Pereira

Foto cleide Mylaide 

Adquira logo o seu para não ficar sem ele. 

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O DOCE DE CADA DIA

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.404


        A verba empregada pela prefeitura seria o mínimo possível, quase nada, cujo resumo seria distribuição de barracas padronizadas, estrutura para água e luz, terreno municipal como um beco interditado ou outro qualquer espaço favorável a comercialização. Caso alcançasse o sucesso esperado, o espaço exclusivo de boleiras e doceiras poderia ser multiplicado em outros espaços importantes da cidade onde é grande o movimento dos trabalhadores, permitindo assim um lanche rápido nos intervalos do trabalho e mesmo novidades a mais para a alimentação de casa. Um fortalecimento supimpa para mãe de família, boa mão, sem oportunidades. Não é só a roça que precisa ajuda, mas também a nossa periferia tão carente que aguarda olha para ela.

                                         (foto: blogdocasamento.com.br)
Foi muito bom o espaço dado a agricultura familiar com a feira das sextas, no bairro Monumento. Mas, nesse momento de pandemia e muito difícil para dinheiro, sugerimos ao Secretário da Agricultura, Jorge Santana, outra criação de espaço para fomentar renda para pessoas sem oportunidades. O exemplo vem do Recife onde uma ponte interditada passou a ser o ponto das boleiras e doceiras em toda a sua extensão. Barracas padronizadas, higiene e ponte lotada de compradores, assegurando autonomia das profissionais, gerando também pequenos empregos e renda. Um ponto certo de todos os dias, movimentado e livre do ruge-ruge do trânsito. Não são poucas as exímias doceiras e boleiras de Santana sem oportunidade de expor os seus produtos por uma série de fatores.

Doceira: mulher que faz ou vende doces, confeiteira. Boleira: Aquela que faz ou vende bolos. A proposta é válida para ambos os sexos, pois as habilidades são uníssonas. Aqui a doceira pode ser boleira e a boleira também pode ser doceira, apenas estamos especificando, pois existem as pessoas que fazem doces variados, menos o bolo e vice-versa. Todas as formas de gerar renda, principalmente entre os necessitados, deveriam ser abraçadas pela municipalidade. É criar inúmeras formas baratas, criativas e eficientes, de modo que todas as famílias tenham condições de pegar e fazer circular o real. A pobreza sempre existirá, mas a miséria é fruto das péssimas administrações públicas e de um infeliz olhar atravessado para os menos aquinhoados filhos de Eva.

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ÁGUA NA LUA, VIDA EM VÊNUS: DESCOBERTAS FASCINANTES DA ASTRONOMIA EM 2020

 Por Lucas Agrela, Tamires Vitorio

Vênus: pesquisa sobre vida no planeta foi divulgada em setembro (3quarks/Getty Images).

Nasa confirmou nesta segunda-feira, 26, pela primeira vez, a existência de água na parte iluminada da Lua. A novidade vem no rastro de outras descobertas fascinantes para a astronomia (e para a humanidade) que aconteceram em 2020 — de planetas do tamanho da Terra a sinais de existência de vida em Vênus. Quer trabalhar na área de tecnologia? Aprenda do zero a programar com nosso curso de Data Science e Python.

Confira, abaixo, cinco descobertas astronômicas sobre o espaço e o universo:

Exoplaneta do tamanho da Terra

Logo no começo de 2020, em 6 de janeiro, a Nasa anunciou a descoberta de um planeta do tamanho da Terra que fica próximo de uma estrela e em uma zona habitável, ou seja, ele fica em uma posição que favorece a presença de água em estado líquido — condição essencial para vida como a conhecemos.

O “TOI 700 d” fica a 100 anos-luz e foi identificado pelo satélite Tess, que procura planetas parecidos com o nosso.

Veja também 

CIÊNCIAAlienígenas podem já conhecer a existência de humanos, aponta estudoquery_builder23 out 2020 - 12h10

Neutrinos indo e vindo

No começo deste ano, um grupo de cientistas encontrou uma anomalia em neutrinos tau, partículas de alta energia, mais pesadas, saindo ao contrário da Terra.

Ibraham Safa, um dos autores da pesquisa, postou em seu perfil no Twitter que “os neutrinos foram provavelmente um resultado de nossos entendimentos imperfeitos do gelo da Antártica, mas há uma chance de que um novo fenômeno da física seja o responsável”, mas que, não necessariamente, se trata de um novo universo paralelo descoberto pela humanidade. “Os eventos da Anita são interessantes, mas estamos longe de garantir que há uma nova física, quem dirá um universo inteiro”, tuitou ele.

 

 (EXAME Research/Exame)

Gêmeo de Netuno

Em 24 de junho, a agência espacial americana divulgou a descoberta de outro planeta, que também foi um feito viabilizado pelo Tess. O planeta encontrado tem o tamanho de Netuno e ele circula uma estrela, assim como a Terra faz órbita no Sol.

O planeta está ainda mais próximo do que o TOI 700 d. Ele fica a 31,9 anos-luz de distância e está em uma constelação chamada Microscopium. Ele fica na órbita da AU Microscopii, uma estrela-anã vermelha que é considerada jovem, apesar de seus quase 30 milhões de anos.

Vida em Vênus

https://www.iquilibrio.com/blog/astrologia/planetas/venus-caracteristicas/

Em setembro deste ano, pesquisadores encontraram sinal de vida em Vênus, que fica a cerca de 41 milhões de quilômetros distante da Terra, o planeta mais próximo do nosso. Segundo eles, a presença de vida no local pode existir graças a existência de gás de fosfina na atmosfera do planeta.

A fosfina, um gás altamente tóxico, é composto de hidreto de fósforo e é comumente utilizado em inseticidas na Terra, uma vez que não é encontrado em seu estado natural por aqui.

https://exame.com/ciencia/agua-na-lua-vida-em-venus-descobertas-fascinantes-da-astronomia-em-2020/

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ESTRADA

 *Rangel Alves da Costa

O olhar avança e avista distâncias. Entre os arvoredos e tufos de mato, sempre a passagem para se seguir adiante. Na terra antes tomada de espinhos e tocos de paus, a veia aberta sem destino certo. A estrada.

Há que seguir. Ou mesmo retornar. Não há voo nem rio ou mar por cima da terra firma. O único caminho é a estrada. Tão necessário o seu percurso, que impensável viver sem sair do lugar, sem conhecer outros horizontes.

De terra nua, empoeirada, estrada. Chão batido, espinhento, com ponta de pedra por todo lugar, mas estrada. Reta, de poucas curvas ou curveada, sempre uma estrada. Um ponto de partida, um destino ou não, e o fim na estrada.

Quando a porta se abre o passo quer logo seguir. Tantas vezes, sequer sabe aonde vai, mas sempre quer seguir. Nada melhor na vida que seguir pelos beirais, passar por lugares, ir adiante, até que se chegue a algum lugar. Sempre pela estrada.

Sim, eu sei o que é uma estrada. Eu vejo estradas e caminho por estradas. Mas será somente o traçado do percurso ou diz muito mais?

Apenas uma estrada. Talvez assim se imagine. Uma estrada asfaltada, uma estrada na piçarra, uma estrada de chão espinhento, uma estrada nua, uma estrada torta, uma estrada morta.

A estrada se alonga no olhar, vai se distanciando até se perder entre curvas e horizontes. Quem pisa o pé na estrada sequer imagina sua importância, até onde ela pode levar, o que ela pode modificar em sua vida.

Bastaria saber que tudo é estrada, ainda que não esteja caminhando ou seguindo por uma estrada. Ora, o que é a vida senão uma estrada?

Da porta pra dentro e da porta pra fora tudo é estrada. O rio é estrada, a nuvem é estrada, ao céu se chega por uma estrada. Todo percurso na vida é estrada. O caminho da infância, as veredas da adolescência, as curvas da existência.

Quanto caminho até chegar ao lábio da menina bela e dar o primeiro beijo. E no beijo um voo por uma estrada até a nuvem. Quanto tempo até o amor de infância se tornar companhia de mão e de lar.

Uma estrada que vai desde o primeiro choro do nascimento às lágrimas de adeus de um dia. Uma estrada que distancia os que ficam e os que partem, as chegadas e partidas, os reencontros e as tristezas.

Como é longe a estrada que leva às verdadeiras amizades, aos amados corações, às ternuras e aos afetos. Estradas distantes demais em direção à felicidade, mas que podem levar ao abismo em questão de segundos.

Estrada da memória, da nostalgia, das relembranças. Quando o pensamento aflora em busca do passado e vai abrindo janelas e portas das vidas vividas, então a estrada se enche de flores para perfumar aqueles momentos.

E quanta estrada é avistada e percorrida pelo olhar. Olhar que se encanta ao encontrar a cor da primeira manhã. Olhar que entristece perante o candeeiro do sol que vai se apagando. Um olhar que avista onde não pode chegar e que lacrimeja pelo encontro do que não se faz presença.

Dar as mãos, segurar mão na mão, e seguir pela estrada. Deixar o vento soprar e assanhar os cabelos, espanar os panos da roupa, dar vontade de correr.  Dar vontade de chegar, sobre a relva se lançar e dizer: ainda não chegamos, apenas estamos aqui.

Nunca, nunca será possível chegar ao fim dessa estrada. Nem a morte será fim da estrada. A pessoa se vai, porém outras continuam com sua presença enquanto durar. E assim a vida vai, por estrada, por veredas, caminhos, por espinhos, pontas de pedras e flores.

Tudo se vai pela estrada que leva a um horizonte chamado destino. 

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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O INFORTUNADO AMOR SERESTEIRO.

 Por João Filho de Paula Pessoa

Gitirana era um cangaceiro com dons artísticos, era seresteiro, repentista, fazia poemas, tocava, cantava e dançava. Entrou no cangaço em 1937, no grupo de Corisco, para vingar a morte de seu pai, morto por um volante. Em 1938 encantou-se e envolveu-se, clandestinamente, com Cristina, mulher do Cangaceiro Português, chefe de outro sub grupo. 

A Traição foi descoberta e discutida no bando, a regra para traição era a morte, sendo que, desta vez, o amante da história era cabra de Corisco e Português era conhecido como covarde. Corisco sabia que ele não trataria a coisa de “homem para homem”, pois percebeu seu conluio com Catingueira para que este matasse Gitirana em seu lugar, e sabia que seria pelas costas como já fizeram antes com um cabra de seu grupo e intercedeu dizendo que Português cuidasse de sua mulher, que de seu cabra cuidava ele. 

O clima ficou tenso entre os bandos, Cristina pediu a Corisco para ficar em seu grupo, pois gostava de Gitirana, mas este negou dizendo que isso só pioraria a situação entre os grupos. 

Maria Bonita se manifestou pela punição de Cristina para não desmoralizar Português, Lampião apoiou Corisco, e Português ficou encarregado de resolver seu problema e limpar sua honra por conta própria. Diante da tensão do caso, Corisco mudou-se de coito com seu grupo, dentre estes Gitirana. 

Cristina permaneceu no acampamento e alguns dias depois Lampião mandou um coiteiro conduzi-la de volta à sua casa. No Caminho, foram emboscados por três cangaceiros e Cristina foi morta à facadas e enterrada em cova rasa, por encomenda de Português que não se fez presente no ataque. 

Uma semana após a morte de Cristina houve a emboscada de Angico que matou Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros. Gitirana continuou no Cangaço com Corisco, mas em 1939 conheceu a jovem Maria de Jesus, com quem se afastou do bando. Em 1940 foi preso em Salgueiro/Pe e levado para Salvador/Ba onde cumpriu pena e foi anistiado pelo Governo, morreu tempos depois de tuberculose. João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 13/01/2020.

Obs: Nossos Contos também são contados em vídeos no YouTube - Canal Contos do Cangaço. https://www.youtube.com/channel/UCAAecwG7geznsIWODlDJBrA

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100 ANOS DA FEIRA DO ALECRIM, A MAIS ANTIGA E TRADICIONAL DE NATAL

 Por Rostand Medeiros – IHGRN


O Alecrim como bairro foi oficialmente criado em 24 de setembro de 1911, sendo o quarto da capital potiguar, mas antes mesmo de sua criação oficial, já nos primeiros anos do século XX, na área do Alecrim existiam pequenas chácaras e sítios que produziam alimentos que ajudaram no desenvolvimento daquela parte da cidade e logo serviram de entreposto comercial com produtos que vinham do interior. Essa integração essencial fez o Alecrim transforma-se na porta de entrada daqueles que procuravam Natal.

Logo algumas pessoas simples, mas com forte capacidade no tocante a iniciativas coletivas, decidiram criar no Alecrim uma feira livre para popularizar, facilitar e incrementar principalmente a venda de produtos alimentícios.  

1912, feira na região do Passo da Pátria, anterior a Feira do Alecrim. Existiram algumas feiras livres na capital potiguar, mas a que realmente despontou foi a do Alecrim.

Consta no livro do Professor Itamar de Souza a reprodução de um texto produzido pelo historiador Luís da Câmara Cascudo, publicado no jornal A República, edição de 19 de outubro de 1948, onde Cascudo detalhou a inauguração dessa feira livre[1].

A primeira vez que a Feira do Alecrim ocorreu foi em um domingo, 18 de julho de 1920 e a iniciativa partiu de João Estevam de Andrade e de Balbino José dos Passos. Naquele domingo o encontro dos vendedores aconteceu no que hoje é a casa de número 1297, no encontro da Rua Presidente Quaresma com a Avenida Coronel Estevão (onde atualmente existe uma farmácia).

Para Cascudo o movimento logo chamou atenção da cidade e nesses primeiros anos a feira continuou a acontecer sempre aos domingos. Outros que colaboraram para que aquela ideia tivesse êxito foram Francisco das Chagas Dantas, José Francisco, Francisco Justino, Sabino Duarte, José de Lima, Enéas Café, José dos Santos, José Alexandre, João Ferreira, Joaquim Vicente de Andrade, Genésio Pinheiro, Laurentino Moraes, José Barbosa e outros. 

Outra pessoa que muito ajudou no desenvolvimento da Feira do Alecrim foi o Professor Luís Soares. Esse homem magro, mas de um espírito e vontade enérgicos, já tinha sob sua batuta a direção do Grupo Escolar Frei Miguelinho e da Associação de Escoteiros do Alecrim, mesmo assim apoiou os feirantes e realizou a ponte entre aqueles pequenos empreendedores e a Intendência Municipal. Luís Soares falou por eles junto a Teodósio Paiva e Fortunato Aranha, respectivamente presidente e vice-presidente da Intendência de Natal[2]. O professor mostrou com seu contagiante entusiasmo o nascimento daquele movimento comercial popular, realizado por aqueles pequenos empreendedores que dificilmente poderiam adentrar as portas do Palácio Felipe Camarão sem que surgissem olhares de desconfiança.

Desenvolvimento

Em 1924 a feira livre do Alecrim já havia se tornado um hábito entre os natalenses e sua força econômica já se fazia sentir entre os membros da sociedade e do comércio.

Segundo um artigo publicado na primeira página do jornal natalense A República, em sua edição de sexta-feira, 14 de março de 1924, a feira dominical do Alecrim era algo extremamente positivo para a economia da cidade e que deveriam ser criadas outras feiras livres em Natal. Entre outros fatores apontados para a criação desses novos locais de venda estavam a distância dos bairros centrais da cidade em relação ao Alecrim e que essas feiras poderiam ocorrer em dias alternados, facilitando a vida de natalenses que viviam em uma época onde a conservação de alimentos em refrigeradores era algo quase inexistente na cidade.

Um dos locais apontados para a criação de novas feiras seria na então Praça Pio X, no centro da cidade, onde hoje se encontra a moderna Catedral Metropolitana de Natal. Já outro local seria na Esplanada Silva Jardim, no bairro da Ribeira, para atender os habitantes daquela que era a mais importante região comercial da cidade, além dos moradores das Rocas, que só se transformaria oficialmente em bairro através da Lei 251, promulgada em 5 de outubro de 1947[3].

Segundo os autores do texto, que acredito ser algum dos redatores do jornal na época (Manoel Dantas, José Vicente e Lélio Câmara), a cidade de Natal vivia então uma crise alimentícia. Para o autor (ou autores) do texto os preços praticados no Mercado Público de Natal eram elevados e a existência de feiras livres espalhadas pelos bairros tanto ajudariam no abastecimento, como na diminuição dos valores.

Ao ler o texto jornalístico fica claro que a Intendência Municipal de Natal desejava que a venda de produtos básicos ficasse concentrada no Mercado Público, com a desculpa que era um local com melhor condição de arrecadar impostos[4].

Vendas e Movimento

Um artigo publicado sobre o tema aponta que “as feiras livres se constituem em um ponto ou nó de encontro de fluxos de pessoas, mercadorias, informações, capitais, com diferentes dimensões socioespaciais, realizadas ao ar livre, em ruas, praças ou terrenos baldios, com produtos expostos em barracas ou no chão, intercaladas geralmente no intervalo de uma semana, ou num interstício menor, que podem ter uma área de influência local ou regional. A feira livre é, portanto, uma instituição econômica e uma prática social, constituída de uma notória dimensão geográfica”. A Feira do Alecrim era e ainda é exatamente isso[5].

Um jornalista deixou um testemunho onde informou que nos dias de movimento, na medida que crescia o volume de pessoas, igualmente crescia o número de cavalos e burros para levar as mercadorias. Comentou também que a região se tornava local de realização de diversos negócios, não apenas de venda de produtos alimentícios. Inúmeros comércios se formaram ao redor da feira livre que cada vez mais crescia.

A balburdia era enorme, com vendedores oferecendo produtos aos gritos, produzindo entonações de suas vozes para alcançar o maior número de clientes. O berreiro do regateio também era franco e extremamente intenso.

Os jornais antigos mostra que não eram raros no início da história da Feira do Alecrim os problemas com preços, qualidade dos alimentos e alterações de pesos de balanças.

As barracas eram pequenas, mas nelas se encontram farinha, milho, feijão. Carne de sol, queijos de coalho e de manteiga vinha do sertão no lombo de animais. Galinhas eram vendidas vivas, penduradas pelos pés em uma vara, devendo ser abatidas (torcendo o pescoço) e depenadas pelos fregueses em suas casas. Quando a carne verde estava cara, o negócio era partir para o toucinho de porco. Quando esse produto estava a peso de ouro o jeito era ir para os miúdos bovinos, como coração, língua, fígado, mocotó e tripas. O jornalista apontou que certamente no domingo tudo era misturado em uma suntuosa feijoada nas casas do Alecrim[6]

Mas além do comércio, a Feira do Alecrim era um local de extrema convivência social, principalmente das classes menos favorecidas da cidade. Não demora e a região da feira também serve para jogatinas, conforme podemos ver na nota que segue adiante.

Conflitos

A Feira do Alecrim também podia ser um lugar de conflitos sérios. Como o que aconteceu em agosto de 1935 e provavelmente possui ligação com a Intentona Comunista, deflagrada em 23 de novembro daquele mesmo ano.

Por volta das duas da manhã do domingo, 18 de agosto, um grupo de cinco praças do Exército bebiam café em uma das bancas que serviam comida antes da feira começar. De repente, três homens fardados como militares chegam correndo, com facas e punhais na mão e, sem a menor discursão, passam a atacar os desprevenidos militares com violentas cutiladas. Morreu o militar José Costa e ficaram gravemente feridos Raimundo Bernardo de Souza e José Olyntho da Silva. Já Pedro Paulino da Silva e um quinto membro do grupo tiveram ferimentos leves. Adaucto Rodrigues, então delegado de polícia do Alecrim, mandou chamar uma patrulha do 21º Batalhão de Caçadores para assumir o caso, já que todas as vítimas eram oriundas desse quartel. A patrulha veio e depois seguiu em diligência na busca dos atacantes, mas não conseguiu prendê-los. Segundo o jornal A Ordem esse crime na Feira do Alecrim repercutiu bastante em Natal, mas estranhamente não saiu uma linha sobre o caso no jornal A República, o periódico oficial do Governo do Estado[7].

Aparentemente esse caso teria relação com um outro ataque que ocorreu pouco tempo depois, dessa vez contra o tenente do exército Francisco Rufino de Santana.

Por volta de seis da noite de 16 de novembro de 1935, após o expediente e ao retornar para sua casa, esse oficial levou vários de tiros no braço ao descer de um bonde na Avenida Hermes da Fonseca, resultando em ferimentos graves. Ocorre que o tenente Santana participava de um inquérito militar que investigava alguns militares daquele quartel e que certamente provocaria a expulsão desses homens. Homero Costa aponta em seu livro que esse inquérito estava relacionado a assaltos contra bonde praticados por um soldado e um cabo do Exército, em conluio com dois sargentos da Polícia Militar. Esses marginais atacavam suas vítimas uniformizados e, para não serem reconhecidos, utilizavam máscaras. No livro de Homero não existe nenhuma referência se a investigação do inquérito que ocasionou o atentado contra o tenente Santana teria alguma relação com o conflito ocorrido na feira do Alecrim. Mas a proximidade das datas e seus praticantes parece apontar nesse caminho[8].

Ainda segundo Homero Costa, a notícia de dispensas no 21º Batalhão de Caçadores, como era de se esperar, gerou insatisfações. Na segunda-feira, dia 25 de novembro, haveria continuidade do inquérito, com as dispensas que seriam anunciadas. Mas antes disso, às 19h30 de sábado, 23 de novembro, os militares lotados no quartel do Exército Brasileiro em Natal deflagraram o que ficou conhecido como Intentona Comunista[9].

Quartel da Força Policial, conhecido como “Quartel de Salgadeira”, em Natal, após ser metralhado durante a Intentona Comunista – Foto – toxina1.blogspot.com

Para mim a associação de problemas políticos de âmbito nacional e estadual, em meio a uma época de extremo radicalismo político, foi o que provocou a deflagração da Intentona Comunista em Natal. A existência desse inquérito e a possível exclusão de militares do 21° Batalhão de Caçadores, apenas foi mais combustível para a execução desse movimento extremista na capital potiguar.

A Mudança Para os Sábados

O movimento da Feira do Alecrim aos domingos, mesmo com restrições, vinha seguindo normalmente, mas as mudanças nas leis trabalhistas no Brasil alteraram a data da feira livre do Alecrim e até mesmo os aspectos da relação trabalhista do comércio em Natal.

As conquistas sociais em relação ao trabalho no Brasil são tardias, porque nosso desligamento com a escravidão se deu próximo do início do século XX, bem como as nossas indústrias só começaram a se instalar em maior número nessa mesma época. Em 1930, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, este passou a buscar um maior equilíbrio em relação aos direitos trabalhistas. Com a Constituição de 1934 foi previsto o salário mínimo, jornada de trabalho de oito horas, repouso semanal, férias remuneradas e assistência médica e sanitária[10]. Vale ressaltar que todas essas conquistas trabalhistas foram implantadas em um período onde o poder do Governo Federal era imenso e extremamente forte.

Mas em Natal as mudanças parecem ter ocorrido de forma muito lenta, pois quase no início da Segunda Guerra Mundial esses eram os horários normais de trabalho dos comerciários na capital potiguar.

Foi quando o então prefeito Gentil Ferreira de Souza decidiu alterar várias situações ligadas aos horários de trabalho. Em 1º de agosto de 1939 ficou determinado que não haveria mais trabalho no comércio da cidade de Natal aos domingos[11].

Um dos setores que realmente vibrou com a nova ideia foi a Igreja Católica, pois agora o domingo poderia ser totalmente dedicado a Deus[12]. Obviamente quem não gostou nem um pouco dessa decisão foram os feirantes do Alecrim, pois ficou decidido que o dia de funcionamento da feira livre mais importante da cidade deveria passar a ser na segunda-feira. 

Lendo os jornais do período percebe-se que a mudança não foi aceita tranquilamente nem pelos feirantes, nem muito menos pelos consumidores e certamente criou problemas para o prefeito Gentil Ferreira. Percebemos que a Feira do Alecrim, ou uma parte dela, ocorreu no domingo. Como consequência os fiscais da então Inspetoria Regional do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio em Natal, que tinha sob seu comando Amílcar de Faria Cardoni, multaram vários feirantes.

No jornal católico A Ordem de 6 de agosto de 1939 temos a publicação de telegramas trocados por Amílcar Cardoni e o Prefeito Gentil Ferreira. Inclusive na manchete de primeira página que dá publicidade a essas correspondências, esse jornal utilizou a palavra “Alvitre” para o conteúdo da missiva emitida pelo Prefeito Gentil Ferreira. Mas o Prefeito de Natal apenas apontou para Amílcar que eles deveriam aguardar o retorno do Interventor Federal Rafael Fernandes Gurjão, que então realizava uma viagem ao interior do Rio Grande do Norte, para debaterem sobre o melhor horário de funcionamento da Feira do Alecrim e que a Inspetoria sustasse quaisquer ações fiscais.

A resposta de Amílcar Cardoni ultrapassa os limites da arrogância e foi típica de funcionários públicos federais superiores em períodos de ditaduras no Brasil, como no caso do Estado Novo nesse tempo. Na sua missiva o barnabé federal procurou ensinar ao Prefeito de Natal as suas funções, utilizando a frase “Definindo com clareza nossas atribuições, em face do citado assunto” e chega mesmo ao ponto de resumir como era o funcionamento do órgão federal onde trabalhava[13].

Não sabemos como a querela entre os poderes municipal e federal prosseguiu e nem se a Feira do Alecrim alterou seu dia de atuação para as segundas, como desejava o prefeito. Mas o certo é que somente um ano depois o problema obteve uma solução definitiva e satisfatória para todos os envolvidos.

No dia 23 de agosto de 1940 houve uma reunião na sede da repartição comandada por Amílcar Cardoni, onde estiveram presentes o prefeito Gentil Ferreira e Paulo Pinheiro de Viveiros, Diretor do Departamento Administrativo do Governo do Rio Grande do Norte. Saiu na imprensa que “Após animados debates transcorridos em ambiente de cordialidade”, ficou decidido que a Feira do Alecrim ficaria sendo realizada no sábado.

E finalmente no dia 14 de setembro de 1940, há pouco mais de oitenta anos, pela primeira vez a Feira do Alecrim funcionou no sábado.

Um Dos Locais Mais Populares e Tradicionais de Natal

A Feira do Alecrim se tornou a maior e mais importante referência do bairro onde ela se realiza. E, além do comércio, percebi lendo os velhos jornais que ao longo de muitos anos a Feira do Alecrim foi um local de intensa atividade de grupos folclóricos, que se apresentavam para os consumidores. Infelizmente nos dias de hoje a maioria dessas manifestações folclóricas ou não são mais executadas, ou não recebem por parte da nossa sociedade o mesmo interesse que havia nesse período. E isso é porque estamos na terra onde nasceu Luís da Câmara Cascudo, o maior folclorista brasileiro!

E falando em folclore, foi na administração de um prefeito natalense que muito deu valor ao folclore e a cultura em geral, que um dos fundadores da Feira do Alecrim foi homenageado.

O Prefeito Djalma Maranhão sancionou em 12 de junho de 1958 a Lei nº 823-E, que estabelecia que fosse colocada na casa número 1297, na esquina da Rua Presidente Quaresma com a Avenida Coronel Estevão, uma placa de bronze com o nome de João Estevam de Andrade, apontando-o como o homem que idealizou e incentivou a feira livre a partir do dia 18 de julho de 1920[14]. Naquele ano a Feira do Alecrim completava 38 anos de existência e as informações para a criação dessa Lei foram oriundas do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN, do extinto Concelho de Turismo e da Câmara Municipal de Natal.

E por falar em turismo, durante anos o autor dessas linhas atuou profissionalmente como Guia de Turismo em Natal, cadastrado pela Ministério do Turismo. Trabalhei diretamente com o público que era proveniente da Península Ibérica e em algumas ocasiões tive o privilégio de apresentar para, sei lá quantos portugueses e espanhóis, a Feira do Alecrim. Para mim sempre foi uma experiência incrível ver aqueles estrangeiros embasbacados com as cores, os cheiros, os sabores e a alegria da nossa gente. Eles se encantavam com a gentileza e humildade dos feirantes, o gosto das nossas frutas, a maneira como as pessoas anunciavam seus produtos. 

Nasci morando no bairro das Rocas, mas me entendi por gente vivendo na Rua Borborema, perto da Base Naval de Natal, no Alecrim. Hoje moro no Barro Vermelho, a poucas quadras do final da Feira do Alecrim, aonde quase todos os sábados estou presente para comprar frutas e verduras.

Em uma época onde em Natal não faltam alguns modernos e interessantes shopping centers, chama minha atenção como algumas pessoas ditas cultas e inteligentes dessa cidade, com uma interessante formação acadêmica, comentam de maneira arrogante que “-Como é possível em pleno século XXI existir algo como a Feira do Alecrim?”. Essas pessoas transparecem uma grande aversão e um completo desconhecimento sobre a importância e, principalmente, a história de um dos mais antigos locais em atividade comercial contínua de Natal e onde existe uma das maiores interações comerciais e sociais da capital potiguar.

Mas a Feira do Alecrim estará lá, aberta aos sábados, esperando por vocês!

NOTAS


[1] Ver Nova História de Natal, de Itamar de Souza, 2ª ed. ver. atual. Natal-RN, Departamento Estadual de Imprensa, 2008, págs. 549 a 552.

[2] Intendência Municipal é o que hoje chamamos de Prefeitura Municipal.

[3] Ver Nova História de Natal, de Itamar de Souza, 2ª ed. ver. atual. Natal-RN, Departamento Estadual de Imprensa, 2008, pág. 326.

[4] Ver jornal A República, Natal-RN, edição de 14 de março de 1924, pág. 1. O antigo Mercado Público de Natal se situava na Avenida Rio Branco, onde atualmente se localiza a agência centro do Banco do Brasil.

[5] Sobre o tema ver o interessante artigo As feiras livres e suas (contra)racionalidades: Periodização e tendências a Partir de Natal-RN-Brasil, de Francisco Fransualdo de Azevedo e Thiago Augusto Nogueira de Queiroz, ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e publicado na Revista Bibliográfica de Geografía y ciencias sociales, Universidade de Barcelona, Vol. XVIII, nº 1009, 15 de janeiro de 2013. Esse artigo pode ser visualizado na internet através do endereço eletrônico – http://www.ub.edu/geocrit/b3w-1009.htm

[6] Ver jornal A Ordem, Natal-RN, edição de 18 de junho de 1949, pág. 4.

[7] Ver jornal A Ordem, Natal-RN, edição de 20 de agosto de 1935, pág. 4.

[8] Ver A insurreição comunista de 1935, de Homero Costa, Natal-RN, EDURF, 2015, págs. 167 a 169.

[9] O livro A insurreição comunista de 1935, de Homero Costa, é leitura obrigatória para conhecer melhor esse momento da história do Rio Grande do Norte.

[10] Antes das mudanças apoiadas por Getúlio Vargas, entre o final do século XIX e início do século XX foram estabelecidas normas que previam férias (quinze dias por ano) e alguns tipos de direito em relação aos acidentes de trabalho, mas sem uma regulamentação mais ampla. Com relação aos horários e dias da semana utilizados para o trabalho, o que vigorava era o regulamento de cada comércio ou fábrica, e alguns trabalhadores chegavam a trabalhar entre 14 e 18 horas por dia. Data dessa época a organização dos primeiros sindicatos e as primeiras greves, que tinham entre as principais reivindicações a restrição da duração do trabalho. Ver https://www.politize.com.br/direitos-trabalhistas-historia/

[11] Ver jornal A República, Natal-RN, edição de 23 de julho de 1939, pág. 1.

[12] Ver jornal A Ordem, Natal-RN, edição de 23 de julho de 1939, pág. 4.

[13] Ver jornal A Ordem, Natal-RN, edição de 6 de agosto de 1939, pág. 1.

[14] Na Lei nº 823-E não faz nenhuma referência a nenhuma outra pessoa que tenha sido fundador da Feira do Alecrim. Igualmente não sei se a placa foi colocada.

https://tokdehistoria.com.br/2020/10/27/100-anos-da-feira-do-alecrim-a-mais-antiga-e-tradicional-de-natal/

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