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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

LIVROS SOBRE CANGAÇO PEÇA AO PROFESSOR PEREIRA

Por José Mendes Pereira

Se está preocurando livros sobre cangaço adquira-os com Francisco Pereira Lima lá de Cajazeiras no Estado da Paraíba através deste e-mail:

franpelima@bol.com.br

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DISCORDO DE TESE (I)


Por Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.221


Discordo da tese de antigo escritor santanense, que falou em seu livro que “Lampião ajudou à cidade a crescer”. Dona de um território que originou depois de Lampião, oito municípios, a cidade de Santana do Ipanema era uma vila até 1921 quando nem havia ainda o Lampião. Já existia banda de música, escolas pequenas, cemitério, correios, cadeia, sobradões, inúmeras residências de luxo, calçamento, fabriquetas, artesãos e um comércio digno de respeito. Ao se transformar em cidade (1922), o ato político foi quem fez a cidade crescer. Mais repartições, mais justiça, mais comércio, duas bandas de música, colégio particular, teatro, cinema e vários sistemas de diversões folclóricas, impulsionaram a nova cidade. Mesmo assim, Santana ainda vivia nas amarras de terrenos particulares em torno que não deixavam a cidade se expandir.


A pujança tradicional e crescente do seu comércio e a nova condição de cidade atraiu muita gente dos oito futuros municípios e da zona rural. Foi criado naturalmente o Bairro Camoxinga onde pessoas de menor poder aquisitivo escolhiam para moradia. O território era descriminado pela falta de ponte entre ele e o centro, sempre interrompido na comunicação pela cheias violentas do riacho Camoxinga. Dois ciclos particulares importantes de expansão aconteceram, então, sendo o do Camoxinga o primeiro deles. Após o soerguimento da ponte de concreto veio a consolidação do grande bairro que deu origens a vários outros. Até aí, apenas algumas poucas famílias vieram morar em Santana por problema com Lampião. Não se conhece nenhum êxodo rural no antigo território santanense.

A família Amaral, segundo o conterrâneo Almir Rodrigues, veio de Inajá, Pernambuco, para Santana, por problemas com o bandido. E no município se conhece a história do Senhor Marinho Rodrigues (zona rural) assaltado pelo bando. Ambas as famílias tornaram-se comerciantes e muitos progrediram na cidade. O segundo ciclo particular de expansão, aconteceu nos anos 60, quando foi construída a ponte sobre o rio Ipanema que fez a cidade ocupar o outro lado, quase sem gente, do rio. O atual Bairro Floresta fez o mesmo papel que antes fizera o bairro Camoxinga. Esse foi quase todo ocupado por pessoas da zona rural.

O que Lampião fez crescer mesmo foi à barbárie, somente degolada em 1938. (continua , amanhã).

SENHOR MARINHEIRO DEFRONTE SUA LOJA "CASA IDEAL". (CRÉDITO: ALMIR RODRIIGUES).
OBS. O Senhor Marinheiro ( Manuel Rodrigues do Amaral) erá meu pai- Almir Rodrigues .
https://www.google.com/url…

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SE LAMPIÃO TIVESSE LUTADO APENAS CONTRA OS RICOS E PODEROSOS DE SUA ÉPOCA...


... seria hoje, sem dúvida alguma, o maior herói de nossa nação, mas a história é outra.

Um sujeito notável que infelizmente resolveu trilhar por caminhos tortuosos e por onde passou deixou um rastro de saques, mortes e destruições.

Suas histórias, ainda hoje, mexem com o imaginário popular e desperta nas pessoas um misto de repulsa e admiração.


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A BORBOLETA

*Rangel Alves da Costa

Borboletas, borboletas, borboletas. Suas presenças parecem tornar a vida mais alegre, mais ajardinada, mais primaveril. Mas suas presenças também inquietantes sinais, misteriosos, indagadores. Leves, belas, coloridas, mas também provocando muitas e múltiplas indagações. Estar na presença de uma borboleta não é apenas estar na presença de uma borboleta. Nunca.
Acordo e logo corro para abrir a janela. Sei que ela vem. E ela chega. Todos os dias faz assim, cumprindo um mesmo ritual de magia e de cor. Não sei o que pretende fazendo assim, pois no meu quarto não há nenhuma flor, nenhuma planta, nenhuma fonte de água, nenhuma compota de doces. Mas ela chega todas as manhãs, parecendo mesmo que dorme ao umbral da janela esperando somente que eu a abra.
Um mistério que me comove e encanta. Não há qualquer explicação para que uma borboleta, e sempre a mesma borboleta, entre pela janela do meu quarto ao alvorecer. Vem, pousa no umbral, em seguida levanta voo e começa a planar por cima da cama, pelas paredes, pelos cantos, por cima da escrivaninha. Já pensei em espantá-la, em colocar tela protetora na janela, mas depois fui aceitando alegremente aquela inesperada visita.
Levanto a mão, passe rente, mas sempre prefere um pouso ligeiro no meu ombro. Talvez não encontre no meu corpo nenhum perfume que lhe agrade. Nunca fica em mim mais que poucos segundos, pois sempre levanta voo em outras direções. Quanto mais a manhã é ensolarada mais ela parece mais bela e fascinante em seus tons amarelados, de um dourado parecendo pintado à mão.
O fato mais estranho, contudo, é que ela sempre prefere ficar em cima do meu livro de cabeceira: Cem Anos de Solidão. E ali como quisesse folhear o livro, entrar no livro, viver o livro. Certamente não sabe, contudo, que ali está Macondo e seu mundo mágico, fantástico, povoado dos Buendía, de espantos e estranhezas. Gerações e mais gerações de personagens que nos ensinam que o incompreendido é a realidade maior e mais convincente.


E um fato surpreendente depois revelado nas minhas indagações. Dentro daquelas páginas existem borboletas e mais borboletas, muitas borboletas, entrando no quarto de Meme, a Renata Remedios do livro, enquanto o cigano Maurício Babilonia está ao seu redor em amoroso cortejamento. Aliás, borboletas amarelas que sempre acompanham o rapaz e que parecem estar por todos os lugares de Macondo, pois ler o livro de Garcia Márquez é como ouvir o ruflar de asas de borboleta a todo instante.
 Cem Anos de Solidão é um mundo povoado de borboletas amarelas. Garcia Márquez colocou um jardim entre loucos, insanos e sonhadores, e ao invés de flores povoou de borboletas amarelas. Então, será que aquela borboleta não seria uma das tantas existentes em Macondo e querendo às páginas de Garcia Márquez retornar? Mas não a aprisionarei dentro daquelas páginas. Apenas deixo o livro aberto, esvoaçando ao vento, para que a borboleta voeje ao redor do seu mundo.
Em Cem Anos de Solidão, dezenas, centenas, milhares de borboletas amarelas, povoam o quarto de Renata Remedios quando Maurício Babilonia chega para visitá-la. As borboletas sempre acompanham Babilonia a cada passo que dá, sendo todas amarelas, leves, suaves, como surgidas de encantamento, ou mesmo como que afloradas das raízes ciganas do rapaz. Mas também borboletas que povoam os sonhos da bel Remedios e sobre o seu corpo em virgem flor passeiam apaixonadas.
"As borboletas amarelas invadiam a casa desde o entardecer. Todas as noites ao sair do banheiro, Meme encontrava Fernanda desesperada, matando borboletas com a bomba de inseticida. "Isto é uma desgraça", dizia. "Toda a vida me disseram que as borboletas noturnas chamam o azar." Certa noite quando Meme estava no banheiro, Fernando estrou no seu quarto por acaso e havia tantas borboletas que mal podia respirar. Apanhou um pano qualquer para espantá-las." Diz uma passagem do romance.
Eu não tenho nada a ver com Maurício Babilonia nem com Meme, com a bela Remedios ou qualquer dos Buendía, em quaisquer de suas gerações, mas uma coisa tenho certeza que me aproxima daquela história de solidão e borboletas: minha solidão de janela aberta e minha estranha visitante de todo dia. A borboleta povoando meus cem anos de solidão.

Escritor
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MAZÉ DE HÉLIO NOS DEIXOU, QUE TRISTE NOTÍCIA!


Por Rangel Alves da Costa

Chega-nos agora a notícia do repentino adeus de nossa amiga Maria José Silva Santos, a querida Mazé de Hélio. De raiz familiar de Curralinho, mas desde muito já residindo na cidade de Poço Redondo, sempre preservou consigo uma feição amiga, cativante e atenciosa sem igual. 

Uma doceira de mão cheia, uma devotada religiosa, uma amiga de todos, mas principalmente uma mãe e irmã de profundo afeto aos seus. 

Outro dia estive com ela e dela recebi uma antiga cristaleira como presente. Hoje mesmo eu iria convidá-la ao Memorial para uma fotografia ao lado de sua doação. Mas Deus a chamou antes disso, pois nesta manhã ela nos disse adeus. 

Abraço de carinho e conforto ao esposo Hélio, aos filhos, irmãos e amigos. Que Deus a receba no Reino Eterno, amiga Mazé!


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OS PRIMEIROS RASTILHO DE PÓLVORA EMBOSCADA.

Por Luiz Bento de Sousa

Virgulino, Antônio e Livino. 

Combinaram para viajar a pé e armados, passaram junto à propriedade de Zé Saturnino, sem intensão que andavam armados. Zé Saturnino, reuniu Zé Caboclo e mais cinco cabras e resolveu botar uma EMBOSCADA nos irmãos Ferreira. A ordem de fogo foi dada quando eles passavam mais diante por uma curva da estrada. 

Aproximadamente o tiroteio durou uns 15 a 20 minutos. Antônio Ferreira foi alvejado a altura dos rins, aumentando o desentendimento entre as famílias vizinhas Ferreira e Saturnino. O velho Zé Ferreira procurou as autoridades a fim de processar os responsáveis pelo atentado. Sem êxito. Anuncia sua mudança para o sítio Poço do Negro nas proximidades de Carqueja antiga Nazaré do Pico. Bafejado de favores políticos, em perseguição à família Ferreira. 

Zé Saturnino realiza várias diligências policiais à família Ferreira. Não suportando as perseguições do inimigo, resolve mudar novamente, desta vez para mais distante, para o vizinho Estado alagoano. Logo que Livino voltou da prisão a família Ferreira parte. Intala-se na fazenda olho Dágua em Água Branca a 46 km da cidade de Mata Grande Alagoas.

As mágoas, os sofrimentos dos Ferreira, estavam em carne viva nos sentimentos de cada um. As injustiças do mundo despertava neles a vingança. Vingança tem para o sertanejo a força de um dever. Quando o pai diz para o filho, você nunca apanhe, seu pai nunca apanhou. O sertanejo estabelece um código de honra o verbo perdoar não existe. Covarde é aquele que apanha e deixa ficar por isso mesmo.

Luis Bento de Sousa
Luis Carolino.


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LAMPIÃO NÃO ENTROU EM SANTANA (UM POUCO DA HISTÓRIA DE GATO BRAVO O CANGACEIRO DE SANTANA DO IPANEMA ALAGOAS)


Clerisvaldo B. Chagas, 22 de maio de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.674


Enfurecido feito demônio, o bandido Lampião desceu do Juazeiro do Norte enganado com a suposta patente de capitão. Uns tirinhos bestas aqui outros acolá, penetrou e deixou Pernambuco para se aventurar em Alagoas.

Até hoje as perguntas de curiosos ainda são as mesmas de 1926. Indagam pelo motivo de Lampião não ter entrado na cidade de Santana do Ipanema. Embora o marginal não tenha invadido à cidade, saiu fazendo arrastão pelo extenso município em sítios e fazendas até desaguar na vila de Olho d’Água das Flores pertencente a Santana na época.


Escritores presentes na cidade como Oscar Silva e Valdemar Cavalcanti registraram a agitação formada na urbe com a notícia de aproximação de Virgolino com mais de cem homens. Ambos são irônicos e fazem referências às promessas feitas por pessoas exóticas, possivelmente não sadias do juízo, Carneiro e Maria Cabeça Amarrada. Maria era uma beata que só vivia na igreja. Outros comentaram que a padroeira do município era uma santa e que Lampião prometera a ele mesmo não invadir lugares que tivesse santa como padroeira. Outra hipótese fala em negociação secreta do chefe do bando com algum mandachuva da política. Não deixando de aparecer opiniões, o próprio cangaceiro santanense Gato Bravo diria mais tarde em entrevista para jornal que Lampião não entrara em Santana, graças a ele, Gato Bravo.

A realidade é que depois de muita gente se esconder no mato e a saída de dois automóveis rumo a Palmeira dos Índios. Haveria resistência.

Santana procurou se defender de improviso movida pela resolução de civis. Foi apresentado 25 atiradores do Tiro de Guerra 33, unidade do exército que funcionava no chamado “sobrado do meio da rua”. Estes eram comandados pelo instrutor Brigada Antônio Ribeiro Cavalcante. Do quartel que funcionava na antiga Rua do Sebo, na Cadeia Velha, saíram 15 homens dispostos à luta. A resistência foi organizada pelo prefeito Benedito Melo, padre Bulhões e o juiz Manoel Xavier Accioly. Não foi registrado o número de civis, mas dizem que nunca tinha sido vistos tantos rifles pelas ruas de Santana. Com os quarenta militares e um bom grupo de homens resolutos, barricadas foram feitas em pontos estratégicos, mas o bando passou ao largo de Santana do Ipanema.

E de todas as hipóteses apresentadas, a mais lógica era o receio de Virgolino ser perseguido pelo exército após um possível ataque. Ele queria ver o cão, mas tinha um receio da peste da farda verdinha do Exército Brasileiro.

O certo mesmo é que a cidade de Santana do Ipanema ficou livre de um longo trauma naquele mês de junho de 1926.


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NOTA DE FALECIMENTO!


Por Relembrando Mossoró

É com pesar que o Relembrando Mossoró vem comunicar o falecimento do empresário José Moreira Braga, mais conhecido como "Braga da Loja DDD", o fato ocorreu ontem no Hospital Wilson Rosado, nesta cidade de Mossoró-RN. 

Seu velório está sendo no Centro de Velório da Sempre, ao lado do Tiro de Guerra e será sepultado no Cemitério Novo Tempo, às 16hs. Nossos sentimentos aos familiares e amigos.


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"CANGAÇO CAMPINA GRANDE 2019"



Palestrante: João de Sousa Lima
Assunto: As Mulheres no Cangaço
Mais uma produção Aderbal Nogueira Laser/vídeo


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LAMPIÃO


Eu ainda não tinha visto esta foto, mas sem sombra de dúvida é mesmo Virgolino Ferreira da Silva o capitão Lampião.


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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

LIVRO "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS"


(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799 

Pedidos via internet:

franpelima@bol.com.br

Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345

Clique no link abaixo para você acompanhar tantas outras informações sobre o livro.

http://araposadascaatingas.blogspot.com.br

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LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA


Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.

franpelima@bol.com.br

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: anarquicolampiao@gmail.com.

Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 leidisilveira@gmail.com.

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CHUVA NAS ALAGOAS

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.237

Infelizmente ou felizmente notícia gosta de usar as duas faces. E as previsões de chuvas para o estado nos três primeiros meses, do ano, deixam o nosso Sertão esperançoso e quase feliz. E o quase fica por conta das alvíssaras até as realizações dos torós anunciados. Para a capital que vive os problemas de afundamentos de bairros, quedas de barreiras, batidas no trânsito e crateras/ armadilhas cheias d’água, não é notícia muito agradável; até mesmo porque se diz que haverá chuvas contínuas e muito calor, bem diferente das trovoadas passageiras e tradicionais. Imaginemos a aflição dos Bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e imediações com tantos casos revoltantes e não resolvidos.
CHUVA EM SANTANA do IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).
Mas o semiárido poderá sorrir de boca larga porque chuva na terra é melhor de que ouro em pó. Essas precipitações encherão pilões, barreiros e açudes, permitindo uma ponte robusta entre o verão e a época invernosa. Planta-se feijão de corda, enche a palma, sai o pasto, o capim encobre o lombo luzidio das vacas leiteiras, fabrica-se o queijo e, o legume faz a barriga cheia. O aroma desejado e gostoso da terra molhada dilata as narinas do sertanejo em festa. Estira-se o mandacaru, pia a codorniz e os poetas enchem os salões das fazendas com aboios, emboladas e repentes na viola.
O pincel da natura cobre o giz do espaço com o cinza dos cúmulos, dos nimbos, empurrados pelo regougar dos trovões assustadores. Os traços fortes das chuvaradas cantam nos telhados vermelhos da casa-grande, faz tinir as bicas das taperas e derrubam a lataria enferrujada por cima dos potes de barro. Enrosca-se a cascavel, recolhe-se o carcará, muge o bezerro na baixada e a velha peleja com o fogo do cachimbo vindo do Juazeiro do padrinho Ciço.
Feijão, milho, melancia e mandioca só faltam quebrar o espinhaço do jegue, a mesa do carro de boi ou os eixos do caminhão valente a caminho do armazém.
Na beira do córrego, esse matuto observa e anota até mesmo quando o patriarca da humilde família bota os joelhos na terra, ergue as mãos aos céus e murmura. O gavião ali perto não irá compreender, mas Deus – presente nos matizes do verdume –  abençoa os seus dizeres e suas lágrimas que escorrem rumo ao pequeno riacho murmurante.

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MARIAZINHA

*Rangel Alves da Costa

No mundo masculinizado pelas convenções sociais, ou perante o meio onde o feminino continua sendo o lado oculto do lar e da existência, o fazer mulher se contrapõe a todo preconceito e discriminação, ao injusto desconhecimento da luta e à negação de sua força, para se reafirmar como o fermento sem o qual nada vinga e nada cresce. O homem deveria saber disso: na mulher a sua própria raiz, na companheira o seu próprio passo.
Mas nem sempre a luta feminina é reconhecida. Até mesmo perante os seus, quanto mais esforço e sacrifício mais a simplista noção de ser assim mesmo. E não é não. Do barro feminino que foi feita humanidade, certamente que o visgo continua sendo a tessitura de toda caminhada da vida. Dizer que o macho faz o trabalho pesado para sustentar o seu lar, é não reconhecer o peso de cada dia que é suportado pela mulher para cuidar desde o quintal à porta da rua e mais adiante. Tudo feito de maneira incansável.
É, pois, num mundo assim que ecoa a Canção de Mariazinha. Um canto mulher, uma canção feminino, uma melodia senhora, esposa e filha. Ou mesmo uma poesia torta, rasgada, lanhada de tempo e de sol. Talvez um verso descalço e de mãos espinhentas, calejado de luta e respingando suor. Quem ouvir tal canção ou lançar o olhar sobre os seus versos, certamente estará perante a mulher em toda sua inteireza, sertaneja ou não, mas sempre se afeiçoando àquela mulher bíblica vestida de sol.
Mariazinha parece com Maria, que parece com Joana, que se afeiçoa a Bastiana. Ou a Marta, a Clemência, a Lurdes, a Paula, a Sônia, a Gorete. Não precisa um nome específico, pois todas Mariazinhas no seu dia a dia e no seu percurso de vida. Tantos caminhos desiguais, tantas alegrias e dores diferentes, mas no mesmo compasso da existência. Uma mulher, mulheres, de raças e feições diferentes, de pele tingida de cores diferentes, de vivências e sobrevivências em meios diferentes. Um só nome em todas: mulher.
No barraco ela está, mas também no casarão. Vestido de chita ela está, mas também pode usar roupa de grife. Chinelo aos pedaços, pés descalços, ou nas alturas do salto alto. São todas mulheres. Contudo, há uma feição mais pujante e mais autêntica numa Mariazinha que vive num mundo bem além do urbano capitalizado, que se faz presente num meio onde ainda é possível sentir o aguerrimento labutador feminino. Nas entranhas de um mundo distante e empobrecido, no contexto de um mundo esquecido e solitário, eis que ela grita seu nome desde, ou mesmo antes, do primeiro cantar do galo.


Antes de deitar para descansar, muito já fez durante cada instante do dia. Não é tarefa fácil reinventar a vida quando a própria vida se vê ausente de muito daquilo que sem ele se faz até impossível viver. Mas faz, cria, reinventa. Onde há panela vazia há o esforço maior para juntar um tiquinho de qualquer coisa. Onde há falta de remédio há a catação no quintal para fazer o chá, a infusão, a mistura milagrosa. Onde a esperança já perece desesperançada, eis que as mãos se juntam em oração, os lábios trêmulos conversam com anjos e santos, a fé incontida chama a providência sagrada.
O pote, o balde ou a lata na cabeça, no caminho de todo dia até uma fonte qualquer, nunca foi troféu de submissão. Igualmente o trabalho pesado da lenha, do catar graveto, do juntar feixe seco para alimentar o fogão de caixão. Muito menos a lavagem de roupa, o esfregar, o bater, o estender em varal. Apenas ofícios de luta na divisão dos afazeres da sobrevivência. Não tem vergonha de ir para o mato levando enxada, enxadeco, foice, facão. Revira e remove a terra, cava, semeia, cuida e sempre cuida. Colhe e debulha o feijão de corda, divide a melancia com a família, coloca à mesa a abóbora com leite.
Nunca foi feio lutar, trabalhar, desde dentro de casa à estrada adiante. Há sempre um compromisso com a existência que permite a abnegação até mesmo com as durezas da vida. A partir do instante em que os joelhos, após o primeiro ofício de fé aos pés do velho oratório num canto de sala, levantam-se para os demais afazeres, é como não desejasse se dobrar mais a nada, numa luta incansável e num passo que sempre segue adiante. Tanto faz se na cozinha, se no roçado, se no caminho da feira ou em qualquer outra situação do dia a dia.
Assim a Mariazinha, assim tantas Mariazinhas. Tão alegre e tão triste. Gosta de ouvir o sino da igrejinha tocar e recordar os seus. Mãe e mulher, filha e senhora do mundo, nunca desaparta dos seus. Seus filhos são como crianças para toda vida. Mesmo adultos ou já envelhecidos, todos continuam sendo aquelas crias de berço e de peito. Por isso sofre tanto, por isso chora tanto. Mas também não há quem seja mais feliz com os bons frutos que vão vingando de seu eterno berço. Que sorria sempre Mariazinha. As durezas da vida precisam de seu sorriso.

Escritor
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CANGAÇO CAMPINA - "OS ÚLTIMOS DIAS DO REI DO CANGAÇO"

Por Aderbal Nogueira
https://www.youtube.com/watch?v=Y_8Cjjvk0LQ&feature=share&fbclid=IwAR1l7sck1B_ykfud9x1A2E2gRH8AON8e5LPysT8obZ9BRVh0rN7v8TgfT5g


Debate sobre o documentário "Os Últimos Dias do Rei do Cangaço". Clique para assistir: https://youtu.be/USy4nQqUZNI
Categoria

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LAMPIAO E SEU DON DE ADIVINHAR:


Manoel Rodrigues de São Caetano um dia perguntou a Lampião por que ele nunca tinha caído em uma emboscada?

Lampião logo respondeu que emboscadas botavam muitas, mas que nunca havia caído em nenhuma, porque na vida em que vivia nao podia andar a toa. Sabia perfeitamente o interesse dos "macacos" em lhe pegar, principalmente os de Nazaré. 

Lampião disse que um dia viajando, ouviu um pouco distante umas acauãs cantando. Continuou andando para frente, na mesma direção. Quando estava próximo das aves, elas em uma árvore muito alta e que a vereda que Lampiao passava era bem embaixo da grande Árvore. 

Quando Lampião passou embaixo, as aves pegaram uma briga, caindo ambas no chão, bem na sua frente. Vendo aquilo o chefe Lampião disse:

" o dia hoje não está bom, na frente tem uma arataca pra mim, o mundé está muito bem armado, e quem armou foi Clementino Quelé ferrenho inimigo meu".

Isto aconteceu nas caatingas da Paraíba:

(fonte, tenente joao gomes de lira, "in memorian", ex-soldado da volante de nazare do pico, pag, 422).



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CORISCO E JESUÍNO BRILHANTE: AS BRUTAIS DIFERENÇAS ENTRE O PRIMEIRO E O ÚLTIMO CANGACEIRO.



No fim do século 19, o Cangaço era um movimento social contra a pobreza, até que tudo mudou nas mãos de Lampião.

ANDRÉ NOGUEIRA PUBLICADO

Jesuíno e Corisco - Reprodução

No final do século 19, nasceram diversos grupos de bandoleiros que transitavam pelo sertão como criminosos, combatendo o poder dos coronéis e recrutando os mais carentes aos seus bandos. O cangaço — formado por bandidos que fazem parte do imaginário nordestino até hoje — mudou bastante através das décadas. 

Muito do que se conhece e se fala do cangaço é equivalente ao que foi o começo do fenômeno, representado por Jesuíno Brilhante. Mas a figura mais famosa do folclore nordestino, o capitão Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, foi um importante ponto de virada do fenômeno.

Lampião dominou o Nordeste a ponto de quase formar um império, e mudou muito as práticas conhecidas do cangaceirismo, como o auxílio aos populares e o combate aos coronéis. Essas mudanças fortes foram transmitidas ao seu sucessor, Corisco, o último grande cangaceiro.

Entenda as grandes diferenças do mundo do cangaço, do início ao fim, quando o governo federal realmente conseguiu investir no combate aos bandoleiros.

Entrada no Cangaço

Jesuíno Brilhante: Jesuíno Alves de Melo Calado era filho de fazendeiros do Rio Grande do Norte. Um dia, em 1871, seu irmão, que transitava na cidade de Patu, foi acusado e duramente agredido por homens que o acusavam de ter roubado uma cabra que, porém, lhe pertencia. Após o caso, Jesuíno entrou para a vida de bandoleiro como forma de combater a injustiça contra os menos poderosos.

Corisco: Na época em que o cangaço já era mais disseminado, muitos o viam como forma de fugir de sua vida anterior. Cristino Gomes da Silva Cleto, aos 17 anos, entrou em uma briga com um homem protegido pelos coronéis de Água Branca (Alagoas) e acabou matando-o. Fugindo da cadeia e da vingança dos coronéis, entrou para o grupo de Lampião sob o nome de Corisco (ou o apelido Diabo Louro).

Representação de Jenuíno / Crédito: Reprodução

Relação com a riqueza

Jesuíno: Para Jesuíno, a maior parte da riqueza foi roubada do trabalho honesto dos mais pobres, enquanto os mais ricos se corrompiam com o poder que criavam em volta do próprio dinheiro. Dentro da filosofia do Cangaço, ele era visto como o gentil-homem, ou seja, vivia de roubos que, depois de afugentada a polícia, eram repartidos entre os mais pobres. É a partir da ação de Jesuíno que o banditismo ganhou a fama de Robin Hood sertanejo.

Corisco: Assim como Lampião, Corisco tinha grande apreço pelas posses dos ricos, roupas elegantes, armas de qualidade, produtos importados e ostentação. Por isso, muitas das pilhagens realizadas por seu bando ficavam em meio ao próprio bando, que usava do dinheiro roubado para melhorar de vida e adquirir produtos nas cidades. Corisco, por exemplo, adorava um perfume importado que se vendia nas capitais. Pouco desse dinheiro realmente retornava aos mais pobres.

Corisco / Crédito: Wikimedia Commons

Aliança com coronéis.

Jesuíno: Os coronéis eram vistos pelos cangaceiros como donos da terra e inimigos do bem estar do povo, pois seu poder de mando e desmando afetava diretamente a tentativa dos sertanejos de manterem sua vida tranquila. Por isso, Jesuíno Brilhante se posicionava como inimigo dos coronéis, por ser aliado do povo do sertão, dos posseiros, jagunços, agricultores e caminhantes.

Jesuíno era famoso por roubar comboios de alimentos que seriam vendidos pelos coronéis e distribuir entre os populares. Também foi responsável, entre 1871 e 1879, pela criação do Estado paralelo sertanejo, que fundou uma sociedade livre de coronéis.

Corisco: Esse cangaceiro sabia que, entre coronéis, havia diversas desavenças. Se utilizando das disputas internas entre as fazendas, Corisco seguiu a tradição lampeônica de aliança com coronéis como forma de combater outros e, assim, conseguir benefícios — como suporte de armas importadas ou lugar para acampar de modo seguro.

Muitas vezes, os bandos de Corisco foram usados para a segurança de algum coronel que tinha inimizades com inimigos comuns dos cangaceiros.
Virgulino Ferreia, o Lampião / Crédito: Wikimedia Commons

Código de Conduta

Jesuíno: A posição de Jesuíno era sempre a de apelar para a violência contra o coronel e a educação para com o povo, com o objetivo também de aprender o que desconhecia com os sertanejos comuns. Jesuíno teve uma educação privilegiada, mas, em ação, tentava ao máximo se aproximar da conduta de um agricultor comum, não assumindo uma posição de autoridade moral, mas a de mais um entre os oprimidos do sertão.

Corisco: As condutas de Corisco eram muitas. Principalmente porque, na cidade ou nas grandes fazendas, o homem alto de cabelos loiros fazia uma verdadeira pose de nobre, tentando passar a ideia de que possuía alguma superioridade intelectual. Ao mesmo tempo, era um homem extremamente violento com suas vítimas e uma pessoa marcada pela ironia e pela brincadeira, além do sadismo, em horas inoportunas.

A História de Jesuíno é contada em vários cordéis / Crédito: Reprodução

Diversão

Jesuíno: Ele aprendeu muito com a população que tentava proteger e, além das cantigas de roda e das brincadeiras em grupo, também conheceu bem jogos populares da época, brinquedos, jogos de palavra e três-marias. Aprendendo a viver de forma humilde, Jesuíno conheceu diversas atividades lúdicas que não exigiam muitos materiais e o integravam à comunidade.

Corisco: Na linha da vontade de ostentar e ter do bom e do melhor, Corisco aproveitou muito as inovações tecnológicas de sua época para se divertir. Andar de carro, jogar plataformas analógicas — equivalentes de época dos videogames —, participar de festas periódicas na cidade e usufruir de aparelhos eletrônicos em recém-desenvolvimento eram algumas das formas de diversão do cangaceiro, além, claro, de jogos de azar e a dança do xaxado.

Maria Bonita e o bando se divertem / Crédito: IMS

Objetivos

Jesuíno: Seguindo a imagem de Robin Hood do sertão, Jesuíno Brilhante tinha como principal objetivo o combate às injustiças que o sertanejo sofria nas mãos do Estado e dos ricos. Ou seja, o banditismo visava à luta contra os poderosos e a recuperação das riquezas pelos mais pobres, vistos como frequentemente roubados e injustiçados, apesar de sua constante honestidade.

Corisco: O cangaço nunca deixou de ser um movimento social que visava à melhoria da vida dos mais pobres. Porém, depois de Lampião, esse objetivo se tornou bastante marginal, perdendo centralidade pela busca de poder pessoal.

Corisco tinha como objetivo se tornar um homem poderoso, mas também buscava a queda dos coronéis vistos como injustos e maldosos. A riqueza pessoal e a boa vida isolada dos circuitos comuns da cidade eram os grandes movimentadores do cangaço nos anos 1930.

Bando de Corisco / Crédito: Reprodução

Violência

Jesuíno: Obviamente, Jesuíno não era contra a violência. O banditismo dele aplicava sem grandes impasses a violência na prática do roubo e do sequestro, além de que muitas violências que hoje podemos apontar eram comuns e banalizadas no século 19.

Ao mesmo tempo, algumas posições do grupo de Brilhante eram consideradas até progressistas, como a proibição do estupro de mulheres ou a intransigência contra a violência contra populações pobres. O uso das armas se continha ao roubo contra coronéis.

Corisco: Algumas características da conduta da violência foram comuns em todo o cangaço. Por exemplo, a regra contra o estupro de mulheres se mantinha, mesmo que muitas vezes ocorresse (segundo os lideres dos grupos, por amor). Porém, o trato com as populações mais obres por Corisco era muito mais violenta do que o cangaço do 19.

Quando a horda de Corisco e Dadá tomava uma pequena cidade, mesmo de pessoas com pouquíssima riqueza, a população era tratada com a mesma violência usada contra comboios e trens dos homens ricos. Muitas vezes, o bando de Corisco tratava com violência pessoas por pura diversão.

Saiba mais:

Luiz Bernardo Pericás. Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica, São Paulo: Boitempo, 2010. 
Frederico Pernambucano de Mello. Estrelas de couro: a estética do cangaço citação, Recife: Ed. Escrituras, 2010.
Frederico Pernambucano de Mello. Benjamin Abrahão - Entre Anjos e Cangaceiros, Recife: Ed. Escrituras, 2012
Frederico Pernambucano De Mello. Guerreiros do Sol - Violência e Banditismo No Nordeste do Brasil, Recife: A Girafa, 1985.
Matheus, Moura. Rei do cangaço e os achismos. Sociedade Amigos da Biblioteca Nacional, Revista de História da Biblioteca Nacional. Fevereiro de 2012.


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