Seguidores

sábado, 16 de maio de 2020

"O PATRIARCA"

Por Sálvio Siqueira

No dia 3 de setembro de 2016 será lançado, em Serra Talhada - Pe, mais uma obra prima da literatura sertaneja, intitulado 'O PATRIARCA', o livro nos traz a notória história do cidadão "Crispim Pereira de Araújo", que na história ficou conhecido como "Ioiô Maroto", contada pela 'pena' do ilustre amigo venicio feitosa neves

Crispim Pereira de Araújo (Ioiô Maroto) 

Sendo parente de Sinhô Pereira, chefe de grupo cangaceiro e comandante dos irmãos Ferreira, conta-nos o livro, a história que "Ioiô Maroto" foi vítima de invejas e fuxico. Após sua casa ter sido invadida por uma volante comandada pelo tenente Peregrino Montenegro, da força cearense.

Sinhô Pereira

Sinhô Pereira deixa o cangaço, não sem antes fazer um pedido para o novo chefe do bando, Virgolino Ferreira da Silva o Lampião e o mesmo cumpre o prometido.


Além da excelente narração escrita pelo autor, teremos o prazer e satisfação de vislumbrar rica e inédita iconografia.

Não deixem de ter em sua coleção particular, mais essa obra prima literária. Adquira-o através deste e-mail:

franpelima@bol.com.br

https://www.facebook.com/groups/545584095605711/675945445902908/?notif_t=group_activity&notif_id=1471274094349578

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA


Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.

Peça logo o seu através deste e-mail: 

franpelima@bol.com.br

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: anarquicolampiao@gmail.com.

Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 leidisilveira@gmail.com.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

A HUMANIDADE E A MULHER DE LÓ

Francisco de Paula Melo Aguiar

[...] Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas
uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás
ficam, e avançando para as que estão diante de mim; Prossigo
para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em
Cristo Jesus [...]. [FILIPENSES, 3:13,14]. 
O registro da passagem bíblica sobre a mulher de Ló que foi salva
diante da destruição iminente da cidade de Sodoma, encontra-se em Gênesis
19:26: “E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de
sal”. Isso é fato, é ordem expressa de Deus via seus anjos: serafins, querubins
e arcanjos. A ordem era sair imediatamente daquele lugar, e Ló saiu levando
consigo sua esposa, já estava fora da cidade, porém, ela entende olhar para
trás, desobedeceu à ordem de Deus, transformando-se assim, em uma estátua
de sal, estátua essa que é decantada em versos e prosas pelos cristãos e não
cristãos em seus diálogos e ou pregações dentro e fora dos templos das mais
diversas religiosidades e ou ideologias.
O apóstolo Paulo escreveu provavelmente entre 53 e 58 D.C., a carta
e/ou epistola aos habitantes de Filepos, importante cidade do Império Romano,
levando-se em consideração sua localização geográfica na região montanhosa
entre a Europa e a Ásia, não obstante a tradição que afirma que ele escreveu a
referida carta de dentro de uma prisão em Roma, porém, tem pesquisadores
que defendem a tese de que a dita carta foi escrita numa prisão em Cesareia
e/ou em Eféso. Nada disso é tão importante, quanto o que consta em
Filipenses, onde nos chama atenção o capitulo 3 e os versículos 1 (um) a 21
(vinte e um), pois, lá está escrito que: 
1 Resta, irmãos meus, que vos regozijeis no Senhor. Não me
aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para
vós.
2 Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-
vos da circuncisão; 
3 Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em
espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na
carne.
4 Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida
que pode confiar na carne, ainda mais eu:
5 Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de
Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu;
6 Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há
na lei, irrepreensível.
7 Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.
8 E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela
excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo
qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como
escória, para que possa ganhar a Cristo,
9 E seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei,
mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de
Deus pela fé;
10 Para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à
comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte;
11 Para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição
dentre os mortos.
12 Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo
para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo
Jesus.
13 Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas
uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás
ficam, e avançando para as que estão diante de mim,
14 Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de
Deus em Cristo Jesus.
15 Por isso todos quantos já somos perfeitos, sintamos isto mesmo;
e, se sentis alguma coisa de outra maneira, também Deus vo-lo
revelará.
16 Mas, naquilo a que já chegamos, andemos segundo a mesma
regra, e sintamos o mesmo.
17 Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado,
segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam.
18 Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora
também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo,
19 Cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para
confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.
20 Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o
Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
21 Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o
seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar
também a si todas as coisas. (FILIPENSES, 3:1-21).
[Grifamos!].
Por que a mulher de Ló anda atrás dele? Ainda que por dedução se
presume que ela estava saindo de onde não queria sair, por isso não estava
feliz, estava descontente, insatisfeita e muitos menos alegre em ter saído de
Sodoma. Tinha saudades e raízes lá implantadas. Isso parece muito como o
apego que as pessoas tem para com os bens materiais em detrimento dos
bens espirituais. Assim sendo, sem sombra de dúvidas se pode até acreditar,
de que, ela estava infeliz em sair fugida de Sodoma, as pressas, pelo fato de
andar atrás do marido e talvez não tido a oportunidade de escolher em andar
na frente e/ou ao lado dele, fisicamente falando. Preferiu andar atrás.
E isso é fato tóxico bíblico, análogo a fatos contemporâneos e existentes
em todas as classes sociais, a mulher de Ló antes de olhar para trás já estava
atrás dele. Não se sabe para fazer o que?
A relação próxima e existencial entre pessoas, gera a ideia vaga de
dever, de compromisso, de obrigação, de ficar atrás e até porque, nas relações
conjugações, por exemplo, o marido e ou a mulher, que vivem nessa confusão
emocional, alegando amor, tenta por todas as formas segurar o outro, no
sentido de prender e/ou impedir que faça outra escolha e ou atenda outro
chamamento, apresente condições comuns, caminho e/ou paradigma no
caminhar, no escolher e viver feliz e em paz, e/ou até mesmo no se deixar
dormir, sonhar e acordar em si e/ou entre si e/ou em outros braços e/ou
caminhos escolhidos.
É claro que a convocação dirigida a Ló e sua mulher, tem caráter divino,
eles foram escolhidos, justamente para serem libertos da corrupção do corpo e
da alma, da prostituição vivenciada em Sodoma, o lugar que foi igualmente
escolhido por Deus para ser, como o foi destruída pelo fogo totalmente.
Em lendo o livro de Gênesis, verificamos de que dele não consta o
nome da mulher de Ló, tão insignificante e pobre ela se transformou, enquanto
o mesmo Deus que inspirou aquele livro, cita o nome de Sarah, mulher de
Abraão, várias vezes.
É até compreensível que a mulher de Ló, que andava atrás dele, tenha
olhado para trás não com pena de Sodoma, mas com por causa de seus filhos,
irmãos, pais, avós, amigos, etc., e de seus bens materiais: casas, animais,
etc.., uma vez que tudo que tinham lá ficaram, assim como seus interesses
políticos, sociais, educacionais, religiosos, empresariais, empregos, rendas,
créditos, dívidas, etc., lá ficaram também seus corações, seus desejos, de
modo precípuo que sua alma lá ainda estava, não obstante que seu corpo de lá
já tivesse saído por ordem de Deus, com quem nunca o ser humano deve dele
duvidar.
A luz de Deus, nunca leva o ser humano a ficar atrás, inclusive no
relacionamento emocional e vital entre cônjuges. Cada cabeça cada mundo.
Si tivermos em nossas relacionais emocionais e/ou não, o mesmo
comportamento vital da mulher de Ló, iremos sofrer vergonha e por analogia se
transformar em uma estátua de sal, perdendo assim sua função do viver lado a
lado e/ou ir na frente e não ficar atrás, tornando-se o símbolo da vergonha
existencial, porque o Deus de ontem, é o mesmo Deus de hoje e o será o
mesmo Deus do amanhã.
Em síntese, a humanidade não pode olhar para trás como a mulher de
Ló, pois, seus interesses são menores do que a vida humana x coronavírus,
porque quanto mais o sal for moído, grande é sem sombra de dúvida sua
utilidade, porque ninguém consegue usá-lo em forma de estátua, algo morto,
sem vida e sem pensamento e poder para escolher entre o certo e o errado,
andando sempre atrás.

Enviado por: Francisco de Paula Melo Aguiar escritor.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

A CONTAGEM REGRESSIVA PARA A MORTE DE LAMPIÃO

Em seu aparato de guerra | Crédito: Reprodução – Fonte – http://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/brutal-lampiao.phtml#.WWwJ3ojyvXP
Uma Interessante Entrevista Com Joca Bernardo, o Homem Que em Agosto de 1938 Informou a Polícia Quem Conhecia a Localização do Esconderijo de Lampião e Foi o Responsável Pelo Massacre de Toda Uma Família, Perpetrado Pelo Cangaceiro Corisco, Que Buscou Vingar a Morte do Rei do Cangaço.
Autor do texto – Jornalista Roberto Vilanova – Maceió, Alagoas.
Fonte – O blog TOK DE HISTÓRIA informa que recebeu o material original dessa reportagem com o nome do autor, o número da página (12), mas sem a indicação de data de publicação e do nome do jornal, ou revista. Sabemos que o Jornalista Roberto Vilanova publicou reportagem semelhante no Caderno B do Jornal do Brasil, edição de 11 de maio de 1977, página 5, sugerindo uma época da publicação original desse texto, que agora apresentamos. Com Exceção das Fotos Originais da Reportagem, Todas as Outras Fotografias Aqui Publicadas, São de Responsabilidade do blog TOK DE HISTÓRIA.
A história não reservou para Joca Bernardo, quase 80 anos de idade, uma linha sequer. Mas é bem melhor assim, porque ele entrou para a história intima do sertão como traidor de Virgulino Ferreira  – o Lampião, e, talvez por arrependimento, recusou receber o prêmio maior pela delação: a patente de sargento da Polícia Militar de Alagoas. Por causa disso sua esposa, desde essa época, lhe abandonou depois de argumentar e tentar convencê-lo de que não deveria jogar fora a sorte. Como jogou, ela preferiu ir embora para São Paulo no primeiro pau-de-arara que cortou as estradas secas do sertão, não lhe dando mais notícias.
Mas não é fácil encontrar Joca, apesar dele viver discretamente no distrito do Piau, pertencente a Piranhas, a mais de 350 quilômetros de Maceió, porque o sertanejo é, também, antes e tudo, muito desconfiado. Aliás, a sua própria existência só é sabida por quem conhece a fundo a história de Lampião, como o presidente da Arena de Piranhas, Antônio Rodrigues, que lhe descobriu para essa reportagem.
A bela cidade de Piranhas, Alagoas, a margem do Rio São Francisco – Foto – Rostand Medeiros.
Medo da morrer
A troca de identidade, complementada pelos cumprimentos à mão estendida, durou pouco, mas Joca Bernardo mantinha-se olhando por baixo dos olhos, como se estivesse diante de um Tribunal. À pergunta se escondia com medo de morrer, respondeu que não. E explicou que era para evitar comentários que, na certa, iriam lhe trazer recordações. E ele não deseja recordar as inconveniências naturais de um traidor. Nesse pé a conversa se expandiu e tomou gosto, porque se Joca se manteve, durante todo esse tempo, calado, chega mesmo um momento, principalmente na sua idade, em que o peso da consciência rompe a barreira do silêncio que se impõe por conveniências. O silêncio é quebrado também pelo conflito interno que Joca passou a viver logo depois da morte de Lampião, não porque traiu o bandido, mas porque, para escapar da morte que Corisco espalhou como vingança, acabou delatando um inocente. Ou seja, disse a Corisco, com quem se encontrou mais tarde, que o vaqueiro Domingos Silvino, empregado do sogro do tenente Bezerra, é quem havia delatado Lampião à polícia. Corisco foi à casa de Domingos e matou ele, a mulher, uma visita e três só deixou vivo apenas o de menor idade, Antônio Silvino, que mora hoje em Piranhas e não quer ver Joca na sua frente.
Joca Bernardo.
Foi o próprio Antônio Silvino quem relatou o massacre a sua família e, conforme Corisco disse a seu pai, Joca é o único responsável. Silvino falou que um dos cangaceiros chegou a puxar o punhal para matá-lo, mas Corisco o conteve. Nessa época, ele, Antônio, tinha 6 anos de idade e recebeu a missão de conduzir, de burro, as cabeças de toda a sua família que deveria ser entregue ao tenente Bezerra, em Piranhas, com um bilhete atrevido.
Silvino Ventura tinha seis anos de idade quando viu sua família ser covardemente trucidada pelo famigerado Corisco na Fazenda Patos e foi obrigado a transportar em um animal as cabeças cortadas de seus familiares para a casa do tenente José Bezerra, em Piranhas. Faleceu de um acidente em Piranhas, no dia 30 de julho de 1985, aos 54 anos de idade.
“Quando eu passei pelas ruas de Piranhas era dia de feira. O Corisco juntou as cabeças dentro de um caçuá e mandou eu tanger o burro. Nas ruas o povo pensava que o sangue que escorria era carne de bol. E quando eu parei na porta do tenente Bezerra foi que juntou gente”, conta Silvino.
A casa extremada era a residência do tenente José Bezerra, para onde a criança Silvino Ventura trouxe as cabeças ensanguentadas de seus familiares dentro de um caçuá, transportado por um animal – Foto -Rostand Medeiros.
Nega tudo
Joca Bernardo nega a delação ao vaqueiro Domingos Silvino, mas confirma que se encontrou com Corisco. Até o seu relato do encontro – surpresa e, até mesmo, as circunstâncias dele, Joca parece não mentir. Mas na reprodução do diálogo ele acaba revelando uma certa frieza:
“Eu tava juntando o gado quando o Corisco pulou de cima de um lajedo. O Corisco e mais uns cinco cabras, inclusive a Dadá, que foi a minha salvação. Aí o Corisco falou se era verdade que tinham matado Lampião Eu respondi que ouvi dizer. Até ele disse: vou matar muita gente para vingar a morte. E vou começar logo por você. Aí a Dadá ”ó xente, home. Que história é essa? A gente mata quem tem culpa, inocente não,” relatou.
Ruínas da propriedade Patos, onde a família Ventura foi trucidada – Foto – Rostand Medeiros.
A História, segundo se sabe através do Sr. Antônio Rodrigues, de tradicional família de Piranhas e político influente na região, é bem diferente. Corisco soube que Joca havia traído Lampião e foi procurá-lo. No encontro, disse que ia matá-lo e Joca, com medo, falou que se morresse, seria inocente. E lamentou que tivesse servido de coiteiro para Lampião e, agora, “qual o pagamento que recebia?”. Corisco titubeou, principalmente diante da interferência de Dadá, e resolveu tirar a história a limpo. Foi então que Joca Bernardo lembrou, maliciosamente, “onde Lampião teria passado antes de ir para Angicos”, seu até então inexpugnável esconderijo.
Lampeão, antes de atravessar o rio São Francisco, passou na fazenda do sogro do tenente Bezerra (o fazendeiro Antônio Brito). Com isso, Joca quis insinuar que o vaqueiro Domingos Silvino Ventura, sempre à disposição para cumprir ordens fazer recado do bando, teria denunciado os planos de Lampeão de se alojar em Angico por alguns dias. A verdade é que Corisco aceitou a justificativa, se não teria evitado o massacre da família Silvino Ventura, de quem sobrou, a propósito, apenas Antônio Silvino, o filho mais novo, na época, do vaqueiro.
Corisco.
Traição a Lampião
Na verdade, Joca Bernardo não tinha nada contra Lampeão – a quem ajudava, na medida do possível, para poder ir levando a vida sem ser molestado pelo seu bando, se bem que tivesse de enfrentar as inconveniências da polícia que sempre se confundia, pelas arbitrariedades cometidas, com os cangaceiros, às vezes, praticando horrores em nome da Lei que a bem da verdade era material, porque estava simbolizava na mira de um fuzil “bem azeitado e municiado”.
Assim, dentro do possível ou de acordo com os conformes, Joca e tantos outros coiteiros se prestavam ao serviço de acoitar Lampião e seu bando porque não tinha mesmo escolha. E entre ser morto pelos cangaceiros ou pela polícia, o que dá, no fundo, no mesmo, era preferível morrer tentando ser fiel a Deus e ao diabo, mesmo sem se saber quem era quem. Ou seja, quem era Deus e quem era Diabo.
Pedro de Cãndido.
Mas como a miséria só quer começo, um dos maiores coiteiros de Lampião, Pedro de Cândido – ninguém duvidava da sua ligação com Lampião, mas Pedro vivia imune em Piranhas, no dia em que os cangaceiros se arrancharam em Angico, foi comprar queijo que Joca fabricava. E apesar de sempre levar dinheiro suficiente, dado por Lampião acabava usurpando o chefe e não pagava as mercadorias, o que criava, naturalmente, um clima de animosidade não só para ele, como para o bando.
Tiro fatal
Naquele dia, porém, Pedro de Cândido, inadvertidamente, engatilhou a arma que desfechou em Lampião o tiro fatal. Utilizando-se da fama de valente, talvez imposta pela condição de coiteiro chefe de Lampião, Pedro bateu à casa de Joca Bernardo para comprar “todos os que queijos que tivesse na hora ou a fazer durante os próximos 15 dias”, que era o tempo de descanso dos cangaceiros.
– Foto – Rostand Medeiros.
Joca respondeu que tinha uma encomenda de queijo do Juiz de Pão de Açúcar e não podia ceder o volume já encontrado pronto. O argumento não foi levado em consideração, porque Pedro de Cândido retrucou abusado: – “Cabra safado, eu tou pedindo o queijo e não quero saber de história. Vou levar tudo agorinha mesmo”, recorda Joca.
Apesar de se saber que Pedro era coiteiro de Lampião Joca ainda duvidou para quem seria tamanho carregamento de queijo até que descobriu:
– “Eu pensei assim” – conta ele – “o Pedro não negocia e se quer tanto queijo só pode ser pra muita gente. se é para Muita gente, Lampião tá por aqui.”
Ruínas da propriedade Patos – Foto – Rostand Medeiros.
Joca não reagiu e Pedro de Cândido levou todo o carregamento de queijo que havia sido encomendado pelo Juiz de Pão de Açúcar. Mas naquele mesmo dia o sargento Aniceto, que tinha ficado em Piranhas, enquanto o coronel Lucena, o tenente bezerra e o aspirante Chico Ferreira saíram em diligência por Delmiro Gouveia, atrás de Lampião foi informado da situação. O relate ainda é de Joca.
“Eu fui procurar o tenente Bezerra, mas ele não estava. Encontrei o sargento Aniceto e lhe contei: sargento, saber eu não sei não senhor, mas o senhor quiser saber onde Lampião tá escondido, aperte o Pedro de Cândido que ele diz. Agora só digo uma coisa ao senhor: Lampião está aqui por perto e não veio com pouca gente não. Têm uns 100 homens com ele. E contei também o caso dos queijos que o Pedro me tomou.”
Muro formado por pedras na propriedade Patos. – Foto – Rostand Medeiros.
A partir daquele momento começou a contagem regressiva da vida de Lampião e seu bando. Mas como o próprio Joca admite a delação não tinha a intenção de trair Lampião porque, do jeito que até hoje alguém afirme que o cangaceiro não morreu, naquele tempo acreditava-se na sua imortalidade, pelo menos à bala ou à faca. Joca desejava que Pedro levasse uma surra, através do “aperto” da polícia, e não admitia que a polícia desse fim a Lampião, porque o bandido sempre escapava aos cercos ileso, Mas não foi assim: o cangaceiro morreu mesmo.
Recusa
O sargento Aniceto se encarregou de assegurar junto ao tenente Bezerra e ao coronel Lucena o trabalho decisivo de Joca Bernardo, ajudando à Polícia. Aí os dois oficiais chamaram Joca a Piranhas e anunciaram o prêmio: 5 contos de réis e a patente de sargento da Polícia Militar de Alagoas, que lhe seria dada pelo Governo do Estado. Joca recusou as divisas e aceitou apenas o dinheiro, que acabou não recebendo em toda sua totalidade.
– “Eu acho que o Governador mandou o dinheiro todo, mas o portador ficou com um pedaço. Eu só recebi 1 conto e réis,” relembra.
Bela região do Rio São Francisco – Foto – Ricardo Trigueiro Morais.
Ele recusou as divisas de sargento, porque teria de vir morar na Capital e um sargento, naquela época, não ganhava suficiente para sustentar uma família. Então, Joca preferiu continuar tangendo gado e fazendo queijo, sem pagar aluguel de casa e sem ter outros gastos que naturalmente teria de assumir se mudasse de cidade e de vida. Mas sua mulher não aceitou a argumentação e como não pôde fazê-lo receber a patente, preferiu abandonar a casa. Foi morar em São Paulo.
Por ironia, quem recebeu as divisas foi o Pedro de Cândido. Joca, que pensava em se vingar da sua violência, não só lhe proporcionou a reaproximação com as autoridades de Piranhas e de Alagoas, como lhe deu a própria chance de ser autoridade, porque logo em seguida ser incorporado à polícia como sargento, Pedro foi nomeado delegado no sertão. E morreu assassinado por culpa, ao que se sabe, de seus dotes de “dom juan”, sem que lhe respeitassem, ao menos, a posição de delegado.
Joca amarga a fama de traidor – na verdade o traidor é ele mesmo e se não fosse a aposentadoria do Funrural, engordada pelo frete que consegue tangendo urro carregado d’água, estaria na miséria. Sequer conseguiu o intento de fazer Pedro de Cândido levar uma surra porque Pedro, ao ser preso, não reagiu e nem foi difícil contar o esconderijo de Lampião.
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros: 
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O CHAPÉU DO CAPITÃO


Por João Filho de Paula Pessoa

Lampião foi morto em 1938, numa emboscada da polícia na Grota de Angico em Sergipe. 

O historiador Frederico Pernambucano de Mello chamou atenção para as peculiaridades do chapéu que Lampião usava nesta ocasião: 

“De couro de veado com estrelas de couro brancas e pretas estampadas nas abas dianteiras e traseiras, mais 70 peças de ouro costuradas e uma testeira de couro com cinco moedas de ouro com quatro centímetros de diâmetro. 

As moedas eram de ouro vermelho do Brasil colonial, de 22 quilates”. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 14/02/2020.