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quinta-feira, 21 de setembro de 2017

ÁGUA DE MORINGA E NOITES DE CANDEEIROS


Sem ter geladeira ou água gelada, o contentamento se dava quando uma quartinha era avistada num umbral de janela. Nada melhor e mais doce que água de moringa. Depois de um pedaço de cocada ou de umas duas colheradas de doce de leite, somente uma rede armada debaixo de uma figueira na malhada. Se as nuvens prenhes avançavam, logo correr para catar feixe de lenha. Três, quatro, cinco feixes, debaixo da pequena latada do quintal. Uma mão de madeira para o fogão de lenha. O pilão já havia gemido pisando o café. Vasilha grande em cima do fogo, água fervendo e o pó escurecido e cheiroso derramado. Na fervura, as borbulhas negras perfumando o quintal e mais além. 


Não havia quem não quisesse experimentar logo um tiquinho de tanta gostosura. Depois a frigideira com banha de porco espalhada por riba. Com o chiado, a tripa, o bucho, os ovos de galinha de capoeira. O cuscuz já estava feito. Não de milho ralado daquela vez, mas de gosto demais pela fome da luta. Na memória, um sino toca. Há uma igrejinha e um sino em cada memória sertaneja. Hora da Ave Maria. No oratório do coração ou de canto de parede, o velho rosário contado nos dedos, os joelhos encharcados de chão, a fé. Que vida, meu Deus. Tão simples e tão singela, tão humilde e tão grandiosa. E depois do agradecimento pelo prato da noite, o abrir a porta para a aragem da noite. Cuidado, muito cuidado para o candeeiro não se pagar. Radinho de pilha, uma canção antiga, uma saudade. E lá nas alturas a lua mais bela do mundo. No silêncio da noite, a lua canta, o vaga-lume dança, a vida faz festa. Conheci um sertão assim. E tanta saudade eu tenho desse sertão assim. Um sertão de Poço Redondo e tantos outros sertões assim, de noites, de candeeiros e luas cheias.
...
Rangel Alves da Costa.
(*) Foto: Márcio Vasconcelos.

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ALIVIANDO OS TRANCOS

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de setembro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.742

Como os noticiários atuais estão insuportáveis, iremos aliviar a alma  num introito ao mundo mágico entre o tempo, a fantasia e a crença. Vamos cavalgar o vento e chegar às altíssimas montanhas do Peru na lenda contada pela escritora Antonieta Dias (referência abaixo). Sendo bela e serena a narrativa, adaptamos o texto da autora.

MACHU PICCHU. Foto: (mundocrux).

 “Os incas diziam que o Sol era o pai dos seres humanos. E ele, o Sol, certa feita convocou o filho Manco Copac e a filha Mama Acllo para lhes dá uma tarefa: reunir as tribos e ensinar a elas a vida civilizada. O casal, então, partiu da Ilha do Sol, no lago Titicaca para cumprir a missão determinada. Manco levava um bastão de ouro e Mama um fuso de prata. Ambos cruzaram o lago em barca de ouro. O Sol havia pedido que a fixação das tribos se desse onde o bastão penetrasse fácil à terra. Isso aconteceu no vale de Cuzco, que significa “umbigo do mundo”. O bastão entrou com facilidade na terra e  desapareceu. Manco instruiu os homens no trabalho de agricultura. Mama às mulheres a fiação da tecelagem.
Os caciques quíchuas se diziam descendentes de Manco Copac e Mama Acllo. Denomiram-se incas. Existiram treze incas, a partir daí tornaram-se imperadores”.
Adaptado de: Moraes, Antonieta Dias de (org.).Contos e lendas do Peru. São Paulo: Martins Fontes, 1989. P. 23-24.
Deixando a lenda, portanto, caindo na realidade do cotidiano, os incas foram bambas na arquitetura. Desenvolveram várias construções gigantes à base de pedras como templos, casas e palácios . Chama atenção a cidade de Machu Picchu – descoberta em 1911 – que revela toda a eficiente estrutura daquela sociedade. Também a agricultura era bastante desenvolvida. Plantavam em degraus formando terraços nas inclinações das montanhas. Tinham como base o feijão, milho e batata. O milho era considerado alimento sagrado e a ele era dada toda atenção. Mas os incas também construíram canais para irrigar suas terras cultiváveis, até desviando cursos de rios para as  aldeias. Mas não somente isto, eram hábeis artesãos com o ouro, a prata, tecidos e joias. Domesticam também a lhama, alpaca e vicunha. Usaram a lhama como meio de transporte além de se utilizarem da lã, carne e leite desse animal.
Que povo formidável!


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LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA


Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.
franpelima@bol.com.br

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: 

Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 

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NOVO LIVRO NA PRAÇA "O PATRIARCA: CRISPIM PEREIRA DE ARAÚJO, IOIÔ MAROTO".


O livro "O Patriarca: Crispim Pereira de Araújo, Ioiô Maroto" de Venício Feitosa Neves será lançado em no próximo dia 4 de setembro as 20h durante o Encontro da Família Pereira em Serra Talhada.

A obra traz um conteúdo bem fundamentado de Genealogia da família Pereira do Pajeú e parte da família Feitosa dos Inhamuns.

Mas vem também, recheado de informações de Cangaço, Coronelismo, História local dos municípios de Serra Talhada, São José do Belmonte, São Francisco, Bom Nome, entre outros) e a tão badalada rixa entre Pereira e Carvalho, no vale do Pajeú.

O livro tem 710 páginas. 
Você já pode adquirir este lançamento com o Professor Pereira ao preço de R$ 85,00 (com frete incluso) Contato: franpelima@bol.com.br 
fplima1956@gmail.com

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2016/08/novo-livro-na-praca_31.html

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CARTAZ - CINESOFIA - DFI/UERN - EXIBIÇÃO DO FILME FOGO: O SALÁRIO DA MORTE


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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SÓ PARA PASSAR O TEMPO! - O PROFESSOR JOÃO MALEÁVEL GOZA LICENÇA ESPECIAL

Por José Mendes Pereira

(Antes de começarmos a nossa historinha alerto aos amigos leitores que o que escrevi não se refere a nenhum tipo de críticas com ninguém, é somente para divertir a nossa vida. O professor João Maleável é mais um dos meus personagens, mas sem humilhar ninguém. Durante o tempo em que eu trabalhei em sala de aula, vivi no meio de bons professores e competentes, além do mais, amigos). 

Nos últimos anos, o João Maleável se sentia meio cansado, e precisava com urgência de férias. E para isso, ele tinha direito. Sim senhor! Quase quinze anos de serviços. Podia se afastar de suas atividades pelo menos por um período de seis meses. E se quisesse, ausentar-se-ia por nove meses. Isso era uma opção dele.

E às pressas, ele procurou um substituto. Carlos Maia. Um primo carnal e de grande confiança. "- É meu primo carnal. Filho de um irmão do meu pai, e filho de uma irmã da minha mãe, dizia ele apresentando o novo mestre ao diretor da escola".

O Carlos Maia, um jovem que ainda não tinha experiências em sala de aula. Mas sempre fora de muita responsabilidade em tudo que tomava de conta. E por sinal, acadêmico de letras em uma das universidades do Rio Grande do Norte. Um grande homem letrado, como dizia o mestre.

Quando o nosso professor entregou o material ao novo mestre, isto é, ao substituto, ele se pôs a observar os quadrinhos da presença no diário, e notou que o veterano fazia a chamada da seguinte maneira: Um (P) e um (O). Sem entender aquela desastrosa chamada, o futuro dono da sabedoria resolveu pedir uma explicação ao grande professor polivalente.

- Professor, eu estava observando a maneira que o senhor usa para fazer a chamada, e achei muito interessante e engraçada! Quando o aluno estava presente, acredito-me, o senhor colocava um (P). Tudo bem! Até aí eu entendi direitinho. Mas quando o aluno não estava presente, o senhor colocava um (O). Professor, me dê uma explicação para o significado do diabo deste (O)! 

O João Maleável cheio de orgulho, metido a inteligente, não só inteligente, mas inteligentíssimo, e com a confiança de que nada estava errado, que sempre fez aquele trabalho certíssimo, e que se dedicava por total e com responsabilidade, olhou bem no fundo do olhar do primo, balançou um pouco a cabeça, dando a entender que o parente talvez não fosse ser feliz na nova profissão, repuxou o colarinho da camisa, e com um sorriso largo e aberto, respondeu-lhe.

- Ó meu grande Deus todo poderoso! Primo, não me decepcione diante dos meus amigos professores, primo! É ozente, primo!

-Sim!..., Sim!..., Sim!..., Sim! Entendi, primo! - Confirmou o marinheiro de primeira viagem com um sorriso sarcástico e fantasioso.

(O que é que é isso, João Maleável? Não estudou!).

Minhas simples histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixa-me pegar outro.

Visite o blog do professor Adinalzir Pereira: - http://saibahistoria.blogspot.com

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UM CASO DE ANTROPOFAGIA EM POMBAL (1877)

José Ozildo dos Santos

1. Intróito

A seca de 1877 castigou o homem sertanejo, expulsando-o de sua terra e obrigando-o a procurar abrigo no litoral. Lavas de retirantes arrastavam-se em longas caminhadas seus corpos esqueléticos e quase sem vidas.
Em termos de intensidade, duração, extensão ou mortalidade, aquela longa estiagem não apresentou alterações em relação às demais secas. No entanto, contribuiu para mudar o imaginário da população urbana e principalmente das autoridades, pois foi a partir daquele triste ano de 1877 que a seca no nordeste passou a ser vista como um fenômeno de caráter social.
Por outro lado, os acontecimentos registrados na história da cidade de Pombal, durante aquele longo e doloroso período de estiagem, abalaram a população local e fizeram revelar em sua principal protagonista, uma prática que a civilização há muito tenta esquecer: a antropofagia.

2. O acontecimento

Em 1877, a cidade de Pombal, no sertão paraibano, mal tinha se refeito dos efeitos do cólera morbus, quando sobreveio uma grande seca. Durante aquela seca, que entrou para a história como uma das mais devoradoras, registrou-se um caso de antropofagia na cidade: uma mulher matou uma criança e comeu-lhe a carne para não morrer de fome.
Os autos do processo referentes a esse hediondo crime encontram-se arquivados no Cartório do 1º Ofício, da cidade de Pombal (1). A autora do crime, conhecida por Donária dos Anjos, havia chegado à cidade de Pombal, na condição de retirante.
O referido crime ocorreu no dia 27 de março de 1877 e indignou a população local. Na época, o jornal ‘O Publicador’(1), editado na capital paraibana, em sua edição do dia 24 de abril de 1877, noticiou que “a 27 de Março próximo findo a retirante Donária dos Anjos encontrou na casa do mercado da cidade de Pombal a menor Maria de cinco annos de idade, levou-a com o maior carinho para sua casa, próxima ao cemitério; ahi chegando, decapitou a mesma menor, enterrou a cabeça e comeu a carne do corpo da sua victima! Presa, Donária confessou este horroroso crime. Está sendo processada pelas autoridades da cidade”(2).
O promotor público e o delegado de polícia da cidade de Pombal, abriram rigoroso inquérito a fim de apurar a responsabilidade do ato criminal e de pura selvageria. Nos referidos autos processuais, entre outras coisas, lê-se: “O promotor público da Comarca de Pombal, usando da fa­culdade que lhe confere a Lei, vem perante V. Sa., denunciar a Donária dos Anjos, pelo fato que passa a expor: Chegando a denunciada, com sua vítima, em seu antro, matou-a por meio de sufocação, decepou-lhe a cabeça, reduziu o corpo a diver­sos pedaços de carne, cozinhou parte destes, que comeu, guar­dou outros em uma moita de onde foram devorados pelos cães, e num riacho que passa a pouca distância do Cemitério, enter­rou, à sombra de uma oiticica, a cabeça de sua desditosa víti­ma, que foi exumada” (3).
Formulada a denúncia, o digno representante do Ministério Publico encaminhou os autos ao juiz de direito da Comarca, Dr. Antônio Muniz Sodré de Aragão (4). Este, cumprindo as determinações do Código Criminal, em vigor na época, procedeu o interrogatório da acusada, que, declarou “que era natural do termo de Piancó e ali residia, mas que se achava nesta cidade [Pombal], quando foi presa, para onde se tinha retirada por causa da seca. Respondeu ter 18 anos e que cometeu o crime oprimida pela grande fome que a afligia, e que se achava arrependida de o ter praticado” (5).
Donária dos Anjos foi recolhida à histórica Cadeia de Pombal (6), onde amargou nas grades por um longo período em sua infeliz existência. A história não registra a data em que aquela pobre mulher foi posta em liberdade.
Na época em que ocorreu o fato, o juiz da Comarca encaminhou um oficio à Câmara Municipal, “dando conhecimento do estado precário em que se acha a popula­ção local, atemorizada pela fome”, cobrando do poder público municipal, providências que pudessem amenizar a situação (7).
A seca de 1877 reduziu todos à miséria. Lavras de retirantes deixaram o sertão e seguiram para o litoral, em busca de sobrevivência. No entanto, muitos não chegaram ao destino esperado, vencidos pela fome e pela seca, ficaram pelo caminho. E, mortos, tornaram-se comida para as aves de rapinas.
Voltando ao caso de antropofagia ocorrido em Pombal, crê-se, que a menina Maria, de apenas 5 anos de idade, estava procurando algo para comer, quando foi levada da frente à Casa do Mercado por Donária dos Anjos para o local do crime, com a promessa de receber algum alimento para saciar a sua fome. Quanto à Donária dos Anjos, “debilitada e com sintomas de loucura, devido às conseqüências dos infelizes anos de fome que a afligiu, passou a viver emocionalmente perturbada pelo remorso do horrendo crime que praticou. Depois, com o tempo, foi solta, momento em que retornou ao município da sua terra natal, onde naturalmente veio a falecer, marcada pelo resto da vida pela barbárie cometida”(8).
Protagonista de uma história macabra, Donária dos Anjos viveu seus últimos dias de vida num verdadeiro isolamento social. Dela, poucos se aproximavam e muitos a evitavam. Louca, ignorada por seus conterrâneos, foi encontrada morta no chão de um casebre, nos arredores de Piancó e sepultada sem nenhum cortejo. No entanto, seu nome ficou na história, assinalando uma prática incomum no mundo moderno.

3. As controvérsias

O crime bárbaro praticado por Donária dos Anjos, apesar ter sido no final do século XIX e chocado a sociedade paraibana da época, foi, em parte, esquecido pela história oficial. A tradição popular tratou de dá-lhe várias versões, sem, contudo, perder o sentido primitivo.
Uma das desfigurações desta triste história pode ser vista nuns versos colhidos e divulgados por José Américo de Almeida, atribuídos aos poetas populares Nicandro Nunes da Costa e Bernardo Nogueira, que assim narram os acontecimentos de 1877, em Pombal:

Foi-se a abelha, foi-se a caça,
A quem se pede nega,
Não há ceifa, não há rega...
Como é que o povo passa?
Do cabrum há pouca raça,
Uma galinha não há
Como o povo viverá
Nesta terra? E os animais?
Mas, se Deus sabe o que faz,
Deus o remédio dará.

Xiquexique, mucunã,
Raiz de imbu e colé,
Feijão brabo, catolé,
Macambira, imbiratã,
Do pau pedra a carimã,
A paneira e o murrão,
Maniçoba e gordião,
Comendo isso todo o dia,
Incha e causa hidropisia,
Foge, povo do sertão!
A fome foi tão canina
Que, se mais saber tu queres,
No Pombal duas mulheres
Comeram uma menina (9).

Dramatizando o fato vivido por Donária dos Anjos e pela menina Maria, os poetas populares Nicandro Nunes da Costa e Bernardo Nogueira erroneamente, afirmam que o referido crime foi praticado por duas mulheres. No entanto, ‘pintam’ a fome de forma canina e devoradora.
Nicandro Nunes da Costa foi considerado “o príncipe dos poetas populares do seu tempo” (10). Nascido na Vila de Teixeira-PB, estava no auge de sua carreira quando sobreveio a seca de 1877. O mesmo também se pode dizer de Bernardo Nogueira, que também nasceu em Teixeira, no ano de 1832.
Ambos foram contemporâneos dos fatos ocorridos em Pombal e viveram numa cidade localizada a poucos quilômetros do palco do triste infausto. Entretanto, é estranho, que os mesmos apresentem uma versão ambígua para a referida história.
No entanto, não somente Nicandro e Nogueira erraram ao registrarem o fato protagonizado por Donária dos Anjos. O historiador Horácio de Almeida (11) também incorreu em erro diverso: gravou o nome da autora do crime como Dionísia dos Anjos e fixou como palco da tragédia o município de Patos. Talvez, por ter ocorrido naquela cidade o assassinato de uma outra inocente, chamada Francisca, cuja autoria do crime é atribuída ao casal Absalão e Domila Emerenciano.
Os acontecimentos de Patos foram registrados em julho de 1923. Portanto, 46 anos após o ato de antropofagia praticado por Donária dos Anjos. Em Patos, a devoção popular fez também erigir uma cruz à menina Francisca, posta num local ermo, no Sítio Trapiá, onde o corpo daquela criança foi encontrado. Posteriormente, ali foi construída uma capela.
O referido local era, na primeira metade do século passado, conhecido com ‘A Cruz da Menina’, da beira da estrada. Hoje, sedia um importante parque religioso, considerado um dos maiores do Nordeste (12).
Nota-se, que em ambas as cidades, construiu-se uma‘cruz da menina’. Assim, crê-se que foi isto, o fato que levou o historiador Horácio de Almeida, em parte, ao erro.
Em 1898, o romancista e folclorista Rodolfo Teófilo lançou seu magnífico livro ‘Os Brilhantes’ (13), onde romanceia a saga de Jesuíno Brilhante, o ‘cangaceiro romântico’, que entrou para a história do Rio Grande do Norte como o ‘Robin Hood dos sertões’, por roubar dos ricos e destruir o fruto de seus atos com os pobres, durante a seca de 1877.
No referido livro, aquele escritor cearense também reconta o ato hediondo praticado por Donária dos Anjos, embora que de forma substancial, sem identificar seus personagens. Mas, ligando-o aos sofrimentos do povo nordestino, registrados durante aquela estiagem, que ficou conhecida como a ‘seca dos dois sete’. Outras versões existem. No entanto, não são dignas de registros.

4. A cruz da menina como marco religioso na cidade de Pombal

Em Pombal, a Cruz da Menina encontra-se localizada nas proximidades da antiga Estação do Trem e do Cemitério Nossa Senhora do Carmo, no Bairro da Estação, distando cerca de 750 metros da histórica Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Conta-se que “o crime ocorreu na localidade onde está erguido o Pedestal, próximo de um riacho que antigamente passava ali, (hoje servindo como galeria de captação de águas poluídas), se destacando em uma de suas margens, frondosa árvore de oiticica, na qual ficou ‘arranchada’ e depois foi presa à desditosa Donária dos Anjos” (14).

 A Cruz da Menina, em Pombal  (2007)
A Cruz da Menina, em Pombal (2012)

No local onde sepultaram a ‘criança mártir’, os moradores da antiga cidade de Pombal amontoaram pedras e colocaram uma cruz, num sentimento de fé cristã. Com o passar dos tempos, o local foi se tornando um ponto de convergência de fiéis. A tradição popular registra que várias foram as preces alcançadas e isto fez do local um marco de religiosidade.
Em 1948, a senhora Dalva Carneiro Arnaud - irmã do futuro senador Ruy Carneiro - ­fez uma promessa à Menina Mártir. Cinco dias, depois alcançou a graça desejada. Sensibilizada e agradecida, mandou demolir o amontoado de pedras e construir um pedestal em alvenaria com uma cruz de madeira no alto.
A referida construção, foi executada no exato local onde foram enterrados os restos mortais da menina Maria, anteriormente indicado pelas pedras que vinham sendo amontoadas por gerações, desde 1877.
Entretanto, a cruz de madeira, exposta ao desgaste do tempo, vêm sendo substituída ao longo dos anos. Atualmente,“está a Cruz da Menina em uma área de aproximadamente 150 m², circundada por uma calçada em paralelepípedos, um espaço livre, sem nenhuma proteção de acesso. No entorno do Pedestal existem pequenos canteiros de flores e árvores plantadas, em desenvolvimento. Em memória da Menina, ainda não existe uma placa que registre um pouco da sua história ou a data do trágico fato ocorrido (15).
O pedestal da ‘Cruz da Menina’, construído em 1948, ainda conserva suas características originais. Em sua base, os fiéis depositarem ramalhetes de flores e acendem velas, na esperança de suas pressas serem atendidas.
O acesso a ‘Cruz da Menina’ é bom, pois a mesma encontra-se dentro do perímetro urbano. No entanto, o local ainda não possui uma capela. Esta, se existisse, proporcionaria a celebração de atos litúrgicos, fato, que faria com que o local tornar-se um ponto turístico, não mais se limitando a um simples marco religioso.

5. A religiosidade em torno da ‘Cruz da Menina’, em Pombal-PB

Pouco tempo depois do martírio da pobre menina Maria, o local onde foi sepultado o que dela restou, tornou-se um marco da religiosidade do povo de Pombal. Em 1879, os efeitos da seca iniciada dois anos antes, ainda poderiam ser notados.
Registra a história local, que “fome, miséria, morte, o imobilismo das autoridades públicas que nada ofereciam para mitigar a situação, fez um grupo de devotos se voltarem para os poderes dos céus. Contam que esse grupo saiu da Igreja em procissão noturna, com velas acesas, rezando, cantando benditos e ladainhas pelos armados da cidade, depois tomaram os caminhos na direção da Cruz da Menina, em solicitude para a volta das chuvas de inverno. Lá chegando todos se ajoelharam, momento em que rezavam e pediam a intercessão da Menina Maria para minimizar os efeitos da trágica seca, que se alastrava por todo o sertão (16).
O episódio narrado acima, demonstra que o local onde hoje ergue-se a ‘Cruz da Menina’ tornou-se um marco religioso, ainda durante a grande seca de 1877-1879. E, a medida que as preces iam sendo alcançadas, o mesmo foi ganhando importância religiosa.
Quando se formou a primeira romaria em torno da‘Cruz da Menina’, “era uma noite escura do final de dezembro de 1879, surpreendentemente, em meio às preces iniciou-se uma forte chuva com relâmpagos e trovões, apagando todas as velas, o que não impediu dos devotos continuarem contritos em suas preces, naquele instante, já uns impressionados com o fenômeno, outros ligeiramente assustados, alguns emocionados, chorando, sem entender aquela bendita chuva repentina. As águas caindo do céu, em meio aos relâmpagos e trovoadas, traziam o vento noturno de longe, que passava forte entre galhos e folhas de uma frondosa oiticica ali próxima, balançando a grande árvore, como quem dando uma resposta às preces dos piedosos religiosos, ao mesmo tempo, parecendo anunciar o prenúncio de um bom inverno, o que realmente aconteceu a partir do mês seguinte, janeiro de 1880" (17).
Vendo a chuva cair de forma surpreendente, os fiéis passaram a dizer que estavam presenciando um milagre. E que a pobre menina mártir havia intercedido junto ao Criador, por todos os que ali rezavam, pedindo chuva para molhar a terra e trazer de volta a vida para o sertão. Nesse momento, “alguém interpretou as águas da chuva como sendo lágrimas do sacrifício da Menina Maria, os relâmpagos, a luz de um novo amanhecer, os trovões, o despertar de todas as esperanças, sem os sofrimentos vividos até então” (18).
A manifestação popular realizada ao pé da ‘Cruz da Menina’, em finais de 1879, assinala a primeira graça coletiva alcançada por aqueles que acreditam na criança, que de forma trágica, havia perdido a sua vida, e que pelas circunstâncias de sua morte, tornou-se um símbolo de renovação da fé. Em janeiro de 1880, as chuvas voltaram a cair na região, em grande quantidade, enchendo, em pouco tempo, o sertão de vida.
Assim, nasceu o fenômeno religioso em torno da ‘Cruz da Menina’, na cidade de Pombal, no sertão paraibano. Ao longo dos anos, outros fatos foram contados como milagres e atribuídos à menina martirizada em 1877. Vários depoimentos já foram registrados. Atualmente, a ‘Cruz da Menina Mártir ’é diariamente visitada por devotos, pessoas que vem de diferentes cidades da Paraíba e de estados vizinhos, em busca milagres.
Chegando ao local, os devotos colocam-se de joelhos ao pé da Cruz e rezam agradecendo pelas graças recebidas. Outros, nada pedem, apenas visitam o lugar por um sentimento de compaixão, fé e sentimento cristão. Quase 130 anos após o registro da primeira graça alcançada, a ‘Cruz da Menina’ continua erguida, como um símbolo representativo da fé de um povo, renovada a cada prece.
Na atualidade, a ‘Cruz da Menina Maria’ tem uma grande importância histórica e religiosa para o município de Pombal. Ela é um relicário que deve ser preservado, ampliado e modernizado, para consolidar-se como mais um ponto do turístico religioso, no sertão paraibano.
Lamentavelmente, a ‘Cruz da Menina’, de Pombal, ainda não conquistou a atenção dos investimentos públicos e privados, no que diz respeito a sua transformação em parque religioso, inserido-se no roteiro turístico do Estado. Esta é uma prece que ainda não foi alcançada pelos devotos e fiéis da‘Menina Mártir’.

NOTAS
1. Jornal diário, ‘O Publicador’ tinha como redator o talentoso padre Lindolfo Correia e circulou na capital paraibana, no período de 1862 a 1886 (MARTINS, Eduardo. Primeiro jornal paraibano (apontamentos históricos). João Pessoa: A União, 1976, pág. 29.
2. O Publicador’, Cidade da Parahyba, edição de 24 de abril de 1877.
3. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Op. cit., p. 416.
4. Baiano, diplomado pela Faculdade de Direito do Recife, na turma de 1860 (BEVILÁQUA, Clóvis. História da faculdade de direito do Recife. Brasília: INL/MEC/CFC, 1977.
5. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Op. cit., pág. 417.
6. Alicerçada no ano de 1848, a Cadeira de Pombal ficou famosa por concentrar presos perigosos, a exemplo dos cangaceiros ‘Rio Preto’, Chico Pereira e Lucas Brilhante, irmão do célebre Jesuíno Brilhante. Hoje, a velha cadeia, é sede da ‘Casa da Cultura’, “completamente esquecida, deteriorada, inexistente para sua finalidade a que foi criada” (ARAÚJO NETO, José Tavares de; ABRANTES, Verneck. A cadeia velha de Pombal (Manifesto em defesa do patrimônio histórico). Pombal: Andyara, 2004. pág. 7.
7. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Op. cit., pág. 417.
8. ABRANTES, Verneck. A cruz da menina de Pombal. Coleção Nossa história, nossa gente, vol. 2Pombal: Martins, 2006, pág. 5.
9. ALMEIDA, José Américo de. A Paraíba e seus problemas. 3 ed. João Pessoa: SEC/DCG/A União, 1980, p. 127.
10. BATISTA, Francisco das Chagas. Cantadores e poetas populares. 2 ed. João Pessoa: SEC/CEC/A União, 1997, pág. 15.
11. ALMEIDA, Horácio de. Brejo de Areia (Memórias de um município). Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura/Serviço de Documentação, 1957, pág. 87.
12. SANTOS, José Ozildo dos. Patos: Uma cidade centenária. In: A Voz do Povo, Patos-PB, edição especial, outubro de 2003, pág. 8-9.
13. TEÓFILO, Rodolfo. Os Brilhantes. 2 ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Melhoramentos/INL/MEC, 1972.
14. ABRANTES, Verneck. A cruz da menina de Pombal. Coleção Nossa história, nossa gente, vol. 2. Pombal: Martins, 2006, p. 8.
15. Idem, idem.
16. ABRANTES, Verneck. Op. cit., pág. 5.
17. ABRANTES, Verneck. Op. cit., pág. 6.
18. Idem, idem.2. Jornal diário, ‘O Publicador’ tinha como redator o talentoso padre Lindolfo Correia e circulou na capital paraibana, no período de 1862 a 1886 (MARTINS, Eduardo.Primeiro jornal paraibano (apontamentos históricos). João Pessoa: A União, 1976, pág. 29.
2. O Publicador’, Cidade da Parahyba, edição de 24 de abril de 1877.
3. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Op. cit., p. 416.
4. Baiano, diplomado pela Faculdade de Direito do Recife, na turma de 1860 (BEVILÁQUA, Clóvis. História da faculdade de direito do Recife. Brasília: INL/MEC/CFC, 1977.
5. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Op. cit., pág. 417.
6. Alicerçada no ano de 1848, a Cadeira de Pombal ficou famosa por concentrar presos perigosos, a exemplo dos cangaceiros ‘Rio Preto’, Chico Pereira e Lucas Brilhante, irmão do célebre Jesuíno Brilhante. Hoje, a velha cadeia, é sede da ‘Casa da Cultura’, “completamente esquecida, deteriorada, inexistente para sua finalidade a que foi criada” (ARAÚJO NETO, José Tavares de; ABRANTES, Verneck. A cadeia velha de Pombal (Manifesto em defesa do patrimônio histórico). Pombal: Andyara, 2004. pág. 7.
7. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Op. cit., pág. 417.
8. ABRANTES, Verneck. A cruz da menina de Pombal. Coleção Nossa história, nossa gente, vol. 2Pombal: Martins, 2006, pág. 5.
9. ALMEIDA, José Américo de. A Paraíba e seus problemas. 3 ed. João Pessoa: SEC/DCG/A União, 1980, p. 127.
10. BATISTA, Francisco das Chagas. Cantadores e poetas populares. 2 ed. João Pessoa: SEC/CEC/A União, 1997, pág. 15.
11. ALMEIDA, Horácio de. Brejo de Areia (Memórias de um município). Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura/Serviço de Documentação, 1957, pág. 87.
12. SANTOS, José Ozildo dos. Patos: Uma cidade centenária. In: A Voz do Povo, Patos-PB, edição especial, outubro de 2003, pág.
13. TEÓFILO, Rodolfo. Os Brilhantes. 2 ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Melhoramentos/INL/MEC, 1972.
14. ABRANTES, Verneck. A cruz da menina de Pombal. Coleção Nossa história, nossa gente, vol. 2. Pombal: Martins, 2006, p. 8.
15. Idem, idem.
16. ABRANTES, Verneck. Op. cit., pág. 5.
17. ABRANTES, Verneck. Op. cit., pág. 6.
18. Idem, idem.


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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LAMPIÃO UMA HISTÓRIA INGLÓRIA

Por Josafá Maia da Costa

Lampião uma história inglória
Amigos tomem assento
Nessa roda de cordel
Que vou cantar um lamento
Um pouco de mel e fel.

Vou falar de um brasileiro
Em Vila Bela nascido
Que tornou-se cangaceiro
Arrojado e destemido.

Foi há cerca de cem anos
Na Fazenda Ingazeira
Isso salvo algum engano
Me avisem se é besteira.

Veio ao mundo um menino
De José e de Maria
Foi chamado Virgolino
Oito irmãos ele teria.

Era um menino comum
Tinha uma boa família
E assim como qualquer um
Foi seguindo a sua trilha.

Cedo parou de estudar.
Pra ajudar no sustento
Foi para o pasto aboiar,
Pra garantir o alimento.

Foram Antonio e Levino
Dois de seus oito manos
Que mudaram o destino
E criaram novos planos.

Envolveram-se em brigas
Por marcações de terrenos
E muitas outras intrigas
Outros conflitos pequenos.

Graças à antiga guerra
Que a todos envolvia
Pelas preciosas terras
Uma grande rixa havia.

Lampião foi envolvido
Por essa luta de classe
E enfim virou um bandido
Nesse terrível impasse.

Um seu José Saturnino
Com eles vivia às turras
E o pai de Virgolino
Morreu nessa guerra burra.

O delegado Batista,
Junto com um imediato
De forma meio alarmista
Foi lá desvendar um fato.

Mas sendo bem trapalhão
Matou o José Ferreira
Em desastrada ação
Fazendo grande besteira.

Pra resolver o dilema
O infeliz delegado
Criou um maior problema
Matando um pobre coitado.

Virgolino transtornado,
Resolveu buscar vingança
A ação do delegado
Acabou-se em matança.

Uma tropa existia
Sinhô era o comandante
E Virgolino iria
Entrar nela nesse instante.

Sinhô passa o comando
Para o amigo Lampião
Que vai liderar o bando
Com uma implacável mão.

Ele jamais se cansa
De procurar o conforto
E de buscar a vingança
Pelo seu pobre pai morto.

Mas também há ambição
E há sede de poder
Que guiam a sua mão
Transformando o seu ser.

Virou um temido bandido
Lá pras bandas do Nordeste
Vivia sempre escondido
Num sofrimento inconteste.

Em Juazeiro do Norte
Chamado por Padim Ciço
Pensou que mudaria a sorte
Com valoroso serviço.

Levou uma reprimenda
Pelo seu mau proceder
E teve por encomenda
No interior combater.

A Coluna Prestes era
Causa de muitos transtornos
Uma medonha quimera
No Nordeste e entorno.

Esse forte movimento
Político-militar
Era um grande tormento
Um mal a se extirpar.

Em troca receberia
Pela colaboração
Uma total anistia
E patente de Capitão.

E lá se foi Lampião
Embrenhar-se pelo mato
No cargo de Capitão
A fim de cumprir o trato.

Mas na verdade era falso,
Uma mentira fajuta.
A polícia foi no encalço
O que rendeu muita luta.

Paraíba, Ceará,
E também em Pernambuco
Unidos para caçar
Era coisa de maluco.

Para evitar o fracasso
Enquanto estava no prumo
O nosso Rei do Cangaço
Partiu para outro rumo.

Bandeou-se pra Bahia,
Sergipe e Alagoas.
Lá teve melhores dias
Aquela área era boa.

Por lá um dia ele vem
Conhecer Maria Bonita
Maria Déia Nenén
Numa paixão infinita.

Filha de um sapateiro
A morena enfeitiçou
O temido cangaceiro
E com ele se casou.

Mais tarde, Maria Bonita,
Com Lampião por parteiro
Deu à luz Expedita
Embaixo de um imbuzeiro.

Ma a vida era dura
E o destino sombrio.
No meio da mata escura
Era bomba sem pavio.

A criança foi deixada
Com um fiel guardião
E seguiu sua jornada
O bando de Lampião.

O Benjamin Abraão,
Com carta de Padim Ciço
Teve a autorização
Assumiu o compromisso

De filmar o acampamento
Para um documentário.
Mostrando alguns momentos
Numa vida de calvário.

E ele filmou a vida
Daquela sociedade.
Suas roupas, a comida
E toda a fraternidade.

Lampião em sua roda
Desenhava o figurino.
Ele ditava a moda
Criando modelos finos.

Os chapéus, as cartucheiras
Ornados de ouro e prata
Pra vida sem eira nem beira
Para andar pela mata.

Pra que andar bem vestido?
Parece até contra-senso.
Porém isso faz sentido
Quando a respeito eu penso.

Eles tinham sua arte
E regras de convivência
Em um mundinho à parte
Com sua própria ciência.

Lampião era uma lenda
Até uma madrugada
Quando estava na fazenda
De nome Angicos chamada.

Chegou, então, a volante
Eu um proceder perfeito.
Devagar e num instante
O estrago estava feito.

Tenente João Bezerra
E o sargento Aniceto
Naquele momento encerra
A busca do desafeto.

Cuspiam fogo as metralhas
Criando imenso horror.
Não se conhece o canalha
Que foi o seu traidor.

Uns poucos tiveram sorte
E escaparam com vida.
No meio de dor e mortes
Encontraram uma saída.

Lampião foi dos primeiros
A receber um balaço.
Era o fim do cangaceiro
E era o fim do cangaço.

Lampião é degolado
Num proceder bem covarde.
O corpo é esquartejado
Pra ser exemplo mais tarde.

Maria Bonita, ferida,
Também foi sacrificada.
Ela perdeu a vida
Naquela infame cilada.

Naquele inferno de Dante,
Numa sanha assassina
Os malditos da volante
O cangaço extermina.

As cabeças arrancadas
Do bando de Lampião
Correram o mundo mostradas
Numa vil exposição,

Agora, meu bom amigo,
Eu peço sua atenção
E que reflita comigo
Em delicada questão.

Lampião não era santo,
Ao menos pelo que sei
Mas convenha, no entanto,
Que pra isso existe a lei.

O proceder da volante
Foi coisa de carniceiro.
Atitude revoltante
Pior que a dos cangaceiros.

de Josafá Maia da Costa
Rio de Janeiro - RJ - por correio eletrônico

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