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sábado, 18 de janeiro de 2014

Mossoró e a resistência ao cangaço - Final




De Mossoró pretendiam cobrar 500 contos de réis para poupar a cidade, mas sendo advertido que se tratava de quantia muito alta, resolveram reduzir o pedido para 400 contos de réis. A carta do coronel Gurgel dizia: "Meu caro Rodolfo Fernandes. Desde ontem estou aprisionado do grupo de Lampião, o qual está aquartelado aqui bem perto da cidade. Manda, porém, um acordo para não atacar mediante a soma de 400 contos de réis. Penso que para evitar o pânico, o sacrifício compensa, tanto que ele promete não voltar mais a Mossoró..." Ao receber a carta, o Cel. Rodolfo Fernandes convoca uma reunião para a qual convida todas as pessoas de destaque da cidade, onde informa o conteúdo da mesma e alerta para a necessidade da preparação de defesa contra um possível ataque dos cangaceiros. Os convidados, no entanto, acham inviável que possa acontecer um ataque de cangaceiros a uma cidade do porte de Mossoró. E de nada adiantaram os argumentos do prefeito. Mesmo decepcionado com a atitude dos cidadãos da cidade, o prefeito responde a carta nos seguintes termos: Mossoró, 13 de junho de 1927. - Antônio Gurgel. “Não é possível satisfazer-lhe a remessa dos 400.000 contos, pois não tenho, e mesmo no comércio é impossível encontrar tal quantia. Ignora-se onde está refugiado o gerente do Banco, Sr. Jaime Guedes. Estamos dispostos a recebê-los na altura em que eles desejarem. Nossa situação oferece absoluta confiança e inteira segurança. Rodolfo Fernandes". Quando o portador chega a casa do prefeito para pegar a resposta, esse, de modo cortês, diz que a proposta do bandido é inaceitável e se diz disposto a enfrenta-lo. Levou o portador ao aposento onde havia vários caixões com latas de querosene e gasolina. Junto a esses caixões, existia um aberto e cheio de balas. O prefeito na tentativa de impressioná-lo, diz que todos aqueles caixões estão cheios de munição e que já existe um grande número de homens armados na cidade, aguardando a entrada dos cangaceiros. Lampião não esperava tal resposta e ao tomar conhecimento que a cidade está pronta para brigar, resolve mandar um bilhete escrito de próprio punho, numa péssima caligrafia, julgando que assim conseguiria o intento.


" Cel Rodolfo Estando Eu até aqui pretendo drº. Já foi um aviso, ahi pº o Sinhoris, si por acauso rezolver, mi, a mandar será a importança que aqui nos pede, Eu envito di Entrada ahi porem não vindo essa importança eu entrarei, ate ahi penço que adeus querer, eu entro; e vai aver muito estrago por isto si vir o drº. Eu não entro, ahi mas nos resposte logo. Capm Lampião." 

Mais uma vez, o prefeito responde com negativa. Diz em sua resposta para Lampião: "Virgulino, lampião. A resposta: Recebi o seu bilhete e respondo-lhe dizendo que não tenho a importânci que pede e nem também o comércio. O Banco está fechado, tendo os funcionár se retirado daqui. Estamos dispostos a acarretar com tudo o que o Sr. queira fazer contra nós. A cidade acha-se, firmemente, inabalável na sua defesa, confiando na mesma. Rodolfo Fernandes Prefeito, 13.06.1927". Nessa altura dos acontecimentos, os mossoroenses já convencidos do intento dos cangaceiros, tratavam de preparar a defesa da cidade. O tenente Laurentino era o encarregado dos preparativos. E como tal, distribuía os voluntários pelos pontos estratégicos da cidade. Haviam homens instalados nas torres das igrejas matriz, Coração de Jesus e São Vicente, no mercado, nos correios e telégrafos, companhia de luz, Grande Hotel, estação ferroviária, ginásio Diocesano, na casa do prefeito e demais pontos. O plano de lampião era chegar a uma localidade conhecida como Saco, que ficava a uma distância de dois quilômetros de Mossoró, onde abandonariam as montarias e prosseguiriam a pé até a cidade. O cangaceiro Sabino comandava duas colunas de vanguarda. Uma das colunas era chefiada por Jararaca e outra por Massilon. Lampião ia ao comando da coluna da retaguarda. Enquanto cangaceiros e voluntários se preparam para o combate, o restante da população, que não participariam do mesmo, tentava deixar a cidade. Eram velhos, mulheres e crianças, pessoas doentes, que não tinham nenhuma condição de enfrentar, de armas em punho, a ira dos Cangaceiros. A cena era dantesca desde o dia 12 de junho. Nas ruas, o povo tentava deixar a cidade de qualquer maneira. Mulheres chorando, carregando crianças de colo ou puxadas pelos braços, levando trouxas de roupas, comida e água para a viagem, vagando na multidão sem rumo. Era uma massa humana surpreendente que se deslocava pelas ruas da cidade na busca de transporte, qualquer que fosse o meio, para fugir antes da investida dos Cangaceiros. Famílias inteiras reunidas, em desespero, lotavam os raros caminhões ou automóveis que saíam disparados a caminho do litoral. Muitos, sem condição de transporte, tratavam de conseguir esconderijo dentro ou fora da cidade. A ordem dada pelo prefeito era que quem estivesse desarmado saísse da cidade. O desespero aumentava mais a medida que o dia avançava. Às onze horas da noite, os sinos das igrejas de Santa Luzia, são Vicente e do Coração de Jesus começaram a martelar tetricamente, o que só servia para aumentar a correria. As sirenes das fábricas apitavam repetidamente a cada instante. Muita gente que não acreditava na vinda de Lampião, só ai passou a tomar providências para a partida. Na praça da estação da estrada de ferro, era grande a concentração de gente na busca de lugar para viajar nos trens que partiam de Mossoró. Até os carros de cargas foram atrelados a composição para que a multidão pudesse partir. Mesmo assim não dava vencimento, e os retardatários, em lágrimas, imploravam um lugar para viajar. O Prefeito, o Cel. Rodolfo Fernandes de Oliveira, se desdobrava na organização da defesa, ao mesmo tempo em que ordenava a evacuação da cidade, medida essa que poderia salvar muitas vidas. Enquanto isso, a locomotiva a vapor, quase milagrosamente partia, resfolegando com o peso adicional, parecendo que ia explodir tamanho o esforço feito pela máquina que emitia fortes rangidos e deixava um rastro de fumaça negra no horizonte. Era uma viagem relativamente curta, entre Mossoró e Porto Franco, nas proximidades da praia de Areia Branca. Na cidade, o badalar dos sinos continuava e o desespero também, pois apesar da pequena distância que o trem deveria percorrer, a locomotiva demorava mais do que o normal para chegar, com o maquinista parando com frequência para se abastecer de água e lenha pelo caminho. Saía de Mossoró com todos os carros lotados e voltava vazio. Era um verdadeiro êxodo. Na noite do dia 12 de junho, não houve descanso para ninguém em Mossoró. Os encarregados pela defesa da cidade se revezavam na vigília, enquanto o restante da população esperava a vez de partir. E o movimento na estação ferroviária não parava. O embarque de pessoal virou toda a noite e só terminou na tarde do dia 13 de junho, dia de Santo Antônio, quando foram ouvidos os primeiros tiros, dando início ao terrível combate. Mas a meta havia sido alcançada; a cidade estava deserta. Ao entrarem na cidade, o bando sente medo, devido ao abandono do local. Sabino encaminha-se com suas colunas para a casa do prefeito. Não perdoa o atrevimento daquele homem que resolveu enfrentar o bando de cangaceiro mais temido do nordeste brasileiro. Sabino posiciona-se sozinho em frente a casa de Rodolfo Fernandes. Os defensores da cidade ficam indecisos, sem saber se ele é um soldado ou um cangaceiro, já que não havia muito diferença entre a maneira de se vestir de um e de outro. Foi preciso a ordem do prefeito para que começassem a atirar. Nesse momento o tempo fechou. Uma forte chuva começa a cair, comprometendo o desempenho dos cangaceiros e tornando mais tétrico o ambiente. Lampião segue em direção ao cemitério da cidade enquanto que Massilon procura os fundos da casa do prefeito. O cangaceiro "Colchete" tenta revidar os tiros lançando uma garrafa com gasolina contra os fardos de algodão que servem de trincheiras para os defensores, na tentativa de incendiá-los. Nesse momento é atingido por um tiro, caindo morto. Jararaca se aproxima do corpo, com o intuito de dar prosseguimento ao plano do comparsa morto e é também atingido nas costas, tendo os pulmões perfurados. No mesmo instante, os soldados entrincheirados na boca do esgoto começam a atirar, encurralando os cangaceiros. Os defensores dominam a situação e não resta outra solução aos facínoras se não abandonar a cidade. A ordem de retirada é dada por Sabino que puxando da pistola dá quatro tiros para o alto. É o fim do ataque.

Não foi um combate longo; iniciou-se as quatro horas da tarde, aproximadamente, sendo os últimos disparos dados por volta das cinco e meia da mesma tarde. Lampião havia fugido, deixando estirado no chão o Cangaceiro Colchete e dando por desaparecido o Jararaca, que depois seria preso e "justiçado" em Mossoró. Mas com medo da revanche dos bandidos, os defensores permaneceram de plantão toda a noite, só descansando no outro dia, quando tiveram certeza que já não havia mais perigo.

Quando lembramos esses fatos, ficamos pensando que tragédia poderia ter acontecido se a cidade não houvesse sido esvaziada a tempo. Quantas mortes poderiam ter havido se a população tivesse permanecido na mesma. Só Deus pode saber. Depois do acontecido, a população começa a voltar para casa. É outra batalha para se conseguir transporte, juntar os parentes, desentocar os objetos de valores que tinham ficado escondidos e tantas providências mais, que só quem viveu o drama poderia contar. 13 de junho, dia de Santo Antônio. Um dia que ficou marcado para sempre na história de Mossoró.

Fonte: Site da Prefeitura de Mossoró.
PORTAL TERRAS POTIGUARES

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O cangaço


Para quem ainda não conhece uma foto chocante do corpo de Maria Bonita, decapitado e em estado de decomposição, batida provavelmente dia 3 de agosto de 1938, quando de uma caravana da lei, que se transportou de Aracaju até Angico, constituída de delegados, médico legista, escrivão e policiais. 

Segundo João de Sousa Lima, o Pedro é o da esquerda 

Sentado numa pedra, de roupa escura e de chapéu, Pedro Rodrigues Rosa, mais conhecido como Pedro de Cândido, o último coiteiro de Lampião. 

O coiteiro Joca Bernades 

Denunciado por Joca Bernardes, outro coiteiro, e torturado pela polícia, não lhe restou outro saída a não ser levar a volante de João Bezerra ao esconderijo do rei do cangaço. Existe outra foto de Pedro de Cândido, batida nessa mesma ocasião, que vi nos anos 80, no livro do americano Billy Jaynes Chandler, Lampião O Rei dos Cangaceiros. Esta foto foi publicada na Noite Ilustrada, suplemento do jornal carioca A Noite, edição de 9 de agosto de 1938. 

Fonte: facebook - página do Raimundo Gomes
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Lampião e outras histórias - O cangaceiro Meia Noite

Por Doizinho Quental
O espinho quando tem de furar, de novo trás a ponta. 

Aos doze anos de idade matou pela primeira vez. Voltava da roça com um balaio de legumes, quando cruzou no caminho com um rapaz das redondezas, que o acusou de ter roubado o que levava. O negrinho reagiu cobrindo-o de impropérios. Na briga de um adulto com um menino franzino, Antônio apanhou muito. "Em um homem não se dá, se mata, diz o ditado no sertão". Menino de corpo, homem nas ações, correu a casa, pegou a velha espingarda lazarina carregada com tiro de matar ladrão e partiu sedento de vingança. O rapaz ia a cavalo e já era noite quando Antônio conseguiu alcança-lo. Chegara à fazenda de seus pais, amarrara o cavalo no alpendre, tirara os arreios e conversava na sala do santo. O pequeno futuro bandido localizou-o pela voz e ficou esperando que ele saísse para levar o animal ao cercado. Estava escuro e teria que alvejá-lo em cheio quando seu corpo contrastasse com a luz do candeeiro que vinha de dentro. Pensado e feito, foi tiro e queda.

Chovia muito e ele se percebeu que não poderia voltar para casa. Passou a noite num aviamento da fazenda Olho D'água, de propriedade do Cel. José Rodrigues. De madrugada foi surpreendido ainda dormindo e armado. Tentou desconversar, mas não teve jeito, a solução foi confessar a verdade.

Levado à presença do coronel, foi logo sentenciado.

- Compadre, dê uma pisa nesse negro de tirar o couro!

- Por amor de Deus, Coronel, me mate, mais não mande dar em mim! Duas pisas é muita humilhação!

O coronel continuou: 

- Pois negrinho você vai morrer! Comece logo a cavar a cova!

José Rodrigues ficou observando o menino cavando sua própria sepultura, não chorava, não pedia, parecia calmo e resignado.

Terminada a tarefa, o coronel disse:

- Agora moleque, se prepare para morrer!

O pequeno Bagaço respondeu: 

- Estou pronto coronel, agora mande dizer lá em casa que eu morri como homem, e não como um cabra de peia!

Na verdade, o fazendeiro apenas testava a coragem do garoto.

Concluiu: 

- Negro da peste, dessa vez vou te soltar, mas suma no oco do mundo, porque se eu te pegar, tu não escapas!"

Obs: O negro Meia Noite tinha uma amante chamada Zulmira, nome com que ele também designou o seu mosquetão.

Meia Noite talvez fosse um mestiço dos índios de Santana de Ipanema, em Alagoas, onde nasceu. Ele era bem escuro, de cabelos lisos e abundantes. 

Segundo alguns autores, Meia Noite costumava cantar:

“Si quizé sabê meu nome,
Faça favor perguntá,
Eu me chamo Meia-Noite,
Canáro de bom lugar,
Eu sô um carnêro fino,
Do colo de minha Yayá!
É Lampe, é Lampe, é Lampe,
O Virgulino é Lampião,
É o dedo amolegando,
E bolando pulo chão!

www.kantabrasil.com.br/Lampiao.../Lampião%20e%20outras%20Históri...‎ 

A pesquisadora Lê Alves em sua página do facebook diz:

Lê Alves 
 
O Cangaceiro Meia-Noite se chamava Antonio Augusto Feitosa, teria em 1924 a idade de 22 anos, sendo originário da região de Olho D’Água do Casado, próximo a Paulo Afonso, Alagoas e possuía a fama de ser extremamente valente.


O valente Meia-noite chegou a tirar Lampião a terreiro apontando seu fuzil diretamente para o mesmo, vendo a valentia Lampião passou a ter um enorme respeito pelo o mesmo. 

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