- MEMBRO DA
ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DE CORDEL.
Poeta LUCAS
EVANGELISTA partiu para a eternidade!...
Ontem foi um
dia de profunda tristeza, pra mim, para Crateús e para tanta gente que o
conheceu, seja pessoalmente ou através de sua vasta e bela obra literária da
cultura popular.
Foram 87 anos,
8 meses e 19 dias de POESIA pura. (06/05/1937 - 25/01/2025). Porque os POETAS
nascem POETAS. Não se fazem pelo caminho!... Porém seu grande legado irá
reverberar mundo afora por todo o sempre, porquê se fez imortal, com toda
propriedade.
Até tentei
escrever um texto sobre este imenso patrimônio cultural de nosso tempo. Não
consegui. Tudo o que me ocorreu foi FICAR TRISTE... muito triste!...
Tive a honra,
o prazer e sobretudo o privilégio de fazer-me seu amigo da mais inocente
intimidade. Nossos encontros eram regados a amenidades recheadas da mais pura
descontração, como brincam as crianças...
Alma de poeta
é assim. Cheia de sabedoria e leveza.
Se o velho
poeta foi uma ESTRELA na Terra, hoje fez-se mais uma ESTRELA no Céu, a destilar
poesia em todas as dimensões e plenitude.
Que Deus o
receba coberto de glórias no esplendor de luz do Reino Celestial!
Descanse em
paz, grande poeta!!!
Eis um
registro da última vez que estive em sua casa, em 2024.
Correm notícias na cidade de Pombal, sertão da Paraíba, que a ambicionada botija de João Capuxu foi finalmente arrancada. João Capuxu, meu tetravô materno, era um comerciante estabelecido na Rua do Giro, que, na voz do povo, era conhecida como Rua Estreita. Mais tarde, foi batizada, por Lei Municipal, de Rua João Capuxu, em homenagem ao seu mais próspero morador, muito embora na Rua do Giro, na mesma época, o meu tetravô paterno, José Tavares, também ter um armazém de secos e molhados. Os dois eram concorrentes.
Registro do comerciante do município de Pombal, no Sertão paraibano, João Capuxu, ao lado da sua esposa.
João José de Oliveira Capuxu era casado com Izabel Maria de Jesus e tinha vários filhos e filhas, entre eles, Cesário, Celina, Francisca e Joaquina de Jesus Capuxu; esta, a minha bisavó. O casal viveu até o início da década de 1900 e encontrasse sepultado em um túmulo muito bem cuidado por Eudócia, neta de João e filha de João Capuxu, e por minha mãe, últimas descendentes do casal. O túmulo dos Capuxu está localizado à esquerda de quem entra no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, em Pombal.
Naqueles tempos, o Sertão estava tomado por aventureiros, saqueadores e grupos de homens armados, conhecidos como cangaceiros. Não existia a segurança dos bancos. As riquezas acumuladas pelo trabalho eram armazenadas em cofres muito bem escondidos. Os mais precavidos tratavam de enterrar suas fortunas em locais secretos, mas sempre nas imediações da residência, de forma que ficassem longe da ganância dos bandoleiros, porém, próximos da sua visão.
O cangaceiro Antônio Silvino, muito atuante no sertão nordestino no início do século XX.
Acredita-se que foi isso que aconteceu com João Capuxu, que enterrou em algum lugar no seu casarão, onde um dia funcionou a movelaria de Seu Zuca, uma bela botija repleta de moedas de ouro e prata, muitas joias e, dizem, até libras esterlinas.
Mas quem arrancou a botija?
Seu Meira, um pescador vizinho meu – e grande contador de lorotas; adianto que ele tinha a fama de ser bastante mentiroso – me contou a seguinte história: – Vanvan – meu apelido – certa vez, eu sonhei com um homem alto e muito bem-vestido, inclusive, usando um relógio de ouro, cuja corrente saía do bolso do paletó e caía elegantemente. Ele me disse que morava onde hoje é a movelaria de Zuca, e que lá enterrou um pote com muitas riquezas. Contou-me direitinho o local onde o enterrou e mandou que eu fosse arrancá-lo.
Acontece que, eu confesso, sou muito medroso. Você não vai acreditar no que eu já vi quando pescava ali no Araçá e na Panela. Então, eu contei o sonho a Filemon (meu tio e casado com a irmã de Meira), que também não era muito corajoso, e chamou Chico de Ernesto, que, esse sim, era metido a valente, para fazer o serviço, e ele aceitou na hora.
Em certa tarde, fomos, nós três, até a movelaria de Zuca, como quem não quer nada, para eu apontar o local onde Chico de Ernesto deveria escavacar. Naquela mesma noite fomos arrancar a botija. Filemon e eu ficamos do lado de fora e Chico entrou pelo portão de trás. Não se passaram quinze minutos quando ele começou a gritar e rezar uns Pais-Nossos e algumas Ave-marias e a chamar meu nome feito um desesperado. Eu não contei conversa: saí em disparada. Quando olhei para trás, vi Filemon e Chico de Ernesto, também nas carreiras.
Só no dia seguinte eu soube o que houve: Chico contou que na primeira picaretada jogaram nele um pacote de farinha de trigo, que o deixou branco. Ele pensou que fosse brincadeira nossa, limpou o rosto e voltou a cavar. Quando levantou os olhos, viu dezenas de pacotes de farinha caindo em sua cabeça e logo as máquinas da serraria começaram a funcionar sozinhas, foi aí que ele se ajoelhou e começou a rezar. Como não parava de cair farinha na sua cabeça, ele saiu em disparada. Chegando à coluna do relógio, ele parou e esperou Filemon, que vinha mais atrás. Nesse momento, ele passou a mão no rosto e viu que estava apenas suado da carreira e não tinha nada de farinha de trigo na sua cara. Também disse que nunca mais voltaria lá.
Passados alguns dias, nós contamos a história a Mané Dourado e João Fagundes, que eram metidos a corajosos. Fagundes dizia que a coisa mais comum era ver alma andando dentro da cadeia velha, onde era carcereiro. “Só me aparece almas de preso liso, que não tem nada pra oferecer”, dizia. Já Mané Dourado falava que se encontrasse uma alma, sairia nos tapas com ela.
Notícia de 1874, com o ataque do cangaceiro Jesuíno Brilhante e seu bando na cidade de Pombal para libertar presos da cadeia local. Essa nota mostra o nível de periculosidade na região de Pombal na época e a necessidade dos comerciantes de utilizarem botijas para salvaguardar seus valores.
Fizemos da mesma forma: fomos até a movelaria com Mané Dourado para mostrar o local a ser cavado. Só que na noite marcada, Filemon e eu ficamos na coluna da hora e os dois seguiram para fazer o serviço. Passada meia hora, lá vêm os dois se maldizendo da vida e falando que nunca mais pisavam na Rua Estreita.
Eles começaram a cavar a botija, quando um pacote de farinha de trigo veio do nada e caiu no meio dos dois. João Fagundes mandou que a “alma safada fosse se lascar para lá” e continuou a cavar, enquanto Manoel Dourado segurava a lamparina. De repente, uma das máquinas da movelaria ligou sozinha, mas eles continuaram a cavar.
Mané Dourado, sentindo um chute nas costas, pegou um pedaço de pau e disse: “Se você vier, vai apanhar tanto que vai voltar para o inferno de onde nunca devia ter saído”. Foi aí que eles notaram que haviam tocado em alguma coisa. Abriram e viram que era um pote de barro cheio de carvão. Você sabia que antes de chegar à botija tem um sinal? O dono da botija coloca esse sinal para saber que enterrou naquele lugar, ou para enganar os escavadores que, encontrando o sinal, desistem, achando que o ouro virou carvão, pedra, roupas velhas, cal, ou seja, lá o que ele colocou, e vão embora decepcionados.
A Cadeia dePombal nos dias atuais.
Mas não se engane: o ouro está mais embaixo. João Fagundes sabia dessa artimanha e continuou a cavar. Foi aí que apareceu um bando de cachorros, cada um mais feio que o outro. Tinha um com duas cabeças, foi o que ele disse. Os cães partiram para cima dos dois, com dentes afiados e espumando como doidos. Mané Dourado gritou “Chico, farinha de trigo e chute na bunda dá para aguentar, mas, cachorros doidos, não!” O desespero dos dois foi grande. No meio da correria, Mané Dourado olhou para trás e viu que, até a esquina do Bar Junqueira, ainda tinha cachorro nos seus calcanhares.
No dia seguinte, quando a movelaria abriu, estava lá o buraco: alguém terminou o serviço e levou a botija. O pior é que Chico de Ernesto espalhou o boato de que Filemon e eu tínhamos arrancado e queria a parte dele. Que parte, ora? Foi preciso eu levá-lo na casa de Mané Dourado para que ele contasse o ocorrido na noite anterior.
Mas se alguém foi lá naquela mesma noite e arrancou, vocês souberam quem foi? perguntei. Dizem que foi Frederico Roque. Ele viu o rebuliço nas duas noites anteriores e desconfiou. Ele morava em uma casa que tinha vista para o portão dos fundos da movelaria. Foi lá e cavou o resto que faltava e levou a botija para casa. Mas isso pode ser só boato. Não tem como dizer com certeza. Certo é que no outro dia ele foi embora da cidade.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída em 1721, e o Cruzeiro do Adro.
Você sabe, né? Quem arranca uma botija tem que sair da cidade, do contrário, o ouro desaparece no vento feito pó. Não posso afirmar que foi ele, mas que foi estranho, isso foi. Assim, seu Meira concluiu uma das suas histórias de arrancador frustrado de botija.
Dias depois, eu me encontrei com meu tio, Filemon, e ele confirmou a história e ainda me contou de outra botija, que ele tentou arrancar no pé de uma enorme canafístula que dividia as terras de Ana Benigno, minha bisavó, e as terras de Seu Olinto, na outra banda. Ele contou que foi arrancar durante a luz do dia e, por isso, não teve êxito.
Mesmo com essa história de ouro e botija, o que eu queria, agora, era apenas um banho no rio, o som de violão, a sombra da oiticica e as mãos cheias de cajás.
Sem lugar
certo para aglomeração de autoridades em momentos cívicos, em Santana do
Ipanema, em 1959 o Prefeito Cultura Hélio Cabral construiu no
primeiro andar da Sorveteria Pinguim o palanque oficial do município. A
Sorveteria Pinguim fora construída do outro lado da rua Defronte a
Igrejinha/monumento de Nossa Senhora da Assunção. O proprietário daquele ponto
comercial, o senhor Firmino Falcão Filho, Vindo de Viçosa e, senhor de terras
em Santana do Ipanema, passou a ser conhecido como “Seu Nozinho (ô) e chegou a
ser prefeito nomeado do município. Sem dúvida nenhuma, a Sorveteria Pinguim,
passou a ser um ponto de referência importantíssimo em Santana, enquanto seu
proprietário virou um carnavalesco inusitado.
Ali no
primeiro andar da Sorveteria Pinguim, a partir da sua inauguração, políticos e
mais políticos fizeram os mais diferentes tipos de discursos durantes décadas.
Mas em nossa opinião, os melhores e de efeitos práticos para a nossa população,
foram os discursos de comemorações tantos da chegada da energia de Paulo
Afonso, quanto o da água encanada de Belo Monte. Um acabava com a
escuridão em Santana que durou quatro anos, o outro exaltava a chegada da água
do São Francisco, através de canos, vinda de Belo Monte (atualmente, de Pão de
Açúcar). As duas gigantescas vitórias do povo santanense aconteceram na década
de 60 com os mesmos altos e baixos de como se conhecem hoje, ambos os serviços
Sobre a
chegada da água do São Francisco, maior vitória de lutas da cidade, tinha antes
o abastecimento do líquido, retirado das cacimbas do leito seco do rio Ipanema.
A maioria da população era abastecida através de jumento com ancoretas de
madeira. Havia mais de cem jumentos na cidade prestando esse tipo de serviço,
com seus tangedores chamados botadores s d’água. Daí o surgimento da
estátua do jegue, polêmica no início, sucesso e cartão postal depois. Quanto ao
senhor Nozinho (ô), foi prefeito por pouco tempo, sendo nomeado pelo governador
Silvestre Péricles – que também era governador nomeado – e construiu a ponte
sobre a foz do perigoso riacho Camoxinga, ainda hoje servindo a população
urbana. Quem pediu a sua nomeação ao governador, foi o, então, Coronel Lucena
que foi prefeito eleito, após Seu Nozinho, deputado e prefeito de Maceió.
Na imagem vemos um corte de uma fotografia conhecida de Benjamin Abrahão, do bando de Zé Sereno, onde temos em destaque os irmãos cangaceiros Jonas Celestino dos Santos, vulgo Quina-Quina ll e José Celestino dos Santos, vulgo Ponto Fino lll.
Ambos os irmãos sobreviveram ao cangaço e se entregaram em outubro de 1938, em Jeremoabo-BA, liderados por Zé Sereno em negociação com o tenente Aníbal Ferreira.
Obs: É importante tomar cuidado para não confundir os vulgos dos cangaceiros, pois era natural no mundo do cangaço, após morte, prisão ou deserção dos cangaceiros, outros homens receberem o mesmo vulgo de um antecessor.
Aqui vemos um exemplo clássico, os irmãos Celestino, tinham o mesmo vulgo de dois cangaceiros conhecidos. Este Quina-Quina da imagem não é o mesmo que foi morto em 1932 no fogo da Maranduba e Zé Rufino o cita como morto no documentário de Paulo Gil, assim como Ponto-Fino, que tem o mesmo vulgo do irmão mais novo de Lampião, Ezequiel Ferreira.
Sendo assim, todo cuidado é pouco para não nos perdemos em meio ao estudo do tema e seus personagens.
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