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terça-feira, 9 de agosto de 2022

NÃO MORDA A LÍNGUA - NÃO DESPERDICE MATERIAL, NÃO CONFUNDA...

Por Kiko Monteiro 


Amigos, sei que falta muita, mas muita coisa.

Avaliei os principais tropeços, reunindo nosso humilde conhecimento e nos valendo de textos e respectivos autores de seriedade, e selecionamos as informações que vocês verão a seguir.

Preciso dizer que o conteúdo do artigo parte do princípio básico.

É direcionado a quem precisa colher, corrigir ou está aplicando tais informações em determinado trabalho e ainda pode refazê-las.

A sofistica é persistente, são muitos os "erros primários" cometidos principalmente pela imprensa, revistas de variedades, música, cinema... e por nós blogueiros inclusive etc.

Vamos aos deslizes menos técnicos.

Engana-se, ou insiste no erro, quem pensa que Virgolino só se tornou cangaceiro com a morte do pai.

De fato, desde a briga com Zé Saturnino, que Virgulino e os seus irmãos Antônio e Levino já estavam vivendo uma vida nômade. Quando foram para Alagoas, juntaram-se ao bando dos Irmãos Porcino. Se os Porcinos já eram cangaceiros famosos no nordeste precisamente no sertão de Alagoas, e Virgulino se junta a eles, certamente já estava sendo cangaceiro.

Ou será que ele estava lá “catequizando” os bons irmãos?

Irmãos Ferreira e irmãos Porcino fizeram um assalto grandioso à Vila de Pariconha/AL, o que gerou a perseguição comandada pelo então Tenente José Lucena, e que veio a culminar com o assassinato do patriarca José Ferreira. Dona Maria Lopes a matriarca da família Ferreira não foi assassinada junto com seu marido. Morreu de infarto fulminante aos 47 anos de idade dia 22 de maio de 1921 na localidade de Engenho Velho próximo ao vilarejo de Santa Cruz do deserto/AL.

José Ferreira aos 48 anos no dia oito de Junho de 1921 é assassinado pela volante comandada por José Lucena Albuquerque Maranhão acompanhado do delegado Amarilio Batista e do sargento Manoel Pereira .

Zé Saturnino, sempre esteve ao alcance de Lampião, e esse, não desejou mais matá-lo, como também, ao grande inimigo Ten. José Lucena. O fato de Lampião deixar seus inimigos ( nº 01 e 02 ), com vida, é para justificar perante a população nordestina, ou seja, pretexto para continuar no cangaço, matando, estuprando, sequestrando, extorquindo, além de outros crimes. Ele passou a gostar da vida errante, e do dinheiro que essa lhe rendia. O escritor Frederico Pernambucano de Mello, denomina isso de " ESCUDO ÉTICO ", em sua belíssima e recomendada obra: Guerreiros do Sol. Também, para justificar sua vida no cangaço, o rei vesgo invoca a morte do seu genitor, no sentido de vingança.

Zé Saturnino faleceu em sua fazenda, a 05 de Agosto de 1980, com a idade de 86 anos e já sem lucidez.

Quanto a Zé Lucena faleceu em maio de 1955, vitimado por uma doença.

Lampião passa a ver no cangaço, " UM MEIO DE VIDA ", uma profissão, visando lucro, vejamos uma interessante passagem colhida por Frederico.

O facínora Pedro Barbosa da Cruz, vulgo 'Pedro Miúdo', encontra-se com o bando de Lampião na Faz Riacho Fundo, perto de Antas, município de Águas Belas. O rei do cangaço, o convida para acompanhá-lo, ao que "Miúdo" lhe responde, que fora soldado de uma volante comandada pelo Ten. José Lucena, e o mataria por "cinco contos de réis". Surpreso, Lampião agradeceu a oferta com um raro gesto de prodigalidade: dá-lhe de presente, uma faca de cabo trabalhado. Em seguida, dirigindo-se ao cabra, devolve a surpresa com a seguinte confidência:
" Deixe isso. Essas questões já estão velhas". (Fonte: Livro - Guerreiros do Sol, pg.123).
 José Lucena e Zé Saturnino.
Questões superadas.

...Que Lampião era cego em virtude de um Glaucoma. Errado.
Virgulino sofria com um Leucoma

De fato, Glaucoma é endurecimento e aumento do volume do globo ocular, causado por um aumento de pressão sanguínea naquela região. Leucoma, ainda segundo o Dicionário Aurélio, é o “embranquecimento ou turvamento da córnea que é transparente”. Até onde se sabe, Lampião já trazia o Leucoma desde a juventude, e se agravou em um combate com um grupo de nazarenos. Reza a história que David Jurubeba, após disparar um tiro, este atingiu uma moita de quipá (palmatória), e um espinho veio a atingir o olho de Lampião, provocando um agravamento de uma situação já preexistente.

... Que o  fato das volantes se trajarem igual aos bandoleiros era tática ou ordem oficial.
Governo nenhum deu determinação para que soldados se vestissem de Cangaceiros. Foi um uso que se formou com o tempo, tanto que em 1926, o Governador de Pernambuco Sérgio Loreto, fez baixar ‘Portaria’ exigindo o uso do traje militar para as tropas volantes.

Aqui é uma das forças volantes de "Nazaré" sob o comando de Euclides Flor.
Por conta das suas vestes as imagens dos Nazarenos em sua totalidade são quase sempre assimiladas aos cangaceiros. 

Encontrei diversos artigos ilustrados que fizeram os grandes chefes se revirarem no túmulo. 

... Que o cangaceiro José Leite de Santana, O Jararaca, "abriu a própria sepultura". 

 Homero Couto, que foi o motorista do carro que levou Jararaca, desmente . Disse que o “buraco já estava aberto e que a ação não durou mais que dez minutos”. Ou dá pra se abrir uma cova nesse espaço de tempo?

 LEGENDAS E TERMOS

Não é gruta  
É GROOOOOOOOTA

Angico não é e nunca foi território Alagoano. 
A fazenda pertencia à antiga região de Campo-Santo do Morgado do Porto da Folha. Porto da Folha, também em Sergipe, é uma  cidade "vizinha" e permanece com este mesmo nome.

  Ambas cidades circuladas no canto superior

Não é Eronildes
É Eronides.

Não é Pedro de "Cândida". 
É Pedro de Cândido, seu nome completo era Pedro Rodrigues Rosa. A mãe de Pedro se chamava Guilhermina, e o pai, Cândido.

 Esta moça não é Maria Bonita é a cangaceira Inacinha
uma das companheiras do cangaceiro Gato. 

Esta também não é Maria. É "Nenêm"
companheira de Luís Pedro.

 À esquerda. novamente "Nenêm", ao centro "Luís Pedro"
seu esposo e a direita "Maria Bonita".


Este é o ator Chico Dias e não o cangaceiro Corisco". Ele interpretou o "diabo loiro" num longa de 1997. Foram detectados trabalhos incluindo esta foto de divulgação entre fotos originais de cangaceiros.

 Vários livros apontaram essa bela cabrocha, Maria Jovina, companheira do cangaceiro 'Pancada' como sendo Lídia, a cangaceira que fora assassinada pelo seu companheiro Zé Baiano, que não possui fotografia.

Pesquisa a partir de textos de: Sérgio Augusto de Souza Dantas, Ivanildo Silveira e Kydelmir Dantas. Os amigos podem colaborar sugerindo outras correções via comentário ou email para uma próxima edição.

Abraçando
Kiko Monteiro 

http://lampiaoaceso.blogspot.com/2011/05/nao-morda-lingua.html

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O CANGAÇO EM FLORES, PE. - SOBRINHA DE MEMBRO DA VOLANTE FALA DO ENCONTRO COM LAMPIÃO.

 Com tantas evidências, município busca integração na Rota do Cangaço.


Na busca de provar a passagem de Lampião e seu bando no município de Flores, fomos até a casa de Maria Severa da Conceição, conhecida na localidade por Maria Grande. 94 anos. Dona Maria ganhou o apelido ainda jovem, no tempo do cangaço e nos revelou  o porque do apelido , como também do seu encontro com o cangaceiro e como seu tio,  Pedro Ferreira (Paisano), teria matado Livino Ferreira irmão de Lampião.

Confira o vídeo, reportagem de Alberto Ribeiro:


Pescado em:  Flores,PE.net

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Livino%20Ferreira

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RUBENS ANTONIO COLORINDO O CANGAÇO E A VIDA

 Por Rubens Antonio


     Rubens Antonio além de ser uma figura humana fantástica é um grande artista na arte de colorir as imagens do cangaço e da vida.

   Funcionário do Estado da Bahia, atuando no Museu Geológico  da Bahia, tem por hobby colorir as imagens do cangaço,  uma árdua tarefa que leva tempo e dedicação.

      O trabalho de Rubens Antonio é digno de análises de compor as futuras obras sobre a sociologia e os costumes do cangaço.
Rubens atuando no Museu Geológico da Bahia

as cabeças do massacre da Grota do Angico

a arte de Rubens Antonio

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FOGO DA LAGOA DO LINO - O LAMENTO

 Por Rubens Antônio

Depoimento de Elisia Sampaio Moreira, da Lagoa do Lino, a “Zi do Bó”, residente em Quixabeira: .
 
O meu pai chamava-se Raimundo Moreira de Oliveira. Ele era chamado "Raimundo, de Cirila", porque era filho de Cyrilla Moreira de Jesus, minha avó... Apesar do tempo passado, eu nem sei se devia contar estas poucas coisas... Penso aqui que não devia falar muito, porque o meu pai sempre evitava falar dessas coisas para mim, desde quando eu era criança, e, depois, para as minhas filhas... Para você ter uma noção, ele sempre teve preocupação de que algo pudesse voltar a acontecer... Aquilo tudo, quando aconteceu, eu ainda não era viva, pois meu pai casou velho, mas eu cheguei a viver na casa do jeito que era como quando tudo aconteceu... Não era de taipa... 

Como sede da fazenda era de tijolos de adobe e um pouco de barro prensado sobre aquelas estruturas de madeira. O chão era chapado batido de barro mesmo... Como se fazia. Apenas se roçava e se batia. A fazenda, como eu nasci e cresci, sempre se chamou "Lagoa do Lino"...

Não sei de Lino que morou lá, mas tinha uma lagoa lá na baixada e outra um pouco mais adiante... Passava umas seis tarefas... Acho que o nome é por causa da lagoa que ficava mais perto, mas não tenho certeza...
 

Esse Lino, o meu pai chegou a dizer pra mim que não sabia quem tinha sido. Mas, se a lagoa era dele, significa que terra era dele e a gente pensava ser um antigo dono, que meu pai não conheceu.
Isso de chamarem "Lagoa do Limo" é coisa do povo. Sei não de onde surgiu isso.



A casa da sede, em que eu nasci e vivi, não era onde está agora. Se vocês olharem aquela parte cimentada na frente da casa... Ali era onde ficava a antiga casa... Quando a situação melhorou um pouco, o chão da casa foi cimentado... É isso que a gente vê ali, como área cimentada na frente da porta atual. Então, aquela casa está onde era o fundo da nossa casa.

Raimundo Moreira de Oliveira

Então, veio toda aquela violência que traumatizou meu pai... Não digo que foram os cangaceiros... Isto porque aqueles que pinicaram ele queriam que entregassem o esconderijo dos cangaceiros... Se era para entregar o esconderijo, como eram outros cangaceiros? Mas não passa na cabeça como a polícia fez aquilo com um homem bom, trabalhador, simples, quieto no canto dele. Foram uns homens que ele disse que chegaram. Se o meu pai disse que não dava pra saber se eram mesmo da polícia. Só me disse que eram esquisitos e maus. E ele foi pego. Amarrado. Bateram nele. Deram tapas. Deram socos. E ele foi muito pinicado. Foi todo todo pinicado com uma arma parecida com uma faca, mas ele disse que era mais bonita... Assim, com rodelas de ouro e de prata, no cabo... Era a única coisa que ele conseguia ver e pensar pra tirar a mente daquilo. E ele sempre temeu mesmo falar disto, mesmo depois de velho... Fizeram uma roda em torno dele e feriram assim... Era meu pai... As costas dele ficaram horrorosas. Parece que foi a pior parte. Só vendo... Eram tudo marcado de pinicada... Aqueles homens não tiveram dó. Cravaram faca e canivete... Tudo que fosse coisa de ponta usaram no meu pai.
Eles diziam.

– Você sabe onde eles estão!
– Não sei não! Nem sei do que vocês tão falando!
– Tava fazendo o quê, então?
– Só quero ir embora daqui preparar minha farinha!
– Ou entrega ou vamos ficar aqui muito tempo! Vamos oito dias. E você vai ter que abrir pra gente. E vai ter que manter a gente. Vai ter de cozinhar e a gente vai acabar com tudo seu!
Eles, finalmente, parece que cansaram. Não tinha mesmo como saber nada do meu pai... Estavam mais pra ir embora. Aí, encontram a Maria Velha... Alguns chamam Nega Velha, mas que eu conhecia como Maria Velha.
 
Foi ela quem levou eles até lá.
Sei que teve um tiroteio horrível... E, depois que tudo acabou, e aqueles que maltrataram meu pai foram embora, aconteceu mais uma coisa. Minha mãe disse que ainda passou um aqui. Quem viu e disse a ela foi a minha vó Cyrilla. Ela só não soube dizer se era cangaceiro que escapou ou se era da polícia também... Estava sozinho e armado. Roubou um cavalo que tinha aqui, do meu pai, e partiu em disparada... A minha vó Cyrilla, é claro, não podia fazer nada.

Seu Raimundo, Zi e dona Antonia
  
Meu pai contou tudo mesmo foi para a minha mãe, Antonia Moreira de Oliveira... Eu fui sabendo aos pouquinhos as coisas... Mas ele mandava eu deixar pra lá que era um assunto ruim que ele queria esquecer.
Ele mesmo, dificilmente eu via sem uma camisa. Só muito rápido... quando estava trocando... Então eu podia ver as marcas... Como fizeram mal ao meu pai...

Ele nasceu em Mairi, em 5 de março de 1909, e morreu em 7 de abril de 1997.
 

A minha vó, que também sofreu com a passagem dos cangaceiros, nunca quis falar sobre isso... Não sei se fizeram mal a ela mesma... Porque, se no meu pai eu via, nela era pior ainda de ver... E ela apenas dizia pra eu deixar pra lá, que era assunto ruim... Muito ruim mesmo... Minha mãe, que ela bem menina na época, nasceu em 1910  ainda não casada, não quis contar também o que sofreu com o pessoal dela... Ela morreu em 22 de junho de 2008...
 

Estão os dois sepultados no cemitério da povoação de Maracujá... É isto o que contei e não sei se devia ter contato... mas, um dia, todo mundo se vai... Minhas filhas acham que não tem problema e é até melhor eu contar... E, agora, já contei mesmo. Fica o que foi como foi.

Ecos no Vento Depoimento de Jardelina do Nascimento Araújo:


"Sou mais nova que tudo isso, mas os meus pais e meu tio contaram tudo o que aconteceu para mim... É que não só eu me interessei, como eles falavam muito daquilo tudo que foi excepcional... Agora, aqueles velhos já estão mortos e estes jovens, que vieram bem depois de mim, nem sabem de nada... Alguns, aqui, pensam até que cangaceiro é nome de passarinho... ou é só folclore... A coisa era tão séria que a gente daqui tinha até medo de falar de tudo aquilo até pouco tempo atrás... Mas, agora, tem já tanto tempo... A gente mais velha achava que tinha algum perigo... Mas isso já passou pra quase todo mundo... Tem gente que ainda nem sei se tem medo, mas fica meio ressabiada.

Meus pais disseram que tudo começou com a chegada umas pessoas que batiam e matavam... Ninguém sabia direito quem eram... Só sabiam isso... Que eram sete. Que eram pessoas esquisitas que batiam e até matavam outras pessoas... E isto deixava todo mundo assim muito confuso... É dinheiro? Não tem dinheiro? Apanha. Tem? Apanha também. Então não é dinheiro? Qualquer coisa apanha! Davam muita pancada de palmatória. Era tanto bolo nas mãos que nem conta. Ficavam pretas de pancada.

Ninguém sabia de certo o que estava acontecendo... só que tinha que evitar essas pessoas e fugir... fugir, quando elas chegassem...  se não desse, tinha que atender o que eles queriam... O que eles pediam... E isso espalhou como um horror... As pessoas fugiam pros matos...
E chegaram aqui perto... ali na sede da Fazenda Lagoa do Limo, que daqui dá pra ver... É aquela que tem gente agora chamando Santa Mônica... mas desse outro nome não sei... Só uso mesmo como o pessoal todo o nome Lagoa do Limo, desde sempre...

Aqui era tudo bem diferente... Estas estradas de chão não eram estradas... Eram caminhos entranhados assim, nas caatingas... Tudo vereda... E as casas eram todas de madeira cobertas de palha... A sede mesmo da Lagoa do Limo era uma casa de palha...

E os sete... Eram sete cangaceiros... Quem os viu disse que andavam sempre com muita pressa... Andavam muito rápido prá lá e prá cá...
Eram muito brabos, mas não soube eles não usaram as mulheres... Sei que chegaram e foram ali na sede da Lagoa do Limo... Depois foram para a baixada... Meu tio João viu eles descendo lá pra baixada... Quase passou por eles, Acho até que se viram, mas eles não fizeram nada...

Agora, quando passaram pela Nega Véia... Ela me contou as coisas que conto agora... Não sei o nome dela... Acho que era Maria, mas não sei mais... Ela era bem menina na época, e topou com eles... Eles perguntaram se ela podia trazer água... E a gente daqui sabia que tinha que obedecer a eles, senão era morte certa...
O que eu mais lembro o nome, o Azulão, perguntou pra ela que cabelo curto era aquele... Que o certo era andar de cabelos compridos... e que ela podia morrer por causa disso... Ele disse:
– Você com esse cabelo cortado... Olha que eu vou é lhe matar!
Mas eles deixaram ela ir, porque queriam ela viva pra buscar a água.
- Se você for buscar água pra gente a gente deixa você viva!
Então ela foi buscar a tal da água... Tava indo buscar com um pote.
Mais pra cima, ela topou com os homens que vinham atrás deles... Eles perguntaram ela se ela tinha visto uns homens diferentes por ali, e ela disse:
– Lampião tá lá em casa...
Ela estava com medo de morrer... E eles disseram pra ela que podia descer e levar a água pra eles... E ela foi...E ela viu quando o chefe dos homens foi seguindo ela com os outros. E como ele, quando estava chegando perto, ficou mais pra trás, e mais abaixado... E ele se ergueu atrás de um pé de pau... E como os outros foram se abaixando e aproximando... E se arrastando... Nega Véia me disse que viu quando o chefe bateu o pé, como sinal, e rompeu o fogo...

Então, começou aquele estouro... Ela se jogou no chão, senão tava mortinha...
Daqui lá é longe uns quinhentos metros, mas meus pais e meu tio ouviram tudo direitinho... E as balas zuniram aqui por cima, e minha mãe, Alexandrina Maria do Nascimento, desesperada... Todo mundo se jogou no chão... E meu pai, José Umbelino do Nascimento, disse:
– Agora pronto! O Mundo acabou–se!
E foi muito tiro, por muito tempo. Tiro mesmo. Tiro que passava aqui por cima. Zunia. Ziu! Pá! Pá! Pá! Pá! Ziu! Minha mãe até ainda colocou a mão no coração, quando contou pra mim, tanto tempo depois.
A luta foi só ali embaixo não. Rodou até outros cantos. Era muito medo.
Quando acabou toda aquela alaúza, ficou muito quieto... Não se ouvia nada... Nem pio de ave... Nada... Meu tio João Ribeirão da Silva, então, que era de coragem, levantou e foi caminhando para lá, para a baixa.

Cruzou com os homens voltando carregando as cabeças deles.
Ele foi até lá e viu o que viu o que sobrou... Tiraram quase todas as roupas do mortos... Estavam lá, sem as cabeças e pinicados...  Tinha tanto sangue ali...
Dos sete, três haviam conseguido fugir.

Outras pessoas chegaram e também viram os corpos sem cabeça... Estava tudo acabado. As plantas todas retalhadas de tiro... Um fuzuê...
Meus pais disseram que depois souberam, pelo homens, que os que morreram eram o que atendia por Azulão, um tal de Canjica, a Maria e um que não sei o nome... Hoje em dia, a polícia mata e coloca a arma na mão pra incriminar, mas esses não... Nem precisava. Eram brabos mesmo... Reagiram e mandaram bala... Disseram, os que eram dos homens da polícia que viram e contaram pros daqui da terra, que essa Maria morreu de arma na mão... Caiu morta e não largou o revólver... Lutou até o fim...
Os corpos não foram enterrados não... Ficaram lá apodrecendo... Comida de urubu...

Tinha um cachorro aqui que passou um bom tempo indo até lá e comendo deles... Disseram que ele estava mais gordo que antes por isso... Então, foi certo que os cachorros todos daqui das redondezas começaram a engordar. Nunca seu viu, nesta vida, eles tão gordos. Também... Comeram tudo que ficou...

Daqui mesmo, meus pais viam os urubus todos os dias... E os ossos foram se espalhando... perdendo... porque o mato também come o que fica. Sobrou nada... Não apareceu ninguém que desse sepultura não... Até que tudo acabou. Só ficou o medo de que os companheiros deles, que escaparam, voltassem pra se vingar da gente daqui..."

Pescado no Cangaço na Bahia

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